Crónicas Matinais

[ sexta-feira, julho 30, 2004 ]

 

[ Atenção: o texto que se segue é extenso.Muito extenso. E pode ferir a sensibililidade dos que têm ideias preconcebidas ]

Aconselho, no entanto, a que leiam , primeiro, o post anterior. Foi ele que me levou a escrever este.Eu sei que ambos são grandes, e este particularmente. Mas ninguém é obrigado a ler. Há por aí alternativas que nunca mais acabam; e com figuras. Resta dizer que baseei o texto ( mas não as ideias ), porque a minha memória já não é o que era, em muitos escritos históricos-porque absolutamente verdadeiros, que encontrei na net. Além disso é humanamente impossível andar com 500 kg de livros na carteira, todos os dias.*

Eu sei. Num mundo perfeito o dia 14 de Maio de 1948 teria trazido alguma paz e segurança ao povo judeu, e ao mundo. A partir desse dia , a Palestina, Israel- ERATZ-ISRAEL - poderia, finalmente, albergar os seus filhos ,legalmente, e protegê-los no seu seio. Pois se foi aí que a sua identidade religiosa, espiritual e política começou. Pois se é o berço dos berços; o que nos deu o Livro dos Livros.
Depois de centenas de anos de exílios forçados e de errância , o retorno; a Aliya sagrada, traria então a paz. Na terra prometida.
Isto seria então num mundo perfeito.
Mas o mundo não é perfeito. Porque se fosse perfeito não existiriam milhões de pessoas que acham normal esmagar um povo; acabar com um povo inteiro e fazer disso cavalo de batalha.
Se o mundo fosse perfeito , não seria possível pintar fogueiras com carne humana a arder, pinturas baseadas em casos reais. Nem seria possível fotografar valas comuns -quando havia corpos- ou fotografar montanhas de cabelos, sapatos, óculos . Nem câmaras de gás rodeadas de bidões de zyklon B.
Nem seria possível olhar para certas ruas, guetos, e ver esqueletos agonizantes ou mesmo já mortos, a apodrecerem à vista de todos.
Num mundo perfeito não se enfiavam centenas de pessoas em carruagens , sem água e sem ar, para que agonizassem e se esmagassem antes de chegarem aos seus destinos. Cruéis.
Num mundo perfeito não se matavam crianças como quem esmaga formigas incomodativas.Um milhão e meio de crianças.
Mas , lá está, o mundo não é perfeito.
Porque, se por milagre, o fosse ,nunca ninguém poderia esquecer o holocausto, a Shoah ; essa atrocidade que ultrapassa a compreensão humana.
Mas o mundo não é perfeito porque há quem exija que, não só se esqueça, mas que pura e simplesmente se deixe de falar disso. Como se isso se tivesse passado há séculos, como a inquisição, e não nos dias de hoje. Sim, porque 60 anos é hoje.
Voltando ao princípio: Depois de tanta dor, e de tantas negociações complicadas potiticamente, as Nações Unidas aprovam o estabelecimento de Eratz-Israel como Estado. A 29 de Novembro de 1947. Menos de 6 meses depois a esperança renasce e o sol brilha nos corações dos que acreditam ; dos que conseguiram sobreviver , com a ajuda de D-us, e de alguns homens justos: a 14 de Maio de 1948 o Estado de Israel é declarado.
Mas não foi Paz que os judeus , em Israel, encontraram.
Depois de , lado a lado , com os irmãos árabes da Palestina terem «combatido» a potência administrante pelo direito a viverem em Eratz-Israel, o lado negro dos homens voltou a atacar as esperanças de Paz.
A violência , em Eratz-Israel, começou quase imediatamente após as Nações Unidas aprovarem o estabelecimento do Estado de Israel. Logo no dia 29 de Novembro de 1997, Jamal Husseini , porta-voz do alto comissariado Árabe, afirmou: « the Arabs will drench the soil of our beloved country with the last drop of our blood?»
Dito e feito. Logo começaram os ataques aos judeus . E os judeus ripostaram. Nesse dia, tão esperado e histórico, mataram-se 62 judeus e 32 árabes.
Duas semanas depois a contabilidade subia para 93 árabes , 84 judeus e 7 ingleses mortos ou feridos com gravidade.
Em Fevereiro , dois meses depois, contavam-se 427 árabes e 381 judeus mortos e perto de dois mil feridos de ambos os lados. No mês de Março, e só nesse mês , morreram 271 judeus e 252 árabes. Em ataques árabes e em contra-ataques judaicos.
Foi, nessa altura, pronunciada a primeira Jihad ( guerra santa ) ,oficial , contra os judeus.
O primeiro ataque em grande escala, acontece , no entanto, a 9 de janeiro de 1948. Mais de mil árabes atacam várias comunidades judaicas no norte da Palestina. Em Fevereiro, os britânicos, que detinham a administração , admitiam não ter força para combater os árabes e baixaram os braços.
Mais uma vez os judeus tinham milhares de inimigos às suas costas. E nenhuma ajuda.
E digo milhares porque, na primeira fase da ofensiva, de 29 Novembro de 1947 até 1 de Abril de 1948, os árabes palestinianos, que comandavam os ataques sobre os judeus, contavam com o apoio de voluntários de vários países vizinhos. Os judeus não podiam sequer circular; todas as vidas estavam em perigo.

A 26 de Abril de 1948 , o rei da Transjordânia, rei Abdullah, chamando à presença de judeus na Palestina « o problema » declara que só a guerra poderia resolver o assunto. E chamava a si a responsabilidade . No seu descurso, que em quase nada se diferenciava dos de Hitler, e referindo-se ao « problema» afirmava : « I will have the pleasure and honor to save Palestine. »

A 4 de Maio de 1948 , a Legião Árabe ataca Kfar Etzion. Os judeus resistiram. Mas a legião volta a atacar uma semana depois . Os que se rendem são massacrados e as suas terras e bens confiscados.

Foi este o rastilho da invasão , pelos exércitos árabes, que se seguiu logo na hora seguinte à declaração do Estado de Israel pelas Nações Unidas. A 14 de Maio de 1948.
Quando a 14 de Maio de 1948 , é criado o Eratz-Israel, a população judaica era de 650 mil pessoas. Uma comunidade organizada, com instituições políticas, socias e culturais . Uma nação , em todos os sentidos, à qual apenas faltava o nome e a existência legal.
Nome e independência que os Estados árabes vizinhos NUNCA aceitaram. E por isso lançaram um ataque, em várias frentes, dando origem à chamada Guerra da Independência (1948-1949 ). Israel tinha de defender a soberania que havia acabado de conquistar. Defender o seu direito à vida. A existir.
Uma luta que se mantem até hoje, diga-se.

Voltando um pouco atrás:
Em Fevereiro de 1948, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, diz ,claramente, que a violência que se vive na região é da inteira responsabilidade da população árabe.E acusa árabes e britânicos de não permitirem a implementação do Estado de Eratz -Israel , tal como tinha sido decidido em Novembro de 1947.
Mais:
A 16 de Abril de 1948, o já citado Jamal Husseini, declarava no Conselho de Segurança da Onu :
« The representative of the Jewish Agency told us yesterday that they were not attackers, that the Arabs had begun the fighting. We did not deny this. We told the whole world that we were going to fight.»

Para os judeus tornava-se claro, tinham de se defender como podiam, ou seriam exterminados. De novo.
E apesar da escassez de meios e de homens, o povo judeu organizou-se e tentou defender-se . Conseguiu controlar algumas das principais cidades , incluindo Tiberias e Haifa, e abria uma estrada, temporária, para Jerusalém.

A resolução das Nações Unidas mantinha-se. E como contra a barbárie só a lei se pode impôr , o Estado de Israel é criado, a 14 de Maio de 1948. Os britânicos deixam defenitivamente o país. E começa a invasão concertada.
Cinco países, e respectivos exércitos, invadem Eratz -Israel: Egipto; Síria; Transjordânia; Líbano e Iraque.
Os países invasores nem sequer esconderam as suas intenções.
Numa reunião da Liga Árabe , o secretário geral Azzam Pasha, é peremptório : « This will be a war of extermination and a momentous massacre which will be spoken of like the Mongolian massacres and de Crusades.»

À margem do espírito ilegal dos que avançam para a guerra, as « superpotências » EUA e URSS reconhecem Eratz-Israel, assim como a maioria das nações. E todos condenaram os países árabes envolvidos na jihad.
E incitam-nos a cumprir a lei.
Mas a invasão árabe continua no terreno.
A primeira fase da ofensiva árabe temina apenas a 15 de Julho, quando o Conselho de Segurança ameaça punir, com severidade, os países árabes envolvidos no conflito; por incumprimento da carta das Nações Unidas .
Por essa altura, a Haganah - o movimento militar de defesa dos judeus, criado em 1920, mudava de nome e ganhava força. Passava a chamar-se Forças de Defesa de Israel ( IDF ) e conseguia, cada vez mais, travar a ofensiva árabe.
E note-se que, aquando da proclamação do Estado de Israel , o "exército" judaico não tinha um único canhão ou tanque. E mesmo armas poucas tinha, e as que tinha tinham sido contrabandeadas , especialmente desde a Checoslováquia, porque as armas do mundo ocidental, especialmente dos EUA e da Grã-Bretanha, estavam nas mãos dos árabes. Mas a coragem, essa, era muita; assim como o espírito de sobrevivência. Ficou famosa aquela frase de David Ben-Gurion , antes da guerra da Independência: « The best we can tell you is that we have a 50/50 chance.»

Mas a guerra árabe para destruir Israel falhou. E as consequências logo se acumularam. E ninguém as pode negar.
De facto , os árabes , devido às suas agressões, perderam muitas terras; terras que nunca teriam sido ocupadas se tivessem aceitado a lei; a resolução das Nações Unidas. Numa palavra: tivessem aceitado o Estado de Israel .Em paz. Porque em nenhum documento, em nenhum relato histórico aparece a palavra guerra ligada ao povo judeu.
O Estado de Israel pretendia , então e sempre, construir-se em paz. Mas para se poder aspirar a viver em paz é preciso uma coisa fundamental : estar vivo.
E por isso se defendeu, na altura, e se defende hoje.

Não nego os exageros de Sharon, e não me choca quando lhe chamam um homem de guerra.
Mas, sinceramente, aqui a célebre questão « quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha ? » tem resposta óbvia e simples. Não justifica nada, claro. Mas ajuda a entender as raízes do conflito.
Dir-me-ão que, actualmente, as culpas são repartidas. Será verdade.
Mas quem começou sempre? Sempre?
Quem sempre falou em guerra e nunca em paz?

Querem mais exemplos?
Depois da guerra da Independência e depois de assinado o armistício com Israel ( primeiro o Egipto, a 24 Fevereiro de 1949; depois o Líbano a 23 Março; a Jordânia a 3 de Abril; e a Síria a 20 de Julho - o Iraque não assinou nada com Israel, apenas retirou as suas tropas e entregou o seu sector à legião árabe da Jordânia ), outras guerras se sucederam.

A Guerra dos 6 dias, em 1967.
Causas ? depois de mais de uma década de relativa tranquilidade, o número de ataques terroristas árabes, através das fronteiras com o Egipto e a Jordânia aumenta. Depois de 6 dias de combates intensos, Israel derrota os atacantes e livra-se dos bombardemanentos sírios , que duravam há quase 20 anos. Israel passa também a controlar o Estreito de Tiran e reunifica Jerusalém ( dividida entre Israel e Jordânia desde 1949 ).
Segue-se um novo período de calma, sempre realtiva, até que, a 6 de Outubro de 1973 , no dia mais sagrado do calendário judaico, Egipto e Síria lançam um novo ataque , conjunto, contra Israel.
A guerra do Yom Kippur ( o dia do perdão ).
Os combates duram três semanas. E, novamente, as Forças de Defesa de Israel mudam o rumo das batalhas e repelem os atacantes .

Apesar dos sucessivos ataques dos países vizinhos , Israel sempre tentou negociar a Paz. E até o consegue. Primeiro com o Egipto e depois com a Síria.
Paz feita, Israel retira-se de uma grande parte dos territórios conquistados durante os períodos de guerra.
O tempo passa.
Israel desenvolve-se; cresce; prospera e vive em relativa paz. O ciclo vicioso da rejeição por parte dos vizinhos árabes é então quebrado pela visita , em Novembro de 1977, do presidente egípcio Anuar Sadat, a Jerusalém.
Seguem-se as negociações entre Egipto e Israel , sob os auspícios da União Europeia, que culminam com os acordos de Camp David.

Enfim, muito aconteceu desde então, e Israel não está isento de culpas.
Mas o objectivo sempre se manteve: defender-se.Nada mais do que isso.
E os colonatos, a maioria dos colonatos, estão assentes em territórios conquistados em períodos de guerra. Guerra sempre declarada pelos vizinhos árabes.Nunca Israel tomou qualquer iniciativa bélica contra os seus vizinhos. Nunca. Sempre respondeu a ataques.

Claro que isso não dá direitos , nem legitima os colonatos. Mas explica as origens; os porquês.

E é só isso que pretendo com este texto. Sem justificar o que quer que seja, explicar as origens; o contexto e os porquês.
Porque estou farta , não só da ignorância, mas essencialmente da má fé de quem tanto fala em paz, de quem tanto fala deste conflito , sem ter a mais pálida ideia do que está a dizer.

Porque todos os dias são bons dias para chegarmos mais longe. É o que espero.


*Bom fim de semana. Shabat Shalom!




Ana [7/30/2004 03:00:00 da tarde]

 

Abrir o coração

Ontem à noite , na France 2, passou um documentário extraordinário.
« La Paix Nom de Dieu !»
O resumo de uma viagem ,a Israel e à Palestina, organizada pelo semanário «Témoignage Chrétien ».
Cinco dias na Terra Santa . O semanário convidou 200 franceses, de todos os credos, mas essencialmente cristãos, e alguns muçulmanos e judeus.
Para mim este documentário é muito importante. Tirou as eventuais dúvidas ( que eu não tinha ) sobre a posição que os franceses e, grosso modo, os europeus , têm em relação ao conflito no Médio-Oriente.
A visita começou num campo de refugiados palestinianos , em Nazareth. Muitas crianças e mulheres , muita emoção. Na comitiva , entre várias outras personalidades religiosas, estava o Rabino de Nîmes, Philippe Haddad. O homem que mais se emocionou , e provocou emoção ; um homem que , mais adiante explicarei porquê , foi utilizado politicamente.
Uma senhora muçulmana , que integrava a comitiva , estabeleceu contacto com as muitas crianças que queriam conviver com os visitantes e aparecer na televisão. São crianças que foram obrigadas a crescer muito depressa e que, portanto, não têm a inocência da idade ; e têm consciência política.
Um dos meninos, falador, um futuro líder nato, quando é informado que , na sua presença , está um rabino zanga-se.
Diz-lhe : « não queremos cá judeus !» A senhora, que , sinceramente, acredita que defende apenas a paz, explica-lhe que ele é um dos judeus «bons» ; um dos que defende os irmãos palestinianos.
Mas o menino não acredita ; o menino diz que os judeus são todos maus e tenta fazer o rabino dizer «Alá é grande».
Philippe Haddad diz-lhe que D-us é grande para todas as religiões. Diz-lhe que o que interessa é fazer a paz.
Mas o menino grita : « Nós vamos ganhar ! Alá vai fazer-nos ganhar ! Não queremos cá judeus !»
O menino não tem culpa. Não tem culpa. Foi educado para fazer a guerra e não a paz.
Noutro ponto, um pai palestiniano tira da carteira uma fotografia do seu filho de 13 anos com uma AK-47.
Outra senhora muçulmana francesa diz-lhe : « Isso é errado ; não está bem uma criança andar armada !»
Mas a mãe da criança que na fotografia sorri com a arma encostada a si diz :« Não está bem ? Claro que está bem ! Ele é o nosso orgulho !»
E o menino armado confirma com a cabeça, sorrindo. Está ali ao lado a ouvir tudo. orgulhoso.
Um dos jovens judeus que acompanha a visita , e assiste a este diálogo, choca-se. Diz, mais tarde, à senhora muçulmana francesa : «Isto não está bem,, não está bem. Não pode ser assim, armar as crianças, assim não há esperança ». A senhora muçulmana francesa diz que concorda ; e diz que repetiu isso à mãe do menino armado e que acha que ela compreendeu. Foi a única reacção.
No dia seguinte a comitiva vai visitar o quartel-general de Yasser Arafat. O presidente da ANP recebe a comitiva com pompa e com muitos fotógrafos .
Faz um discurso anti-judaico ; aponta o dedo ao belicismo de Israel ; condena a comunidade internacional por ter ficado chocada pela destruição dos Budas pelos Talibãs no Afganistão e por ninguém ter dito nada quando a estátua da Virgem foi atingida por rockets israelitas. Toca nos pontos sensíveis, enrola a comitiva francesa apelando-lhe ao sentimento ; fala de sofrimento e de injustiça . E de vingança. Mas nem uma palavra sobre o terrorismo ; sobre os atentados suicidas . Nem uma palavra em relação à Paz. Só em relação à vitória, à sua vitória. E praticamente ninguém se importa. Aplaudem-no de pé. Gita-se , não « Viva a Paz» , mas sim « Viva a Palestina !».
No fundo da sala estão dois jovens judeus que choram desalentados. Não batem palmas.
Mas na primeira fila está o rabino Philippe Haddad que chora, chora muito. Mas não bate palmas.
Na tribuna de honra uma senhora , da organiação, que acredita, sinceramente , defender a paz, vai buscar o rabino e leva-o para o lado de Arafat . Estão todos de mãos dadas . A senhora faz o rabino dar a mão a Arafat . O rabino é um homem bom, está emocionado, sofre com o sofrimento dos homems , e dá a mão a Arafat. Uma solidariedade espontânea e pura. De mão dada com Arafat o rabino chora ; soluça. Reza.
Mais um dia : no programa da visita está um encontro com israelitas. Na tribuna não está nenhuma autoridade israelita, apenas um jovem judeu , que deixou a França há alguns anos ; um jovem que foi vitima de um atentado terrorista . O jovem conta a sua experiência ; o estado de coma ; como viu os amigos morrerem ao seu lado ; fala de como é viver com medo.
Mas a plateia não parece muito interessada ; há mesmo uma « imagem que mata » : enquanto o jovem fala uma senhora dorme. Mas o jovem está ali para contar como é viver do outro lado ; com medo. Muito medo.Mas o jovem percebe que a assistência lhe é hostil. E tenta explicar que entende. Que percebe porque é que os franceses são pró-palestinanos , mas que gostaria que as pessoas , os franceses, entendessem também as orígens do conflito . Que quando há ataque, para sobreviver, é preciso defesa.
A assistência começa a reagir ; faz os comentários do costume sobre o sofrimento palestiniano.
No fundo da sala os dois jovens judeus franceses choram e dizem entre eles :« Mas porque é que nunca se fala do sofrimento dos judeus ? porque é que não percebem que há dois lados ? »
Um senhor da assistência explica que não é contra Israel, simplesmente é contra a política de Sharon e que lamenta que os judeus de israel não o gritem bem alto. O senhor , enervado, dá a entender que os judeus têm de pensar como ele se quiserem que ele os entenda.
O jovem judeu de Israel está desanimado. Sente a hostilidade e nenhuma solidariedade. Porque não consegue passar a mensagem de que, para haver paz, é preciso vontade. É preciso que se aceite , obviamente a criação de um Estado Palestinano, mas que Israel não pode ser posto em causa. Que o direito é o mesmo.
A assistência nega o perigo para a existência de Israel .E o jovem judeu de Israel resigna-se à hostilidade. Afinal , o que é que se pode fazer contra as ideias preconcebidas ?
Depois dessa «troca de ideias» a comitiva descobre que a imprensa palestiniana colocou nas suas primeiras páginas a fotografia de Arafat de mão dada com o rabino Philippe Haddad , em que este chora.
A orquestração tinha resultado. A visita foi utilizada politicamente por Arafat e, em alguns textos, era mesmo dado como certo o apoio total do rabino à causa palestiniana em detrimento de Israel.
Os jovens judeus franceses sentem que o rabino, e eles próprios, foram usados. Que tudo não passou de uma encenação política, baixa, para Arafat ganhar pontos.
Quando dizem o que pensam a alguns dos elementos da comitiva , recebem uma espécie de « olha, paciência ! » em troca.
Quando o autor do documentário pergunta ao rabino Haddad o que ele pensa do sucedido, ele explica que sentiu que a sua emoção genuina foi utilizada , de facto, politicamente mas que depois, racionalizando o sucedido , percebeu que assim poderia chegar mais facilmente à comitiva e fazê-la perceber qual é realmente a posição sionista e de Israel, sem que o acusem de ser anti-palestiniano, que, de facto, não é.
Mas como há essa ideia preconcebida de que quem defende Israel e os judeus é contra os palestinianos e contra a Palestina ...
Enfim.
A reportagem termina com uma senhora falando de paz. Uma senhora simples, já com uma certa idade, francesa e cristã ( que disse ao longo de toda a visita que se sentia mais útil depois desta viagem ) e que , com toda a sinceridade, explicou que mudou um pouco a ideia que tinha de Israel e dos (judeus ) israelitas . Isto porque descobriu que também há judeus pobres em Israel, que também há desemprego em Israel.
A senhora, com toda a sinceridade, achava que Israel era um mar de rosas para todos os judeus.

Em resumo : está lá tudo. Nas palavras e ideias dessa senhora simples. As ideias preconcebidas, os preconceitos. A falta de interesse pelo sofrimento causado pelo conflito aos israelitas ; o branqueamento dos atentados terroristas.

Comecei por dizer que achei , acho, o documentário extraordinário. E acho isso porque está lá tudo. Estão lá bem espelhadas as razões que levam a que a velha europa seja cegamente pró-palestiana . Digo cegamente porque , se dúvidas havia, e eu nunca as tive, o outro lado, o lado dos judeus , o lado de Israel nunca , mas nunca !, é tido em conta.
E é por isso que assim , a velha Europa, a Europa que inventou e alimentou o anti-semitismo , não ajuda a fazer a Paz. Pelo contrário. Ao tomar partido cegamente, sem ter em conta o outro lado , está a legitimar o terrorismo.
A Legitimar a Guerra .

E do que todos precisam é de Paz.
Shalom! Salam !

Ana [7/30/2004 12:50:00 da tarde]

[ terça-feira, julho 27, 2004 ]

 

Enquanto me recomponho das gargalhadas provocadas pela oposição hoje na Assembleia da República , e enquanto preparo um texto sobre Israel e outro sobre o Sudão, passo a palavra ao correspondente brasileiro desta humilde casa.

Glauco Arns Moretti fala-nos hoje sobre presidentes. E muito bem. Enjoy it.

Coitados dos nossos presidentes

Seguindo meu exemplo, alguns milhões de brasileiros, votaram no dia 3 de outubro de 2002 por mudança. Não apenas mudança de governo e do presidente, que é algo absolutamente desimportante. O voto constituiu-se pela mudança de atitude.
Aqui o voto, infelizmente, é obrigatório. Não deveria ser. Mas teme-se que pouquíssimos brasileiros sintam vontade de votar na data eleitoral. Seria muito melhor passar o dia comendo um suculento churrasco, bebericando agradáveis cervejas, pois nesta época já se faz um calor gostoso de primavera. Mas não. A partir das 18 horas em todo território nacional, é terminantemente proibida a venda da tal ?água que o passarinho não bebe?.
Colocamos no dia 3 de outubro de 2002, um metalúrgico no poder do país mais importante da América do Sul. (economicamente falando, é evidente, pois todos os países são importantes, dependendo do ponto de vista de cada um. Não troco o meu bairro pelos Estados Unidos da América.) Este ex-metalúrgico chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Cursou até a quarta série do ensino primário, não fala nenhum outro idioma, e diariamente assassina um pouco do nosso português em seus discursos improvisados, parecendo o saudoso Fidel e seus falatórios que duravam horas e horas. Para um presidente, isso é pouco, muito pouco. Mas repito, votamos por mudança e votamos em uma pessoa que já havia perdido três eleições presidenciais, por total despreparo político. Se me questionarem dizendo que votei por pena, negarei até a morte. Não se coloca ninguém no mais alto escalão por pena. Mas muitos votaram. Eu votei na tal da mudança.
Temos o mais completo esquema de votos eletrônicos do mundo, e foram precisos apenas três dias para que dessem o veredicto e a vitória para o ex-metalúrgico, agora presidente. Quase chorei no dia de sua posse. No primeiro dia do ano de 2003. O Brasil parou. O Palácio do Planalto encheu-se de gente admirada. Brasília nunca recebeu tantos turistas. Caravanas de todas as partes do país, inclusive aqui do Sul, passaram o reveillon dentro de ônibus. Estavam indo ver o ex-metalúrgico, que perdeu um dedo da mão em sua árdua labuta. Agora era o Presidente da Republica Federativa do Brasil.
Fernando Henrique Cardoso, com elegância e desprazer passou a faixa presidencial para o novo presidente. Era oposição, mas foi um exemplo claro de democracia. Foi lindo. Foi empolgante. Entrava o presidente mais votado da história do Brasil. 50 milhões de votos. E era de uma oposição ferrenha, chata, daquelas que discordava do certo até a morte. Mas votamos pela mudança.
O dólar FHC estava em alta. Ainda está. Os juros estavam altos. Ainda estão. A violência predomina nos grandes centros. Continua a mesma coisa. Existiam milhares de impostos. Hoje um pouco mais. Só estamos mais velhos, pois o tempo não perdoa ninguém. Mas há de perdoar. Continua a mesma coisa. E os cabelos dos velhos aposentados, coitados, esquecidos, abandonados, estão mais grisalhos, pois como já disse, o tempo não perdoa, mas há de perdoar.
Não me arrependo em nada do que fiz. Coitado de nosso presidente. Merecia esta chance e lhe foi concedida. E não está sendo um presidente ruim, muito pelo contrário. Está sendo legal, com bons propósitos, talvez um pouco mal formulados, mas não é mal intencionado. Mas como todo presidente, por mais bem preparado que esteja, aos olhos do povo sempre estará despreparado. Jamais ficaremos satisfeitos com o chefe-maior. Pode ser Chirrac, Putin, Bush, eles fazem sempre a mesma coisa. Eles são ótimos, mas, ao mesmo tempo, sempre serão horríveis, péssimos, os piores. Quem implorou para serem presidentes? Mas o tempo há de perdoa-los. Eu também.


Glauco Arns Moretti
[ contacto: glaucoarns@yahoo.com.br ]

Ana [7/27/2004 04:39:00 da tarde]

[ segunda-feira, julho 26, 2004 ]

 

Tens toda a razão , Nuno. Nunca mais!
Mas dizemos isso sabendo que situações como as que referes , infelizmente, se repetem sempre.
Sobre Darfur: é uma situação terrível. Estou atenta - estou sempre atenta à loucura humana - e costumo acompanhar a situação através deste site. Tenho uma amiga sudanesa, cuja família se refugiou aqui em Paris, que também vai fazendo relatos dos acontecimentos. A nível profissional e a nível pessoal.
Corta o coração.
Corta sempre o coração quando vemos o que a nossa triste raça é capaz de fazer.
Já agora acrescento ( desculpa se te repito, mas não tive tempo para ver todos os teus links ) o último relatório das Nações Unidas sobre a situação humanitária provocada pela crise de Darfur.Tem apenas 6 dias.

E obrigada por estares sempre atento e preocupado. Assim se reconhece o trigo no meio de tanto joio.[ acho bonita esta parábola cristã ]


Ana [7/26/2004 10:51:00 da manhã]

[ sexta-feira, julho 23, 2004 ]

 

Até sempre, Carlos Paredes!


Ana [7/23/2004 11:06:00 da manhã]

[ quinta-feira, julho 22, 2004 ]

 

Tudo boas notícias

 
O Vasco vai continuar a inventar memórias.
E o melhor homem a dias do universo é cada vez mais o génio da lâmpada; sendo que  lâmpada é a blogosfera.
Ainda por cima, o homem a dias apresenta-nos o delicioso Pura Goiaba. [ Mais a mais pensa, julgo eu, o mesmo que eu penso sobre a cançonetista madona. Tu desculpa, querida Charlotte , mas, depois do Louçã, essa cançonetista é a figurinha que represento mais nos meus bonequinhos de voodoo. ( Já agora aproveito: querida Charlotte, fosse eu Primeiro Ministro e escolhia-te mas era a ti para Secretária de Estado; e dava-te poder de escolha.Depois, duas semanitas, e ias a ministra) ]

Entretanto José ( Manuel Durão ) Barroso  foi eleito presidente da Comissão Europeia.
413 votos a favor; 251 contra; 4 4 abstenções e 3 votos nulos.
A minha única dúvida é: aquele rapaz do rolo da massa terá votado realmente contra, ou, para ser coerente...escolheu o voto nulo?




Ana [7/22/2004 02:32:00 da tarde]

[ quarta-feira, julho 21, 2004 ]

 

Alô, é do Brasil!

Faz frio no Sul do Brasil. Mas o frio aqui do Sul, contrasta com o calor infernal do nordeste brasileiro, lá onde o carnaval dura duas semanas, um mês, ou melhor, dura o ano todo. No Brasil é assim mesmo. Estamos acostumados. As suas enormes dimensões demográficas nos trazem calor de 35, 40 graus centígrados, como também nos congelam os dedos dos pés, da mão, e outras extremidades que não convém citar para não causar certos constrangimentos. Mas voltando a falar do frio, resido a um pouco mais de 100 quilômetros de distância da cidade mais fria deste país "abençoado por Deus e rico por natureza, mas que beleza," conforme música de Jorge Ben Jor. A previsão é de neve em São Joaquim para estes dias, e por aqui, ao contrário de alguns palmos de trechos do Velho Mundo, neve sempre é novidade e atraem milhares de turistas.
Bom, demos fim a estes frios penetrantes e falemos um pouco de fatos. A questão é que durante uma ociosidade estranha de uma tarde sem muitos afazeres jornalísticos, decidi procurar pela internet bons textos e boas crônicas, e por falar nelas, as benditas são o único vício, que carrego desde meados de 2001.
Tratando-se de uma breve apresentação, não fixar-me-ei em assunto algum. Bom, procurando, procurando, procurando mais um pouco, causou-me profunda satisfação acessar um tal de Crónicas Matinais, e quando não maior o meu espanto, perceber que se tratava de um blogger de língua portuguesa, mas não de um brasileiro, pois em várias linhas constatei um tal de APETECER, que não é muito comum "pras" bandas de cá do Atlântico. Só poderia tratar-se de uma habilidosa portuguesa, com enorme bagagem cultural, conhecedora deste país que amo e de outros países, e que gosta muito de literatura, futebol e de humor. Além de todas estas que julgo ser qualidades, parece dar o mesmo valor `as letras que eu. Pronto! Encontrei a perfeição em pessoa mas na forma de letras.
Deixando de lado às brincadeiras, adoraria partilhar pensamentos com todos que acessam a este agradável blogger. Aqui no Brasil as pessoas, ou melhor, a maioria delas, usa o blogger para mostrar as fotos da última festa, quem tomou um porre maior, quem beijou quem e outros acontecimentos supérfluos que estão longe de algo verdadeiramente interessante. Por isso viajei, navegando para outros lugares e cá estou, para trazer um pouco mais das maravilhas e das malezas que este país sempre me oferece. Temos muitas novidades, infelizmente, nem sempre boas, pois se fossem não faríamos parte do terceiro mundo. Mas estamos aqui, sempre orgulhosos deste país, desta "terra cheia de palmeiras, onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá."
Ah, já ia esquecendo. Glauco Arns Moretti, 21 anos, intitulado por Ana Albergaria como o novo correspondente do Brasil em Crónicas Matinais. Prazer!

Glauco Arns Moretti

Ana [7/21/2004 10:58:00 da manhã]

 

Bendita Globalização

O Crónicas Matinais passa, a partir de hoje, a ter um correspondente. A ideia já eu a tinha há muito tempo, mas só agora se concretiza. O primeiro correspondente cá do blog é irmão. Não de sangue, mas de laços vários: é brasileiro. Um homem do sul; do sul de Santa Catarina; cidade de Criciúma. Brasil.Brasil.Brasil.
Que me desculpem todos os outros países do mundo, mas, cá na minha chafarica, só há espaço para irmãos. Começo pelo Brasil, e conto, até ao final do ano, melhorar o blog com colaborações vindas de Israel, de Timor Lorosae, dos Estados Unidos da América e da Irlanda ( das duas se tudo correr como espero!) .

Por ser verdade, tenho de afirmar o seguinte: não concertei estratégia alguma. Não sei das preferências políticas, culturais ou desportivas de Glauco Arns Moretti; é esse o nome ( muita pinta , hã? ) do braço brasileiro deste blog. Aqui há liberdade de expressão e de opinião.
Se eu não concordar logo o direi, ou não; mas censurar nunca.
A primeira crónica - a primeira de muitas espero!- refresca-nos . Brrr... ( fala de frio...)
Mas também aquece o coração; pelo menos o meu.

A crónica vem já a seguir.

Obrigada, Glauco!


Ana [7/21/2004 10:24:00 da manhã]

[ quinta-feira, julho 15, 2004 ]

 

Hoje é dia de Anton Tchekhov



"Don't tell me the moon is shining; show me the glint of light on broken glass" - Anton Tchekhov


Ana [7/15/2004 12:46:00 da tarde]

 

António Monteiro é uma excelente escolha para o MNE.
Mas não é sobre isso que quero falar.

Há dois dias contei-vos aqui um caso, mais um, de antisemitismo em França.
A diferença entre este último e os outros, é que este último foi inventado. Não por mim, claro!, mas pela jovem mãe. A jovem senhora inventou a história . E escolheu dar-lhe um cunho antisemita porque, e passo a citar:« Seria mais credível a agressão.»
Há aqui dois pontos fundamentais:

Primeiro - a rapariga é desequilibrada; tem um historial de queixas por agressão física e sexual longo; sempre queixas que não deram em nada porque nunca se provaram as agressões. A rapariga , no dia em que disse ter sido agredida, tinha de efectuar o pagamento de um carro e não tinha dinheiro. Inventou a história toda para se livrar do compromisso.

Segundo - Os casos de antisemitismo em França são quase diários. Há, de resto, um aumento substâncial do número de judeus franceses que estão a trocar a França por Israel .É realmente preocupante a situação dos judeus, não só em França, mas em muitos outros países do velho continente.
E foi esta realidade que levou a que ninguém duvidasse da agressão contada a semana passada pela jovem mãe.
A polícia acreditou ; a justiça acreditou; o governo acreditou; o Presidente francês acreditou. A imprensa acreditou.
Todos comentaram o caso; deram-lhe toda a importância . O caso fez manchetes nos jornais; abriu os noticiários televisivos e radiofónicos.
Foi por ser tão verosímil que ninguém duvidou. Porque estes casos acontecem. Infelizmente é assim.
O trágico de toda esta história inventada ( baseada, no entanto, num caso bem real ) é que dá argumentos a quem não gosta de judeus; e , talvez pior, levantou mais uma vez suspeitas sobre a comunidade árabe em França.
Porque a jovem mãe disse que tinha sido atacada por 6 jovens árabes.
E é perfeitamente compreensível a indignação da comunidade árabe.
O antisemitismo é um cancro geral. Mas é verdade que, pelos menos aqui em França, sempre que se fala em antisemitismo se aponta o dedo aos árabes e aos muçulmanos. E isso é injusto.
Porque ao fazer-se isso, está-se a tentar combater uma forma nojenta de racismo - o antisemitismo - com outras formas de racismo - arabofobia e islamofobia, igualmente nojentas.
E isso é profundamente errado , injusto e desumano; tal como o é o antisemitismo dirigido aos judeus.

Mal a polícia anunciou que a jovem senhora tinha inventado tudo , a comunidade árabe protestou. E com razão.
Mal a polícia anunciou que a jovem senhora tinha inventado tudo, a comunidade judaica protestou. E com razão.
Isto porque , como infelizmente tem vindo a ser hábito, aparecem logo uns especialistas em filhadaputice a dizer : « Estão a ver? São os judeus que inventam tudo para se fazerem de vítimas!»
Os mesmos filhos da puta que têm a lata de achar que alguns dos atentados em Israel são organizados pelos próprios judeus para justificar algumas medidas drásticas de segurança.

Que D-us lhes perdoe que eu não sou capaz.

Para terminar: a jovem senhora não é judia ; utilizou o antisemitismo ,latente neste país em que vivo, como camuflagem , porque isso daria credibilidade às suas fabulações. Conseguiu com isso fazer mal à comunidade árabe e à cominidade judaica.
Não tenho qualquer tipo de piedade em relação à jovem senhora. Se é maluca que se trate.
E espero que receba um castigo exemplar. Exemplar.
Porque não se pode brincar com coisas assim tão sérias.

Ana [7/15/2004 11:55:00 da manhã]

[ terça-feira, julho 13, 2004 ]

 

Gosto muito de Durão Barroso mas fiquei irritada com as justificações dadas aos socialistas europeus. Pudesse eu...e dava-lhe um caldo!

Entretanto:
Estava aqui a dar uma volta pelos blogs e descobri que há cada vez mais portas a fechar. É pena.
Mas, lá está, como boa democrata acho que cada um sabe de si e o resto é conversa.
Seja como for, tenho pena que o Grão Vasco termine o Memória Inventada. Vou sentir falta deste novo...Pessoa; e dos seus heterónimos.

Também acho mal que termine o Cruzes Canhoto; dos blogs de esquerda era (é) o meu preferido.
E, sinceramente, concordo inteiramente com o que escreve hoje o meu amigo maradona:"Este gajo é nitidamente maluco.... E o post do maradona é absolutamente fantástico e certeiro. Como sempre.



Ana [7/13/2004 01:46:00 da tarde]

[ segunda-feira, julho 12, 2004 ]

 

A insustentável leveza dos factos

Na sexta feira passada uma jovem mãe, de 23 anos, entrou num comboio da linha B do RER ( comboio regional ) parisiense com o seu bébé de 3 meses .
Ficou perto da porta para poder vigiar o carrinho de bébé onde transportava o seu filho.
Minutos depois , 6 jovens, armados com armas brancas, entram na carruagem e assaltam-na.
Quando lhe abrem a carteira, onde encontram 200 euros, descobrem, graças aos documentos, que a jovem senhora mora no bairro 6 de Paris. Um bairro "endinheirado" como por cá é conhecido.
Os filhos da puta que a assaltam pensam: « olha, esta vive em Paris 6, é rica, portanto só pode ser judia».
E então um assalto transforma-se numa agressão antisemita. Rasgam as roupas da senhora; cortam-lhe o cabelo e desenham-lhe 3 cruzes suásticas na barriga.
Antes de deixarem o comboio ainda viram o carrinho deitando o bébé ao chão.

A jovem mãe não é judia.
Na carruagem seguiam cerca de 20 passageiros e ninguém mexeu um dedo sequer para a defender ou simplesmente ajudar.

Pensem nisto.

Ana [7/12/2004 03:19:00 da tarde]

 

Demokratía Rive Gauche

Quando escrevi ,aqui no blog, que tinha a absoluta certeza do bom senso do Presidente da República , ou seja, que obviamente Jorge Sampaio não iria dissolver a Assembleia e convocar eleições antecipadas, recebi alguns e-mails que diziam, grosso modo, que eu estava parva, ou que o sou simplesmente.
Eu sei que o que vou dizer a seguir vos pode chocar e, quiçá, provocar más recordações, mas é a vida. Vamos lá:
Eu posso , o mais das vezes, utilizar um tom levezinho aqui no blog; "comentar" políticas ou actos políticos às três pancadas, mudar num ápice de um registo sério para um outro mais gozão.
Faz parte de mim; a dupla personalidade, se quiserem. Mas, falando muito a sério, raramente me engano e (quase) nunca tenho dúvidas. [Hihi...]

Agora o que me choca é o seguinte: anda para aí muito boa gente a encher a boca com palavras tipo democracia e liberdade , até se babam ao debitar os vocábulos , tal é o entusiasmo...e, depois, vai-se a ver, e nem sequer sabem o que essas palavras querem dizer.
Sim, porque só isso explica que, agora, essas mesmas entusiasmadas pessoas, dêem o dito pelo não dito e vociferem contra o mais elementar acto de democracia e liberdade.
Ou seja, a democracia, para as alminhas supracitadas, tem um significado alternativo; aliás os dicionários dessas alminhas são diferentes, uma espécie de versão à la carte .
Por mero acaso tive acesso a um exemplar, jeitoso, capa dura ; encarnado com pequenas foices, martelos e rolos da massa em tons dourados.
Abro-o e....cá está: «democracia , do grego demokratía; s.f.; sistema político fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo (conjunto de cidadãos que pensam como nós; que não são autorizados a pensar de forma diferente da nossa ) e é exercida por ele ( nós, nós, nós ! ) ao investir o poder soberano através de eleições periódicas livres ( salvo eleições que ditem resultados que não nos agradem ), e no princípio da distribuição equitativa do poder ( equitativa quer dizer todos os lugares são para nós e para quem pensa como nós ); país em que existe um governo democrático ( só nós sabemos o que é a democracia, por isso apenas um dos nossos pode governar ); governo da maioria sendo que a maioria só pode ser nossa e dos nossos ; sociedade que garante a liberdade de associação ( mas apenas associações criadas por nós ) e de expressão ( expressões nossas , escolhidas por nós ; de preferência apoiadas em novas tecnologias, como por exemplo , as sms ) e na qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários ( a não ser os decididos por nós ).»

Está tudo explicado não está?

Que coerência , senhores! Que bela imagem da democracia!
O que eu me ri, por exemplo ao espreitar os Barnabés, ao "ler" o post em que um senhor faz um acto de contrição , dizendo que está arrependido por já ter apoiado o PR e por nunca ter apoiado a Engª Pintassilgo.
Elementar : um está vivo mas tem a mania de os contrariar ; a outra está ( infelizmente ) morta mas até defendeu o seu ponto de vista. Pois...sentem-se algo desemparados.

Eu cá não sei, mas cheira-me que , se um dia, um violento ataque de bichas loucas, i.e.,lombrigas, visar o Michael Moore ou se o joanete do Noam Chomsky o incapacitar de debitar «ideias» , os nossos «democratas à la carte » são capazes de se imolar , ou então emigrar para a Sibéria ou o caraças!...
Eu, que sou democrata « à moda antiga » , que sou pelo respeito pelo adversário e não sou troca-tintas, desejo-lhes , desde já , uma boa viagem! E para breve de preferência.

Sinto que o texto ficava jeitosinho se acabasse aqui. Mas ainda acrescento o seguinte:
É porco. É nojento ver como o narcisismo e o mau carácter de algumas aves raras da «oposição» se sobrepõem ao que realmente conta : os interesses de Portugal e dos portugueses.
Afirmar : « Sampaio já não é o meu presidente!» porque o Presidente da República tomou uma atitude consciente mas contrária aos interesses umbiguistas das aves raras da «oposição» é a maior prova de totalitarismo e fascismo que alguma vez vi.
Sampaio é socialista e não deixa de o ser por pôr acima das suas ideologias políticas os interesses do país.Ele é o presidente de todos os portugueses, percebem? Não só dos socialistas, ou, vá lá, dos da esquerda. Compreendem? De todos. O país primeiro é o lema.
Merece o respeito de todos, penso eu, também e especialmente por isso.


Para terminar: Raramente entro na gasta dicotomia Esquerda/ Direita. Mas, a ver pelo circo, a ver pelas reacções atolambadas e histéricas de certos esquerdistas da nossa praça , sou obrigada a reconhecer a evidência:

Em termos de Democracia,e não só, a direita está a anos luz da esquerda.
E sinto-me cada vez mais feliz por ter sabido escolher , na altura certa, o lado certo.

Disse.

Ana [7/12/2004 12:58:00 da tarde]

[ sexta-feira, julho 09, 2004 ]

 

Hoje é dia de Vinícius de Moraes




São Demais os Perigos desta Vida


São demais os perigos desta vida pra quem tem paixão

Principalmente quando uma lua chega de repente

E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar que atua desvairado

Vem se unir uma musica qualquer

Aí então é preciso ter cuidado

Porque deve andar perto uma mulher

Deve andar perto uma mulher que é feita

De música, luar e sentimento

E que a vida não quer de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:

Tão linda que só espalha sofrimento

Tão cheia de pudor que vive nua

Ana [7/09/2004 10:43:00 da manhã]

[ segunda-feira, julho 05, 2004 ]

 

Tá bem; tá bem. Levem lá a taça, marcaram mais golos, ganharam; mereceram. Ok,ok,ok...

No entanto só me apetece manter o título do post anterior.

E dizer, à nossa selecção:Obrigada!


Ana [7/05/2004 10:11:00 da manhã]

[ sexta-feira, julho 02, 2004 ]

 

Fuck yourself, son of a bitch!

Também gostei muito de ver o Saddam Hussein na televisão. E gostei ainda mais de o ouvir.
Pode ser que alguns anjinhos que para aí andam a ocupar espaço percebam que, se lhe derem oportunidade, ao Saddam, ele vai acabar por fazer tudo outra vez: matar, matar e vingar-se.
Eu sei que muitas virgens salvíficas andam com as mãos na cabeça a dizer: « Ai valha-me a santinha da Ladeira , não é que esses iraquianos vendidos ao amaricanos querem condenar à morte o pobrezinho do senhor? Ai os direitos humanos; ai a liberdade, a igualdade e a fraternidade!»
Isso é muito bonito. Sou até capaz de verter uma lagrimita por tão boas almas...
Não me fodam.
Se não tirarem a tosse ao gajo, ao facínora, sabem o que vai acontecer?
Os terroristas que o defendem e que andam a matar civis indiscriminadamente no Iraque vão arranjar maneira de o tirar das mãos da justiça e ele vinga-se à séria. Carnificina total.
Viram a forma como ele falou? A arrogância ? « Eu sou o presidente do Iraque!» ; «os Koweitianos são cães» ; «Eu só soube do gaseamento dos curdos pela comunicação social » etc.
E repararam como o juíz o enfrentou de cabeça baixa? Com medo?
O animal é diabólico e a sua especialidade é dar a volta por cima. Os iraquianos ainda têm medo dele. E têm razões para ter. Se os soldados americanos deixarem de controlar Saddam, se ele for entregue apenas às forças da ordem iraquianas , temo o pior.
Concordo que , a nível político, grandes nações democráticas, como a Inglaterra, se mostrem contra a pena de morte. É natural que assim seja.
Aliás, quem tem o objectivo de «democratizar » um país árabe não pode agir de outra maneira.
O que espero não é que o Iraque institucionalize a pena de morte. Não. Eu sei que já aqui defendi, no blog, a pena de morte. Mas, sinceramente, não tenho opinião consensual sobre a pena de morte, a nível legal. Em países claramente democráticos não me choca porque sei que há um contrôle sério ; nos outros choca-me.Eu sou eu mais as minhas contradições.
O que espero, e desejo, é que ele, Saddam, seja abatido o mais rapidamente possível . Não quero dar lições a ninguém, nem imiscuir-me nas decisões de um estado soberano.
Quero é apelar a algum mercenário que possa eventualmente estar a ler-me ( há sempre um mercenário à mão...) que faça a justiça de aceitar a tarefa de salvar ,eventualmente, se não a humanidade, uns milhões de iraquianos.
Estou disposta a contribuir e sei ser generosa quando é preciso.

Também me transtornou muito uma reportagem que vi esta semana sobre as leis turcas no que à família diz respeito.
A constituição turca ainda legitima os «crimes de honra». A reportagem mostra um caso banal: um turco não gostou que a sua mulher lhe tivesse respondido e toca de sacar da naifa e esfaqueá-la ; na via pública. Na imagem vê-se , e ouve-se, a senhora a pedir para ele parar enquanto ele, tranquilamente e indiferente à gente que passa, está sentado junto a ela espetando a naifa no peito, na cara e nos olhos da mulher. Perto de 30 facadas foi o resultado. O homem acabou por ser detido e foi condenado a ano e meio de prisão, que não cumpriu.
A reportagem mostra também depoimentos de jovens turcos que explicam que, mesmo que não concordem, são obrigados a lavar a honra, porque a sociedade assim o exige. Houve um que disse: « Se eu não fizer nada , um dos meus amigos diz-me : tu não és homem, não honras o bigode que usas.» A eterna questão dos homens de bigode e barba rija. A reportagem mostra também o caso de uma senhora que foi violada pelo vizinho e que foi lapidada, também em praça pública, e o vizinho violador morto a tiro. Porquê matar a mulher se ela foi a vítima? Pois para os turcos uma mulher se é violada é porque provocou o violador.
A reportagem começa, no entanto, com o depoimento de um senhor idoso, com várias mulheres, que explica , sorrindo, que as mulheres são dos maridos e eles podem fazer delas o que quiserem .
Trágico é que tudo serve para justificar a «lavagem de honra », até olhar para o lado ou ter dores de cabeça nos dias difíceis.

Não. A Turquia não pode fazer parte da União Europeia. Não ainda. Talvez nunca.

Ana [7/02/2004 12:06:00 da tarde]

[ quinta-feira, julho 01, 2004 ]

 

Bom, eu não queria. Aliás, não gosto mesmo nada de vir para aqui apontar dedinhos( digo dedinhos e não dedinho porque ,às vezes,em vez do indicador uso o médio...) a camaradas bloguistas ou blogueadores ou lá o que somos;acho pedante e algo presunçoso. Mas desta vez tem de ser.
Antes de apontar o dedo, porém, tenho de dizer duas coisas:

- O cidadão em causa escreve bem e, o mais das vezes, concordo com as suas ideias;
- O facto de ser discípulo de JPP , por quem eu não nutro especial simpatia, nada tem a ver com a minha crítica.

Vamos lá então:
O texto de que quero falar é este; «Crónica De Uma Crise», o autor é Carlos Marques de Almeida, convidado especial de João Pereira Coutinho nos seus «Diários».

O texto está bem escrito, i.e., português sem mácula; boas palavras.
Mas...
A sério, vão lá ler e, por favor, expliquem-me o que é que Carlos Marques de Almeida quer dizer. Eu não apanhei uma única ideia.
Só retórica e vácuo. Não consegui descobrir, em concreto, sobre o que é que o autor está a falar.
Juro que, na blogosfera, nunca me tinha acontecido!

[Um beijinho ao excelso Carlos Marques de Almeida que, espero, não vai levar a mal a alfinetada.]

Ana [7/01/2004 03:53:00 da tarde]

 

Obrigada!

Querida Júlia, ontem quando vi o nosso irmão comum, Luís Felipe Scolari, a cantar o Hino Nacional Português, tive a certeza que a vitória era certa.Tive a certeza que ele, se quisesse, iria voltar a festejar mais uma vitória com a bandeira de Portugal e a bandeira do Brasil lado a lado.
Nem te conto como me comovi. Nem te consigo explicar porque é que esta passagem à final é tão importante.
Tu , que és minha irmã desde há séculos, que falas a mesma língua que eu , também sabes como o futebol mexe com a gente, né ?
Mas aí, no Brasil, as vitórias em competições importantes já não são novidade. São saborosas sempre, muito festejadas e emotivas, mas vitórias dessas ? porque sois os melhores !- são uma constante.
Em Portugal, no meu país, essas vitórias em competições importantes, a nível de seniores, não existem. Falo da selecção.
Porque a nível de clubes temos o meu FC Porto , como já tivemos o Benfica , para nos alegrar.
Mas sabes, querida Júlia, aí no Brasil ninguem se espanta com a alegria sentida pelos adeptos, ninguém critica o número de bandeiras , ninguém critica as declarações emocionadas do povo ; pelo contrário, aí, no Brasil, unem-se todos . Ricos ou pobres, latifundiários ou favelados. Na hora da Copa o povo brasileiro é só Um !
Sabes, queridaJúlia, esta vitória , a de ontem e, espero eu, a de Domingo, pode ser o inicio de um novo ciclo para os portugueses. Isto porque pode finalmente fazer-nos perceber que ganhar é possível e é muito, mas muito bom.
Que nos aquece o coração, nos enche de orgulho , nos faz acreditar em dias melhores, nos faz perceber que lutando e tendo atitude, tudo se pode conseguir.
Que não temos de ser sempre coitadinhos , que somos tão capazes como os outros de fazer Tudo.
E a bola, o futebol, é um começo tão bom como outro qualquer. Pode ser que , com uma vitória destas, tão mediática e comentada a nível mundial, os portugueses finalmente percam a vergonha da sua pátria e que acreditem que a matéria prima está cá : espírito de sacrificio, união e vontade de vencer.
É óbvio que Portugal é um pequenino país ; que há outras prioridades mais urgentes : mais e melhores escolas e hospitais ; melhores salários e mais postos de trabalho.Mais protecção dos cidadãos ; mais qualidade de vida.
A bola não nos dá isso, claro. Mas ajuda a acreditar. E acreditar é o primeiro passo.
Lembro-me de estar aí, no teu Brasil, numa altura de Copa do Mundo e de ver tanta e tanta gente na rua a sambar, a cantar, a sentir uma alegria imensa e um orgulho maior de ser brasileira. Gente muito pobre, que vive nas favelas do Rio, que não tem dinheiro, que sofre e, no entanto, nos dias em que a selecção canarinha jogava esquecia tudo e saia para a rua. Porque é gente que acredita. Que sabe que não é a vitória , nem os golos do Romário, do Ronaldo ou do Rivaldo , que lhe vão dar de comer, mas que também sabem que é mais fácil encarar tantas e tantas dificuldades com pelo menos a alegria de poder chorar de orgulho, de emoção alguns dias por ano. Por isso sambam e cantam e riem e choram de forma pura. Porque acreditam que, como brasileiros, também , um dia, podem cantar a sua vitória pessoal . É uma espécie de alavanca. E é uma alavanca muito positiva.
Querida Júlia, em Portugal, o meu povo ainda não reage bem a uma emoção tão colectiva , tão genuina e tão espontânea. Há sempre muitos que acham saloio ( brega ) andar com a camisola da selecção e mostrar a nossa bandeira nacional. Acreditas que há mesmo quem diga que se sente envergonhado de ser português ao ver tanta gente na rua a festejar ?
É , minha irmã, Portugal é mesmo um país complicado. Mas eu amo tanto o meu país, amo tanto os portugueses que lhes perdoo tudo. Mesmo os maiores disparates .
Porque eu acredito. Tenho fé e sou agradecida a quem me faz vibrar. Mesmo que seja por uma questão considerada « menor».
Bom...para mim não é menor ; eu adoro futebol. Maluquinha da bola .

Agora, minha querida, sobre o jogo, o melhor é leres o que escreve este meu querido amigo maradona , que sempre é um gajo que, tecnicamente, está mais bem preparado do que eu. ;)

E um beijo grande em português.
Viva Portugal ! Viva o Brasil !



Ana [7/01/2004 11:24:00 da manhã]

 

Venha a taça que heróis já temos!

Ana [7/01/2004 10:40:00 da manhã]