Crónicas Matinais

[ sexta-feira, maio 23, 2003 ]

 

Bom dia!

Na minha casa discute-se Portugal, estereótipos e opiniões estrangeiras. Uma discussão sempre apaixonante.
E também os blogs.

E o Gato continua às turras com a Infame . O assunto é o mesmo: Nelson Rodrigues.

Eu , confesso, gosto muito de Nelson Rodrigues. Claro que , sendo ele apenas mortal ( tanto que já morreu), não deixou de cometer erros. A discussão, nos dois blogs , prende-se com um desses erros. Pelo menos para mim foi um erro. E é um erro concreto, bem documentado, um facto inegável. Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo brasileiro apoiou a(s) ditadura(s) militare(s) nos idos anos 70, no Brasil. Ele próprio nunca o escondeu; ele próprio , tal como fez Borges, por exemplo, explicou o que o levou a defender um regime que prejudicou os seus amigos e o seu próprio filho . Como sabem ( ou deveriam saber), Nelson Rodrigues foi um homem muito polémico, de direita ,e que revolucionou a sociedade da época. E não só a brasileira. Eu amo-o mais pelos livros, pelo teatro que escreveu ,pelos romances, contos e crónicas que deixou. Era, foi, um obsessivo. E deixou frases e ideias que marcaram a língua portuguesa, com ou sem sotaque.
Na contenda entre os dois excelsos dos dois blogs, está o facto de se saber se Nelson apoiou, de facto, ou não, a ditadura militar. A mim deu-me vontade de rir, ou melhor, de chorar , a dúvida!
Eu, admito, sou de direita; ou melhor, não quero nada com a tradicional esquerda. Mas isso não faz de mim nem cega, nem surda...e muito menos muda; pelo contrário.
O Nelson Rodrigues apoiou sim a ditadura militar!; Nelson Rodrigues acreditava no regime, mas isso também não quer dizer que defendesse toda e qualquer acção desse tipo de regimes. Ele apoiou-o mas sempre foi contra a tortura e sempre defendeu os seus amigos das garras da pide lá do sítio. Quando o seu filho -que lutava contra o regime- foi apanhado e torturado ele tudo fez para o salvar. As suas irmãs contaram já, a quem quis ler, o que ele sofreu com essa situação e o que ele lutou contra ela.
Mas nunca deixou de-com coragem e, quiçá , de forma incompreensível- assumir que defendeu o regime militar. Já estava às portas da morte, muito doente, quando o voltou a afirmar, pouco antes do seu filho ser libertado. E o regime adorava Nelson Rodrigues, e ele usou essa admiração que o regime tinha por ele...para ajudar muitos amigos jornalistas, actores, músicos, etc. Aliás, nunca nenhum desses amigos se zangou com ele por causa das suas ideologias. Ele era um homem livre, que falava sem pudores e sempre com frontalidade. E quando assim é...
Isto é factual, histórico, etc. E, se que querem saber, para mim não lhe tira valor. Aliás, ele nunca quis ser um homem político no sentido tradicional do termo. A sua enorme importância foi , acima de tudo, expressa nas letras, no teatro, no jornalismo. Usá-lo como arma de arremesso político parece-me, e perdoar-me-ão , descabido.

E agora vou mas é contar uma anedota porque se me ponho a escrever coisas demasiados sérias ainda me trocam de categoria no blogo ,e eu gosto muito de ser "dia-a-dia" .

Portanto: O Capuchino Vermelho encontra o lobo mau na floresta e ele diz-lhe:
- Vou-te comer uma coisa que nunca ninguém te comeu...
E diz a Capuchinho:
- Olha, filho, só se for o cesto...

[ Eu sei, conto sempre esta anedota...mas gosto dela, pronto.É lasciva qb.]


Ana [5/23/2003 11:54:00 da manhã]