Venho cá só assim , em passo de corrida, para dizer Muito Obrigada à minha querida amiga Tânia que, sem querer, tem de pensar em todos nós! Ana [8/29/2003 03:48:00 da tarde]
Podia falar-vos das minhas doenças e de como passei as últimas horas a ser picada nos dedos por causa da minha diabetes. Mas não me apetece.
Apetece-me contar-vos- repartir, uma estória que já se passou há uns anos e cuja protagonista é uma das minhas melhores amigas .
Ontem, para me distrair-e à falta de pachorra para contar carneirinhos , depois da terceira vez que me acordaram com a agulha nos dedos, lembrei-me desta estória. Aqui a conto, com título e tudo:
Estória de O.
A minha amiga Olga ( please, nada de piadinhas , ou perguntas como : o dinheiro, ou as chaves? ) é uma porreiraça. Sempre a rir; sempre muito gira e fresca; sempre com muito savoir faire...e bruta como as casas para com quem considera idiota ou estúpido.
Um dia, em Março de 1997, salvo erro, fomos ambas convidadas para um fim de semana campestre, em casa de um amigo comum, inglês , numa propriedade lindíssima nos arredores de Londres.
Chegamos numa sexta-feira à tarde, todas muito bem vestidas ,em tons terra, tão tipicamente ingleses; com chapelinhos com penas comme il faut , que aquilo ia ter uma caçada e tudo.
De maneira que chegámos lá, fomos apresentadas aos pais desse amigo e aos restantes convidados.
Apesar da Olga ser uma "terrorista cultural" em fim de carreira, uma revolucionária sem Che, ela pela-se por estes fins-de-semana conservadores e elegantes.
Muito mais do que eu ,que os papo desde menina e moça.
Fomos instaladas na mesma ala, no mesmo quarto. E quando chegámos ao quarto, a Olga confessa-me que, lamentavelmente, sentia os seus intestinos revoltos.
Não há-de ser nada-digo-lhe eu que ando sempre com uma mini-farmácia atrás de mim. Abro a malinha da cruz vermelha, tipo o saquito do Sport Billy, e dou-lhe dois comprimidos para a diarreia .
Ela toma-os e pronto. Assunto momentaneamente encerrado.
Fomos passear pelos bosques a cavalo; respirar os ares do campo e conviver com os restantes convivas . Eu, sempre que me lembrava dos intestinos da Olga, olhava para ela, e, apontando para a barriga, perguntava com os olhos se estava tudo bem; ela respondia que sim, toda sorridente e corada, levantando os polegares.
A noite tombou, comemos como lapões, e, depois de um passeio ao luar ( quer dizer, luar, luar não havia, mas fica aqui muito bem na descrição ) fomos fazer xixi para depois cama.
E dormimos como justas. Ela pelo menos dormiu...eu, confesso, fui acordada duas vezes pelo barulho , enfim, nojento, dos intestinos dela a expelirem gás...cof, cof...e tóxico!
Mas de manhã, claro, não lhe disse nada.
Eu ficava aqui , agora, mais uns 3500 caracteres, a contar-vos tudo sobre o dia de Sábado, sobre esse meu Shabat alternativo, mas se calhar é melhor encurtar a história.
De maneira que, de repente, já era Sábado à noite e , depois do jantar, fomos todos para os quartos , para nos prepararmos para sair. Iamos a um " baile" rural, ali nas imediações.
Eu fui primas, à casa-de-banho; e a Olga seria sigas, se os intestinos dela não tivessem uma personalidade demasiado forte...
A Olga começa a bater-me à porta, aos murros, a pedir para entrar e eu, apanhada com as calças na mão, a dizer que não; que não saía, ela que esperasse ...
A Olga fez tamanho chinfrim, que o Simon , o nosso anfitrião, foi ver ao nosso quarto, o que se passava . Nós estávamos a duas portas do quarto dele, de maneira que depois da Olga, armada em varina, lhe ter dito que precisava de se aliviar rapidamente e que eu não saia da casa-de-banho, o Simon , cavalheiro, ofereceu-lhe a sua casa-de-banho, a do seu quarto, para ela se aliviar.
Eu, juro, estava roxinha de vergonha dentro da casa-de-banho, a ouvir a conversa...
Ela lá foi. Lá se aliviou.
Mas, curiosamente, voltou algo misteriosa e calada. Como já estávamos atrasadas e todos esperavam por nós, descemos a correr. Estranhei, no entanto, ter de empurrar a Olga , porque ela cismava que precisava de ir ao quarto guardar qualquer coisa.
Afinei, e mandei-a guardar a coisa , fosse lá o que fosse, na carteira , porque era uma enormíssima falta de educação fazer esperar as pessoas.
Bom, descemos e fomos metidas num carro , rumo ao "baile" rural.
Poupo-vos a descrição do baile, apenas digo que, das várias vezes que me cheguei mais para a beira da Olga-que não largava a carteirinha- sentia um cheiro estranho e desagradável...
Mas, pensei eu, era coisas do meu nariz que é muito esquisito com cheiros.
Bailamos e rimos , comemos e bebemos e lá para as 5 da manhã voltamos ao lar.
Dormimos mal chegámos ao quarto e a Olga, de tão cansada que estava , lá largou a carteira; em cima da cómoda.
Do dia seguinte, Domingo, tomámos um lauto pequeno almoço, demos um ultimo passeio pela propriedade e, depois de comer algo leve, fomos conduzidas ao aeroporto.
A Olga, que é mesmo uma querida, estava muito mais descontraida. Tanto que se fartou de me contar coisas engraçadas até mesmo à hora de entrarmos na manga que nos levava ao avião...nisto, estávamos já com um pé dentro do aparelho voador que imita um pássaro natural ( já agora, é isto que significa a palavra avião, mas em francês, já que a invenção é deles...), eu pergunto à Olga: «olha lá, afinal o que é que tu tinhas ontem assim tão importante para guardar, e que meteste na carteira, e que te deixou quase histérica?»
A mulher fica-me branca, depois escarlate, começa a suar e a olhar para a carteira com os olhos esbugalhados...e eu tenho de a empurrar até aos nossos lugares . Já sentadas, ofereço-lhe os meus dois ombros e peço para que ela possa desabafar. E ela então conta-me tudo:
Depois de ter tomado os dois comprimidos para a diarreia, os instestinos dela começaram a solidificar as coisas que eles lá acham por bem solidificar...de maneira que, no Sábado, aquando daquela necessidade urgente de ir à casa-de-banho, ela foi-se aliviar à casa-de-banho do Simon e, por azar, os instestinos dela decidem expelir , não gases, mas dois pedaços , bastante sólidos, daquilo que eles acham por bem expelir...e...quando ela puxa o autoclismo , a água -qual luta de David contra Golias- não tem força suficiente para fazer descer os dois pedaços ...e só leva um para o cemitério das fezes.O outro, mais resistente, ficou lá a boiar, dentro da sanita imaculada do Simon...
E, ó desgraça das desgraças, o autoclismo levava muito tempo para voltar a encher-se de água, de maneira que foi preciso pôr a imaginação a trabalhar.
A Olga, então, lembra-se de enrolar "aquilo" em papel higiénico; mas como não podia deixar o "presente" no caixote do lixo da casa-de-banho do Simon, resolveu levá-lo para o nosso quarto e deitá-lo fora.
Só que a pidesca Ana, eu, não a deixa sozinha e empurra-a para a saída, porque é feio fazer esperar as pessoas; e a Olga, coitadita, meteu o "embrulho" na carteirita...
Claro que, depois, não se voltou a lembrar disso!
Como não precisou de nada que estava dentro da carteira, não foi lá e, portanto, o " presente" lá estava. A desfazer-se e a empestar o ar.
Só vos digo que passámos o voo todo a olhar para a carteira da Olga ; como se se tratasse de uma bomba relógio; a apertar os narizes ( este efeito, penso eu, mais psicológico que outra coisa) e a rezar para chegar depressa a ares mais livres.
A estória podia acabar aqui...caso o papel higiénico não fosse um material muito pouco resistente...e o sólido conteúdo não se tivesse libertado dessas amarras...e tivesse ido conviver com todas as coisas que estavam na carteira da Olga...
Graças a D-us , eu tinha insistido em ficar com , não só os bilhetes de avião, mas com o passaporte da Olga, porque se não...
Eu ,normalmente, não espero pelo Rosh Hashanah,nem pelo Yom Kippur; pelos «Dez Dias de Penitência», para pedir desculpa aos homens. Para pedir perdão a quem ofendo, magoo ou firo de alguma maneira.Nessas alturas sagradas faço-o também; mas não espero pela data para apaziguar a minha consciência.
Como ser humano que sou, sou imperfeita. A D-us peço perdão todos os dias e, devido a isso, prefiro pedir também aos homens.
Porque a D-us, peço perdão pelas ofensas que lhe faço a Ele, sempre que desrespeito a Sua Lei; sempre que ofendo a minha crença, que me foi dada por Ele.
Como não é Ele que me pode perdoar as ofensas que faço aos homens, vou directamente à fonte.
Mas eu sei que não chega. O ideal seria não precisar de me expiar, ou seja, seria ser sempre justa, sensata e caridosa.
Mas não sou.
Sou muita vezes injusta e, até, irracionalmente má.
E sempre que o sou ( e sei que o fui e, como tal, fico de mal comigo ) , perco o sono, detesto-me e, o que é pior, sinto que já não posso voltar atrás.
Porque , sei-o também, as desculpas que se pedem não apagam o mal que foi feito; a palavra que foi mal dita; a injustiça que se cometeu.
É muito triste.
E é ainda mais triste porque, também sei isto, ninguém tem obrigação de me perdoar.
Porque eu também não perdoo a todos os que me pedem perdão a mim. Ou a quem faz coisas que , para mim, são imperdoáveis .
Apesar do meu mau-feitio, de" ferver em pouca água", de ser irascível , sinto , cá dentro, e mesmo que às vezes não o diga, uma dor grande; uma dor provocada por mim, por saber que provoquei dor a alguém. E isso dói.
Mas não peço desculpa, ou perdão, para, de forma egoista, me sentir melhor comigo. Não.
Isso seria cosmética e não serviria de nada.
Peço perdão para explicar que o que disse, fiz ou insinuei não passa de um disparate meu; que a culpa é minha e só minha e que estou entranhadamente arrependida.
E dizer que vou tentar não voltar a cometer o mesmo erro. Assumindo sempre, claro, que nem sempre é fácil.
Porque, lá está, sou humana, imperfeita....
Escrevo este texto, sirva ele para o que servir, para a blogosfera , em geral, e para o José Mário, do Blog de Esquerda, em particular.
Porque fui longe de mais.
É esta a minha resposta aos emails que me enviaram,pedindo uma espécie de justificação pelos meus dois posts de ontem.
Sigamos para bingo.
Ontem, para colocar aqui o conto de Gonçalo Fernandes Trancoso, tive de fazer pesquisas na internet, porque não tenho o livro comigo.
E, quando dei com o senhor moralista e contador de contos, descobri também uma pérola.
O projecto Vercial. Apresentado como «A maior base de dados sobre Literatura Portuguesa».
Devo já dizer que não ponho cá o link para me vingar de todos aqueles que já conhecem todas as potencialidades desse site e nunca tinham dito nada a ninguém, em geral, e a mim em particular! Grrr...
Agora é que vão ser elas, oh, oh...
Pois lá encontrei imensos autores que, pensava eu, só o meu avô ,católico, conhece.
Autores que , quando eu e os meus manos eramos mais pequenos, tinhamos de gramar ao serão, antes do conservador "xixi,cama".
Estou maravilhada!
Pronto, eu também confesso que nunca tinha procurado esses autores na internet ( e, confesso também , em lado nenhum), mas ontem, e hoje, ao dar com eles fiz uma espécie de viagem no tempo e fiquei contente.
Estou contente.
Tereis vós, tal como eu, ouvido vossos avós citar, por exemplo, Francisco de Pina e Melo?
Se sim, ide, ide ligeiros ao Projecto Vercial. Ide lá ler sobre a Bucólica ou a Ética Pastoril.
E tereis vós, também, chorado baba e ranho porque queríeis ir brincar às caçadinhas ( N.A. apanhada ) e vosso avó vos obrigava a ouvir a sua leitura dos Livros de Linhagens , e os elogios ao Conde D.Pedro de Barcelos?
Se sim, ide, ide lá ,que por lá o ireis encontrar também.
E agora deixai-me ir, que tenho de rever umas passagens do maravilhoso Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela Que Fez El-Rey Dom Eduarte , a ver se fico melhor amazona....
«Uma virtuosa dona de boa vida tinha uma filha de tão má inclinação que não queria tomar os nobres conselhos da mãe, nem a aprender seus louvados costumes; mas em tudo seguia seu próprio parecer, sem obediência de pessoa alguma, nem correição de vizinha, nem parenta, porque era preguiçosa, gulosa, andeja, muito faladeira e de outras feias manhas. A mãe, como mãe desejosa de seu bem, e de lhe dar marido antes que aqueles viços a levassem a torpe pecado, determinou dar a um mancebo tudo o que a pobre velha tinha porque casasse com a filha, tendo para si que o marido lhe faria fazer, com castigo, o que ela não podia com ensino, repreensões e exemplos. E, concertada com ele no dote, quis o mancebo que não dessem conta à moça até que ele a fosse ver, o dia seguinte, seguindo o conselho do rifão que diz: Antes que cases olha o que fazes.
Foi a velha contente e disse que assim faria. Porém, porque a filha estivesse sobreaviso e não caísse em alguma fraqueza a tal tempo, crendo que, para casar, tomaria seu conselho, lhe descobriu aquela noite tudo o que passava, dizendo-lhe:
– Filha, toda tua vida seguiste tua opinião, sem querer entender meus conselhos. Agora te rogo que, este dia, me oiças e aceites o que te disser.
E, com discretas palavras, lhe admoestou que o dia seguinte não se erguesse de um lugar, que sempre estivesse calada, fiando, ou, ao menos, com a toca na cinta, porque, pois o futuro marido a queria ver, a achasse quieta e ocupada em virtuoso exercício, coisa que as moças sempre deviam de fazer, porque a inquietação e a ociosidade nelas, comummente as leva a mui perigosos pensamentos, contrários da virtude, boa fama e honesta vida. E, para mais ajuda, a velha, aquele serão, quase até meia noite e, pela manhã, pôs-lhe à filha uma grande rocada na cinta e deixou-lhe as maçarocas que fiara no regaço. Fê-la assentar, tal que à vista dos olhos a quem a não conhecera, parecia uma diligente fiandeira, quase uma das Parcas que fiam a vida. Porém, como aquele não era seu costume, tanto que a mãe desceu à porta (porque havia de esperar ali o mancebo), a moça deixou a roca e, com diligência, fez lume e nele uma honesta tigela de papas. E porque se esfriassem, prestes as lançou em cinco ou seis escudelas que logo chegou derredor de si e, soprando e fervendo, estava a pobre moça mui apressada por acabar sua obra, antes de ser sentida. A este tempo chegou o mancebo à porta e, ainda que o viu a velha, pelo que tinham concertado, não se falaram, mas ele subiu manso, por ver em que se ocupava a que ele queria receber por mulher. E a velha o deixou ir, tendo para si, acharia a filha, ao menos com a roca na cinta, como a deixara. Mas, ainda que ele subiu dez ou doze degraus da escada, ela, de ocupada, não no sentiu, nem posto que meteu a cabeça em casa o não viu. Mas ela foi dele muito bem vista e, notando o ofício em que estava, disse entre si:
– Nunca nos faremos boa matalutagem porque, quem tanto e com tal pressa madruga a comer, pouco prol pode fazer. Não é esta a que me arma.
E, sem falar, se desceu. E a velha, vendo-o vir tão prestes, lhe perguntou:
– Que vos parece, filho, que cuidado de moça?
E querendo-lha gabar, porque imaginava que estaria fiando e mais, com a roca cheia, lhe disse:
– Viste a pressa que tinha e a habilidade de suas mãos e o que já tinha despachado? Pois eu vos prometo que daquelas enche e vaza sete no dia.
Querendo a velha dizer as rocadas da roca, mas o mancebo, sem descobrir o que lhe vira fazer, respondeu:
– Senhora, não me arma, que, se ela é tal, não na posso sustentar. E assim esteja em vossa casa e, se as vazar e encher tantas vezes, seja embora de vossa farinha e não já da minha.
E foi-se. A mãe, ouvindo isto, foi ver o por que o dissera e achou a filha como contámos e disse-lhe:
– Sem açúcar, filha, espera! Dar-te-ei um pequeno.
E com grande fúria, sem atentar o que fazia, que era grande pecado, tentada do demónio, tirou de uma boceta um pouco de solimão e polvorejou-lho por cima, que a moça comeu, crendo
que era açúcar, tão cega estava. Mas, antes de muito, com o ardor e angústias mortais, deu o espírito antes de dar fim à sua obra.
Este conto se escreveu para exemplo das filhas que sejam obedientes a suas mães e virtuosas.»
Gonçalo Fernandes Trancoso, Contos e Histórias de Proveito e Exemplo, Lisboa, Passado Presente, 1988, pp. 15-21.
- 4 postas de bacalhau demolhado
- 1 Kg de batatas
- 2 cebolas
- 2 dl de azeite
- 1 dl de vinho branco
- 4 ovos cozidos
- 1 colher (sopa) de salsa picada
- 2 tomates
- sal, pimenta e azeitonas q.b.
Preparação:
Coza o bacalhau e limpe de peles e espinhas. Reserve. Entretanto, descasque as batatas, corte em cubos e coza em água temperada de sal.
De seguida, pique as cebolas e refogue em azeite. Junte depois o bacalhau e tempere.
Regue com o vinho e deixe reduzir. Acrescente dois ovos picados, as batatas e salsa e envolva bem.
Transfira para uma travessa e decore com rodelas de tomate, ovo cozido e azeitonas. Ana [8/26/2003 04:35:00 da tarde]
é o que me acontece ao ler alguns blogs de jornalistas de Portugal que, pelos vistos, resolveram juntar-se à blogosfera porque descobriram que este é um meio fácil para poder dizer mal dos colegas.
Tudo bem; é lá com eles e eu não tenho nada com isso...mas que me provoca uma barrigada de riso, lá isso...
O que também me faz rir é a argumentação da moda sobre o terrorismo. E, ainda mais, a suposta culpa -seja lá do que for- dos americanos.
Vivo em França que é, como se sabe, um país com pretensões a patrono do mundo civilizado . E pretensão , tal como a água benta, cada qual toma a que quer.
Aqui , neste pretensioso país, a moda é culpar os americanos de tudo e, em tendo paciência para esperar , lá conseguimos provar isso mesmo.
Como se sabe, por causa do calor excessivo da primeira quinzena de Agosto, morreram cerca de 13 mil pessoas.
A culpa não é do Governo, claro! A culpa é da pretensão mentecapta dos franceses, de pensarem que a França está acima de qualquer perigo e que o que acontece aos outros a eles, que são tão "civilizados" e bem vestidos, não acontecerá.
De maneira que , como não há ares condicionados em praticamente lado nenhum, em vindo o calor , os mais fracos caem como tordos.
Estava eu , no Sábado, a ver uma emissão de televisão muito jeitosa, na France 2, quando esse assunto ( que é mais ou menos tabu para os mais aguerridos franceses anti-resto do mundo ) veio à baila.
Diz uma senhora, muito de esquerda e muito verde ( por acaso literalmente ) : "Pois cá a je pensa que a culpa é do governo; porque o primeiro ministro não soube prevenir a tempo e..." - a palavra foi-lhe cortada por um senhor muito limpinho , diz ele que é de direita ( mas não é) , que retorquiu: " É nada! A culpa é das alterações climáticas! O governo não pode nada contra a natureza; a culpa é da camada de ozono,e, falando nisso, é preciso lembrar que a França cumpre as normas internacionais e..."-aqui o moderador interrompe e diz : " Sim, a França cumpre, o mesmo já não se pode dizer de outras potências como, por exemplo, os EUA..."- aqui ambos, o limpinho supostamente de direita, e a senhora verde da esquerda, acenavam com a cabeça a concordar o mais possível, e dizem em coro : " Ah pois é"- e o moderador ( comuna, ou pelo menos da velha e ressequida esquerda tão gaulesa, como quase todos os jornalistas com mais de 50 anos) continua: " portanto, a questão é saber se não é preciso obrigar os prevaricadores , especialmente os EUA , a cumprirem as normas internacionais, de modo a evitar este tipo de catástrofes ..." - e dizem os outros dois, já tipo siameses , muito ligados e juntinhos: " Sim, sim, essa é a questão...e..."
Eu mudei de canal aqui.
Ou seja, a culpa dos mais de 13 mil mortos ( cenário geralmente visto em países Africanos, por exemplo) é dos Americanos!
Nisso esquerda e direita francesas conseguem chegar a acordo.
Sacudir a água do capote, desta forma tão original , dá ou não dá vontade de rir?
Dos Americanos é mas é a culpa de-no nosso velho mundo que é a Europa- se poderem dizer este tipo de disparates com total liberdade. Isso sim. Baghhh
Mas eu, que sou uma livre pensadora, e, quiçá, por estar há uns tempos a respirar este ar gaulês, estive umas duas horas a pensar neste tipo de lógica da baguette, e cheguei a estas, possíveis, conclusões:
1- A culpa , pelas minhas dores no pé esquerdo,é dos EUA. ( tenho um princípio de joanete; doi-me; e isto só me começou a acontecer quando comprei um par de sapatos -edição especial- da GAP. Ora a GAP é norte-americana; daí que a conclusão é simples...)
2- A culpa ,pelos arranhões que tenho na coxa esquerda, é dos EUA. ( Estava a ver a CNN e como estava muito compenetrada , não vi o sacaninha do gato a subir para o sofá e a deitar-se no lugar que é reservado ao meu delicado rabo, rabo que estava de pé, por via de me ter levantado para limpar a cinza do cigarro que tinha deixado cair inadvertidamente. De modo que me sentei em cima do gato e ele, bruto como as casas, ferra-me as unhas na minha coxinha alva e delicada. Se não houvesse EUA e CNN nada disto teria acontecido, porque duvido que outro canal me fizesse estar assim tão compenetrada .)
3- A culpa dos problemas demográficos do mundo civilizado é dos EUA. (por vários motivos: primeiro porque -também aqui a CNN- com a televisão a mostrar o mundo todo e tudo o que se passa , a mostrar-nos aqueles conflitos armados, as crianças a morrer, a fome...a malta começa a ter sérias dívidas acerca da legitimidade de se trazer mais gente a este mundo de merda; depois porque , devido à massificação da música, cinema , etc...
podemos temer ter filhos como o Eminem, o Moby, o Tom Jones, a Madonna e, pior!, a Mónica Lewinsky.)
4- A culpa do meu mau feitio é dos EUA. ( Eu sou uma pessoa que sou calma , que sou. Mas com tanta estupidez que se diz sobre os EUA, sobre o seu apoio ao meu povo judeu; com a defesa do caminho menos mau para a paz, o progresso e a democracia...começam-me a subir uns calores, arrepia-se-me a pele...e pronto! Mau feitio! )
É um exercício muito engraçado este. A sério. Experimentem.
Dá para tudo...basta ter um bocadinho de imaginação e pouco bom senso! Não custa nadinha. :)
E pronto.
Já está isto a branco, e assim, penso eu, lê-se melhor.
Claro que não fui eu quem fez as alterações ( eu sou mais bolos) foi o meu ...o meu...
Quer-se dizer, foi uma parte de mim.
O tesouro mais bonito que me podem dar é a amizade. Nestas minhas aventuras internéticas, a primeira arca do tesouro que descobri foi esta. Tenho muitos amigos e amigas graças ao Pastilhas. Por isso, e já falando dos blogs , a minha aventura internética -reloaded - aqui no Crónicas Matinais, tento linkar todos os meus amigos e amigas do Pastilhas que também se aventuraram na blogosfera.
Agora chegou mais um. O António que, no Pastilhas, é o Kappa. E o Kappa, agora um alentejano emprestado e orgulhoso, tem um bloguisses. Um blog.
Bem vindo, meu amigo. E obrigada! ( O Kappa tem também um pequeno Lourenço, que é uma criança linda, linda, linda...) Ana [8/22/2003 11:22:00 da manhã]
Bom dia!
Fosse eu uma boa pessoa, uma pessoa com bons fígados, nada ressabiada , e punha-me aqui mas é a escrever sobre lavores.
Isso mesmo me foi sugerido num simpático email que recebi de um senhor que assinou « observador de blogues».
O senhor, sem me insultar, afirma ele, diz-me que eu, como mulher jovem ( esta parte gostei muito, porque desde que me apareceu o primeiro cabelo branco e a primeira ruga, ando aqui preocupadíssima com a minha velhice, quiçá precoce. ),não me deveria «meter»(sic) em assuntos sérios e dedicar-me ,antes, a falar de assuntos femininos.
Ora, meu caro, muito obrigada pela sugestão mas eu sempre fui uma maria-rapaz.
Posto isto, e depois de dar a minha voltinha matinal pelos blogs, e de ler tudo o que me pareceu importante ler, vou contrariar o senhor «observador de blogues» ( queira desculpar, mas eu , já avisei , só faço o que me apetece, sorry), e vou continuar a dizer/escrever o que me apetece sobre o que me apetece.
De maneira que, ao ler certas opiniões de colegas da blogosfera , sobre o Terrorismo, sobre Israel, sobre a Palestina, e sobre os Estados Unidos da América , só me ocorre uma frase que tenho lido em quase todas as gares de RER cá de Paris, uma frase a publicitar um jornal, dito de referência, por cá : Pour en parler il faut d'abord s'informer..
Pronto. Assim; sem mais. Prefiro isto a dar-me, já aqui, um ataque agudo de Tourette; eu que até sou muito atreita a síndromes...
E com essa frase singela ( no sentido de solteira, como a morte da culpa), mudo de assunto.
A minha Mãe disse-me que " apanhou" a minha Avó -que eu tanto amo e admiro- a choramingar defronte do ecrã do computador, e , como se só isso já não fosse criminoso , a minha Mãe acrescentou: «a ler o teu blog»!
Alto. Disse eu para comigo: "Já fizeste merda, Ana! Pões-te para aqui armada em sincera, a dizer tudo o que te vai na alma; a relembrar que há muitos filhos da puta que negam o óbvio; a anunciar as dores dos teus irmãos ,e as tuas ( quer-se dizer, minhas) ; a mexer nas feridas...e fazes a tua Avó judia-que tanto amas e admiras e que já sofreu tanto, tanto, tanto, que só quem não tem uma avó assim pode justificar os homens maus - chorar!"
Estava já quase de joelhos, com os olhos marejados , pronta a pedir perdão pela minha -quiçá- insensatez , quando a minha Mãe me alivia, dizendo :
« Aquele fundo negro do teu blog é impossível; lê-se muito mal e bem sabes que à Avó custa imenso ler no computador».
apetece-me ainda dizer que, cada vez mais, assimilo o que o poeta Rudyard Kipling quis significar com o «The White Man's Burden ».
Não era(é), de todo, uma visão racista. Era uma evidência.
Não era(é) contra pretos, amarelos, vermelhos ou azuis às riscas. Era (é) contra a selvajaria e a barbárie.
No que ele chamava a "missão dos homens brancos " ( a tradução, muito livre e literal, é minha ), percebe-se- se se abrir os olhos e a mente- a noção de justiça , de democracia , de liberdade.
E, escudado será lembrar , que entre os caucasianos se escondem muitos dos piores facínoras da raça humana ,claro.
E é impossível pensar nisto, sem pensar nos EUA. Até porque foi depois de uma viagem aos EUA que o poeta inglês dissertou sobre o fardo.
Se pensarmos em tempos idos, vulgo história,podemos , nos EUA, encontrar essa tradição democrática e anti-imperialista , vinda dos tempos do apelo de Henry Thoreau «à desobediência civil».
E ligar isso tudo. O de antes e o de agora.
É muito interessante, e enriquecedor, voltar a pegar nos calhamaços e ler e analisar.
É que se mudam os tempos, mas, francamente, não me parece que se tenham mudado as vontades.
Outra coisa em jeito de adenda ao meu primeiro post de hoje ( não me apetece editá-lo )
Não considero incompatível , nem sequer contraditório, o que afirmo sobre a pena de morte para os terroristas e o preceito escrito que me guia , e que leio ( e releio; sempre ) no Talmude : «Salvar uma vida é como salvar um mundo inteiro». Ana [8/21/2003 10:51:00 da manhã]
Bom dia.
Recebi vários e-mails , ontem e já hoje, a propósito do que escrevi ontem aqui no blog.
Uns solidários ( agradeço, mas eu nunca corri qualquer perigo; nem a semana passada , nem hoje.Pelo menos não mais do que toda a gente ), outros a contrapor-me , outros ainda claramente a insultar-me.
Agradeço a todos por igual. Porque assim tenho, mais uma vez, a noção exacta da humanidade que me rodeia.
Não é fácil. Cada um tem a sua verdade e, pelos vistos, vive bem com isso. Seja.
Eu, que adoro a sabedoria do povo, os ditados populares, só me lembro, agora, deste: Não há pior cego do que aquele que não quer ver.
Mas assim é o mundo e sempre assim será.
Seja como for, uso e mantenho este blog porque tenho direito, como toda a gente. E, aqui, só escrevo sobre o que me apetece , quando me apetece e o que me apetece. Chama-se liberdade.
Não pretendo -nunca- ofender alguém; prezo muito a educação que me deram, e julgo que não a uso mal.
Não posso é deixar de dizer o que vejo, ouço, sinto, penso , só porque isso pode ser "politicamente incorrecto".
É normal que critiquem o que eu digo/escrevo.É normal e saudável e toca a todos. A crítica , que eu faço sempre que posso e, confesso, nem sempre construtiva, é a cereja que decora o bolo.
Só quem não fala, não escreve, não diz , não é criticável.Isto no sentido de não haver possibilidade de o fazer, se não se souber o que essa pessoa pensa, claro.
Ora eu arranjo já aqui -sou uma original de pacotilha- uma nova máxima: penso e digo, logo sou criticável!
parece-me bem; e justo.
Claro que me destrói ( por uns segundos) ler frases como esta : « judia fascista» «arrogante e burguesa de merda» «hipócrita e moralista de merda» e- a minha preferida- « nazista ».
Eu não sou apologista dessa faceta muito cristã e bonita, que é o «dar a outra face», seja como for, agradeço todos esses epítetos.
Porque só me dão razão. Ah pois! E podem chamar-me arrogante que é para o lado que eu durmo melhor...
Mais: Não é por ter medo de insultos fáceis e odiozinhos bacocos e arianos que me vou coibir de dizer o seguinte:
José Ramos-Horta, ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, defendeu hoje,a pena de morte para terroristas responsáveis pelo atentado à bomba contra a sede da ONU em Bagdad e por outros atentados como Bali e Jacarta.
Num artigo de opinião na edição de hoje do jornal " The Australian" , Ramos-Horta escreve:
« Estou tão irritado com este acto de terrorismo ( Bagdad) que repenso a minha oposição antiga à pena de morte para terroristas.»
Pois tem todo o meu apoio. Eu também repenso. Aliás, já ando a repensar há muito tempo.
Mais: acho que Ramos-Horta só peca por defeito.
Eu incluo todos os -quase diários- atentados contra Israel .E contra os EUA.E contra qualquer outro país .
Ramos-Horta, diz que é inaceitável que sejam os consumidores a gastar dinheiro para manter preso um terrorista que « mata, fere, destrói e rouba a vida a tantos inocentes».
Concordo. E continuo a concordar quando Ramos-Horta acrescenta : « Mas não vou gastar lágrimas quando os responsáveis pelos actos terroristas em Bali, Jacarta, Nova Iorque, Washington e Bagdad forem mortos. A morte de Sérgio ( Viera de Mello) mudou a maneira como olho para a vida e para o tema da pena de morte».
Tivesse Ramos-Horta acrescentado Israel ,e eu não estaria aqui a escrever; teria, apenas e só, colocado cá as suas palavras.
Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.
Às vezes, sozinha, tendo-me apenas a mim como companhia, penso em como deve ser confortável não sentir o mundo.
Ver as imagens, ouvir as pessoas, olhar e ouvir e pronto. Sem invocar a condição, a herança, os laços.
Martirizar-me, apenas, com o meu dia-a-dia. Com a conta da luz;a do telefone. Com a má palavra da vizinha do lado que não gosta da minha música. Com o amor que queriamos ter e não temos. Com o BI caducado.Com a casa bonita que vimos mas que não podemos comprar.Com o amigo que prometeu que fazia e não fez. Com a tristeza da minha mãe por eu estar -sempre- longe.
Angustiar-me com o cinzento do dia. Com a chuva que molha-os-tolos. Com a minha pedra nos rins. Com a flacidez que, sei, irá chegar.
Contristar-me comigo e com o que me rodeia. No meu perímetro. Uns dois km , no máximo.
Mas, outras vezes, acho que o conforto é cinzas e nada. É vazio.
Porque um só, que sou eu, não existe. Porque as gotas, separadas no Oceano, não formam nada.
Existem e ocupam espaço. Mais nada.
Mas depois, volto, outra vez, a pensar : deve ser tão quentinho e calmo o conforto...
E a minha alma, minutos depois, revolta-se e diz: a vida não é um sofá!
Grita-me aos ouvidos:-A sofrer, que se sofra pelo Oceano, todo. E, revoltada como só ela consegue, reza para que as outras gotas todas sofram também. Não para se sentir menos só no sofrer; mas porque a minha alma não aceita todos os relativismos.
Porque há factos que não são relativos. Porque ...porque é assim que ela é.
Haja o que houver.
Só que, ressabiada -porque a padecer- a alma, que tem vida própria, que guia o coração e o cérebro, às vezes deixa entrar a escuridão de outro conforto. Alternativo e -quase sempre- perverso.
Vasculha os velhos livros que a formataram. Tira-lhes o pó, abre-os e sussurra: «Lei de Talião, lei do Talião...»
E estremeço.Sobressalto-me...
Não quero ouvi-la, mas ela sussurra...sussurra...
E só sossego porque a conheço; e acredito que ela diz isso da boca para fora.
And death shall have no dominion.
Dead mean naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.
And death shall have no dominion.
Under the windings of the sea
They lying long shall not die windily;
Twisting on racks when sinews give way,
Strapped to a wheel, yet they shall not break;
Faith in their hands shall snap in two,
And the unicorn evils run them through;
Split all ends up they shan't crack;
And death shall have no dominion.
And death shall have no dominion.
No more may gulls cry at their ears
Or waves break loud on the seashores;
Where blew a flower may a flower no more
Lift its head to the blows of the rain;
Through they be mad and dead as nails,
Heads of the characters hammer through daisies;
Break in the sun till the sun breaks down,
And death shall have no dominion.
[Chorar-do Lat. plorare
v. int.,
derramar lágrimas;queixar-se, lamentar-se;constranger-se de dor;afligir-se, prantear-se;v. tr.,deplorar; prantear;sentir a perda de.]
Não.
Não pode ser.
Quem justifica, quem arranja desculpas, quem diz entender tem um nome, apenas e só:
Cúmplice-do Lat. cumplice, unido, junto
adj. 2 gén.,
que tomou parte em delito ou crime;
s. 2 gén.,
pessoa que tomou parte num delito ou crime;participante em acção condenável;cooperante;conivente.
Quer-se dizer, levezinho para mim, que sou ,não só morena natural, mas também danada para a brincadeira. Muito amiga de rir.
Diz aqui que a vingança das loiras estás próxima!
E como a vingança é um prato que se come frio...
Bósnia.
A Bósnia vai proibir as anedotas de loiras.
Diz que lá, na Bósnia-Herzegovina, vai entrar uma lei em vigor, em Outubro, que não só proibe as anedotas de loiras, como prevê que as mulheres alvo de anedotas pela cor de cabelo poderão processar os autores!
Ora, o Diário Digital( D.G.) acrescenta que esta lei de igualdade entre os sexos da Bósnia, promete gerar muitos processos, uma vez que as anedotas sobre loiras são , diz o D.G., extremamente populares no país.
[ Alguém , pode, se fizer favor, dizer ao senhor ou à senhora que escreveu isso que esse tipo de anedotas é popular em todo o planeta terra? Muito obrigada. ]
O D.G. , cita ainda Savina Terzic, director do Grupo Internacional para os Direitos Humanos que ,em entrevista ao jornal Nezavisne Novine , explicou: « A nova lei permite às loiras processar quem contar anedotas que as ofendam , mesmo que as piadas apenas se refiram à sua cor de cabelo.»
Eu acho bem.
Aleijados,homossexuais, disléxicos, autistas, pretos, brasileiros, estrangeiros em geral, gordos, escanzelados, caixas-de-óculos, alentejanos, benfiquistas, sportinguistas , trabalhadores da TVI, do meu país : Todos para a Bósnia!
Rapidamente e em força.É pedir asilo político! E esperar pela justiça.
Se eles podem, vós também podeis! Ou há moralidade ou comem todos.
E depois é só esperar pela Jurisprudência...
Venho cá dizer umas coisas, poucas, sobre Maggiolo Gouveia.
Não me vou meter nas tricas políticas entre o PS( Ana Gomes) e o ministro da defesa porque acho que isso é joio.
O trigo é a memória; os factos.
Para muitos portugueses , e tal como titula a agência Lusa, fez-se agora «o adeus ao último mártir do Império.»
Eu não concordo.
É engraçado. Há poucas horas, escrevia eu sobre o meu nacionalismo.
Hoje vou ter de escrever como se de uma timorense se tratasse.
Porque, na questão de Timor ( que me é cara, desde que me conheço por gente ) , tendo a sentir-me nativa.
Não vos relembro a história , porque, julgo eu, todos a sabem. E se não sabem deviam saber.
Mas, esta manhã, ao ouvir as declarações do primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, não pude deixar de o perceber; mesmo não concordando totalmente com ele.
Mário Alkatiri , reagindo , para a agência Lusa, à polémica lusa sobre Maggiolo Gouveia disse: « Maggiolo Gouveia é o culpado pelo "holocausto" ( as aspas são minhas e do colega da lusa) timorense.»
Alkatiri acusa o tenente-coronel português de ter iniciado a guerra civil que conduziu aos 24 anos de martírio do povo timorense.
E diz não entender como é que Portugal lhe faz, agora, um funeral com honras militares.
E porquê? Muito simples.
É que Alkatiri lembra-se que, em 1975, Maggiolo Gouveia -precisamente em Agosto- renunciava à sua condição de militar português para aderir ao movimento da UDT contra a FRETILIN.
E lembra-se que , de facto, ele foi capturado pela FRETILIN , quando tentava entrar para a intendência, em Taibessi. Taibessi que estava já sob controlo da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente.
Mesmo negando que tenha sido a FRETILIN a mandar executá-lo ( o que se passou, realmente, não se sabe, a sua morte continua envolva em algum mistério), facto que eu duvido, mas é a história que interessa, não o que eu penso ou deixo de pensar; mesmo negando, dizia, Alkatiri recorda que Maggiolo Gouveia participou activamente no conflito.
No conflito que, de facto, desencadeou ( por culpa -muita- de Portugal ) a guerra-civil em Timor e que permitiu à Indonésia instalar-se lá e dizimar a maioria do seu povo.
Eu sei. Era a luta contra o comunismo e, na altura, valia tudo até tirar olhos.
Mas isso não impede que se analisem as consequências para quem lá vivia.
Portugal abandonou Timor à sua sorte.
Lemos Pires, e o resto da tropa, fugiu para a ilha de Ataúro.Maggiolo não fugiu. Ficou, é um facto. Mas, sinceramente ,não vejo aspectos positivos nessa decisão.
E também não entendo, mesmo respeitando muito os militares e a minha bandeira, pátria, etc, tal como não entende Alkatiri, que Maggiolo Gouveia seja, agora, transformado num herói nacional.
Não duvido que Maggiolo Gouveia amasse Timor. Mas também não duvido que ele foi um dos responsáveis pelo que se passou. Pela violência.
No funeral de Maggiolo Gouveia voltou-se ao passado. Abriram-se feridas , nunca realmente fechadas; destaparam-se baús antigos. Com ódios e rancores . E memórias.
D.Augusto César, bispo de Portalegre e Castelo Branco, disse de Maggiolo, durante a cerimónia :
« Um exemplo para o País. Morreu por algo maior do que a vida , que é a nossa fé.» E que pelo seu acto de coragem, palavras do bispo, mostrou um amor « à Pátria, ao Povo e a Cristo».
Ao ouvir, ou ao ler isto, fiquei triste. Por momentos senti-me em plena guerra colonial. Pior. Senti-me a ouvir Salazar e os velhos do Restelo a suspirar pelo Império.
E, por momentos, percebi como ser de direita e conservadora pode ser difícil.
Porque esses tempos não me orgulham.
E porque nem Maggiolo, nem Lemos Pires , nem muitos outros, podem , algum dia, ser apresentados, aos timorenses, como heróis nacionais.
Porque, como diz a sabedoria popular, e eu cito-a sempre que posso: de boas intenções está o inferno cheio.
Recebi doze (12) emails , que muito agradeço,de doze companheiros e companheiras da blogosfera, pedindo-me pormenores da minha viagem ao Iraque.
A seu tempo, meus amigos. A quente ia sair disparate. Arreliei-me bastante por lá e como não pretendo ser injusta e como tenho, aqui no blog, o direito a dar a minha opinião, e não apenas a informar, prefiro arranjar as ideias. Depois conto tudo. Tudinho.
Mas há, no entanto, um "assunto" que gostaria de referir. Trágico mas, acredito, compreensível.Reparem que compreensível não significa desculpável.
No Domingo , em Bagdad, morreu mais um repórter( de imagem). Mazen Dana, operador de câmara da agência noticiosa Reuters.
É trágico , é triste. São os ossos do ofício.
Se pretendo desculpar os soldados norte-americanos que o abateram? Não!!
Estou apenas a tentar explicar como se trabalha , e o que se pode esperar, em palcos de guerra.
Dana estava a filmar o exterior da prisão Abu Gharib. Essa prisão tinha sido atacada por guerrilheiros iraquianos com morteiros. Desse ataque resultaram 6 mortos-todos iraquianos- e 59 feridos.
Eu não sei se vocês já viram um morteiro em acção; mas se já viram sabem, com certeza, os estragos que aquela coisa faz.
Dá-se o caso de -em praticamente todo o lado em Bagdad (e um pouco por todo o país)- se viver-por parte das forças da coligação -um clima de medo. Um medo normal já que, como se sabe, em todas as esquinas espreita o perigo. Há morteiros apontados em várias frentes e outras armas.
De maneira que os soldados anglo-norte-americanos ( sim, quase todos demasiado novos e inexperientes ) , patrulham as ruas e os edifícios com o medo à flor -da-pele. É natural. São homens e não é porque são soldados que são super-heróis.
Ora, a prisão tinha sido atacada; nas ruas havia uma confusão total e, de repente, os soldados que conduziam um dos tanques vêem , ao longe, algo apontado a eles. Era uma câmara. Mas os soldados viram um morteiro. Erro deles; crasso. Trágico.
Mas compreensível. ( Mas, repito, não desculpável)
Eu sou -mais do que jornalista-repórter.Não sou soldado. Mas sei que , em palcos de guerra, há perigo. Eminente.
E quando um repórter vai em serviço para um desses locais , não está à espera que lhe ofereçam flores.
Se há balas pelo ar, as balas não escolhem as vítimas pela profissão.
Ele, tal como outros 13 repórteres, sabia o perigo que corria. E ele, tal como todos os jornalistas que estão, ou se deslocam, ao Iraque, sabia que estava sujeito a ser alvejado. Todos os jornalistas recebem instrucções sobre a segurança, os cuidados a ter.A todos é explicado o perigo de as câmaras poderem ser confundidas com armas. Até porque os casos são muitos , mesmo no Iraque. Todos , os jornalistas, devem andar -avisam-nos- identificados o mais possível. Para evitar incidentes trágicos. Dizemos todos que sim mas, depois, esquecemos a nossa segurança . E , se se trata de profissionais destemidos, como o era Mazen Dana, assumem o risco e dão prioridade à informação, ou seja, metem-se na boca do lobo. Foi o que Dana fez. E correu mal.
[Os repórteres de imagem são, grosso modo, os mais atingidos por estes trágicos enganos. Porque estão mais expostos , porque, normalmente, se arriscam mais. E porque trazem câmaras às costas.]
O que me choca é isto:
Insinuar-se que foi um ataque deliberado, ou seja, contra os jornalistas, é estúpido e injusto.
Mais: insinuar-como eu já li e ouvi- que o jornalista palestiniano foi morto por isso mesmo, ou seja, por ser palestiniano é, não só revoltante , mas também nojento e ignóbil.
O aproveitamento político que o caso está-em certos meios- a ter , faz-me lamentar , mais uma vez, a falta de seriedade de muitos colegas de profissão.
Mazen Dana ( que D-us o tenha no céu e em paz ) foi morto porque como bom profissional que era , colocou o seu medo atrás do seu amor à profissão. E foi à boca do lobo filmar. E por um ,trágico engano, morto.
Reparem que os colegas jornalistas que estavam próximos não foram atingidos. Ele foi porque, aos olhos dos soldados , também eles com medo, ele estava armado. Com um morteiro. Trágico. Mil vezes trágico. Mas compreensível.( Repito,mais uma vez, mas não desculpável.)
Não se trata de desculpas e peço-vos a fineza de não fazerem leituras deturpadas do que estou a tentar dizer, com, reconheço, alguma emoção.
Também sou algo corporativista . Também grito :«assassinos»! , quando vejo colegas de profissão tombar. ( Infelizmente já vi bastantes.)
Mas não posso fechar os olhos à lógica . Porque estive lá ( e em outros palcos semelhantes ) e sei como é que o medo nos turva a vista.A todos.
É normal a atitude da agência Reuters . Um inquérito completo e detalhado é o mínimo que se pode exigir.
E, sim, os soldados que o mataram devem ser castigados.
Mas isso não nos pode fazer esquecer as circunstâncias . Não, não se trata de desculpar.
Muito menos de entender no sentido restrito da palavra.
Trata-se de ver as coisas como elas são.
Sei o que é andar a trabalhar com o medo de não chegar vivo ao fim do dia. E Dana também sabia.E os soldados , e os civis também.
Nesse ponto soldados, jornalistas e a população em geral, estão em pé de igualdade. Não há heróis. Apenas seres humanos.
Não me estou a conseguir explicar muito bem; acho que o que queria realmente dizer, é que me irrita o aproveitamento que se faz da morte de jornalistas quando dá jeito.
Por uma questão de respeito, acho que Mazen Dana merecia mais.
E acho lamentável que -fora da associações profissionais que têm a obrigação de se revoltarem e exigirem explicações - indivíduos , de qualquer país, utilizem a morte de um profissional -que sabe ao que vai, para alimentar polémicas perversas e demagógicas.
Dentro do género actualidade , quer-me parecer que estas informações agora divulgadas sobre a ordem do Papa João XXIII , de esconder todo e qualquer caso de abuso sexual por parte de elementos da igreja católica, não surpreende ninguém. Mesmo as ameaças.
Não pretendo criticar o catolicismo, nem pensar! Apenas a estrutura da igreja, o Vaticano. Os homens que afastam as pessoas do universo das religiões. Os que matam a fé.
Dante é que tinha razão.
Também me caiu no goto a recordação hoje, na Antena1, das já famosas Festas Silenciosas em Nova Iorque.
São umas festas muito originais e bonitas.
A coisa é simples: a malta vai a bares e, em vez de se pôr com graçolas parvas e frases de engate de pacotilha, escreve bilhetinhos.Se as mensagens escritas não resultarem...usa-se e abusa-se da linguagem corporal.
A ideia , que tem cerca de um ano, é de um grupo de amigos ( uns 150), todos solteiros, que , fartos do barulho das discotecas , dos bares, do uso de palavras cheias de decibéis, resolveu introduzir o silêncio no convivio entre as gente da cidade que nunca dorme.
E, dizem, resultou.
Quem agradece é a vizinhança dos sítios onde essas festas têm lugar. Assim-e contra o lema da cidade- podem , finalmente, dormir.
E diz que quem assim comunica também está muito contente!
Eu cá gosto da ideia...e vocês? 'Bora lá a uma festa silenciosa?
Sim, sim; estou de volta.
Depois contarei coisas sobre o Iraque, mas , para já, não me apetece.
Apetece-me antes dizer coisas sobre o que li nos blogs. ( Tive saudades de ler os «meus»blogs.Tive mesmo.)
Li, no Aviz, dois textos que me dão o mote para o que me apetece dizer. São eles : Regionalismo e Portugal, então. O F.J.V. pergunta: «Temos, mesmo, de gostar «da nossa terra»?»
Eu penso que , ter, não temos. Nada que seja feito por obrigação tem grande valor.
Só que , e aqui falo por mim, dou a minha opinião, eu acho que devemos. Se isso nos faz sentir bem.
Normalmente quando faço os meus "discursos" bairristas, quando anuncio aos quatro ventos o meu Amor-incondicional ,absoluto- à minha cidade, ao Porto, e ao meu País-Portugal, levo logo na cabeça.
Isto porque, desde 1989 vivo fora dela ( cidade) e dele ( País).
Dizem-me : « Pois, pois,se gostasses assim tanto ficavas lá e não andavas por esse mundo fora, armada em salta-pocinhas.»
Eu, normalmente-e se estiver numa fase Zen- calo-me . Mas se o Zen estiver de folga...atiro-me a eles , a quem me diz isso e respondo ...bem, não ficaria bem escrever aqui o que respondo nessas alturas. :)
Eu gosto da minha terra. Da minha cidade. Do meu País.
Sou nacionalista , regionalista ( mas contra a regionalização como forma política de dividir ainda mais o País )e bairrista.
Admito. E quem diz a verdade não merece castigo...pois não? :)
Voltarei a este assunto quando me passar o jet-lag.Para desenvolver o tema e dizer que , em Portugal , o único problema -realmente sério- é este : fuga aos impostos. Depois podem bater-me que eu já sou grandinha e sei defender-me.
[Mas sempre acrescento que sou nacionalista , regionalista e bairrista com o meu berço, claro, mas também outras cidades e países nos quais estou em casa: Eratz Israel; Timor Lorosae; EUA-Nova Iorque; Irlanda do Norte; República da Irlanda; Brasil; Macau e Hong-Kong; Madrid; Sri-Lanka; Goa; Nagasaki...]
Ontem, na atribulada viagem de regresso ao velho continente, estava a ler um livro de poesia berbere , que comprei junto ao aeroporto em Amã , quando a senhora que viajava ao meu lado resolveu desabafar.
Uma senhora de 72 anos de idade, jordana e belíssima.
A senhora passa metade do ano em Paris. Tem cá uma filha e quatro netos.
A viagem longa e turbulenta soltou-lhe a língua. Disse-me a senhora que não gostava da metade do ano que passava em França. Que a filha e os netos eram os seus bens mais preciosos , é certo, mas que só se sentia realmente viva na Jordânia. Entre os seus. Achei enternecedora a escolha da expressão :« entre os seus».
Isto porque, tinha-me a senhora dito antes, era viúva, não tinha mais parentes vivos com quem se desse...e a única família era a filha, o genro e os netos.
Os seus, para ela, são os jordanos. Mais do que a filha e os netos.
E eu também gosto assim da minha terra...e dos meus.
Só que esta vida de nómada, de jornalista globetrotter,não me deixa estar quieta. Só que eu gosto.
Porque assim fico mais feliz quando regresso. Muito mais feliz.
At the emergency meeting of the UN regarding another conflict in the Middle East, the floor has been given to the Israeli Delegate.
The Israeli Delegate began : " Ladies and gentlemen before I commence with my speech, I wanted to relay an old story to all of you...
When Moses was leading the Jews out of the Egypt he had to go through deserts, and prairies, and even more deserts...
The people became thirsty and needed water. So Moses struck the side of a mountain with his cane and at the sight of that mountain a pond appeared with crystal clean, cool water. And the people rejoiced and drank to their hearts' content.
Moses wished to cleanse his whole body, so he went over to the other side of the pond, took all of his clothes off and dove into the cool waters of the pond.
Only when Moses came out of the water he discovered that all his clothes have been stolen...
And I have reasons to believe that the Palestinians stole his clothes!..."
Yasser Arafat , hearing this accusation, jumps out of his seat and screams : " This is a travesty. It is widely known that there were no Palestinians there at that time!!!!!"
" And with that in mind" , said the Israeli Delegate, " let me begin my speech..."
Diz a mitologia que Sísifo foi o mais astuto dos mortais. Porque o mais rato e manhoso. E por isso ,o mítico fundador da cidade de Corínto , venceu os deuses em nome dos mortais.
Mas …
Como se lembram , o astuto Sísifo anda, ainda hoje, a empurrar um pedregulho monte acima, a vê-lo descer –monte abaixo –( sim, é um pleonasmo ) para depois o voltar a empurrar; para cima. ( gosto de circunlóquios na escrita .) Empresa eterna. Castigo e precaução.
Porque estando tão ocupado, Sísifo deixa de poder descansar ou pensar em fugir. Falta-lhe tempo. E se os mortais não tiverem tempo, os “deuses” ficam muito mais descansados.
E é por isso que ando aqui a empurrar pedras e a esturricar ( 50º à sombra ) .
Eu sei.
O tempo é de férias. Sopas (frias) e descanso. E de assuntos levezinhos e frescos.
Mas como me vou ausentar ( viagem de trabalho ao novo Iraque) , e como -apesar de me esforçar muito- não consigo deixar de pensar nas desculpas do jornal "Público" ; e porque o Aviz tem, como sempre, toda a razão. E me faz ter a coragem de falar sobre o que quero falar, sem ter de me justificar; resolvi deixar sair,mais uma vez, o que me vai na alma.
E o que me vai na alma é, neste caso, um assunto muito sério: O Negacionismo.
E o Negacionismo é um termo que vários historiadores e sociólogos começaram a utilizar desde 1987.
O termo designa-depois de Paul Rassinier- todos os que negam a existência das câmaras de gás nos campos de concentração nazis.
É um fenómeno considerado singular. É uma forma-como há tantas outras- de antisemitismo.
Mas, e isto é importante, não deve ser sempre confundido com o Revisionismo histórico.
E não deve porque é muito pior. Muito mais grave.
Há vários livros- todos fundamentais- sobre este assunto tão negro.Tão dorido.
Assim como há revistas, artigos de jornais; documentários televisivos e até cinematográficos.
Mas vou sugerir,especialmente,livros.
O principal ( na minha opinião) é este : F.Brayard, Comment L'idée vint à M.Rassinier.Naissance du Revisionnisme; prefácio de P.Vidal-Naquet, Paris, Fayard,1996.
[Este livro é, de resto, a única biografia ,documentada ,sobre Paul Rassinier]
E mais:
A.Finkielkraut,L'avenir d'une négation.Réflexion sur la question du génocide, Paris, Le Seuil, 1982.
D. Lipstadt, Denying the Holocaust. The Growing Assault on Truth and Memory, New York , Plume,1994.
Na Les Temps modernes, há também dois textos fundamentais :
-N.Fresco - "Les Redresseurs de morts", Junho 1980. [ N.Fresco foi, com Pierre Vidal- Naquet, um dos primeiros a desmontar os mecanismos do negacionismo.)
- P.-A. Taguieff, " La nouvelle judéophobie.Antisionisme, Antiracisme , Anti-Impérialisme", Novembro 1989.
P.Vidal-Naquet, "Un Eichmann de papier", Esprit,1980. ( Republicado, mais tarde, em Les Assassins de la mémoire, Paris, La Découverte, 1987.
Bom, são vários os autores , historiadores , sociólogos e jornalistas que estudaram, e estudam, o Negacionismo e, grosso modo o nazismo .
Para além dos já citados, tenho de referir , obrigatoriamente, também L. Poliakov; J.-J.Heydecker; o enorme Henry Rousso; e a maravilhosa Annete Wieviorka.
Sim, faltam muitos, nomeadamente uma boa dezena
de norte-americanos, mas estes são os que me estão mais próximos. Literalmente.
Muitos dos textos principais , ou as ideias principais, destas- e de outras- personalidades estão disponíveis on-line. E, penso eu, é uma boa maneira de aprofundar um assunto que-todos o sabem - é cada vez mais actual.Porque, lá está, a história repete-se. Sempre.
Uma vez, numa conversa à qual tive o privilégio de assistir, Henry Rousso [Entre outras obras, H.R. publicou o memorável " Le Syndrome de Vichy, 1944-1987" (Le Seuil,1987;1990) ; " Vichy, un paseé qui ne passe pas"-escrito em colaboração com Éric Conan- (Fayard, 1994; Gallimard,1996) e também " La Hantisse du paseé.Entretien avec Philippe Petit (Textuel,1998) ] , presidente do Institut d'histoire du temps présent, lembrava os que o ouviam que, curiosamente , depois de 1945 , nenhum responsável pela solução final , teve a audácia de negar os factos; fosse durante o processo , fosse em testemunhos escritos ou orais não oficiais. Nunca o negaram. E, dizia H.R., não negavam porque fazê-lo depois da queda e derrota do Reich , e de tantas e tantas provas, isso seria inutil. E curiosa e paradoxalmente , foi em França que apareceu uma "escola" que se autoproclamou de revisionista.
Surgiu assim, como protagonista , essa figura tortuosa -Paul Rassinier- o pai espiritual de Robert Faurisson e consortes.[ Consortes de vários países e onde se inclui o tal senhor pedro almeida.]
Para além de ouvir, ao vivo, H.R., trago comigo -sempre- um dos muitos artigos que ele escreveu a propósito. É esse artigo que me inspira-(cito-o ) a escrita que se segue:
Rassinier , que aderiu ao partido comunista em 1922, é expulso do partido dez anos mais tarde por -juro que é verdade- Gauchisme.Depressa se alia aos socialistas do SFIO.
Em 38 está na extrema-esquerda do SFIO e em 1939-1940 demarca-se ( é mesmo verdade) do regime colaboracionista de Vichy.
Rassinier participou até num movimento de resistência , fundado numa zona ocupada ( no norte) pelos nazistas alemães.
A Gestapo prende-o em 1943 , torura-o e deporta-o. Primeiro é levado para Buchenwald e depois para Dora. Ambos campos de trabalhos forçados e de concentração. Mas não, de facto, de extermínio.
E é isso que o faz -apesar de inválido- sair vivo desses campos.
Depois da guerra , Rassinier volta à vida política mas sem qualquer êxito e decide, por isso abandonar a política.
Dedica-se então a escrever. Escreve uma série de -como chamar-lhes?- coisas, uma série de coisas onde diz denunciar " Les monsonges de la littérature concentrationnaire."
E depois vai por aí fora. Escreve livros a negar testemunhos de sobreviventes , baseando-se sempre na sua própria experiência em Buchenwald e Dora. ( Recordo que não eram campos de extermínio , porque não eram destinados maioritariamente a Judeus.)
Levanta polémicas; desmente oficiais alemães que confessam tudo; acusa os comunistas de serem os responsáveis pela "prática de selecção" nos campos e -finalmente- instala a dúvida sobre a existência das câmaras de gás. Sempre baseando-se na sua própria experiência.
Expulso do partido socialista , o SFIO, passa a ser idolatrado pela extrema direita, que o recebe de braços abertos. E vice-versa.
Louco, fica louco, paranóico mas -infelizmente- fundou a escola. Que se ramificou.
Vinte anos mais tarde, e ainda em França, por causa dos delírios de Rassinier , aparece essa figura sinistra -Robert Faurisson- que afirma com todas as letras , e passo a citar : les chambres à gaz et le génocide sont un mythe forgé par les vainqueurs alliés et par la propagande sioniste.. E reafirma o que afirmou Rassinier: que o Holocausto é , e volto a citar: La plus tragique e la plus macabre imposture de tous les temps..
O que fazer? O que dizer, meu D-us?
E depois pensar nesses Adolf Eichmann da história. Nesses Maurice Papon; nesses Paul Touvier; nesses Klaus Barbie do mundo; esses pedro almeida .
Como se pode negar o inegável?Como?
Democracia e liberdade de expressão...bah!
E porque é que eu não consigo dormir bem, todas as noites ? Será porque tenho memória? Ou porque tenho medo?
Ou porque sei que a história se repete?
Enfim.
Diz-se que as crianças são o futuro. Óptima máxima.
Pena é que não se possa aplicar à letra, i.e., que o futuro não seja mesmo futuro(portanto afastado)...e sim presente!
Passo a explicar.
Eu adoro crianças.Mesmo sem ter esse tão famoso "instinto maternal" ,apesar de já ter ultrapassado a barreira pssicológica dos 30 anos , gosto delas.
Mas não de todas. E muito menos de todas...ao mesmo tempo!
Adoro o meu sobrinho novo, e os outros emprestados; adoro os filhos dos meus amigos; adoro-os a todos; e adoro aquelas crianças que dormem bem, sem chatear e gritar por-dá-cá-aquela-palha.
Quis o destino -e a minha sorte- que as crianças também não desgostassem de mim. E isto significa que , em havendo crianças por perto, algo nos juntará.
E junta sempre. Tipo hoje.
Entrei ( depois de dormir 4 horas ) na minha chafarica ;e o que me dizem? Ana, hoje temos uma visita de estudo. Pê cês. ( código -jornalístico- para...cof. cof...p***s das criancinhas. )
Fiquei que nem um semáforo : estava vermelha, do calor, e passei ao verde de náusea ; mas não sem antes ter ficado amarela ...de raiva.
Logo hoje, bolas!
Revirei os olhos; disse meia dúzia de boas palavras portuguesas, à moda do Porto; respirei,como quem grunhe e, resignada, fiz como o outro : abri os braços e disse: Deixai vir a mim as criancinhas!
E, snif, elas vieram.
27 crianças. Entre os 6 e os 12 anos. Mais duas educadoras. E o motorista da carreira que os trouxe , também -tipo lapa- se juntou à visita.
30 alminhas e eu só a pensar em dormir.
Mal chegaram as criaturas ( vá, criaturas de D-us, não sou assim tão má!) eu -que sou a chefe- fui barbaramente abandonada pelos meus colegas que-como ratos- se escapuliram para todos os buracos disponíveis .
Visão dantesca. Cenário infernal.
As criaturas riam, pulavam, gritavam, babavam-se. Eu sei lá.
Aquilo é cinco-reis-de-gente capaz de demolir a mais forte muralha só com as gargantinhas.
E o que lhes dizer? Os segredos da profissão? Como funcionam as maquinetas tipo o telefone satélite que vou levar amanhã para o Iraque, por exemplo?
As pressões e as tentativas de suborno?
Comecei por lhes falar do tempo, claro! E de como num dia tão bonito como hoje, elas deviam era estar era na praia, ou no campo,(ou no raio que as parta)...mas ao ar livre!
Que sim, que sim. Depois vão, mas para já querem visitar a rádio e a televisão.
E eu mostrei o que pude.
Devo dizer que durante toda a visita, tinha sempre umas 10 crianças agarradas a mim.Mas agarradas literalmente. E sempre a perguntar coisas. " E o que é isto?" ;"E para que serve?" ; " E como é que te chamas?"; " E que idade tens?" ; " E porque é que está aqui tanto calor?"; " E tens filhos?" ; " E não há cá bolachas e coca-cola?" ; "E não nos vais dar um presente? "; " E porque é que tens óculos?"..." E...
E porque é que eu mereço semelhante castigo? E porque é que as criancinhas são autorizadas a sair de casa em bando, e não somente na companhia dos pais, como deveria ser?
E porque é que me dói tanto a cabeça? E porque é que estou a olhar com tanta atenção para o pescoço daquela criança, ali, ao fundo, que está a cuspir nas plantas? E porque é que é crime açaimar seres humanos?
Eram basicamente estas as perguntas que eu fazia enquanto me perguntavam todas as outras já citadas.
Suava em bica. Tremia e -a km- ouvia-se os meus dentes a ranger. Mas, estóica como só eu, aguentei até ao fim a tortura.
( Confesso que, à traição, dei um pontapé nas canelas de uma miúda que ia tirando macacos do nariz e os ia colando onde calhava ; e também dei um calduço( foi um reflexo condicionado, não pude evitar) num puto estúpido que me riscou a capa de um livro que eu tinha em cima da minha secretária . )
Já perto da saída, o momento mais trágico. A destribuição dos "presentes" habituais. Qual político em campanha mercantil, cá em casa oferecemos bonés e canetas aos putos. Aventais e sacos de plástico , pedimos desculpa, mas não temos.
Pensei que fosse fácil pôr, literalmente, os putos a apanhar bonés. Mas enganei-me.
Gritaria de meia-noite, chapadonas uns nos outros, puxões de cabelos, etc. ( Sim, sim, as crianças são anjinhos...e então umas com as outras...é a solidariedade no seu melhor não haja dúvida...)
Só que depois quiseram agradecer!
Diz uma das educadoras ( sado-maso com certeza) : "Vá, dêem um beijinho à senhora! e digam merci!
Ia morrendo.
Fui lambuzada por 27 criaturas suadas, peganhentas, mal-cheirosas! E, de brinde, tive de beijar também as duas educadoras! ( Ao motorista dei um desanimado aperto de mão.)
Estais a rir? cuidais que foi pouco o sofrimento? Pois então lembrem-se que, cá na Gaulia , cada criatura dá quatro beijinhos!!!
Até o António Guterres percebe que 4 X29 ...viola vários artigos da convenção de Genebra, carago!
Quando os incêndios ( cá em França e no meu Portugal ) se acalmam um pouco ( talvez porque já quase não há nada para arder ) ; quando as equipas de futebol, portuguesas, fazem bons jogos de futebol com estrangeiros e, ainda por cima, há um festival de música a começar ( ai, que saudades da Zambujeira do Mar! ), uma pessoa começa a ver a vida com mais optimismo. Mas, claro!, há-de surgir sempre uma notícia, um acontecimento, que deita por terra a nossa melhor disposição.
Não é que o monte de m...músculos que responde pela graça de Arnold Schwarznegger se candidata a governador da Califórnia!?
A Maria, que é a mulher dele, e é da linhagem dos K. e, portanto, uma democrata...já disse que apoia o esposo.
E o esponjoso esposo candidata-se pelo partido republicano.
Este austríaco, com naturalidade norte-americana, bem que já tinha avisado:
I´ll be back! ...
E cá está ele. De austríaco a Mister Universo...de culturista de culto a norte-americano. De depilado herói a homem político. Ou animal. Aqui fica mesmo bem a expressão animal político.
Claro que o anúncio tinha de ser feito à moda de Hollywood. O grandalhão, o Arnaldo, foi botar a boca no trombone de uma outra anomalia televisiva : Jay Leno.
Portanto, no dia 7 de Outubro lá vai o maralhal votar no rapaz. Tenho a certezinha.
É que , como se uma desgraça nunca viesse só, o actual governador , o democrata Gray Davis, é mesmo uma merda! E até vão lá fazer um referendo e tudo para saber se o Davis deve levar um pontapé no traseiro ( foi eleito há menos de um ano) ; e o chuto e pontapé é mais do que certo que os californianos não brincam em serviço.
Quer dizer, brincar até vão brincar...mas com bonecos musculados e depilados. É trigo limpo farinha amparo.
E, meus amigos, sabeis o que o Arnaldo disse da decisão que tomou?
Pois que foi a mais difícil desde 1978, altura em que optou por se depilar com cera para os concursos de culturismo.
Quero dizer tantas coisas que nem sei como começar.
Talvez pelo princípio. ( Que original.)
E no princípio era o verbo. O verbo enraivecer.
Leio, no Aviz, dois textos - Abjecto e O Público Errou.
Começo por este último.
O Jornal Público errou sim. Para mim errou de forma definitiva.
Desde a publicação dos tais "artigos" sobre o Holocausto, desse tal senhor pedro almeida, nunca mais li esse jornal.
Exagerada, eu? se calhar. Mas para grandes males, grandes remédios.
Agora o Público pede desculpa. Expia-se. Fica-lhe bem.
Mas, para mim, não muda nada. As desculpas - a este nível - não se pedem; evitam-se.
No Abjecto, Francisco José Viegas partilha connosco o conteúdo de dois e-mails que recebeu a propósito da mesma temática. Abjectos; sim.
O F.J.V. diz que " De vez em quando interrogo-me sobre estas coisas: a ignorância, a maldade pura, brutal, aviltante." . Pois.
Pois eu adoraria poder escrever este De vez em quando. Porque eu interrogo-me todos os dias. Mesmo não tendo qualquer tipo de esperança na humanidade.
E gostaria de dizer uma coisa:
Também eu já recebi e-mails a dizer enormidades semelhantes.
Em todos esses e-mails percebo uma irracionalidade e um ódio que nunca vou conseguir perceber e muito menos perdoar.
É como se os judeus não pudessem falar desta sua condição -de que se orgulham- com naturalidade! É como se o dizer-se que se é judeu fosse proibido.
Como se sempre que um de nós fala de Judaísmo, de Sionismo, de Eratz Israel, da Tora, do Talmude, do Menorah, da Estrela da David, do Chai, da Mão de Hamesh - que digo eu!- falar e não só!- usar esses símbolos também- estivéssemos a ofender alguém!
Muitos nos acusam de "nos defendermos uns aos outros " como se isso fosse crime; muitos nos acusam de sermos -porque a mesquinha e lendária ( sim, de lenda )"tradição histórica "assim o ditou- traidores; materialistas; usurpadores e somíticos; e dizem-no cheios de arrogância,de sobranceria .
E, sim, muitos acham que o asqueroso austro-alemão com o bigodinho ridículo e lustroso é um heroi.
E muitos- mesmo nossos amigos- acham melhor não falarmos da nossa herança judaíca porque podemos ter "problemas".
"Problemas"?
Como se pode aceitar que se tenha "problemas" porque se diz que se é Judeu?
Como se pode aceitar frases do tipo : -ah, é judia? quem diria! não parece nada! - como se os judeus fossem bichinhos; diferentes dos demais homens e mulheres !!!
Nunca aceitarei esconder as minhas raízes. A minha crença. Nunca aceitarei que se justifiquem perseguições com a dita cuja "tradição histórica". Nunca aceitarei ter de me justificar pelo que sou e pelo que defendo.
Nunca deixarei que me justifiquem esses comportamentos racistas e preconceituosos com argumentos de trazer-por-casa.
Nunca.
Nunca aceitarei ser criptojudaica . E nunca aceitarei quem o aceita.
E mais: não se trata só de religião. Muito menos da noção de " Povo Escolhido" -que muitos, muitos judeus rejeitam até.
Trata-se - e aqui sim- de uma tradição histórica e cultural . De uma forma de estar, de pensar, de ver o mundo e de o sentir e fazer evoluir.
Não tem de ser melhor nem pior. Apenas diferente.
Mas as diferenças não têm -se forem saudáveis, democráticas e sinceras, como é, de resto, o caso- de ser motivo de separação.
Nos nossos dias não se podem justificar separações religiosas . E, sim, admito e reconheço todos os exageros dos Ultra-Ortodoxos judeus.
Mas, e descendo o nível, há loucos em todo o lado e em todas as religiões ;e partidos políticos.
Mas o que me enraivece mais; o que me deixa contristada , é a falta de liberdade que sinto quando, por exemplo, visto a minha t-shirt com a bandeira de Israel estampada. Quando uso uma t-shirt com a bandeira norte-americana, ou a bandeira britânica, ou a portuguesa ou outra qualquer -até com uma turca já andei- , ninguém me diz nada. É uma moda.Mesmo T-Shirts com a Virgem Maria, crucifixos vários, budas, etc, são encaradas -e como deve ser!- como de uso normal.
Mas quando visto a minha t-shirt com a Estrela de David, ou olham para mim de esguelha , ou agridem-me verbalmente; mas não só. Já me cuspiram e até me deram uns "chega-para-lá".
Tem alguma justificação? Tem?
E o que me doí é que , depois, dizem-me : -Ana, tens de entender; esse símbolo pode ser encarado como provocação.
Levanto-me -em lágrimas- arranjo o decote do vestidinho; depois sou agarrada pelos meus companheiros e companheiras do lado, da frente e de trás , que me dão beijinhos e abraços apertados.
Toda a sala se levanta e aplaude e eu, bem vestida, cheirosa e triunfante rasgo o caminho rodeado de cadeiras ocupadas e dirijo-me para o palco.
Lá, pego no prémio, sorrio à plateia, tiro do soutien ( não tenho bolsos!) uma folhinha de papel, branca, muito enroladinha; desenrolo-a e começo a agradecer emocionadamente.
Sempre imaginei assim a recepção de um prémio. Mas um desses prémios mais mediáticos, porque dos outros já recebi alguns ( 3) e aquilo foi basicamente eu a segurar um cheque ladeada por um jornalista decrépito e por uma galdéria-contratada-para-entregar-flores. Loira falsa , claro.
Agora que me deram um prémio assim mais mediático...tal como o corno , fui a última a saber!
E não pude, por via disso, ir lá desenrolar o papelinho e agradecer ,a toda a humanidade em geral, e aos familiares, amigos e colegas, em particular.
Seja como for o prémio é meu.
Deu-mo o Migalhas!. Este prémio: Prémio “É uma querida e acorda cedinho”: Crónicas Matinais é meu. Meu.
Muito obrigada! ( sorriso divertido, de orelha a orelha, mas não por vaidade ou assim , e se não acreditarem estou-me nas tintas; apenas um sorriso porque adoro partilhar ternuras e boa disposição. )
E ainda por cima os óscares foram muito bem atribuídos!
É sempre "suspeito" quando se fala de alguém, especialmente se é uma figura mediática, que morreu.
Normalmente mesmo os maiores estupores , depois de morrerem, transformam-se em heróis ; com direito a rasgados elogios.
Mas, como em tudo na vida, não pode pagar o justo pelo pecador.
E é por isso que tenho de falar -com saudade- da jornalista Helena Sanches Osório.
Morreu. Ontem. Tinha 55 anos de idade. Estava doente há dois.
A família garante que morreu em Paz.
Aprendi muito com ela. Não que fosse das minhas relações pessoais, não era. Mas aprendi muitas, muitas coisas com ela.
O meu amor à profissão também tem o dedo dela.
LATE NIGHT BLOGS. Às vezes, e isso não é só por causa do calor,
escreve-se
mais. Há vento, finalmente, a esta hora. Eduardo Prado Coelho escrevia
recentemente sobre os blogs, no Público, acentuando o seu (dos blogs)
lado
mais libertino. Para Eduardo, há um problema a ter em conta, o de
muitos dos
bloggers «se sentirem autorizados a escreverem» sobre o que quer que
seja.
Não sei se isso é mau. Antigamente, antes de poder escrever «uma
opinião»
era preciso passar por uma série de rituais, etapas, trabalhos,
sanções,
ajustes, aprendizagens públicas, etc. Mas tratava-se da imprensa, onde
deve
existir essa série de exames e de admissões; não de blogs. Os bloggers
escrevem. Muitos deles (ao contrário das preocupações que o Eduardo
anota)
nem sequer se preocupam em ser conhecidos ou em mostrar o seu nome.
Pelo
contrário: há na revelação do nome (em casos como o de Pacheco Pereira,
Bragança de Miranda, etc.) o reconhecimento de uma proximidade com
autores
anónimos que escrevem porque escrevem e porque ninguém pode impedi-los,
nem
a moral nem os sacerdotes (apenas nós podemos não lê-los). Que escrevem
porque estão acordados a meio da noite e escrevem com e sem esperança,
com
insónia ou com medo, com preocupação ou à medida que assumem o direito
a
serem humanos, inteiramente humanos. Ter nome ou não ter nome é ‹
tirando
essa revelação de humanidade ‹ um assunto sem interesse. Nem sei se é
moda,
isto dos blogs. Nem me interessa. Dura enquanto durar. De vez em
quando, a
meio da noite, no meio das insónias, penso em não voltar ‹ porque cada
palavra que se deixa no blog é um recado. E, quando não é um recado,
pode
ser lida como um recado. E porque há desânimos inexplicáveis, tal como
há
entusiasmos adolescentes. E porque vamos envelhecendo e a energia varia
consoante o que se já se escreveu, o que já se leu, o que vamos
adivinhando
no mundo das previsibilidades. Dura enquanto durar. Depois acaba, como
tudo.
Mesmo se este Verão for aquele ‹ para retomar a crónica de EPC ‹ que
mais
tarde retomaremos com aquela pergunta: «Lembras-te daquele Verão em que
se
falava muito de blogs?» E se for assim? E se um milhar de portugueses
tiver
descoberto neste Verão ‹ mesmo que seja só neste Verão ‹ o prazer
adolescente de escrever, de dizer, de mostrar uma frase, de deixar um
recado? E se for assim, onde está o pecado? Teremos de transportar
connosco
a mágoa da eternidade?
Aliás: não é preferível recuperar a adolescência de vez em quando a
seguir o
curso daquele envelhecimento inevitável que nos torna mais impacientes,
casmurros, cínicos? Por isso, dura enquanto durar, escreve-se todos os
dias
ou só de vez em quando, escreve-se sobre livros ou sobre o amor
perdido,
sobre música ou o amor reencontrado, deixa-se uma citação de que se
gosta ou
uma citação que se finge conhecer de há muito. Não é isso mais saudável
do
que tentar enganar a eternidade fingindo que só se escreve para a
eternidade?
E outro pormenor: a preocupação com a audiência. Não deve isso ser um
critério flutuante? Há quem goste do «sitemeter» e quem recuse (como
eu). Há
quem aceite comentários livres e quem não queira. É isso tão
determinante? E
é assim tão grave se andarmos aqui a escrever uns para os outros, na
«blogosfera», essa «ondulação estival»? Para quem se há-de escrever?
Para
quem cá anda, para quem aparece, para quem pisca o olho e diz «ontem li
o
teu texto» ou para quem vem às escondidas, para quem telefona, para
quem se
importa. «Escrevem uns para os outros.» Não me lixem. Claro que
escrevemos
uns para os outros. Claro que escrevemos para os outros. E, dado que o
mundo
é como é, escreve-se sobre política, sobre incêndios florestais, sobre
Salinger, sobre música, sobre comida, sobre charutos, sobre o que
passa,
sobre os outros.
Eu tenho uma caixa de tesouros. É de tamanho médio, pintada de verde escuro; tem uma chave.
Como não temo ladrões ( só os de almas) deixo-a ao relento; pendurada no portão.
Quando me acerco de casa, olho para ela, abro-a e retiro um. Tesouro.
Esta semana tinha lá este .
Beautiful Death:Jewish Poetry and Martyrdom in Medieval France De Susan L. Einbinder. Princeton University Press.
Fechei a caixa de tesouros.
Mais logo vou dizer ao tesouro: Abre-te Sésamo...
Depois pretendo repartir.
****************************
E, já agora, mais um poema
WITH A VARIABLE KEY
With a variable key
you unlock the house in which
drifts the snow of that left unspoken.
Always what key you choose
depends on the blood that spurts
from your eye or your mouth or your ear.
You vary the key, you vary the word
that is free to drift with the flakes.
What snowball will form round the word
depends on the wind that rebuffs you.
[Paul Celan-traduzido do alemão por Michael Hamburger ]
Somewhere there is a simple life and a world,
Transparent, warm and joyful. . .
There at evening a neighbor talks with a girl
Across the fence, and only the bees can hear
This most tender murmuring of all.
But we live ceremoniously and with difficulty
And we observe the rites of our bitter meetings,
When suddenly the reckless wind
Breaks off a sentence just begun --
But not for anything would we exchange this splendid
Granite city of fame and calamity,
The wide rivers of glistening ice,
The sunless, gloomy gardens,
And, barely audible, the Muse's voice.
[ Junho23, 1915 -Anna Akhmatova- publicado originalmente-em russo- no livro White Flock em 1917; tradição, do russo, de Judith Hemschemeyer]
Au-dessus des étangs, au-dessus des vallées,
Des montagnes, des bois, des nuages, des mers,
Par delà le soleil, par delà les éthers,
Par delà les confins des sphères étoilées,
Mon esprit, tu te meus avec agilité,
Et, comme un bon nageur qui se pâme dans l'onde,
Tu sillonnes gaiement l'immensité profonde
Avec une indicible et mâle volupté.
Envole-toi bien loin de ces miasmes morbides;
Va te purifier dans l'air supérieur,
Et bois, comme une pure et divine liqueur,
Le feu clair qui remplit les espaces limpides.
Derrière les ennuis et les vastes chagrins
Qui chargent de leur poids l'existence brumeuse,
Heureux celui qui peut d'une aile vigoureuse
S'élancer vers les champs lumineux et sereins;
Celui dont les pensers, comme des alouettes,
Vers les cieux le matin prennent un libre essor,
- Qui plane sur la vie, et comprend sans effort
Le langage des fleurs et des choses muettes!