Crónicas Matinais

[ terça-feira, agosto 31, 2004 ]

 

Há assuntos sobre os quais , na minha modesta opinião, mais do que a política ,e mais do que a religião, tem de ser o nosso livre arbítrio a imperar.
O aborto é um desses assuntos. Doloroso, sempre. E custa-me que não se perceba isso de ambos os lados da barricada.
Não peço, muito menos defendo, que se esqueçam os valores e ensinamentos que nos formaram, ou formam, enquanto seres humanos. Acho é que, em vez de gritos e histerismo, se perceba que a decisão passa, apenas e só, por dois seres humanos: a mulher que está grávida e o homem que a engravida.
Não suporto a hipocrisia de quem vocifera contra quem decide abortar; nem suporto quem utiliza o sofrimento de quem aborta como arma de arremesso político.Se ,por um lado ,não se justifica que seja o Estado, ou o padre da freguesia, a decidir se a mulher deve ou não abortar, também nada justifica que, para defender o direito à escolha, o direito a abortar, se acuse um determinado grupo social,e até político, de o fazer às escondidas e de , em público, excomungar quem o pratica.
No que ao aborto diz respeito , não aceito as posições extremadas.De nenhum dos lados.
Acho pertinente , no entanto, que se chamem os credos religiosos à pedra, porque podem condicionar pensamentos, sim. Mas não podem servir de desculpa para tudo.
O brilhante e sensato Nuno Guerreiro, no post Aborto:Uma Perspectiva Judaica,chama justamente à pedra a perspectiva de uma religião, que por acaso é a minha.
Tal como noutras, há diferentes maneiras de a interpretar. Eu tenho a minha, mas tenho amigas judias que têm opiniões diferentes. Numa coisa estamos de acordo: digam os textos o que disserem, a última palavra é nossa; só pode ser nossa; e nisso nenhuma de nós cede.
O que mais me entristece, na questão do aborto em Portugal, é que a questão nunca é encarada como questão de fundo, mas sim como uma questão mediática. Que pode dar votos. Que se transforma, sempre, numa questão política.
Está errado e é uma patetice.
Tinha pensado escrever um texto sobre a forma como as religiões vêem o aborto, mas, vocês já sabem, se começo a escrever nunca mais paro...
De maneira que encontrei este pequeno resumo, que me parece, não completo, mas informativo qb.
No que me diz respeito, gostei muito de, na parte respeitante ao judaísmo , mencionarem o rabino David Feldman, cujos escritos me influenciaram muito.


Eu, tal como toda a gente, estou agora a falar de aborto graças à associação holandesa " Women on Waves".
Porque o barco que utilizam está , em águas internacionais, mas ao largo da costa portuguesa , ao largo da nossa Figueira da Foz.
Não tenho conhecimentos jurídicos suficientes para me pronunciar sobre a decisão do ministro Portas . O que me parece desonesto é que se esteja a passar a mensagem de que, a bordo, seriam praticados abortos como quem bebe martinis. Não é assim.
E chateia-me, muito, que , mais uma vez, se transforme num circo um assunto tão sério.

Termino dizendo apenas isto: da minha boca, da minha mão, não sairá - nunca - uma única palavra que seja, a condenar uma mulher que decida abortar.



Ana [8/31/2004 12:12:00 da tarde]

[ sexta-feira, agosto 27, 2004 ]

 

Aproveitei a hora de almoço para dar uma voltinha pelos blogs do costume.
Tive uma grande alegria ao descobrir o Gávea.
Um blog que me vai fazer acachapar na cadeira a olhar para o ecrã; e ficar cegueta, de certeza, de tanto ler e reler.Dois deuses do Blogolímpico: Francisco José Viegas e Pedro Mexia.

-*-*-*-*-*-*-*

Depois dei com o nariz em mais uma pergunta ...estreitinha. Com água no bico.
No Blogue de Esquerda. Calma malta, prometo que não vou começar. Nem quero, nem tenho tempo. Vou entrar em estágio não tarda, e não pretendo participar numa qualquer neurótica e neurastenizante simbiose entre o fanatismo e a monotonia.[ isto hoje está a sair-me bem, hã ? pode não ter muita lógica, mas dá sainete!]
A pergunta tem a ver com a tão falada (e tão desconhecida e errada (bocejo) ) noção de «povo escolhido» em relação ao povo judeu . E com o racismo e outros males.
Já disse que não tinha tempo, não disse? Pois. Só tenho tempo para explicar, citando , isto:
«Não é que D´us escolheu os judeus e sim os judeus escolheram a D´us (através de Abrãao).»
O resto das explicações podem ser lidas , por exemplo, aqui. Mas há muito onde procurar. Basta ter mesmo vontade de descobrir a resposta.

Desculpem lá alguma acrimónia...mas é do tempo.

Ana [8/27/2004 03:49:00 da tarde]

 

Vira o disco


Para que não haja dúvidas : eu também acho que se dá, em Portugal , demasiada importância ao futebol, em detrimento de todas as outras actividades desportivas.
Mais : I have a dream !
Que os nossos bravos atletas de todas as outras modalidades, olímpicos e outros, recebam apoio e bom dinheiro para se poderem treinar , como deve ser, de modo a poderem competir, em pé de igualdade, com quem se dedica apenas ao desporto, sem contar tostões, nem tem problemas com sapatilhas rotas , por exemplo.
Só assim se podem exigir medalhas.
Mesmo assim, os nossos bravos representantes , ainda fazem milagres.
Estou a ouvir , neste momento, o meu irmão Francis Obikwelu , e ele está a pedir desculpa por não ter conseguido mais uma medalha nos 200 metros.
Eu, sinceramente, acho que é Portugal que lhe deve pedir desculpa a ele. Ele deu tudo o que tinha. A inversa não é, nem de perto nem de longe, verdadeira. E as desculpas de Estado , deveriam ser estendidas a toda a delegação nacional.

Posto isto...já posso falar do meu F C Porto.

[ Mas que galo, hã ? O sorteio para a Liga dos Campeões. Grupo H . Pff.. Chelsea, pff...PSG, pf...CSKA Moscovo... lá vão os franceses e os russos ficar a chupar no dedo ( hihi ) , numa primeira fase. E, numa segunda, lá vai o Mourinho ter de justificar , quiçá, o seu maior desaire. ( já comecei a fazer uma série de bonequinhos para voodoo , just in case ) ]

O F C Porto continua o seu bater cadenciado e imparável. Há dias a supertaça contra as águias do Trap ; ontem o mundo futebolístico. Foi no Mónaco, a parte um . Vitor Baía, Deco, Ricardo Carvalho. Os melhores ; best of the best . Oh ! C'est Joli !
Hoje, acredito, vai ser a parte dois. Sem estugar o passo. Tragam a taça, rapazes ! Tragam a taça, carago !
Este meu gabanço antecipado é, admitam, justificadíssimo.
Bem sei que prognóstivos só no fim do jogo, outra lei universal, aliás, pintada também a azul e branco.
Mas o que querem ? Vamos jogar com carripanas, pá.
Que os bravos rapazes lhes apalpem os contornos e lhes pulem as arestas e as cremalheiras arrojadamente.
Pois se nós, portistas, somos gente com garra nas vísceras !
Por isso exulto já por antecipação. São os feitos que me interpelam. E há alturas em que é muito difícil dosear esta emocionalidade , esta incursão - quase herética para muitos - no universo terrificante do esférico.
Gosto disto, pá!
Curto mesmo bué, o limbo, o olhar esgazeado que se tem antes do apito final.
Meu mui amado Dragão: conto hoje contigo para me fazeres, sumariamente, feliz. Mainada !




Ana [8/27/2004 10:49:00 da manhã]

[ quarta-feira, agosto 25, 2004 ]

 

Entretanto, e enquanto amanho aqui uma criancinha tenrinha para assar , que conto jantar mais logo com o meu grupo de amigos do Sião( só os mais sábios! ) , atrevo-me a mostrar-vos uma das minhas últimas conquistas ( graças às minhas ancestrais capacidades de feitiçaria ): o ex-vice Primeiro Ministro da Suécia.
Per Anlmark , que eu controlo (eu mais os meus amigos, claro! ), totalmente.
Fiz-lhe um gaspacho maneirinho com restos de kamikazes e sangue de galinhola , coalhado na passada sexta-feira 13, pelas 0 horas e 15 minutos, e o gajo agora canta que nem o Pavarotti. Mas só música escolhida por mim.
Atentem.

Agora vou-me que o forno já está quentinho...

Ana [8/25/2004 02:48:00 da tarde]

 

non decet

Mas digo à mesma.

Já enjoa tanta algaraviada. Estas discussões acabam sempre assim: cada um na sua.
Seja.
Deixo é o aviso: vociferem , façam campanhas, manifs , com ou sem sms, chamem os amigos para ajudar à festa; multipliquem as vossas opiniões por mil, o que quiserem. Mas , pleaseee, parem de me mandar e-mails com descrições de castigos corporais, a aplicar à minha frágil pessoa. E parem de me linkar.
Que seca. Ainda há quem se queixe dos e-mails, tão informativos e sérios, dos Amigos de Olivença. Please...
Façam de conta que eu não estou cá; olhem...fui de férias.Estou numa belíssima colónia de férias a esquartejar minorias étnicas e bébés foca. Está bem assim?
Irra!
Eu confesso, desisto. Vocês são os melhores, pá! Mais iluminados que Tóquio; by night. Mais fortes e robustos. E são muitos.
Eu sou unzinha só. [Mas devem achar que sou poderosa com'ó caraças... ]
Olhem lá, e se juntassem o vosso valoroso esforço verbal , e escrito, e fizessem algo de verdadeiramente útil ? Pois se vexas já mostraram a toda a gente que eu não sei o que digo, que sou parva e estúpida e cega e insultadora profissional, porque é que perdem o vosso precioso tempo. Pensem...coisas úteis; pensem...
Sei lá...ofereçam-se como escudos humanos; ou criem um centro de preservação de cerâmica das Caldas.
Esperem! Estou a ter uma ideia...está quase...ai! Esperem, isto de ter ideias não é fácil , é uma coisa que implica o seu tempo e, como devem imaginar, eu não posso , nem consigo!, escrever e pensar ao mesmo tempo com qualidade! Está quase...quase...
[...]
Cá está: [ hihi, é mesmo uma ideia genial; vocês até se vão passar ]

Porque é que vocês não vão brincar lá para fora e me desamparam a loja?

Apre...



Ana [8/25/2004 01:47:00 da tarde]

[ segunda-feira, agosto 23, 2004 ]

 

Da incompreensão

Confesso que esperava mais.Confesso que estou um bocadito desiludida com a qualidade dos insultos que me têm sido dirigidos , em alguns blogs, por causa do post em que justifico porque é que penso que há gente , do Blogue de Esquerda, que é anti-semita.
Pff...falar da idade, das supostas carências afectivas e da suposta profissão da minha mãe é pouco original. A sério.
Para que não digam que não sou amiguinha , aqui vos deixo alguns exemplos de insultos que realmente me ofendem :
- chamarem-me fofa ou fofinha ;
- criticarem os meus cozinhados.

Isso sim ; isso são ofensas que me provocam úlceras , que me descabelam.
Mas continuem a mandar postais.

Agora as coisas realmente sérias.
Eu sei que é grave , em termos de essência, vir para aqui para o blog chamar anti-semita a pessoas que não conheço de lado nenhum. E é feio. Quiçá, mesmo injusto.
Mas , como justamente não as conheço , só posso basear-me naquilo que escrevem e afirmam.
Ok. Sou intempestiva e irascível , o mais das vezes. E ? o que é mais grave ? sou demasiado distraída .
Sim, sim. Leio as coisas a correr ( ando sempre a correr ) , tenho uma memória péssima para nomes e só depois de meter a pata na poça é que percebo que , afinal, também me engano.
E não é fácil. A sério. Não me é nada fácil admitir que também me engano e que, às vezes, também tenho dúvidas.
Eu confundi o Luís Rainha com o Filipe Moura.
Admito-o.
Retiro, portanto, o « primário » ao Luís Rainha.

Agora uma mensagem para o Luís Rainha. Com sinceridade.
Caro Luís Rainha, você deu-me uma importância que eu não tenho. Se você acha que eu não tenho razão nenhuma, que não passo de um pedaço de gente que não sabe o que diz, uma ressabiada, acha que vale a pena deixar de escrever no seu blog por minha causa ? Give me a break !
Prove , prove-me, que eu disse o maior dos disparates . Quer melhor vingança ? Esmague-me com argumentos. Mostre-me como é isento e correcto em relação a todo este assunto odioso. E dê- me o golpe de misericórdia mostrando à blogosfera, ao país, quiçá ao mundo, que eu não passo de uma miúda irritante [ é verdade, sou novita ] e que você não tem um pingo de anti-semitismo nas veias. Que percebe o que se passa, que não nega o que se passa . De forma isenta.
Diga ao seu amigo e colega de blog , a quem eu também espetei uma farpa, para me esmagar também com argumentos.

O meu sonho, sinceramente, é, sobre a questão do anti-semitismo, nunca ter razão. Seria a mais realizada das pessoas se todos provassem que não são anti-semitas. Não era maravilhoso ? O mundo não seria melhor, hã ?
Por favor, prove-me que eu estou completamente errada ! Nada me deixaria mais feliz.

Eu sei que sou impossível e tenho um feitio levado da breca , e que às vezes peço desculpa tarde de mais. Mas peço sempre quando vejo que errei.
E se me provarem que errei , também no seu caso, e do seu colega de blog, também pedirei. E humildemente.

Por exemplo, expliquem-me o que justifica que , este fim-de-semana, um centro social judaico tenha sido incendiado, e que as paredes tenham sido decoradas com suásticas e frases como « morte aos judeus !».E depois expliquem-me porque é que condenam todas as acções militares do Estado de Israel e NUNCA dedicam uma linha ao medo, ao medo impossível de deixar viver em paz, as potenciais vítimas de actos terroristas em Israel. Nem aos atentados em si. Porque é que analizam ao pormenor todas as «razões» palestinianas , e nunca dedicam uma linha às origens do conflito.

Provem-me que estou completamente errada. Por favor.
E , Luís Rainha, deixe lá a ideia de deixar de escrever. Se me passassse pela cabeça deixar de escrever de cada vez que me dizem coisas que magoam ...
Por exemplo depois dos e-mails que recebi este fim de semana e esta manhã, de algumas pessoas que o queriam defender, e de certos posts em certos blogs, teria de deixar de escrever para sempre. Houve mesmo quem , nos comentários do seu blog, depurpasse tudo o que escrevi, dizendo que sou racista , por causa dos exemplos que dei ; que digo mal dos árabes , etc. Enfim. Vocês, não têm culpa, de facto, de terem leitores que usam camisas castanhas, mas isso também vos deveria fazer pensar um bocadinho ...
Sou teimosa como uma mula e faço de conta que nem li. Olhe...e por falar em mula, não se diz que vozes de burro não chegam ao céu ?
Pois então faça da minha voz uma dessas...
Assim como assim , nenhum de nós é uma vitima inocente, certo ?
E as virgens ofendidas estão fora de moda.

Ana [8/23/2004 01:20:00 da tarde]

[ sexta-feira, agosto 20, 2004 ]

 

Ora bem:

Caro Jorge Palinhos, não devemos pedir desculpa quando se pretende discutir um assunto; fico até muito satisfeita pelo interesse demonstrado, até porque o assunto é muito importante.
Pretendo responder-te, ponto por ponto, e com toda a frontalidade e sinceridade.

Primeiro: É verdade que há ataques a judeus da responsabilidade de grupos de jovens magrebinos e eu admito que possam ter "motivações". Mas nunca os entenderei, aos ataques, e muito menos os desculparei. Mas esse argumento que apresentas , o das dificuldades económicas, tem peso. Mas antes de mais deixa-me dizer-te uma coisa, que já saberias se tivesses lido, por exemplo, o que tenho escrito , aqui no blog , sobre o assunto [ tens os links , se quiseres ler, no post anterior, no blog Contra a Corrente do MacGuffin ; eu agora não tenho tempo para ir procurar os links, desculpa ] , eu acho que a discriminação contra um judeu, um africano negro, um cigano , um muçulmano ou um árabe , é a mesma.
Alguém que descrimina alguém só porque ele que é diferente de si, é um filho da puta sem qualquer tipo de direito a ser respeitado.
Ou seja: a mim custa-me ver um negro, um árabe, um muçulmano, um romeno , etc, não conseguir arranjar um emprego, aqui em França, só porque é negro, árabe, muçulmano, romeno, etc.
Custa-me da mesma maneira ver um judeu a ser cuspido na cara só porque é judeu.
A revolta de que falas é justa. Mas o que eu tenho dito sobre o anti-semitismo em França não tem a ver com isso.
Já agora aproveiro para te explicar isto: um judeu ocidental , ao contrário dos outros irmãos já citados, não é diferente, fisicamente ( cor da pele ), de qualquer outro branco ocidental. E quando vai pedir emprego, a não ser que lhe perguntem a sua religião e isso,grosso modo, é ilegal, não é discriminado. Se for um judeu árabe , aí sim, é discriminado seguramente. Os ortodoxos , os que ostentam ( roupa que usam ) a sua religião no dia a dia, esses só trabalham com outros judeus. Normalmente em negócios próprios. Todos os outros são, aos olhos da sociedade de merda que temos, brancos e, como tal, não são discriminados.
Ou seja, no que ao emprego diz respeito, a religião nada tem a ver, a não ser no caso dos muçulmanos árabes, justamente porque têm uma cor de pele escura. A primeira discriminação é, então, a cor da pele. Nada de novo, é igual em todo o mundo ocidental. Fomos nós, os brancos, que inventamos essa maneira asquerosa de separação.

Segundo: Tu perguntas-me se não concordo que « afinal, é mais fácil libertar o ódio sobre um bode expiatório específico do que contra um mal-estar ou um ambiente indefinido».
Posso admitir que seja assim, mas concordar nunca. Porque isso é, de uma forma muito clara, justificar qualquer ataque; justificar a violência.
É obvio que os árabes não são, por norma, terroristas! É obvio que nem todos os muçulmanos, árabes ou não, são fundamentalistas!
Mas, repara bem, como há mais casos de terrorismo a envolver árabes e muçulmanos , as pessoas , infelizmente muitas, têm a mesma maneira de pensar que tu. Calma, eu explico: as pessoas pensam «, afinal, é mais fácil libertar o ódio sobre um bode espiatório específico do que contra um mal-estar ou um ambiente indefinido, não achas? »
E, tal como tu, e cheios de boas intenções, as pessoas acham que sim.
E é por isso que demonizam os árabes e os muçulmanos e isso provoca a escalada da violência.
Porque eu, se fosse árabe ou muçulmana, ou as duas coisas, não admitiria nunca que me discriminassem ; que me acusassem de ser terrorista.
Agora, a diferença é que esses jovens que são discriminados por serem árabes/ muçulmanos, não se escondem e não ficam em silêncio. Eles batem-se - geralmente da pior maneira - e cerram fileiras entre eles para lutar contra todos aqueles que eles acham que os discriminam.
A isto junta-se uma política desastrosa no Médio Oriente, que esses jovens escolhem como causa, e é o caos.
Repara: não há um único caso de uma agressão de um judeu a um árabe ou a um muçulmano.
E sabes porquê? Porque a violência não faz parte da cultura dos judeus. Pode fazer parte da estratégia política dos senhores da guerra como o é, sem dúvida, Ariel Sharon, mas não faz parte dos judeus. Ariel Sharon, se não fosse militar e não tivesse como objectivo primeiro fazer sobreviver o Estado e o Povo Judeu, faria seguramente o que os outros judeus fazem: pedia a D-us que o deixassem viver em paz e não levantava ondas de maior.
Qualquer ataque que apontes ao lado judeu é militar , é represália. Uma resposta a um ataque, compreendes a diferença?
Não há ataques gratuitos. Não há, nunca houve e nunca há- de haver.
Não justifica a morte dos civis palestinianos, claro, mas tem uma razão militar , política e de sobrevivência. Não são os judeus que usam o seu próprio povo como escudos humanos, como "mártires". O objectivo é garantir a sobrevivência ao povo de Israel. E, todos o sabemos, a guerra foi justamente inventada para isso. É triste mas é verdade.
Ora, no Médio Oriente, e falo em termos de ataques militares, os terroristas árabes do Hamas, etc, usam o seu próprio povo para ganhar simpatias internacionais e, para ganhar cada vez mais simpatias, mostram -quase com orgulho- pedaços de carne, corpos ensanguentados e todo e qualquer cadáver. É desonesto, mas resulta.
Diz-me: quanto sangue, quantos rostos sem viva, já viste do lado de Israel? É a diferença ; a grande diferença. Israel não usa as suas vítimas . Não usa o seu povo. E penso que ninguém dúvida - o negacionismo não pode ir tão longe!- que há milhares de vítimas entre o povo de Israel. Todos conhecem os famosos atentados kamikazes em autocarros, cafés, Sinagogas, etc. Mas as vítimas, para os judeus, merecem respeito. Não são para ser exibidas como troféus de caça, compreendes?
Só que nas nossas televisões, as imagens dos corpos dos civis palestinianos são usadas até à exaustão. E do luto, passa-se à raiva. É humano.
Mas é um sofrimento formatado e fabricado. Tu,( espero eu ) se vires, por exemplo, um assassino Tutsi a ser torturado, mesmo sabendo que ele matou centenas de seres humanos, tens pena. Porque isso é humano. Quando um assassino - talvez o maior de todos no Médio Oriente - é morto - numa acção de guerra limpa- cai o carmo e a trindade, porque, coitadinho, o senhor é velho e deficiente, até andava de cadeirinha de rodas...
Mas a explosão de autocarro carregado de crianças israelitas não provoca a mesma indignação da comunidade internacional...

É o relativismo moral que me choca.

Os judeus nunca educam as crianças numa cultura de violência, podes vê-las a rezar, podes vê-las a brincar...mas nunca as poderás ver de kalasnikov na mão.
E os meninos palestinianos são vistos, mais facilmente, com uma AK-47 , do que a rezar ou a brincar.
Dirás: mas os meninos palestinianos não tem nada para brincar , não têm comida, casa, os pais não tem emprego, são muito pobres.
Terás razão. Mas, garanto-te, mesmo na maior das misérias ( pensa em África, na India ) , as crianças podem ser "poupadas" à violência. Se lhes deres liberdade elas brincam, mesmo cheias de fome e doentes [ um dia posso contar-te como é que as crianças timorenses, angolanas ou ruandesas sobrevivem na diversidade , não vi na TV, fui lá vê-las! ]
Mas se as ensinares a matar, e se as mandares atacar - seja com pedras, seja com armas, seja com explosivos - o destino dessas crianças fica traçado e já não tem volta.
É a cultura da violência a qualquer preço. Quando assim é , o diálogo é difícil, se não impossível.

Voltando a França: esses jovens de que falas , mesmo não tendo sido educados a servirem-se da violência em vez da razão, compadecem-se com esses meninos soldados, e sem lhe passar pela cabeça a possibilidade de os meninos serem soldados por opção, e não por necessidade, chamam a si também essa cultura da violência.
Mas como vivem num pais democrático, que os discrimina, é certo, mas os alimenta e lhes dá casa, dinheiro e cuidados de saúde, esses jovens deixam de ter de lutar pela sua própria sobrevivência, e resolvem lutar - em nome, quiçá, de um orgulho de «raça» - contra quem eles consideram serem os inimigos mais acessíveis e até históricos.
Mas não vão morder totalmente a mão que lhes dá o pão, i.e., os franceses, porque esses têm o poder de os prender e de parar de lhes dar dinheiro. Vão antes atacar os judeus.
É já tradição e, assim como assim, quase ninguém se importa.E, além disso, sabem que não serão atacados de volta.
Estás a ver o filme?

Terceiro: Perguntas-me se acho realmente se o anti-semitismo é, em França, a mais grave forma de racismo que existe.
Corto-te já a pergunta dizendo-te que , para mim, toda e qualquer forma de racismo é igualmente ignóbil e grave. Sem excepção.
Seja um árabe em relação a um judeu; seja um judeu em relação a um árabe; seja um branco contra um homem de qualquer outra cor ou vice-versa.
E é justamente por pensar assim, que me irrita que se justifique uma forma de racismo , porque se a compara a outra que se julga mais grave.
É igual. A gravidade é igual.
Só que , como humana que sou, e porque sei que não posso mudar o mundo, o racismo que sinto no meu próprio corpo e alma ,faz-me falar e sentir mais.
E porque , quer admitam quer não, nunca nenhum outro povo - na sua totalidade - foi alvo de um processo de exterminação organizada. Que eu saiba , e mesmo sentindo dor ao pensar nos massacres étnicos que ainda hoje - à hora em que escrevo- acontecem em África, por exemplo, nenhum inimigo construiu câmaras de gás e meteu lá milhões de corpos , a maioria ainda vivos, para reduzir a cinzas; até para fazer sabão.
Os ocidentais , como os portugueses, os ingleses, os holandeses, os franceses, etc, cometeram milhões de assassinatos na senda dos descobrimentos, mas, que diabo!, alguns tentaram ajudar; misturaram-se; fizeram filhos e, tirando o caso dos aborígenas na Austrália e dos Índios na América, a violência foi superada pelos maravilhosos mundos e povos novos que daí surguiram.

Nunca outro povo foi marcado para morrer como única opção. Até os assassinos indonésios em Timor-Leste, pretendiam conquistar timorenses para as suas fileiras, dizimaram a maior parte, é certo, mas o objectivo principal não era esse, era torná-los indonésios. Os que resistiam morriam, mas os que se aliavam a eles ( por opção, mas especialmente por medo e espírito de sobrevivência ) tinham pelo menos o direito a existir.
Parece cruel o que escrevo, mas é a pura verdade: aos judeus nunca foi oferecida qualquer possibilidade de sobrevivência. E não me fodam com :« esquece, foi há muito tempo». Muito tempo???? Desde quando 60 anos é muito tempo? É provavelmente a idade dos teus pais, dos meus, de alguns do que agoram nos estão a ler.
Foi ontem, caramba! E não pactuarei para que volte a ser hoje!

Quarto: A rapariga que inventou a história do ataque anti-semita não é judia. É fundamental que não te esqueças disso. Faz toda a diferença. Agora, essa tresloucada sabia que iria ter mais atenção se transforma-se o caso num caso de anti-semitismo precisamente porque como há tantos, ninguém iria duvidar, percebes?
Sobre o caso do jovem árabe atacado a golpes de machado , aí sim, tens toda a razão. É um caso demasiado grave para ser esquecido. Mas , perdoa-me a crueza, não pelo ataque em si, mas pela justificação do sucedido. Calma ,eu explico: O homem que atacou o jovem confessou que odiava todos os árabes!!! É gravíssimo. Depois de o atacar foi vandalizar um cemitério judeu que, tens razão, mereceu mais honras mediáticas.
Um tipo que confessa que odeia todos os árabes e ataca um com um machado merece totalmente a pena que incorre: prisão perpétua!
Eu rezo para que ele seja condenado a prisão perpétua, já que aqui, desde os anos 80, não há pena de morte. Não tenho problema moral nenhum em o afirmar.
O problema com esse ataque é que aconteceu depois de um jovem de 15 anos, francês, ter sido assassinado ,em Avignon, também com golpes de machado, por um jovem árabe.
Ora, a imprensa aqui é chauvinista, todos o sabemos, e o caso do jovem francês foi de tal maneira chocante ( o rapaz recusou um cigarro, porque não fumava e não tinha tabaco, a esse jovem e ele deu-lhe duas machadas na cabeça e fugiu com a mota da vítima, e tudo se passou em 45 segundos ) que qualquer outro caso , e ainda por cima envolvendo um árabe, deixou de merecer importância.
Claro que está errado.Têm ambos os casos a mesma importância, em termos de essência.
Mas como o ataque racista não provocou morte, e o outro provocou...
Enfim. Não pretendo defender a imprensa francesa, eu também a condeno e firmemente.Explico-te é as circunstâncias .


Quinto: A natureza do racismo francês em relação aos árabes e em relação aos judeus é diferente.
Em relação aos árabes , e no que à actualidade diz respeito, o racismo e a discriminação tem como base o comportamento , não da comunidade, mas essencialmente de muitos dos jovens.
Vivendo, como vivem, nas cités, nos bairros sociais, são mais inconformados. E unem-se, juntam-se em bandos e grupos e facilmente se criminalizam. Assaltam lojas, roubam carros ou incendeiam-nos; agridem as pessoas, especialmente nos comboios; partem tudo por onde passam; e fazem-no com (quase ) total impunidade.
Como actuam em bando, são mais fortes , e ninguém tem coragem de os enfrentar. Mesmo a polícia evita esses confrontos. É comum um desses bandos entrar num comboio , assaltar e até agredir alguém, sem que ninguém levante um dedo.
Há bairros onde ninguém tem coragem de entrar, e há zonas onde é praticamente impossível viver, a não ser que se seja árabe.
isto, meu caro, é uma constatação.
É um fenómeno que não é original, já que o mesmo se passa, por exemplo, nos bairros negros dos EUA. O cenário é o mesmo: discriminação que gera descontentamento, que por sua vez gera espírito de vingança, que por sua vez gera violência. O eterno ciclo vicioso.Nos últimos tempos, a questão do terrorismo também ajuda a que os árabes e os muçulmanos sejam mais discriminados, claro.

Já o racismo em relação aos judeus tem uma natureza quase que epidérmica.
Senão vejamos: a comunidade judaíca - novos ou velhos - não se junta em bandos para agredir outros cidadãos; não promove qualquer tipo de violência, nem contra terceiros, nem dentro da própria comunidade; não vive às custas da segurança social ; os mais novos todos trabalham , ou estudam, e pagam impostos porque têm rendimentos. Não ameaçam nem brancos, nem castanhos, nem negros, nem amarelos, nem azuis às riscas. Não se viram contra quem os discrimina. É uma comunidade discreta , que , grosso modo,pelo menos entre os ortodoxos, se vira para si própria e não chateia ninguém.

Agora diz-me: que razões terão os árabes , os muçulmanos e os franceses em geral para discriminar os judeus?
Não as há. E é precisamente por não as haver que é assustador.
É porque trabalham duro e, consequentemente, têm dinheiro? É porque têm como filosofia de vida o saber e, consequentemente, chegam longe em termos académicos e intelectuais e cientificos?
É porque gostam de música e, consequentemente, muitos têm brilhantes carreiras no sector?
Porquê?
Apenas porque são judeus...não é?

Pois isso , que já conhecemos de outras décadas, já levou à exterminação de milhões de judeus. Não me peças para ver a história a repetir-se e baixar os braços.
NUNCA MAIS!

Espero ter respondido às tuas perguntas. Mas estou sempre disposta a conversar.E desculpa o "testamento" mas ou escrevo tudo ou não escrevo nada. ;)

Um abraço e Shalom!

[Malta: ainda não foi hoje que desanuviei o blog...lamento. Seja como for, sempre arranjo forças para dizer que descobri o nome mais erótico ( porque envolve partes íntimas ) destes Jogos Olímpicos Atenas 2004. É o jogador nº 7 da selecção grega de basquetebol. Chama-se Dimitris PAPANIKOLAOU , e a mim faz-me rir. ]

Ana [8/20/2004 10:00:00 da manhã]

[ quarta-feira, agosto 18, 2004 ]

 

Eu sou uma rapariga bem disposta. Ninguém gosta mais de rir do que eu.
Posto isto tenho a dizer o seguinte:
Há quem me acuse ( especialmente alguns elementos do bom velho gang do Pastilhas ) de já não escrever tantas graçolas e episódios engraçados; de estar a tornar o meu blog num espaço dedicado, quase só ao judaísmo .
Têm alguma razão.
Mas os tempos mudam, assim como a nossa capacidade mental para engolir sapos.
Dá-se o caso de, na blogosfera portuguesa, haver anti-semitismo primário. Dá-se o caso de eu viver em França e de estar, cada vez mais, confrontada com a irracionalidade do ser humano. E dá-se o caso de eu ter cada vez mais medo que a história se repita em breve.
Eu gosto de rir; de dizer piadolas e de me divertir e, se possível, divertir os outros. Mas, nesta altura da minha vida, tenho outras prioridades.
Estou para aqui a gastar latim , e , quiçá, a maçar a vossa paciência, porque hoje, ao ler o blog do meu querido amigo MacGuffin, lá fui obrigada a ler também o sr. Luís Rainha do Blogue de Esquerda.
Eu acho uma patetice criar inimizades com gente que não se conhece de lado nenhum; é uma perda de tempo e de energias.
Mas, justamente, esse senhor é um dos homens que me faz temer o retorno das trevas.
Eu explico: Sempre que o leio sinto um friozinho na espinha. Porque são muito raras as vezes que ele, e não só, no BdE,não levanta o dedinho contra os judeus. Por tudo e por nada. Justifica o injustificável e desculpa o indesculpável. Mesmo quando tem argumentos válidos, estraga tudo ao destilar veneno contra os judeus.
Eu ando há meses para escrever sobre o Luís Rainha e sobre o que ele representa para mim. Mas, lá está, não quero ser mal-educada e não queria ser injusta para o Blogue de Esquerda em si, um blog que leio bastante, especialmente graças à escrita de José Mário Silva, a quem respeito muito e com o qual já fui muito injusta . Uma vez, precisamente por causa de um texto sobre o conflito no Médio Oriente , escrevi uma comentário com raiva a José Mário Silva. E arrependi-me porque sei que fui muito, muito injusta.
Mas agora chega.
Tenho de sair do armário e dizer o que me vai na alma : Luís Rainha faz-me medo. Luís Rainha é a representação perfeita dos que se escondem por trás de «boas intenções» para destilar ódio. Pretende fazer crer que defende - e se fosse verdade nada tinha contra - os árabes e os muçulmanos. Muito bem. Eu também os defendo quando lhes apontam o dedo só porque são árabes ou muçulmanos. Mas nunca, nunca!, ao defendê-los ,me esqueço de separar as águas. O problema do anti-semitismo não é um problema - volto a repetir a ver se vos entra na cabeça - entre árabes e judeus. O anti-semitismo é uma criação dos ocidentais, ou melhor , dos europeus. Dos brancos .
O ódio que existe entre árabes e judeus não tem como causa primeira o anti-semitismo, como o conhecemos no velho mundo. É uma questão de história, de política e de força. A questão religiosa é secundária e sempre o foi. Os árabes muçulmanos têm tradições semelhantes aos judeus; profetas em comum e , ao longo dos tempos ,respeitaram sempre as especificidades de cada um.
Quando um anormal qualquer critica um judeu , por exemplo, pela circuncisão , devia saber que para os muçulmanos ela também é obrigatória e tradicional. Quando esse animal anormal achincalha um judeu, por exemplo, porque ele não come carne de porco, devia saber que o mesmo se passa entre os muçulmanos. Mas há tantas coisas mais em comum. Enfim, não é disso que quero falar.
Quero é dizer que se pode defender os árabes, os muçulmanos e a Palestina sem atacar , por sistema, os judeus.
O meu problema com o Luís Rainha é esse. É que ele não defende os árabes e os muçulmanos , ele é pura e simplesmente contra os judeus.
Ele não defende a Palestina, ele defende pura e simplesmente o fim de Israel.
É isto que penso. Mais: penso, sinceramente, que o Luís Rainha , que é seguramente um bom profissional , é um anti-semita primário.
Faz-me medo.
Mas, infelizmente, não está sozinho nessa cruzada.

Numa toada negacionista - e note-se que o negacionismo é crime - diz que o anti-semitismo , em França, é um mito. Que é tudo uma empolação da imprensa.
Como diz o ditado, o pior cego é aquele que não quer ver.
Julgo que Luís Rainha também vive em Paris. Proponho-lhe o seguinte: no próximo sábado, se tiver tempo, que faça um passeio até ao Marais. Que tenha a coragem de entrar na Rue des Rosiers e de falar com os muitos judeus que por lá vai encontrar. Que meta conversa com um judeu ortodoxo ( simplificando, são os que andam de fato preto, camisa branca e chapeu preto ) e que o convide para tomar um café. Mas não vá de carro, tente fazê-lo ir consigo de metro. Dou-lhe - fica aqui a promessa - mil euros por cada judeu ortodoxo que conseguir levar até uma estação de metro.
Quando perceber que , para um judeu que exterioriza ( o fato e o chapéu ) a sua condição , andar de metro representa uma ameaça semelhante aos pogroms de antanho, é capaz de repensar a ideia que tem do anti-semitismo em França ser um mito.
E este é apenas um pequeno exemplo.

Um bom dia para todos e desculpem o desabafo mas, ou falava hoje, ou explodia.
Pode ser que , amanhã, escreva alguma coisita para rir.
Mas hoje ainda tenho a boca demasiado amarga para sorrir.

Ana [8/18/2004 11:37:00 da manhã]

[ quinta-feira, agosto 12, 2004 ]

 

[Ando aqui às voltas com dores nas cruzes mas, felizmente, o correspondente no Brasil está cheio de energia!]

A melhor batalha.

Corre, pula, nada, salta, chuta, bate. Sorri, chora, grita, alegra, sofre. Concentra, distrai, ganha, perde, empata. Ouro, prata, bronze. Vigésimo primeiro, segundo, terceiro, último. Conquista, fracasso. Vitória, derrota. História.
Começa nesta semana, mais uma batalha. Uma batalha pela vida. Uma batalha pela imortalidade do nome. Uma batalha que todos querem ver. Jogos Olímpicos de Atenas.
O mais interessante e importante não é necessariamente a disputa em si. É a integração dos mais variados povos e culturas de nosso planeta. Heróis, que já entraram para a história, independente dos resultados que irão obter. Da maior potência à menor, todos são vencedores. Medalhas de uma cor só.
Mas cores humanas, muitas. Ainda mais quando falemos dos brasileiros que estarão na competição. A diversidade da raça atrás da glória. Da negra baixinha e maravilhosa Daiane dos Santos, da pele branquela e alemã de Robert Sheidt, dos olhos puxados de Hugo Oyama e Danielle Ishiro e dos outros duzentos e tantos que vão ganhar, perder, sorrir, sofrer. Representar este país, vestir-se de verde, amarelo, azul e branco já não tem preço que pague. Quanto mais se, porventura, tocar o hino nacional brasileiro e ver a nossa bandeira tremulando no lugar mais alto do pódio. Mas, mesmo sem as medalhas já são vencedores.
E quanto a nós, estamos incumbidos de, se preciso for, assoprar a Tv por algum centímetro a mais, vibrar, torcer, berrar, se afogar com tanta pipoca, andar com a nossa bandeira debaixo dos braços, ter o mesmo orgulho de toda Copa do Mundo conquistada, pois, esta qualidade é o maior defeito. Ter orgulho do nosso país apenas em eventos esportivos.
O Brasil estará lá mais uma vez. O nosso orgulho também. Na vitória, na derrota. História e eternidade, em Olimpíadas, sempre serão sinônimos.




Glauco Arns Moretti glaucoarns@yahoo.com.br

Ana [8/12/2004 04:15:00 da tarde]

[ terça-feira, agosto 10, 2004 ]

 

Até amanhã, malta!

Ana [8/10/2004 04:48:00 da tarde]

[ quinta-feira, agosto 05, 2004 ]

 

Henri Cartier-Bresson Merci!


(Sevilha), Espanha 1933


Ana [8/05/2004 09:41:00 da manhã]

[ quarta-feira, agosto 04, 2004 ]

 

[A vida da dona do blog está interrompida.
Mas , no Brasil, Glauco Arns Moretti , está bem vivo. E fala-nos da tragédia que veste de negro a América do Sul. ]


Até onde chegou a ganância...

Por uma questão de educação e responsabilidade não convém citar os adjetivos que passam pela minha cabeça, enquanto ainda contam-se os mortos.
Contam-se os mortos, e já passaram de 300, em decorrência de uma atitude estúpida do responsável pelo supermercado que estava pegando fogo no Paraguai. Ordenou que se fechassem as portas para evitar que pessoas saíssem sem pagar pelas compras. Ao contrário, a maioria das pessoas saíram do supermercado, carregadas, sem que seus corpos pudessem ser identificados, assim como as mercadorias que queimadas não prestam pra mais nada. Aposto que o irresponsável está preocupado calculando os prejuízos enquanto que ainda contam-se os mortos.
Seria vergonhoso dizer que ?ainda bem que não havia brasileiros?. Pouco interessa e ainda não se sabe. O Brasil está em luto. A América do Sul está em luto. E o Paraguai chora copiosamente pelos mortos, que ainda estão sendo contados. Vítima do dinheiro, da ganância, de uma atitude desumana que parece estar virando costume neste mundo em que muitos dão mais valor às cifras que a própria vida. Contam-se os mortos, todos os dias, em todos os países, vítimas deste mal que só faz bem quando não se faz mal a outras pessoas. Mas fecharam-se às portas. Para evitar que pessoas saíssem sem pagar pelas compras, como se isso fosse mais importante do que salvar a própria vida.
A pior tragédia da história dos nossos vizinhos, poderia não ser a pior. As mortes que acontecem diariamente por ganância, poderiam não existir. Todas as tragédias poderiam ser evitadas. Citando assim pode parecer uma lei. A fatalidade, como o próprio nome diz, não pode ser evitada, eu sei. Mas as atitudes gananciosas agravam a fatalidade fazendo com que se transforme numa tragédia, em lágrimas, em desespero, em saudade. Ir ao supermercado e nunca mais voltar pra casa, jamais será normal.
E falar sobre isso desgasta demais. O corpo, o coração, a alma. Falar sobre isso, sobre a ganância, dá vergonha de ser humano. Os animais são gananciosos por comida. Eles estão certos. A nossa ganância mata mais. A ganância por dinheiro. Enquanto isso, ainda contam-se os mortos.


Glauco Arns Moretti - glaucoarns@yahoo.com.br

Ana [8/04/2004 02:46:00 da tarde]