Crónicas Matinais

[ sexta-feira, maio 28, 2004 ]

 

Um caso sério

Eu sei que o mundo anda ( continua ) de cabeça para baixo; que só se safa o FCP. Que há desgraças - mais do que muitas - e etc e tal.
Mas , juro, neste momento, e para ser feliz, preciso de uma resposta urgente a esta pergunta: este jogoterá fim?
Resposta para o e-mail desta chafarica , se fizerem favor.
Obrigada!


[ Lema de vida dos italianos: Aqua fresca, vino puro, fica stretta, cazzo duro! Bom fim de semana. ]

Ana [5/28/2004 05:39:00 da tarde]

[ quinta-feira, maio 27, 2004 ]

 

Agradecimentos

Obrigada,querida Ana!; Obrigada, querida Júlia!;Obrigada,querido Nuno!


E obrigada ao querido Miguel Tomar Nogueira porque, apesar de ter terminado o A Origem do Amor, nos dá mais alegrias:ela+eles e 3 actos/Just a Kiss?.


E ainda, com atraso imperdoável,obrigada e um grande beijinho para o queridoFlávio!

Ana [5/27/2004 12:15:00 da tarde]

 

Ainda o Futebol

Mesmo muitos amantes da bola criticam os "excessos" que o futebol provoca.
Levantam o dedinho e apontam-no aos deputados e aos políticos que querem ir à bola; criticam o espaço que as televisões, as rádios e os jornais lhe dedicam; criticam os festejos na rua. Alguns - quiçá para se desmarcarem do seu próprio sentimento que pode ser considerado pelos "analistas" como simplório - dizem que é tudo muito bacoco, muito zé-povinho; que um país não se faz só da bola; que é um exagero e o diabo a quatro.
Em Portugal, já se sabe, o futebol ordena. Não é preciso ser reaça para saber que esta tradição futebolística vem do tempo dos três F.
Mas solidificou-se e o povo- e aqui entenda-se por povo todos os portugueses, i.e., pobres, ricos e remediados - quer se seja assim. E se queremos que seja assim, é assim e pronto!
Renegar é que está mal. Pois se a alegria é nossa, se é a nós que a alegria é ofertada, se somos nós que a sentimos, porque é que havemos de dar ouvidos aos Velhos do Restelo que, picuinhas, fazem análises todas muito limpinhas e moralistas, mas que não valem um pataco?
Eu, por mim, deixo-os falar. Vozes de burro não chegam ao céu.
Não gostam da bola? não vejam ! Emigrem! Vão para a Sibéria, carago! Vão escrever livros anti-futebol para o Burkina Faso ( ai, o Burkina não!, lá também há muito futebol.) , ou para o Butão! É isso, o Butão é porreiro porque há pouco espaço e deve haver pouca bola ( não! esperem lá...o Butão é também conhecido por Reino do Dragão! ), olhem...vão para Marte, pronto.
Estou aqui a Reinar, mas escrevo estas larachas pelo seguinte: ao contrário do que possam pensar , não é só em Portugal que a febre da bola ataca. Ontem- e os meus colegas franceses garantem que foi uma estreia- o canal de televisão mais visto em França, a TF1, fez o jornal das 20h em directo de Gelsenkirchen e, obviamente, abriu o jornal com o jogo; e para a escola francesa de jornalismo, abrir com desporto é mesmo uma inovação,um sinal dos tempos. Mais: alguns apresentadores da estação , como a simpática senhora que apresenta a meteorologia, apresentaram os seus "programas" com cachecóis do Mónaco. Durante toda a semana só se falou do jogo. Desde a qualificação do Mónaco para a final, o sentimento de euforia foi geral. A comunicação Social não falava de outra coisa. As manifestações de apoio correram a França de lés a lés e, recorde-se, o Mónaco é um principado "independente". Por isso insisto: a alegria não tem mal nenhum, nem é zé-povinho, nem provinciana e pacóvia. É esperança.
Pode ser-se "intelectual", seja lá isso o que for, e gostar do que todos gostam: de vibrar e de ser feliz.
Chaga-me a molécula tanta critica à forma como as pessoas vivem as suas alegrias é só!
Ai o caneco!
( Ai!...caneco= Taça...Taça= Liga dos Campeões...Campeões=F.C.Porto...FCP=Viva! )

Pronto já chega. I rest my case.

Ana [5/27/2004 10:35:00 da manhã]

 

Porque é que eu amo o futebol


Deixem-me dizer que vos escrevo com lágrimas nos olhos.Porque estou feliz.
E porque estou a ouvir, na Antena 1, a repetição dos golos; os sons da festa; as declarações emocionadas, com ou sem sotaque. E tudo isto me comove.
E chora-se de alegria. Fica-se sem voz. Isto, meus amigos, chama-se Democracia.
Irritam-me, mas entendo, os que não gostam de futebol. Os que acham que se dá demasiada importância a um jogo onde andam uns manfios a correr atrás de uma bola e que recebem rios de dinheiro por isso. E se digo que os entendo é porque sei que, de facto, há motivos mais importantes para nos comovermos. Mas o que é facto é que quem ama o futebol explode de alegria quando a sua equipa ganha. O que é facto é que se há sensação verdadeiramente importante é a sensação de vitória. O facto de um clube de futebol unir ricos, pobres, remediados, plebe, realeza, políticos, desempregados, altos, baixos, gordos, magros, inteligentes, estúpidos, loiros, morenos, ruivos, homens, mulheres e crianças. Não há classes sociais, nem religiosas, nem políticas, na vitória. É a democracia. É a alegria. É o coração a explodir, as lágrimas a cair, a pulsação acelarada. É sentir fortemente que estamos vivos; que há um elo sempre forte que nos une a algo demasiado grande para ser só nosso.Que nos une a tanta gente.
Que faz com que, por hora e meia, se esqueçam as más palavras, a falta de dinheiro, de amor, de solidariedade; os males do mundo, os nossos males. E que depois, com a vitória confirmada, nos faz querer abraçar o mundo, todo, com toda a gente dentro; gente que festeja, que ri, que chora, que compreende. Gente que também esquece os males do mundo, os seus próprios males, durante hora e meia.Com sorte durante mais uma noite e uma manhã.Durante uns dias...enquanto a realidade , a nossa realidade pessoal, não toma posse e nos faz voltar à terra. Voltar às tristezas, às angustias, às contas por pagar, às incertezas, às chatices; ao desamor; à solidão.
Mas vale a pena, meu D-us, vale a pena!
Para muitos essa- esta- alegria partilhada é a única que se conhece.
E é por isso que eu amo o futebol.


Ana [5/27/2004 09:58:00 da manhã]

 



[ Para já só tenho a dizer: Obrigada!; mas já cá volto ...]

Ana [5/27/2004 09:11:00 da manhã]

[ terça-feira, maio 25, 2004 ]

 

[ Sim, sim, já ando mais bem dispostinha , obrigada por perguntarem...]

Sei dizer que aquele senhor intempestivo , aquele senhor muito encarnado e com a instrução primária , tem razão!
Atão a gente podia lá tirar a taça aos mocinhos!?
Há irregularidades? E depois? Trata-se do SLB , percebem? Era o que havia de faltar...o SLB ser penalizado por irregularidades...pffff
Pensem...negócios escuros ; pensem...RTP; pensem ...Futre! Pensem, pá, pensem!
Sois mesmo anjinhos...

Além disso, e como dragoniana, vos digo: deixem lá a taça prós mocinhos, coitados, que a gente lá nas Antas já não tem mais espaço para bibelots; este ano já só há espaço para a taça que vamos buscar amanhã à Alemanha, a Gelsenkirchen ( que puto de nome mais merdoso e difícil de dizer ); uma Taça à séria.Sem irregularidades...




Ana [5/25/2004 10:08:00 da manhã]

[ sexta-feira, maio 21, 2004 ]

 

[ Ausências e Estados de Espírito ]

A FLOR E A NÁUSEA

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


Carlos Drummond de Andrade

Ana [5/21/2004 10:29:00 da manhã]

[ quinta-feira, maio 13, 2004 ]

 

Estas frases que nos matam

( Dito ontem,numa rádio longe de si, antes da projecção do Filme «La Mala Educación» de Pedro Almodóvar, filme de abertura do Festival de Cannes )

Um coleguinha da concorrência ( cujo sonho é fazer alguém acreditar que percebe de cinema, ou de outra coisa qualquer ) : « A crítica diz que o filme de Almodovar é do melhor que já se fez em termos de cinema negro. Definitivamente, Almodóvar não resistiu à moda de filmar a preto e branco ; e, aparentemente, com bons resultados ! »

[ Depois admiram-se com o aumento do desemprego... ]

Ana [5/13/2004 10:41:00 da manhã]

 

Baker. Chet Baker


Ana [5/13/2004 09:28:00 da manhã]

[ terça-feira, maio 11, 2004 ]

 

Com atraso, aqui ficam os parabéns pelo primeiro ano na blogosfera do querido Hugo - Ford Mustang

Entretanto não tenho tempo para escrever mais nada porque estou à espera do Quentin. Tarantino.


Ana [5/11/2004 03:57:00 da tarde]

[ segunda-feira, maio 10, 2004 ]

 

Para desanuviar: a Luz do Mundo


Ana [5/10/2004 04:35:00 da tarde]

 

Recebi alguns e-mails a propósito do meu último post.
Diziam todos, grosso modo, que eu passava a ideia de estar , de alguma forma, a defender e, o que é pior, a justificar, as sevícias e as humilhações aos prisioneiros iraquianos.
A minha primeira reacção foi de incredulidade e, confesso, alguma raiva.
Mas, mais calma, reli o que escrevi. E tenho de admitir que posso ter passado essa ideia. É um post mal escrito e dúbio.
Queria então dizer que acho vergonhoso, sem qualquer mas, o que se passou . Uma vergonha. Desumano.

O que escrevi a seguir, de forma leve e mal explicada, pretende apenas significar que , de facto, não há guerras limpas e que atropelos aos direitos humanos acontecem em todos os palcos de guerra. Não é uma justificação , é a constatação de um facto.
Deixei-me levar pela minha raiva em relação à hipocrisia , nomeadamente aqui em França, das análises ao que aconteceu. Uma hipocrisia, infelizmente reinante em várias frentes, que tem o descaramento de , para marcar pontos políticos, apontar o dedo aos americanos ( e aos ingleses ) todos. Como se a tortura e o atropelo aos direitos humanos fosse invenção americana .
É essa hipocricia que me tira do sério.
Aqui em França, por exemplo, só ao fim de 40 anos, se falou das sevícias e humilhações aos prisioneiros argelinos que o exército francês cometeu durante a guerra na Argélia. 40 anos. Fotografias iguais ; a mesma crueldade. Que ficou escondida quase meio-século.

Em contrapartida, e num país verdadeiramente democrático , os atrozes factos demoraram apenas uma semana a serem mostrados. Não pela imprensa estrangeira, mas pela própria imprensa americana.

Reparem : são duas questões diferentes:

- Nada nem ninguém pode justificar o que esses soldados americanos e britânicos fizeram. É desumano ; uma vergonha para a Democracia. Para os valores que defendemos e pelos quais lutamos .

- Só que não aceito que se usem acontecimentos tão terríveis para fazer baixa política e demagogia. Tira-me do sério a leviandade das análises que, sinceramente, me parecem ainda mais desrespeitosas para com os prisioneiros iraquianos mal tratados.

Felizmente a imprensa americana é verdadeiramente livre, tal como o povo americano, e não tivemos de esperar 40 anos para conhecer essas actitudes terríveis e vergonhosas . Não é preciso esperar 40 anos para pedir desculpas por elas ; fazer pagar os autores e impedir que essas práticas continuem.

Era isto que queria ter dito na sexta-feira.
Mas acabei por misturar os alhos com os bugalhos...
Desculpem.

Ana [5/10/2004 10:18:00 da manhã]

[ sexta-feira, maio 07, 2004 ]

 

A vida é feita de escolhas

Não sei. Tenho sentimentos muito contraditórios em relação às sevícias e humilhações que alguns presos iraquianos sofreram às mãos de alguns soldados americanos e britânicos.
Condeno, claro. É vergonhoso. Mas também sei que não há guerras limpas, nem piedosas.
Caramba, mesmo que saiba que isso é errado...tenho de admitir, sem hipocrisia, que se eu pudesse pôr as mãos em alguém que pretendia acabar com a minha raça ...não seria meiga. Às vezes ponho-me a pensar no que faria aos nazis, aos membros das milicias que tantos timorenses mataram em Timor ; aos terroristas que se divertem a fazer explodir autocarros, comboios e edifícios se os apanhasse ; àqueles guardas fronteiriços brancos que se divertiam a treinar cães usando imigrantes clandestinos pretos na África do Sul...
Confesso que ver essa corja toda humilhada e espancada não me tiraria o sono.
É muito difícil, sem ser hipócrita, analisar estas questões.
E depois, ainda com mais sinceridade, sei que há diferenças brutais entre os dois lados: um prende e usa a brutalidade ; o outro nem sequer prende, mata logo.
Não é fácil, repito, sem hipocrisias bacocas, analisar estas questões.
E, repito também, não há guerras limpas e piedosas...
Merda .

Ana [5/07/2004 11:55:00 da manhã]

[ quarta-feira, maio 05, 2004 ]

 

Obrigada! Muito, muito obrigada!


Ana [5/05/2004 09:15:00 da manhã]

[ segunda-feira, maio 03, 2004 ]

 

Isto não é obsessão minha. É a realidade.

Uma realidade que me preocupa e que deveria preocupar todos. Há novos casos todos os dias.Todos os dias.
E não só em França.
Mas continua a ser difícil poder falar deste assunto, do antisemitismo/anti-semitismo , sem que muitos digam com ar de troça e enfado: "lá está ela com a mesma conversa!". Pois que digam.
É inteiramente verdade. Estou sim com a mesma conversa. Porque neste espaço mando eu. Porque sim.
E porque passei o fim de semana a a ver essas imagens imundas e a recordar-me daquela frase famosa: « É mais fácil ser colaborador do que Judeu.»
Pois eu odeio facilidades.
Aqui usa-se com orgulho a estrela amarela.

Ana [5/03/2004 12:15:00 da tarde]