Crónicas Matinais

[ terça-feira, setembro 30, 2003 ]

 

E ao ler o Aviz, lembrei-me de Juan Rámon Jimenez:


Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.

Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.

Mas haverá estrelas, flores
e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.

E tocará esse piano
como nesta noite plácida,
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.



Ana [9/30/2003 10:40:00 da manhã]

 

Estou cansada.
De nadar em águas turvas.
Mas ainda assim, sempre mando uma mensagem engarrafada. Cito João Miguel Fernades Jorge

«Importa que não haja ilusões sobre este ponto: é
que todos podemos morrer de sede em pleno mar.
»

E também posso, enfim, sossegar. Porque voltou o Francisco.

Ana [9/30/2003 10:24:00 da manhã]

[ segunda-feira, setembro 29, 2003 ]

 

Há uns anos sonhei que estava na cama com a Leni Riefenstahl. Calma.
Os mais afoitos podem voltar a fechar a braguilha que daqui não vai sair nada que possam imprimir , para depois se divertirem em casa...
Foi um " estar na cama" ao jeito daquele programa muito jeitoso, apresentado pela Alexandra Lencastre, o " Na Cama Com ".
De maneira que estavamos lá as duas , eu de meias e camisa, e ela com um uniforme das SS, e eu pergunto-lhe:

-Olha lá, ó Leni, tu achas mesmo que é possível um gajo, ou uma gaja, ver aquela merda daqueles filmes que tu fizeste e separar a tua "arte" da ideologia que tu defendias? E, Leni, repara que até nem me estou a referir aos filmes da propaganda que tu fizeste, com orgulho, para o paneleirote do bigode; estou até, para já, apenas a pensar nos filmes bucólicos , com muitas montanhas e ar puro e cabras e -desculpa o plenonasmo- contigo a protagonizar?

E ela responde-me:
-Bem, assim de repente...

E eu:
-Assim de repente, tu a fazeres de Junta, muito virgem e cheia de bons princípios morais; casta e, desculpa repetir-me, qual cabra...montesa , à procura de um tesouro oculto...fazes-me lembrar o presidente da câmara de Tavira. isto no sentido figurado, claro, que o homem não tem culpa que tu também fosses toda anti-fumo em particular, e poluição em geral.

Ela: Achtung...

Eu: Santinha, filha; quer dizer, tu de santinha não tens nada...

Ela: Achtung , comigo! Eu sou a musa do nazismo; sou uma artista de alto gabarito! Não sou como aquela debochada da Marlene (N.A.Marlene Dietrich, actriz de origem alemã, universalmente célebre pela personagem " Lola Lola",no filme O Anjo Azul(1930); Marlene ficou também conhecida por ser HUMANA e por ter andado a percorrer os acampamentos dos aliados a estimulá-los na lutra contra o assassino nazi; o mais conhecido deles, o baixote de bigode.) , uma devassa , que se entretia em espeluncas cheias de fumo a cantar e dançar para homens sérios a quem ela, promíscua , seduzia ! Ela é Weimar ! E eu sou a Alemanha respeitável e limpa!

Eu: Olha, filha, para além de constipada , nazista e cabra ( por via dos montes), és mesmo muito estúpida!
Tu não sabes que essa vida de "Lola-Lola"...era no filme?! Era arte, topas , ó minha besta? Ela era uma actriz! Morre tanta pomba assassinada e só tu é que ainda cá andas, ó artista...

Ela: Achtung!

Eu: Santinha! Arre que és chata! Olha acabou-se a entrevista. Não quero cá perdigotos nazistas ; vai mas é filmar lá os soldadinhos de chumbo e os paneleirotes dos teus amigos ; mais as cabras das tuas irmãs e os culturistas arianos dos teus irmãos...no Inferno!
E mais, digo-te a ti, para que tu possas dizer aos teus admiradores: quem te defende é igual a ti! Quem acha que o que tu fazes pode ser separado do que tu és , ou é nazista, ou está a precisar , das duas uma: ou de um curso de arte; ou de uma lobotomia.
Andor...dá corda aos sapatinhos; põe-te na alheta!

Ela:Eu vou! Eu sabia que não podias ser da minha raça superior e...hei! ai! ai que isso dói! Socorro!!!! Acudam-me , meus irmãos do Reich! Aiiiiiiiiii


Enfim...alguém me quererá perguntar, agora, porque é que eu não coloquei aqui- eu que gosto tanto de filmes- posters de filmes desta filha do diabo, quando ela morreu?
Vá perguntem...não tenham medo...




Ana [9/29/2003 12:33:00 da tarde]

 

Par contre, duas coisitas entristeceram-me muito no início deste novo ano: ter de adiar as minhas férias por motivos profissionais e não ter lido, ainda, a entrevista que o senhor Pipi deu à revista "Maxmen".
Mas, pensando bem...as férias é o menos. Agora a entrevista...
Meus amigos: mesmo sem se identificarem , acham que, um de vós ( todos), pode retirar a Maxmen do sítio onde a esconderam e, utilizando essas novas tecnologias que todos vocês dominam e têm, colocar essa entrevista no computador e, depois, enviá-la aqui para a je?
Ficar-vos-ei eternamente grata!...e dou recompensa!
Muito obrigada.

Ana [9/29/2003 11:34:00 da manhã]

 

Tenho a correspondência em atraso.
Vou resolver isso ainda hoje, espero eu. Peço desculpa pela demora.

Já agora, e como tenho uns minutinhos livres, posso já responder ao Rui Mergulhão que, por e-mail, me pergunta : « a festa de passagem de ano dos judeus comemora-se como a dos outros?»
Hum...
Não percebo muito bem o que significa os outros, mas, se for o que estou a pensar a resposta é: depende!
Ou melhor, a resposta é não! Hum...quer dizer, Rosh Hashanah é uma data religiosa e, sim, espiritual. Não é uma festa num casino ; num hotel de 5 estrelas ou assim...

O Rui , penso eu, está a querer saber se os judeus, de sexta para sábado, se embebedaram; vomitaram uns em cima dos outros ; dançaram o " Bomba", com uma mão na cabeça e um movimento sexy; bateram em tachos e panelas; engoliram passas e pinhões; vestiram roupinhas com lantejoulas e fatos escuros ; enfardaram bolo-rei e atiraram serpentinas e balões...não é?
Pois a resposta é, definitivamente, não!

Essa festa de passagem de ano, que se comemora de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro, no nosso calendário ocidental comum, não é uma data religiosa e espiritual...está a ver a diferença?
:) Vai ter de esperar mais de 3 meses para poder ver judeus, bêbados, a dançar o "dizem que a cachaça é água(...)" e a comer uvas passas , está bem?

Um beijinho e, lembre-se, o que importa é andar sempre de bom humor...e que haja saúde!

Ana [9/29/2003 11:11:00 da manhã]

 


Ana [9/29/2003 10:55:00 da manhã]

[ sexta-feira, setembro 26, 2003 ]

 

Rosh Hashanah

Daqui a umas horas começa o ano de 5764.
O Ano novo judaico.
Segundo a Cabala( a Cabala é o entendimento. Entendimento do que acontece verdadeiramente além da percepção dos nossos sentidos , além da lógica e dos números. Entender, para a Cabala, não é um processo meramente intelectual, mas algo maior que combina a razão com a emoção; a aceitação de algo como parte inseparável de nós) 5764 é o ano da Kavanah. A Concentração.

Rosh Hashanah é, juntamente com oYom Kippur(que se comemora a 6 de Outubro), um dia intenso( Iamim noraim). É a hora de acordar. De ouvir tocar o Shofar (instrumento feito de chifres de carneiro) e dar início à mais importante jornada espiritual da existência.
É a hora de ser Judeu, ou, mais importante ainda : de ser Humano. Em todas as vertentes da palavra.É nesta altura que acertamos contas com D-us.

Época de orar, de silêncio, de jejum , mas com ocasiões de verdadeira festa; de estar com as pessoas que amamos: família e amigos; de pedir desculpa, perdão; de fazer novas promessas. E de desejar um ano novo melhor.
Diz-se: Shanah Tovah.

Também se visita, nesta época, o túmulo dos antepassados. Entre os judeus existe o sentimento de que os mortos queridos podem, de alguma forma, interceder pelos vivos junto de D-us.

Mais logo, ao entardecer, as famílias reunem-se para uma refeição festiva.
Acendem-se duas velas e torna-se, a mesa, o local, um "templo" sagrado. Os objectos do dia-a-dia são abençoados e ganham significados especiais.

Rosh Hashanah é o aniversário da criação do homem ( segundo o Génesis, D-us criou Adão e Eva no sexto dia da Criação ).

Mesmo os judeus não religiosos celebram esta data.
Mas, do ponto de vista religioso, é esta a altura de reconhecer que:
-D-us é o único senhor e juiz de todas as coisas vivas!
O momento de tomar consciência de que o nosso comportamento diante Dele, e do próximo, é , será, avaliado e julgado.

É, no fundo, a última oportunidade de nos arrependermos.

E seguem-se 10 dias de arrependimento. 10 dias entre Rosh Hashanah e Yom Kippur. São os dias de Thesuva.
De Retorno; é a palavra hebraica para arrependimento.
Thesuva começa quando o homem/mulher , pára de se considerar uma vítima inocente de um mundo pré-determinado e encara de frente a sua liberdade de escolha; as suas responsabilidades em relação a D-us; a si próprio e aos demais; ao seus próximos.

10 dias. Depois é o Yom Kippur: O Dia Do Julgamento Final.
O Dia do Perdão. O dia do mais longo jejum do calendário judaico. São 25 horas a nãofazer.
Não comer; não beber; não trabalhar.
Para imitar os anjos.
Mas, antes do jejum, há uma confissão colectiva na Sinagoga ( Viddui) , e uma refeição com sopa e galinha, além do pão ázimo e do vinho, que estão sempre presentes nas mesas judaicas.
Depois, ao rumar à Sinagoga, os pais abençoam as crianças e acendem velas pelos que já morreram.
E o dia está quase terminado.
Nos últimos minutos, antes do pôr-do-sol, quando os Portões do Arrependimento se fecham, D-us dá a sentença final; e escreve o nome de cada um no Livro da Vida do ano seguinte. Para a vida ou para a morte.

Fiz, baseando-me no que estudei, e nas mensagens que -já hoje- recebi dos meus irmãos, esta espécie de resumo.
Rosh Hashanah e Yum Kippur, são, então, os Iamin noraim, o que significa, em hebraico: dias intensos ou terríveis.

O que qualquer judeu vos diz, hoje, é que estes dias não estão só ligados à cultura judaica.
Qualquer um de nós, de vós, pode tirar proveito e reflectir sobre o seu significado.
Eu, Ana, faço-vos o convite.Não custa nada.

Shanah Tovah.

Ana [9/26/2003 10:55:00 da manhã]

[ quarta-feira, setembro 24, 2003 ]

 

Reparos à blogosfera ou a Liberdade de Expressão


Gosto muito de ler, por exemplo, o Dicionário do Diabo do excelente Pedro Mexia.
Aprecio a inteligência aliada à juventude; o talento da escrita e da poesia.
Mas dá cabo de mim , sinceramente, quando ele -e outros, é certo- se apropria de um tema.
Passo a explicar:
A certa altura, no seu blog, escreve o Pedro Mexia :« Um dos meus orgulhos nos blogs é ter lançado - juntamente com os meus colegas da Coluna Infame - o nome de Nelson Rodrigues.»

Não fosse a afirmação tão engraçada, eu ( que adoro rir) , em vez de rir , teria chorado!

Eu sei que o Pedro Mexia, tal como ele explica, não tem tempo, nem paciência, para responder a todos os que a ele se dirigem, mas eu, que sou teimosa e, quiçá, acabei de lançar, nos blogs, a técnica das perguntas a quem não se conhece , queria perguntar ao Pedro o que é que ele quer dizer com « lançar Nelson Rodrigues».

É que, a não ser que eu esteja a pensar num Nelson Rodrigues diferente , o Nelson que eu conheço ,desde menina e moça, foi lançado há muitos, muitos anos.
Tantos, que eu nem sequer era nascida; e eu já não vou para nova...

Eu penso que o que o Pedro Mexia queria significar, corrija-me se eu estiver enganada, é que - pelo que lhe parece, O Pedro e os seus companheiros "infames" foram, pelo menos que o Pedro tenha dado conta, os primeiros a citar esse grande jornalista e teatrólogo brasileiro, que dá pelo nome de Nelson Rodrigues, nos últimos tempos, na blogosfera portuguesa.

Se assim é , dou-lhe ,de boamente, a medalha de ouro na modalidade de lançamento.
Se não é assim ...peço-lhe, com humildade, que faça o seguinte exercício :
Imagine que, depois de um bom banhinho e de um cafezinho quentinho,e quem diz café, diz chá; abre o seu computador , percorre os seus blogs de consulta diária e, a páginas tantas, e por curiosidade , segue um link ,colocado num desses blogs, que o leva a um blog desconhecido, que , por exemplo, é este meu.
O meu amigo lê aqui as minhas larachas, esboça um sorriso se é maré disso, ou franze o sobrolho se for o que lhe se apresenta fazer no momento.
Mas, como é curioso, continua a ler e, de repente, lê uma coisa deste género : ( isto é a gente a imaginar, claro!)
« Uma das coisas que mais me orgulho no blog, é ter apresentado a todos vós , burros do caraças, que usais a cabeça só para colocar chapéus, seus palermas; Heidegger e Schmitt.O Heideggerzinho e o Schmittezinho, que eu trato por tu (...) »; e por aí fora.

Diga-me lá: se o Pedro já se tivesse fartado de falar desses queridos; de fazer papers a propósito; de os estudar até à exaustão; de falar neles no seu blog, e em outros sítios que possa eventualmente frequentar...não lhe dava vontade de fazer um post, assim como este que eu estou a fazer, no seu blog?

É que a questão, excelso Pedro, não é na comparação das pilas, i.e., saber quem primeiro falou, ou deixou de falar, de A, B ou C; a questão é a patetice de o afirmar .
Se calhar , uma patetice como esta minha agora que estou a escrever, é certo.
Mas, que diabo!, há coisas que irritam um gajo!...e quem diz gajo diz gaja!





Ana [9/24/2003 11:51:00 da manhã]

 

Há mitos, urbanos ou outros, que me tiram do sério.
É que um mentira muitas vezes repetida, e ao contrário do que se diz, nunca será verdade.

Estou para aqui com esta converseta, porque, mais uma vez, tive de levar com a já famosa frase : « é como o outro que inventou a guilhotina e morreu guilhotinado.». Treta!

E como eu sei que esta temática está no topo das vossas preocupações, meus queridos e queridas, cá estou eu para repor a verdade.

Vós haveis de saber, com certeza, e de cor e salteado, aquela linda prece revolucionária , muito rezada nos anos da vossa juventude , i.e., entre os anos de 1792 e 1794, e que reza assim : « Repleta o teu cesto divino com as cabeças dos tiranos.../ Santa Guilhotina , protectora dos patriotas,/ Rogai por nós./ Santa Guilhotina, calafrio dos aristocratas,/ Protegei-nos!» [ Isto até vai traduzido e tudo , por isso, façam a fineza de agradecer ...]

Ora bem, quem ouvir estas preces malvadas, há-de cuidar que a Guilhotina , essa máquina de mortes matadas, sempre foi pensada para ser cruel.
Pois estou cá eu para dizer que não! que isso não é verdade!

A guilhotina, coitada, e atentem nisto que eu não duro sempre, derivou do projecto de um médico; um médico muito humanitário: o doutor Joseph Ignace Guillotin. Que era um santo, não desfazendo.

Pois que esse santo homem,cientista respeitado , profissional de sucesso; um homem dedicado à causa pública, andava preocupado e, numa quarta-feira de manhã; estava frio, se bem me lembro, o doutor lembrou-se de criar a guilhotina.
Mas , ingratas criaturas, não pensem que o fez porque era mau, que não era...e se eu estou a mentir que me cortem já aqui a cabeça!
Bem, então este também emérito médico vacinador, e muito antes da revolução de 1789, foi eleito representante do Terceiro Estado e, por via disso, tinha sérias preocupações para com o seu povo. De maneira que depois de ter pensado no artefacto nessa tal quarta-feira, dias depois apresentou o projecto à Assembleia Nacional , só que, azar do caraças, fê-lo no fatídico ano de 1789. O que ele pretendia, sinceramente, era aplicar o princípio de Beccaria ou seja, da uniformização das sentenças. Ele explicou ( até parece que o estou a ouvir ) : « les délits du même genre seront punis par la même genre de peine, quel que soient le rang de l'etat du coupable.» Democracia pura! Preocupação social meritória. Numa palavra : justiça igual para todos. ( são, como repararam, três palavras, mas paciência .)
Portanto, dizia -e traduzo para aqueles que não falam estrangeiro- que os delitos do mesmo género serão punidos pelo mesmo género de pena, não importando a origem social do culpado.
Para democratizar então as penas de morte, o doutor Guillotin, sugeriu a construção de um engenho para tal fim. Explicava ele, com o seu ar amoroso: «a mecânica desliza...a cabeça voa, o sangue corre...o homem deixa de existir.» Que bonito quadro poético!
Só que, coitado, os bárbaros que fizeram a revolução, aproveitaram-se da sua boa fé e, três anos depois da sua ideia genial, a maquina de matar de morte degolada, foi usada como arma de destruição maciça; qual foice a ceifar vidas durante todo o PREC gaulês; numa rotina sem fim à vista.
Estupores.
O pobre médico, envergonhado de ter o seu nome irremediavelmente ligado ao que se tornou um terrível engenho, começa a definhar, a comer mal, a deixar de tomar as vitaminas...e , pobrezito, quina em 1814...de carbúnculo!

Por isso não me venham cá com tretas!
[ E tratem de estudar, mas é, a vida do sacana do Robespierre ,porque, esse sim, é que morreu guilhotinado! E foi muito bem feito!]

Ana [9/24/2003 10:00:00 da manhã]

[ terça-feira, setembro 23, 2003 ]

 

Poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco



Mário Cesariny

Ana [9/23/2003 02:50:00 da tarde]

 

Atassalha-me aqui a ver se eu deixo...

Estava eu a deliciar-me com o Adagietto da 5ª sinfonia de Gustav Mahler; a rever mentalmente a " Morte em Veneza" de Luchino Visconti...e toca o telefone.
Era a minha mãe.
É que hoje a minha avó materna faz 90 anos e a minha mãe queria lembrar-me , como se eu me fosse esquecer !!!
De modo que toca então o telefone e era a minha mãe.
Falamos um bocado, das coisas do costume; como estás; eu estou bem e a mãe ; etc.
Diz que a festa da minha avó vai ser de arromba e eu fico feliz que assim seja.
Liguei à minha avó.
Agradeceu os parabéns, explicou-me o que anda a preparar para o ano novo ( na noite de 26 para 27 começa Rosh Hashanah , o ano novo judaico; lá para amanhã , ou depois, falarei sobre isso.) ; e disse-me que já não se sente tão sozinha.Fiquei feliz.
[É que o meu avô materno morreu vai fazer um ano em Dezembro; no Natal.]
E então a minha avó diz-me que já não se sente tão só e diz que tem uma anedota para me contar, uma que aposta eu não conheço :

-Um rapaz português apaixona-se por uma moça brasileira e casa com ela.
Na noite de núpcias, já despidos, diz ela ao tuga:
-Amor, vem, me mata com esse negócio de fazer xixi...
E então ele dá-lhe com o penico de loiça na cabeça...

( ah ah ah )

Eu: Avó... quem lhe contou essa anedota...fui eu!
Avó adorada: Mentira. A menina nunca me conta anedotas!
Eu: Ai ! Que grande mentira ; eu conto-lhe anedotas sempre, sempre!
Avó adorada: Não seja mal-educada! Eu não minto! A menina nunca me contou anedotas e, além disso, esta a ser mal educada ; isso não se diz à avó!
Eu: Desculpe, avó adorada, mas a avó também me chamou mentirosa e, além disso, quando me trata por você é porque está a querer discutir ...
Avó adorada: Eu não te estou a tratar por você...
Eu: Ahhhh! Ó avó que lata!Então o " a menina" isto a "menina "aquilo?
Avó adorada: Ana, estás a irritar-me. Más criações não te aturo...nem mentiras...
Eu: Avó!!!! Ai, ai ...não me diga isso; eu não estou a ser mal educada e não menti; a anedota fui eu que...
Avó adorada: Mentirosa! Não foi nada...
Eu: Grrrr....avó...
Avó adorada: Não me grunhas aos ouvidos! Vamos mudar de assunto; além disso a anedota é uma merda!
Eu: Avó!!!
Avó adorada: Olha, tenho mais que fazer; vou arranjar o cabelo e a Maria de Lurdes ( a dama de companhia ) está-me a chamar; beijinhos e até mais logo!...
Eu: A avó é impossível, às vezes!
Avó adorada: Olha quem fala! Sabes que mais? -atassalha-me aqui a ver se eu deixo!...

E desliga-me o telefone no nariz.

Sou ou não sou a neta mais sortuda do mundo? ;)
Parabéns, querida avó.
E agora que o template cá desta coisa foi mudado, por sua causa, há-de ler isto e rir-se...da sua figura! hihi
E, só lhe perdoo...porque me telefonou , dez minutos depois, a rir-se muito e a dizer-me que me ama muito e que se diverte sempre muito comigo!
Consigo , avó,é tudo : muito, muito, muito,muito....

Muitos Parabéns!




Ana [9/23/2003 02:02:00 da tarde]

[ segunda-feira, setembro 22, 2003 ]

 

E, já agora, coloco a continuação desse meu post:

«Ok...aqui fica mais uma passagem do "Coca-cola Killer"...a ver se pega!
( é que faz mesmo bem à alma e ao bom-humor ler este livro que já tem mais de 20 anos...)

" A madrugada começava a azular as copas do arvoredo e a recortar com progressiva nitidez as silhuetas do casario, quando cheguei ao Campo Grande, sempre na vã expectativa de apanhar um taxi desgarrado que me conduzisse às Janelas Verdes, ao conforto repousante do lar conjugal, onde Patrícia Flávia , não obstante a resistência granítica do seu sono quando tomava uns comprimidos suíços, talvez já principiasse a ficar inquieta com a duração da minha ausência.
(...)
As ruas estavam desertas, em conformidade com a hora matutina, mas fui surpreendido pela súbita aparição de uma longa coluna militar motorizada que aguardava a luz verde de um semáforo para avançar pela Av.da Républica, com todo o seu arsenal de jeeps e blindados.
Dirigi-me ao veículo mais próximo e perguntei, delicadamente:
- Temos uma paradazinha, não?
Os soldados sorriram-me, prazenteiros, amabilíssimos , e um oficial respondeu-me:
- Mais ou menos, amigo, mais ou menos...
Nessa altura, houve um outro oficial que se apeou do seu jeep e veio perguntar com certa ironia, ainda que sempre cordialmente, aos companheiros da frente:
- Ó camaradas! Pode saber-se do que é que a gente está aqui à espera?...
Ao que o soldado motorista respondeu:
- Saiba o meu capitão que se a gente não parar nos sinais vermelhos nos arriscamos a ter acidentes...
O capitão soltou uma gargalhada jovial e retorquiu:
- Mas que revolução vem a ser esta que fica parada nos sinais vermelhos?
E novamente o soldado:
- O meu capitão desculpe , mas ...como é que as pessoas sabem que isto é uma revolução?
Pergunta pertinente : eu, por exemplo, nunca poderia imaginar que aquele alegre desfile de militares risonhos incubava o vírus rebelde de uma revolução- e o meu primeiro movimento de curiosidade foi saber contra quem e contra quê se processaria essa insurreição...
O oficial que em primeiro lugar falara comigo esclareceu-me em poucas palavras:
- Estamos aqui para restaurar a democracia.
- Contra o Caetano, portanto?
Os soldados entreolharam-se durante alguns momentos, até que um deles de decidiu a falar , timidamente:
- O amigo tem que compreender que a gente, em princípio, não é contra ninguém em especial, mas sim pela democracia. Quem for pela democracia , é por nós!
Lembro-me de ter olhado para o cano da G-3, casualmente apontado na minha direcção, e de ter pensado de mim para mim que, não obstante o aspecto paradoxalmente pacífico e bem disposto daqueles soldados, uma arma era sempre uma arma- pelo que me apressei a declarar:
- Então eu sou por vós, porque também sempre pugnei pela democracia, desde criança! Podem não acreditar, mas é verdade: desde menino!
A luz verde do semáforo já abria passagem à caravana revolucionária e preparava-me para me despedir quando um outro oficial me perguntou:
- O amigo quer que a gente o leve a algum lado?
Hesitei, pouco afeito a viajar de blindados, livre que ficara do serviço militar por via do pé chato e das recomendações amigas de um coronel, a quem não passara despercebido o meu profundo horror ao belicismo. Contudo, era um convite tentador: àquela hora , onde é que eu ia arranjar um taxi?...
-Eu não sei se fica em caminho- redargui, atenciosamente.- A minha casa é nas Janelas verdes...
O oficial fixou-me por instantes e depois cochichou alguma coisa ao ouvido de um colega, numa pausa que não poderia deixar de me inquietar , pois isto de revolucionários é uma fauna esquisita: uma pequena suspeita e vai de encostar um cidadão à parede, feito passador...
Por fim, aquele a quem o soldado motorista tratara por capitão dirigiu-se a mim , muito correctamente, aliás, e dissipou-me o vago pânico que ameaçava assaltar-me:
- A gente quer ir para o Largo do Carmo, mas não conhecemos bem o caminho por causa de umas obras que andam aí a fazer...Se o amigo , já que é um democrata, fizesse o favor de nos acompanhar , indicando-nos as ruas, nós depois até mandávamos um jeep conduzi-lo a casa.
- -Mas com todo o prazer! - exclamei aliviado.- E nem é preciso levarem-me a casa, incomodarem-se , interromperem o vosso trabalho: do Carmo às janelas Verdes é um saltinho que se faz bem a pé!
No meio de palmadas amigáveis nas costas, trepei para um jeep e avancámos decididamente a caminho do miserável coito onde o fascista Caetano e os seus sequazes se tinham aquartelado.
A brisa fresca da madrugada afagava-me as faces, convidava-me a respirar o ar renovador dessa aurora revolucionária, entusiasmava-me , despertava-me instintos guerreiros, inspirava-me a verve oratória e musical, levava-me a cantar, batendo ruidosamente com as mãos na chapa do veículo:
- Les aristocrates- on les pendra! Les aristocrates- on les pendra!...
Perto do Saldanha , um dos militares pediu-me que me moderasse , pois passara por nós um ""creme nívea"( só mais tarde vim a saber que era o nome atribuído aos carros azuis da polícia...) e não convinha que déssemos nas vistas. Na verdade, explicou-me ainda o militar, o nosso poder bélico era mínimo e bastaria uma resistência minimamente organizada por parte das tropas afectas ao governo para nos reduzirem a cinzas...
- Ó diabo, mas isso não está no programa, pois não? - Indaguei, compreensivelmente preocupado.
- A gente joga com a desordem deles, mas nunca fiando- retorquiu-me, com um sorriso assaz inquietante.
Escusado será dizer que me moderei e confesso que até voltei a sentir desejos de me dissociar da aventura, simular um vómito, regressar a pé para casa , avesso que sempre fui a improvisações. Mas era tarde: segundo os meus companheiros de veículo, a PIDE já deveria estar de alerta...
Não pude deixar de relatar as múltiplas razões de queixa que tinha contra essa organização:
-Carimbaram-me um dedo, é verdade!- exclamei emocionadamente- isto para já não falar nas coxas escaldadas com café a ferver, nas listas telefónicas na cabeça, nas bofetadas e na rasteira que me fez rolar pela escada! Uma coisa infame!
Os militares pareciam comovidos e abraçavam-me, com enfática solidariedade:
- Agora chegou a nossa hora! Se Deus quiser, logo à tardinha, temos o país nas mãos da liberdade!
E eu, novamente invadido por um arroubo patriótico:
- Com Deus ou com o diabo, libertem-nos, rapazes! Dêem , sobretudo, cabo desse Caetano malvado: por causa dele, ainda não atingi um posto que há muitos anos persigo e sei que mereço!
Chegamos aos Restauradores , tivemos que travar bruscamente para não atropelarmos um sujeito bizarro, de barba e cabeleira branca, segundo soubemos, um pintor perseguido pelo fascismo, figura demasiadamente excessiva e buliçosa , para meu gosto, que soltava medonhos urros no meio da rua, apoiando o avanço das forças democráticas orientadas por mim:
- Viva a liberdade!!!Viva Portugal!!!

Abusivamente , saltou para o nosso jeep e começou logo por fornecer indicações erradas : em vez de subirmos o Chiado , como seria lógico e eu aconselhava, fomos parar ao Terreiro do Paço, onde uma multidão já considerável se manifestava a favor da revolução, num alarido de festa impressionante...
Nesse momento , surgiram já não sei donde uns outros militares , meia dúzia de gatos- pingados rodeando um jeep de onde saiu um general de palavras enérgicas, mas gestos um pouco adamados, que se dirigiu à nossa coluna em termos assaz desabridos.
O capitão que me convidara a dirigir a marcha das viaturas revolucionárias através das ruas de Lisboa aproximou-se cortesmente do general em fúria, fez-lhe a continência e disse-lhe , sempre nos melhores modos:
- Meu general, acho que o melhor qu tem a fazer é render-se.
O outro pulou de indignação e ripostou:
- E se eu não me render?
- Nesse caso, terei de o matar, o que me parece extremamente indigesto a esta hora da manhã...além de bastante estúpido e evitável!
O general olhou desesperadamente em volta, como que em busca de um apoio que ninguém lhe fez o favor de conceder, meditou durante uns breves instantes e depois rendeu-se , entregou-se aos soldados , sem um tiro, sem um golpe de espada, sem uma gota de sangue: ignóbil, em suma...
Uns metros adiante, junto ao Ministério da Marinha, ouviram-se vozes provindas de uma janela. Eram dois ministros que clamavam por socorro, apelando para o general, sem mesmo atentarem na sua triste situação dentro do jeep .
- Ó senhor general! Venha libertar-nos , faça favor! - gritavam-lhe lá de cima, o timbre aflautado pela excitação.
- Não posso...
- Porquê?
- Porque...porque estou preso!
Até chegarmos ao Carmo, sempre pessimamente orientados pelo pintor barbudo que persistia em ignorar as minhas indicações e em fazer prevalecer os seus desvarios , ainda fomos abordados por dois ou três destacamentos de tropa fiéis ao governo, mas o número de elementos que os compunha era tão reduzido , reinava nos seus rostos pategos de magala uma tal perplexidade , que se tornou fácil fazê-los desistir de qualquer oposição violenta , cada vez tornada menos viável, aliás, pela crescente balbúrdia da multidão que nos aclamava com brados de incontida e contagiosa alegria.
Havia gente de toda a espécie, de cambulhada com a gentalha infecta e oportunista que se esgueira pelos esgotos sociais do mundo, à caça de ocasiões para se infiltrar na imagem histórica dos grandes acontecimentos.
No meio de intelectuais noctívagos , saídos da rambóia dos bares suspeitos da capital, de burgueses estremunhados pelo inusitado alvoroço matutino, de operários , vendedeiras da praça e funcionários públicos relapsos às obrigações profissionais, de estudantes eufóricos, de crianças desvairadas pela atmosfera de delírio lúdico, de polícias despoletados da sua função ordeira, de prostitutas exaustas pelas lubricidades da noite, os nossos carros avançavam dificilmente, rodeados de entusiasmo transbordante , de ovações, de manifestações carinhosas, tais e tantas, que dei por mim abraçado a dois mulatos, numa involuntária pose colhida pela imprensa fotográfica e divulgada até no estrangeiro!
Os soldados conseguiam a muito custo tomar algumas posições estratégicas em torno do velho edifício onde o ditador Caetano se acoitara com uns tantos acólitos, e tentavam afastar a garotada impertinente que volteava em torno das metralhadoras:
- Chega-te para lá, menino!- ouvia-se constantemente dizer.
Uma mulher de meia-idade e expressão angustiada pretendia, ostensivamente, furar a muralha de gente e de blindados que se atravessava no seu caminho:
- Eu não tenho nada a ver com isto!- exclamava , perturbadíssima , as lágrimas nos olhos,.- Se não chego a horas ao emprego , quem me paga o ordenado?! Quem é que dá de comer aos meus filhos?
Ao que um dos militares respondeu:
- Hoje é feriado, minha senhora. E a partir de agora, por todos os séculos, será sempre feriado no dia 25 de Abril!
A multidão ovacionou a frase do militar, embora a mulher continuasse a protestar desesperadamente , sinistra e agoirenta no negrume das suas vestes de viúva de fresca data:
- Vão dizer isso ao meu patrão e não a mim, pois não é com festas que se mata a fome!
Um porta-voz dos sitiados veio anunciar que o governo não se rendia, o que provocou grande mal-estar entre nós e me levou a dirigir-me , decididamente, a um dos oficiais , exortando-o a pôr fim às arrogâncias do déspota:
- De que é que estamos à espera para bombardearmos o covil?- indaguei, sereno mas autoritário.
Para minha grande aflição, porém, o oficial confidenciou-me , tomando-me por um braço:
- Para já , a gente queria evitar sangueiras, ó amigo... E em segundo lugar, mesmo que quiséssemos bombardear aquilo, não podíamos: as granadas que trazemos connosco são tão potentes que, se disparássemos daqui, arrasávamos dois quarteirões e morríamos todos!
- Isso equivale a dizer que estamos...desarmados?- manifestei o meu receio justificadíssimo.
- Mais ou menos.Quando muito , para assustar , vamos mandar umas rajaditas de metralhadora , a ver se pega...
- E se não pega?!-sobressaltei-me.
- Se não pega, estamos lixados...
Confesso que a minha indignação foi grande: então convidava-se em plena madrugada um cidadão de conduta exemplarmente pacífica- não obstante as profundas feridas rasgadas pelo regime na sua sensibilidade física e moral, os justos interesses tantas vezes lesados por arbitrariedades governamentais e administrativas- a participar num movimento revolucionário , a orientá-lo , inclusivamente , pelas ruas de Lisboa, e só no momento crucial em que as sortes estavam lançadas se lhe confessava que tudo aquilo não passava de uma aventura perigosíssima de gente desarmada , ou com tais armas que mais valia não ter nenhuma, de um bluff aceitável numa partida de pocker entre amigos, mas jamais numa sublevação militar com pretensões históricas?
Então conduziam um homem probo e digno a situações tão melindrosas como desagradáveis , obrigado a repartir o comando das operações com um pintor peludo, de barbas e cabelos ao vento, desaustinadíssimo, prepotente e malcriado , a deixar-se submergir por uma cáfila ululante e fedente , ignobilmente abraçado a pretos desconhecidos, fotografado para os jornais de todo o mundo nessa tristíssima promiscuidade com a catinga colonial, sujeito às mais drásticas represálias , à perda sem remissão de um posto tão obsessivamente perseguido durante anos de trabalho e luta- e confrontavam-nos , à queima-roupa, com um inconcebível jogo de azar , folguedo de péssimo gosto, em que um contingente de taratas incompetentes e de revolucionários apalermados admitia não ter meios bélicos para derrubar o governo, rudimentarmente entrincheirado atrás das paredes de um convento em ruínas?!
Todas estas ideias me bailavam em turbilhão no cérebro, enquanto admitia a hipótese -inteiramente legítima- de achar um caminho para a Guarda Republicana , assaz bem protegida pelos sólidos muros do quartel, a fim de denunciar aos seus comandos a real debilidade das forças sitiadoras e, deste modo, merecer o perdão das entidades oficiais para a leviandade da minha presença naquela garotada desorganizada e inconsistente , mais um típico exemplo de improvisação lusitana , de inépcia e de irresponsabilidade!
Infelizmente , havia um militar revoltoso que passeava debaixo das janelas da GNR, à espera de uma decisão que tanto poderia ser uma rendição como uma resposta bélica adequada e, muito provavelmente, decisiva: o imprudente capitão do movimento insurrecto era um alvo que não estaria a mais de três metros das armas fiéis a Marcello Caetano...
Passados minutos da maior ansiedade, em que senti as gotas de suor escorrem-me pela face, pelas pernas, pelas costas, ensoparem-me os sovacos , o comandante da Guarda Republicana saiu à rua, decidido a render-se , mas foi pertinente na sua observação, após uma cotovelada amigável na ilharga do rebelde:
- Ó meu capitão!, olhe que se eu quisesse, tinha-lhe dado um tiro...
Contudo, a situação estava longe de se clarificar: a fim de evitar que o poder caísse na rua, segundo afirmava, o Presidente do Conselho exigia que lhe trouxessem o general Spínola, o qual, provavelmente, estaria nessa altura de pijama , ainda sem monóculo, por arranjar e por barbear, na intimidade do seu pequeno-almoço, pouco disposto a acorrer às chamadas de um homem que acabara de lhe fazer acerbas críticas pela televisão e até de lhe sabotar a distribuição de um livro , afora outros diferendos.
Confundido pelo inesperado de uma reclamação tão impositiva por parte de um homem a quem vinha retirar as chaves do poder , o militar encarregado da melindrosa missão teria hesitado , gaguejando frases sem nexo, a típica comichão da perplexidade a irritar-lhe a nuca, a turvar-lhe a lucidez...- e acabara por transigir , por ceder à vontade do preso, por solicitar a comparência do general requerido, por deixar incrivelmente esquecidos no bolso do governante deposto os símbolos de uma autoridade que jamais alguém voltaria a encontrar na subsequente balbúrdia do processo revolucionário em curso!
Alheia a toda esta complexa problemática, a multidão continuava a crescer em número, entusiasmo e espírito festivo, prejudicando gravemente aquele mínimo de concentração imprescindível para que os soldados pudessem , ao menos, cumprir a sua missão amedontradora :dir-nos-íamos num arraial, num luna-parque, no recreio de uma escola primária, rodeados por uma mancha humana socialmente heterogénea , mas igualizada na inconsciência com que encarava os riscos que pairavam nos conturbados ares dessa manhã primaveril!
Nos momentos mais dramáticos em que um simples gesto em falso daria azo a um tiroteio sem fim, a um massacre incomparável na nossa História de brandos costumes , havia um locutor de rádio que, microfone na mão, fazia o relato dos acontecimentos com aquela verborreia característica das transmissões desportivas- e quando, após insuportáveis delongas , se apontavam, finalmente, as metralhadoras contra o edifício sitiado , aparecia sempre um soldado qualquer a lastimar-se juntos dos seus superiores:
- A gente não pode disparar, meu capitão...
- Porque é que não podem disparar?- indagavam os oficiais.
- Porque o pintor está outra vez na zona de tiro...
A minha vontade era gritar que dessem cabo desse energúmeno, que disparassem , que rebentassem com aquilo tudo, que acabassem com tal situação, antes que fosse tarde, antes que os outros desmascarassem o bluff e viessem ao ataque, a PIDE à frente, a comandar as operações, enxameada de Baratas, Cordeiros e Franquelins sedentos de vingança, prontos a reconhecer-me, a surpreender-me nos braços dos dois mulatos que persistiam em se atrelar a mim, pegajosos e comprometedores, um pesadelo vivo nessa manhã de Abril!
Finalmente , porém o general Spínola apareceu, saudado como um herói salvador pela turbamulta, incensado pelo repórter radiofónico , em transmissão directa para todo o País, dizia ele, numa apoteose inaudita- e após conversações a que não assisti , e que julguei de antemão penosas, a pandilha fascista baixou os braços, vergada à realidade da derrota, evacuou o reduto do derradeiro esconderijo e deixou-se introduzir , como uma vara de porcos, humilhada e repelente, na indizível angústia dos seus rostos, excepção feita ao Caetano , insensível e frio que nem um crocodilo, na Chaimite dos restauradores da democracia portuguesa.
Os meus nervos acumulados , não apenas durante aquelas horas, mas ao longo de anos de repressão da liberdade, extravasaram num alarde incontido de vitalidade: sempre com os mulatos à fila, saltei para cima do veículo , tomei uma bandeira nacional nas mãos e, na companhia de mais democratas, cobri a chapa blindada de pontapés e de punhadas, espumante de furor patriótico , cego de irascibilidade, pletórico de energia viril, urrando como um louco por um megafone que por alí aparecera:
- A eles, camaradas, a eles! Morte ao fascismo!!! Morte aos bandalhos!!!
Concedo que me excedi. Mas como eu, não havia muitos outros?! "


Relato de:
Marcelino da Gama, o Coca-cola Killer, o filho do "Monstro do Dafundo"»


Ana [9/22/2003 12:33:00 da tarde]

 

Tinha de acontecer...

Depois de dois anos a escrever como uma maluquinha, no meu Pastilhas, sempre soube que, mais dia menos dia, iria lá buscar um desses textos, quando me faltasse o tempo- ou a inspiração- para o blog.
De modo que esse dia é hoje.
Mas, antes , queria justificar-me: sempre que estou triste, doente, ou simplesmente com saudades, pego num livro que me faz rir sempre muito.
E eu adoro rir.
No pastilhas, abri um tópico no fórum (Enfermaria-Remédios) , há mais de um ano, acho eu, onde falava de livros e de literatura. Nesse tópico , entre muitos autores e livros, eu e os meus companheiros do Pastilhas, dissemos ( e ainda dizemos se quisermos) as nossas opiniões e até colocámos excertos dos livros que gostamos.
De maneira que, um dia, também lá coloquei excertos deste livro ( deu trabalho porque a obra não está online )que me apetece falar:

«Este livro, de que me apetece falar, começa assim:

« Ainda que este livro não deva ser, de modo nenhum, uma daquelas autobiografias grotescas em que o autor relata toda a sua história desde a idade das fraldas, não posso deixar de citar a data triste da minha infância em que- motivado pela circunstância de meu avô dormir de braços abertos- pretendi crucificá-lo no colchão, chegando a cravar-lhe uma cavilha na mão esquerda.
Ao contrário do que se propalou pelas vias de coscuvilhice da vizinhança, a gangrena que o vitimou não derivou do ferro ferrugento da cavilha, mas de um panarício anterior ao atentado- o que não impediu que tanto a acção concreta como a calúnia me marcassem para o resto da vida, com a memória escaldante de uma tragédia.(...)"

Eu sempre que preciso de me alegrar, de rir lendo, pego neste livro ( neste e no irmão deste, ou seja, a parte dois) e leio-o com avidez, sofregamente , porque sei que enquanto o leio não há nada que me chateie.
Choro até não poder mais...mas a rir!
Sei de gente que o leu e não se riu tanto...mas eu sou completamente apaixonada pelo humor corrosivo, irónico e sobretudo inteligente do autor.

Na página 101 diz assim:
( falando dos seus filhos trigémeos)
"Quando, pela primeira vez, ainda muito pequenos, foram expulsos de um colégio dirigido por monjas, devido aos mais incomensuráveis actos de indisciplina, fechei-me no meu gabinete de trabalho e chorei, primeiro só, depois agarrado a Patrícia Flávia, que, entretanto, entrara e também chorou, por fim debruçados sobre o regaço de Clotilde Maria Remarque, chorando todos, num caudal de lágrimas que se propagou à cozinha e ao próprio motorista- o que, naturalmente, me desagradou, pois sempre gostei de guardar para mim os desgostos e jamais aceitei compartilhá-los com o pessoal.
Chamei-os à minha presença, os três horrorosamente vestidos, vesguíssimos, provocadores no falar e nos gestos, e perguntei-lhes:
- Foi "isso" que vos ensinei?
- "Isso" , o quê? - atreveram-se a ripostar.
- "Isso"...serem expulsos do colégio.
- Não fomos nós que nos pusemos na rua: foram as freiras...
Diálogo impossível. A única linguagem era a bofetada , numa actividade repetitiva e dolorosa, a mão tornada dormente pela confusa esgrima de tabefes a multilicar por três! Fiquei prostrado num sofá, magoadíssimo numa falange...
E eles? Pois após os primeiros choros, retiraram para o corredor e ainda os ouvi começar a rir, troçando de mim, comentando entre gargalhadas:
-Até parecia o D'Artagnan!
Raras vezes na vida me senti tão deprimido."

Bom...isto é apenas um bocadinho muito pequenino, se me permitem o pleonasmo...

Não resisto a colocar aqui outra das uma das minhas passagens preferidas:

"(...) Em 1968, ano do turbulento Maio que flagelou a França e do lutuoso Agosto que atolou as ruas de Praga da mancha soviética, a minha vida receberia um dos seus mais rudes golpes: a morte de Clotilde Maria Remarque!
Foi numa tarde amena de Outono lisboeta.
Como habitualmente ,a escritora fazia o seu passeio pelas ruas da Lapa e da Estrela, sentada na cadeira de rodas que, ora eu, ora a Pifá, ora a criada negra, empurrávamos , num andamento lento e cadenciado : deliciosos momentos de relax coloquial que nem a catinga da africana, atenuada pela brisa do Tejo, conseguia perturbar...
Clotilde Maria Remarque estava num momento de notável inspiração, dissertando sobre uma biografia de Fuas Roupinho que tinha em mente realizar muito em breve, a pedido dos editores e, sobretudo, reclamada pelo rigor da verdade histórica , tantas vezes adulterada por dificiências de informação.
E dizia a literata:
- Tenho provas de que, na Nazaré, nunca houve veados!
Provas ecológicas irrefutáveis! A que propósito, portanto, um milagre com um diabo disfarçado de veado, numa zona onde seria muito mais razoável encontrar-se uma lebre ou, por exemplo, um texugo?!
- Indiscutível, murmurava eu, já perturbadíssimo de entusiasmo e de gozo intelectual.
Mentalmente , antevia o êxito e a venda do novo livro, as discussões na Brasileira, uma eventual intervenção do Patriarcado, em defesa da versão original do milagre, conferências de imprensa, mesas-redondas, um afluxo turístico excepcional à Nazaré, com repercussões em todo o país, postas em causa as carências hoteleiras, colóquios internacionais sobre investimentos estrangeiros, hipóteses de um filme com Peter O'Toole no papel do cavaleiro miraculado, enfim, tudo aquilo que uma obra inédita de Clotilde Maria Remarque tornava lícito antever!
E minha sogra( uma verdadeira mãe) insistia:
- Em minha opinião, tratava-se de um texugo, animal espantadiço e capaz de se despenhar num abismo ante o galope desenfreado de um cavalo. Por outro lado, a hipótese do texugo também justifica a excitação do cavalo, motivada pelo odor pestilencial que aqueles bichos exalam...
- Cristalino!- exclamei com sinceridade, olhando a negra de soslaio.´
- E o livro será um romance? - Indagou Patrícia Flávia.
- Biografia, filha, biografia! Factos, factos, factos...
Homem de exactidão, do documento, do papelinho, única forma de nos colocarmos sempre " in the save side", como dizem os ingleses, eu não poderia deixar de apaudir, soltando , por momentos, as pegas da cadeira de rodas, para bater palmas, eufórico:
- Bravo, mamã!- gritei.
Mas ela já não me ouviu...
Estavamos na esquina entre a Rua Borges Carneiro e a Calçada da Estrela, encruzilhada fatal onde jamais admiti que a fedente serviçal, que nada entendia da conversa e cuja obrigação era prestar atenção aos movimentos , levasse a sua criminosa apatia ao ponto de não deitar mão ao veículo da entrevada.
-Miserável!- ainda lhe atirei, antes de me lançar na vã preseguição da cadeira que transportava, vertiginosamente, a maior escritora portuguesa do nosso século.
Foram momentos de indescritível pânico: a cadeira de rodas, com inúmeros passantes na peúgada , muitos deles admiradores da venerada figura, foi colhida por um eléctrico que descia a calçada e tomou, caprichosamente, a direcção do Largo de S.bento, no meio de gritos da multidão crescente.
O burburinho alarmou todo o bairro e consta que o próprio Dr.Oliveira Salazar, por detrás de um reposteiro junto à janela da sala onde se encontrava em reunião com alguns ministros, terá visto passar a cadeira , tornada bólide, e comentado, impressionadíssimo:
- Vai ali, salvo erro, em má situação, Clotilde Maria Remarque: uma adversária, mas respeito-a! Deus permita que não lhe aconteça nada!
Desgraçadamente, aconteceria:
Ao desembocar na Av.D.Carlos I, a cadeira foi novamente colhida por dois automóveis e um autocarro, descreveu várias piruetas, ganhou ainda mais balanço e apontou para a Avenida 24 de Julho, em cujo cruzamento embateu com um camião de transporte de pianos que a projectou para a linha férrea, no exacto momento em que o rápido de Cascais vinha a passar, provocando uma deslocação de ar tão violenta que a lançou, num remoinho, para o tejadilho das carruagens , em tamanha velocidade que acabaria por ultrapassar a própria composição ferroviária e voar, é o termo, para o Cais da Ribeira, onde se despedaçou de encontro à amurada de uma traineira, com tal entrépito de ferragens e prováveis gritos da escritora, que um trabalhador do porto, incompetente e bêbado, como é hábito, se descuidou no manobrar de um guindaste e deixou despenhar-se um enorme caixote com latas de sumo de tomate em conserva, sob cuja massa disforme Clotilde Maria Remarque pereceu e para sempre desapareceu, sem deixar qualquer rasto!
Os jornais fizeram edições extra, noticiando o acidente que assim privava a literatura portuguesa e europeia de um dos seus expoentes máximos : o país estava de luto!
E embora não haja uma documentação segura que garanta a autenticidade de tais afirmações, diz-se que o Dr. Oliveira Salazar seguiu nessa mesma tarde para a sua residência no Forte de S.João, de tal modo combalido pelo desfecho do desastre nacional a cujo início assistira , que se teria recusado a jantar, obcecado pela imagem da cadeira...
Ainda segundo esta versão( repito: não comprovada) dos factos, fora de fraqueza que aquele estadista se desequilibrara, batendo com a cabeça no chão e provocando o hematoma que o conduziria ao hospital, no estado em que todos nós sabemos.
Atordoadíssimo pela pancada, o Dr.Salazar teria feito uma atabalhoada e gaguejante referência a uma cadeira que seria, afinal, a de Clotilde Maria Remarque- e não um móvel paradoxalmente inseguro do seu mobiliário...»


Enfim. Vale a pena ler na totalidade! Confiem em mim!

" Coca-cola Killer" António Vitorino D'Almeida , Difusão Cultural.


Ana [9/22/2003 12:22:00 da tarde]

[ sexta-feira, setembro 19, 2003 ]

 

Benzedura contra as dores de cabeça:

«Jasus qu'é Santo o nome jasus!
*(nome da pessoa a ser benzida, ou seja eu) te benzo
De dor de cabeça, de dor de miolo, de dor maldita,
De dor norvosa, de dor d'enxaqueta.
Nó'Senhor preguntou:
Que 'stás aqui fazendo,
Dor de cabeça , dor de miolo, dor maldita,
Dor norvosa,dor d'enxaqueta?...
- Ê'stou aqui moend' a cabeça e desvaiand'o o miolo!...
- Nã' hás-de moer a cabeça
Nem desvaiar o miolo!...
( Foi palavras que Dê's disse,
P'la sua bôca sagrada...)
Em lavor de Dê's e da Virja Maria,
Padre-Nosso...Avé-Maria.»


[ Almanaque Pensamento, 1940 ]

Se sois bons cristãos valei-me! e benzei-me!...por favor!
Ai...ai...Obrigadinha!





Ana [9/19/2003 01:28:00 da tarde]

 

Assim se vê a força do PC


Isto para dizer que, mais uma vez, Bill Gates continua a ser o homem mais rico dos EUA.
46 mil milhões de dólares.
Eu, que sem a revista "Forbes" não passo ( mentira ) , fiquei a saber que o fundador da Microsoft lidera então a tal lista dos 400 mai'ricos.
Mas fiquei a saber mais: que o financeiro e o co-fundador da Microsoft, Warren Buffet e Paul Allen, respectivamente, ocupam o segundo e o terceiro lugar da lista.
E mais: que os ricaços que mais aumentaram a fortunazita, em 2002, foram: Jeff Bezos, fundador da Amazon.com ; e David Filo e Jerry Yang, que fundaram o portal Yahoo. Estes rapazes triplicaram a sua fortuna num ano.
Se a estes juntarmos mais uns tipozitos que fazem uns trocos também com os computadores e assim, e que fazem parte da mesma liga milionária...está plenamente justificado o título deste post.



Outra coisa:

Como se sabe, ontem e hoje, todos os caminhos -da blogosfera- vão dar a Braga.
Porque é lá que acontece o 1º encontro nacional de weblogs.
Como não estou lá, fico contente que tenha sido criado um blog a propósito; é este.
Assim podemos saber tudo o que se disse e vai dizendo. A ideia é simpática.


Ana [9/19/2003 12:25:00 da tarde]

[ quinta-feira, setembro 18, 2003 ]

 

Não é nada feia esta Isabel...

[aqui tinha uma fotografia da , actual, tempestade tropical Isabel. Mas como a foto era da Lusa, hoje a foto mudou e, sem eu pedir nada, mudou também aqui; de maneira que a retiro. ]
(Agência Lusa)

Ana [9/18/2003 10:25:00 da manhã]

 

A Poesia não é literatura. É mais do que isso.
É um mundo; um outro mundo.Solitário.
Por cada toque há um poema. Por cada cheiro uma ode...por cada movimento de respiração há um verso.

Para cada corpo fugidio há uma conjugação de sílabas; numa só emissão de voz.
Um poema.
Daqui não é longe...
Sem equidistâncias . A semente que fala. As letras escritas.
Todos os pecados se gravam com tinta de caneta.

Pó. Tranquilo este Pó, como escreveu Emily Dickinson...

A poesia é o cansaço mais leve; a solidão e a água. E o fogo.
O sangue.



Lembrei-me de escrever isto, porque hoje, o programa "O Que Vem À Rede- Ecos da Blogosfera", da Antena 1, destaca um blog que eu não conhecia.O que é imperdoável.
Diz que Aqui Não Há Poeta. Mas há.

Ana [9/18/2003 10:00:00 da manhã]

[ quarta-feira, setembro 17, 2003 ]

 

Sabeis uma coisa? Deveis saber, mas eu repito:

O mundo está cheio de gente doida.

Há , seguramente, milhões de razões que justificam esta afirmação; mas eu confesso que a coloco cá por dois motivos: este, que a querida Charlotte, e o querido Maradona, mais este excelso Homem, me deram a conhecer; e um outro que é muito mais engraçado e, até, perigoso.
Os Paranóicos que acreditam que os Illuminati existem mesmo; e controlam o mundo, que é como quem diz, os EUA.
Ora bem,
sobre o primeiro não digo nada, porque eu também prefiro acreditar ( estou, pelo menos, a esforçar-me) que aquilo é tudo a reinar...

Sobre a questão Illuminati há muito, mas muito a dizer.
Ainda ontem, falando com a metade que me completa, eu falava dos teóricos conspiracionistas paranóicos ( português do Brasil) , que explicam,com uma dose de humor e imaginação inigualáveis, quem são então, os Illuminati ; como se identificam as suas acções...e de como os lagartos extraterrestres nos podem contar tantos segredos ...ou ainda como o hula hoop, por exemplo, é uma prova da chegada da temível "Nova Ordem Mundial"...(brrrrr, que medo...)

Quem nunca leu nada sobre esta deliciosa temática, pode e deve, começar -assim de forma suave- ler uma espécie de resumo aqui; depois é só seguir os vários links, ou fazer novas pesquisas, tanto na www, como em livros e publicações várias.
Vale mesmo a pena!!!

Prometo-vos, solenemente e por minha honra, grandes barrigadas de riso!

[Mas...cof cof...não posso deixar de dizer que , infelizmente, ler muito sobre estas coisas pode ter um efeito perverso; é que -acreditem ou não- há quem acredite mesmo nisto!!!!!
E eu, em nome da verdade, tenho de confessar que conheço pessoas, aparentemente normais, que acreditam! ...Vá , toca a ler...mas com cuidadinho!...]

Ana [9/17/2003 12:06:00 da tarde]

[ terça-feira, setembro 16, 2003 ]

 

Ora bem.

Como tenho andado sem grande tempo ,e sem grande imaginação, tenho vindo cá menos.
Há bocado, estava eu a limar as unhas e mascar chicletes, e pensei: «ó Ana, tens de arranjar maneira de escrever alguma coisa no blog, mas assim uma coisa leve, que andas a abusar de coisas sérias.»

De maneira que, graças ao Padre Amaro, já sei sobre o que escrever.

Miss Europa

É verdade. Foi a semana passada o certame...aqui, nos arredores de Paris.
À traição, levaram-me a ver aquilo. Em directo...
Cheguei lá, estava tudo doido: os homens porque havia mulheres despidas por todos os lados; as mulheres porque um dos elementos do juri era o Ricky Martin. Outro era o Ramazzotti; o estrábico das cantigas italianas.
Sentei-me. Mas preferi trocar olhares trocistas com os outros dois homens, também elementos do júri, o Jean Alési ( que um dia me disse que eu guio mal , e levou uma palmada na mona que eu estava mal disposta nesse dia ) ; e o Cédric Pioline ( que um dia me disse que eu jogava ténis como um tetraplégico e eu não lhe dei uma palmada na mona...porque é verdade! ).

Começou a festa : A TF1 e a Endemol , que organizaram o evento, puseram no palco um dinossauro e uma mulher bonita. Jean-Pierre Foucault e a Estelle Lefébure ( que, por acaso, até gosto dela; é uma senhora limpinha e bem educada que é ...) .


Eu, e mais a senhora da limpeza, eramos as únicas mulheres presentes no recinto, sem decotes até aos tornozelos. Deve ter sido por isso que me senti como um peixe fora da água.
Depois começaram os desfiles.
36 misses. Cada uma -desculpem lá mas é verdade- pior do que a outra.
A alemã e a grega, por exemplo, julgo já as ter visto em filmes XXX...
A polaca- que até levou dois prémios!!!- fez-me tremer de medo, tal era a cara de parva que, coitada, tinha de pavonear na passerelle; A da Sérvia e Montenegro , olhava para o público, e para o júri, com aqueles olhinhos que dizem: come-me, come-me...
Bem, e da russa nem posso falar porque a minha educação não permite.

Aos meus olhos, críticos é certo, escapavam a portuguesa ( sem favoritismos, a Iva é giríssima, e até ficou entre as 12 finalistas) , a israelita , a francesa, e mais uma outra que nunca se ria e que, talvez por isso, despertou a minha total simpatia; não me lembro de onde ela é, mas acho que é de leste, mas em moreno.

Depois foi ver os vídeos, e vê-las a mostrar as carnes em vestidos de noite, de passeio e fatos de banho.
O costume.
Como não se podia fumar -era em directo- eu andava lá e cá, i.e., tinha de me desalapar para me ir encher de nicotina lá para fora.
Fui, a primeira vez, quando senti que o Ricky Martin estava a olhar para mim.
Isso é uma coisa que enerva uma mulher! E, ainda por cima, apesar de eu ter tomado banho...estava sem decote!
De maneira que lá fui fumar o cigarro. Voltei para dentro da sala, quando as raparigas se mostravam todas muito amigas em grupo.
Senti logo vontade de fumar outro...mas contive-me.
Alapei-me de novo, peguei no telemóvel e pus-me, sem som, a jogar.
Aquilo depois continuou, umas pessoas foram lá cantar umas modinhas, entre elas o Ricky Martin, e depois intervalo.
Eu, depois de jogar, peguei numa folha de papel e escrevi os números das cabeças em jogo; as minhas preferidas.
Dei a folha ao Pioline , que, coitado, se desatou a rir, o que-é verdade- ficou mal na televisão. Paciência.
Entretanto, de 36 cabeças de ...miss, ficam só 12 ( a nossa Iva incluída )e aquilo começa a aquecer. Eu, claro, fui fumar mais um cigarro.
Estava eu a fazer bolinhas de fumo, metida nos meus pensamentos , quando se aprochega o Ricky Martin. Tinha ido, mais um guarda costas , fazer chi-chi.
Eu, fingida como todas as mulheres, fiz de conta que nem sequer o estava a ver ...
Mas ele, de sangue latino, foi falar-me. Como ele fala francês, como uma vaca espanhola, falamos em castelhano, que eu tinha de lhe mostrar que não era nenhuma miss...não é?
De modo que falei-lhe 5 minutos, recordamos uma outra vez que nos tinhamos cruzado numa estância balnear de luxo, e ele convidou-me para a festa que se ia realizar a seguir.
Eu disse-lhe logo que sim, que ia, que não estava ali para outra coisa e assim...
Voltamos , eu sozinha, ele com o guarda-costas, para dentro.
Depois das 12, as misses passaram apenas a 5...e aquilo começou realmente a enervar-me!!

É que escolheram uma mais-ou-menos...e mais a 4 piores!!!!
Estive mesmo para saltar à Hélène Ségara, a presidente do júri, e pedir explicações!
Camafeus!!! A sério.
Depois lá ganhou a Susana ( mas dito e escrito à moda da Hungria) , vá lá...era a menos má; as damas de horror, digo, honor, foram a espanhola, a polaca, a da Sérbia e Montenegro e a da Eslováquia. Todas uma boa merda, diga-se...

Ou melhor, digo eu. E digo-o porque , valha-me D-us, havia lá muitas mais bonitas e quase inteligentes! A sério que havia!
Diz que uma até era bilingue e tudo!

O que valeu foi que, a seguir, houve a tal festa.
Foi tão gira, tão gira, tão gira...que , depois de meia hora, vim-me embora.
Se o Ricky Martin ficou chateado comigo...o problema é dele!

E pronto.

Amanhã já volto com o meu QI todo...boa?





Ana [9/16/2003 10:38:00 da manhã]

[ sexta-feira, setembro 12, 2003 ]

 

Bom dia!

Faço minhas as palavras de Shimon Peres , hoje citadas em várias agências noticiosas, e meios de comunicação social, como, por exemplo, a agência Lusa, cujo texto passo a reproduzir :

Shimon Peres considera que expulsão de Arafat seria um "enorme erro"


O antigo primeiro-ministro israelita Shimon Peres sustentou quinta-feira que expulsar o dirigente palestiniano Yasser Arafat para fora dos territórios palestinianos seria um "enorme erro".

O actual chefe da oposição israelita fez estas declarações à cadeia de televisão norte-americana CNN pouco tempo depois de o gabinete de segurança israelita ter dado luz verde à expulsão de Arafat através de acções militares, mantendo no entanto a incerteza sobre a altura em que essa decisão será aplicada.

"Fora da Mukata (o quartel-general de Arafat em Ramallah), Arafat será mais nocivo do que o é agora", acrescentou Peres.»


Mas isto não implica , de todo, um apoio a Arafat.
Mais:fazendo analogias simples e até disparatadas, à primeira vista, como ,por exemplo, com Angola , a paz nunca chegará a Israel e à Palestina enquanto Arafat estiver no comando. E enquanto Sharon estiver no comando.
Só "sangue novo" poderá fazer avançar a paz.
Porque há demasiadas feridas, violências...e memórias.

Não é fácil. Mas é fazível.

Têm de desaparecer do Mapa,é um facto. Mas há outros métodos.
Pode parecer cruel ( também muitos choraram Savimbi) , mas é a única solução.


[ Mas a minha consciência diz-me, agora: só que em Angola não há movimentos terroristas organizados, e isso muda tudo...
E eu respondo e pergunto: pois muda; mas , então, o que fazer? ]

Não sei.

Se calhar , a solução, é esperar que morram , ambos, de morte natural.
E , entretanto, continuar a contar os mortos que vão tombando...

Puta de vida!


Ana [9/12/2003 11:52:00 da manhã]

[ quinta-feira, setembro 11, 2003 ]

 

Sobriedade.

Dois anos depois, em Nova Iorque; em Washington. Em todo o lado onde há memória.

Tinha pensado não escrever nada...mas não consigo.

Há dois anos.




Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.




Carlos Drummond de Andrade


Ana [9/11/2003 10:13:00 da manhã]

[ quarta-feira, setembro 10, 2003 ]

 

Sei dizer que o senhor Pipi é, realmente, um génio!
Não percam, por favor, o «Diário de Anne Trank».

Ana [9/10/2003 12:30:00 da tarde]

 

Bom dia!

Ontem, enquanto suava as estopinhas no turno da noite, fiz uma pausa de uns 15 minutos para um chá e bolachinhas de dieta, e estive à conversa com uma estagiária que cá tenho.
Rapariga moderna, de apenas 24 aninhos, cheia de sangue na guelra.
A palavras tantas, falou-se de tolerância.Como tinhamos acabado de fazer uns directos com Israel , por causa dos mais recentes atentados do Hamas,eu, não só chefe, mas com este meu feitio de irmã de toda as criaturas que me agradam, discorri sobre o tema .
Qual Anselmo de Besete, qual Peripatético, entreguei-me a exercícios de retórica : falei das origens da coisa.
Da ideia de tolerância de Erasmo, de Spinoza e de John Locke ; de como a Holanda foi o exemplo ; de Voltaire; das epístolas e dos tratados .Da religião e da separação de poderes entre a Igreja e o Estado; dos deveres de cada um …enfim, fui por ali fora.
A rapariga ouviu, ouviu…e depois disse-me:
«Olha, Ana, estás a falar concretamente de quê?»
E eu: « Ora essa, da tolerância!; não era disso que se estava a falar? »
E ela: « Eu não estava a falar disso; eu estava só a dizer que me irrita a intolerância…mas em relação a mim…»
E eu : « Ah…pensei que estavas a falar sobre a tolerância, ou falta dela, por causa da violência no…»
E ela: «Não. Eu disso nem quero saber. O que me irrita mesmo, é que sejam pouco tolerantes comigo.»
E eu: « Pouco tolerantes como? »
E ela: « Sabes, quando eu venho com estas roupas mais modernas por exemplo; ou que me olham de soslaio quando pinto o cabelo de verde ou assim…»
E eu: « Ah…pois, isso deve deve ser muito chato…( ironia pura)»
E ela: « Pois é. Inveja de eu ser original e…jovem .» ( olha para mim para ver a minha reacção )
E eu: « Pois, deve ser isso deve…e, olha , filha, a historiazita da tolerância, isso não te diz nada , não? não te interessa? »
E ela: « Mais ou menos; há coisas que nem vale a pena entender; não, não me interessa ; Life is too short …»
E eu: « Pois, pois…se calhar devias repensar a tua escolha profissional . Moda. Não achas que era mais a tua área , não?»
E ela, corando: « Oh…»

Enfim. Hoje , se calhar, vou , no relatório de estágio, ser um bocadito intolerante com a “piquena”.

Ana [9/10/2003 12:18:00 da tarde]

[ terça-feira, setembro 09, 2003 ]

 

O Francisco José Viegas, por quem a admiração é geral e consensual, escreve, no seu Aviz ,que aqui no meu blog, no Crónicas Matinais, nota-se a «presença do religioso».
Nunca tinha pensado nisso assim, mas o F.J.V. tem razão.
Eu, acima de tudo, sou crente.Acredito em D-us ( que é, para mim, um Só; um D-us de todos) .
Penso, de resto, que nada –nem os dias bons, nem os maus; nem o riso, nem o choro, nem qualquer sentimento - tem sentido sem essa força que me guia. Que me guia.
Mas, e já que é de religião que se fala, das crenças, gostaria de dizer que não sei muito bem ( se é que sei de todo) falar destas coisas, da temática, sem eu sentir que estou a entrar em areias movediças.
Eu explico:
Há sempre um pudor imenso , para quem não pretende impor nada, nem “evangelizar”, em falar sobre as suas crenças , a sua religião.
Porque esse discurso-o mais das vezes sentido e sincero- pode ser visto como uma tentativa de convencer alguém a juntar-se a “nós”; como um tentar convencer . E isso é, não só péssimo, mas injusto.
Porque a fé, a verdadeira fé; aquela que nasce connosco, que vive em nós, que nos faz respirar e transpira da nossa pele, não se pode legar. Não se pode passar a “estranhos”. Estranhos no sentido de membros de outras famílias que não a nossa.
O primeiro contacto com a religião dá-se no seio. Literalmente.
É a mãe que conta a história de Moisés; de David , de Salomão; do menino Jesus; dos Reis Magos.De Abraão.
Em todas as mães que contam essas histórias de vidas terrenas há uma certeza comum : a da existência de D-us.
Depois cada mãe conta a história à sua maneira. A mãe judia conta Moisés, Josué, Samuel, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias, Amós, Jonas , Miquéias, etc.
A mãe católica conta Jesus, Pedro, Paulo…mas começa também por Moisés.
A mãe muçulmana conta Abraão e mais profetas.
E é deste leite bebido ao som da voz da mãe, a contar a religião com voz de fada, que se faz a nossa fé.
E isso não é transmissível. Não se passa. Ou se tem ou não se tem.
Eu nasci e ouvi sobre Pedro e Paulo, porque a minha mãe, que nasceu a ouvir sobre Moisés, Josué e Samuel, resolveu mudar. Não só de vida, mas de religião.Por um amor maior que é o meu pai. E porque a injustiça a cansou. E porque a minha mãe, ainda hoje, acredita que um novo Holocausto é possível. E porque ela continua a amar a D-us. Que, como ela sempre diz, é só UM.
Ama-o é com ritos diferentes. ( Como se isso fosse importante…não é! )
Eu bebi o meu leite materno a ouvir , então, a história do Cristianismo e Catolicismo.
Mas, depois , ao abraçar a minha dupla mãe, a minha avó materna, ouvi sobre as nossas raízes; sobre a Torah ( os cinco livros de Moisés)[ nunca escrevo Torah da mesma maneira ] ; os livros dos Profetas; e os Escritos Sagrados.
E senti-me , verdadeiramente, judia.
Mas , quando voltava a casa, quando regressava ao seio materno, ouvia sobre o Novo Testamento e, lá está, também me sentia cristã. Fui baptizada, claro.
E vivi, alguns anos, entre os dois povos do Livro.
Porque –sinceramente- nunca vi isso como uma contradição. Pois se o Pai, se D-us, é o mesmo!
Na altura em que me senti com maturidade suficiente para escolher , escolhi -olhando bem para dentro de mim- o Judaísmo.
Sem dramas familiares. Na minha casa , na minha família, festeja-se Rosh Hashanah e o Natal. Péssach e a Páscoa católica.
Nessas alturas, sagradas, o pão ázimo está na mesa; assim como o bolo-rei. Sem problema nenhum.
Ao por do sol de sexta-feira, quando começa o Shabat, e se estamos todos juntos, católicos , judeus e muçulmanos ( sim, por casamento, há um muçulmano na nossa família o que nos orgulha muito ), a minha avó, eu ,ou a minha irmã mais velha , acendemos as velas e rezamos. E todos respeitam. O mesmo se passa no Natal , ou no Ramadão.
Porque quando há respeito , não há guerras religiosas.
Aliás, o Talmude ( os sessenta e três tratados de assuntos legais, éticos e históricos , escritos pelos antigos rabis) , diz claramente: « Os justos de todas as nações merecem a imortalidade», ou seja, os judeus não condenam, jamais, os devotos de outra fé.
Os verdadeiros cristãos e muçulmanos também não. E assim é que está bem. É assim que D-us quer.
Ele que é só Um.
Tudo isto para dizer , expondo-me em consciência, que quando se tem esta abertura, este respeito que me vem do berço, as questões menores não se colocam.
O livre arbítrio impera.O respeito.
Voltando à vaca fria.
Quando me apetece falar de D-us, ou do judaísmo- o que para mim é tão saudável e normal como respirar- faço-o. Mas , ensinou-me a ainda pouca experiência que tenho da vida, não o posso fazer de forma a que isso possa ser considerado uma comparação maldosa, i.e., de forma a que pareça que estou a dizer que a minha religião é melhor do que a dos outros; como se me estivesse a armar aos cucos; feita dona da verdade.
Isso nunca fiz, mas sei que quem lê,e que não nutre simpatia pela minha fé, pela minha maneira de sentir a vida e os homens e a religião dentro dela, pode ver as coisas assim.
Isso é o que provoca os maiores mal entendidos, os maiores ódios.
E eu, para além de não gostar de mal entendidos, não tenho paciência para explicar sempre tudo muito explicadinho, como se precisasse de me explicar, de me justificar por dizer o que sinto. Não preciso.
Sinto que não preciso porque não maltrato ninguém ; não desrespeito nenhuma fé. Sigo o Talmude.
Sou como sou. Acredito no que acredito. Respeito. E pronto.


Se se sente essa presença do religioso , aqui neste blog, fico feliz. Porque me estou a mostrar tal como sou.
Sem esconder o essencial. Gosto disso.
Obrigada , Francisco. Mais uma vez.

Sobre a questão política e religião também tenho umas coisas a dizer. Mas fica para daqui a bocado, que agora tenho de ir ali…mas já venho!

Ana [9/09/2003 11:36:00 da manhã]

[ segunda-feira, setembro 08, 2003 ]

 

Pois. Maria-vai-com-as-outras...
Também li o "Manual do blogueador" no Avatares de Desejo e, tal como oPedro Mexia, também me apetece responder.
Ora bem :

- Ler a coluna de opinião do Público e do DN.

Não.

2- Usar o Google com perícia para se armar nas discussões em curso.

Já me aconteceu. A memória já não é a mesma...

3- Conhecer a biografia de pelo menos um destes famosos: José Pacheco Pereira, Francisco José Viegas, Pedro Mexia.

Não. Conheço a Bibliografia-dos que escrevem- ; e as vidas privadas dos escritores que gosto não me interessam assim tanto. Porque se perde alguma magia que só a distância garante.No entanto, faço questão de descobrir a informação fundamental e básica: qual é o clube de futebol que apreciam!

4- Utilizar o Pedro Rolo Duarte como o anto-cristo local.

Pfff, ainda o P.R.D.?

5- Ter um clube de afeição para poder postar às segundas-feiras (Conselho pessoal:o Porto permite saír sempre por cima).

Por cima é comigo mesmo. Sou do FCP, claro!

6- Ter um poema de reserva para citar quando o site-meter der mostras de fragilidade.

Que pergunta tontinha! A poesia é como o ar que se respira. Fundamental. E o site-meter é um indicador para os distraidos, como eu; de resto não significa nada.

7- Tratar por «tu» a vida e obra de Tolstoi.

A obra sim, a vida não.

8- Fingir ardor nas discussões mesmo que o tema seja indiferente.

pfff...e isso serviria para quê? para me queimar?

9- Saber onde é que o Iraque fica no mapa.

Claro! No mapa e no terreno, já agora...

10- Falar d@s respectiv@s apenas quando já se tem uma reputação consolidada ou mais de 30 anos.

Se apetecer porque não? E isso da "reputação consolidada " é como o ar: nada!

11- Fazer periodicamente a ode de um cineasta de que ninguém ouviu falar.

E a malta tem lá culpa do desconhecimento dos outros?!

12- Fazer alusão à FNAC uma vez em cada 15 dias.

Não.

13- Tentar juntar copos e livros no mesmo post para dar prova de excentricidade.

Sou abstémia...

14- Dizer uma asneira de vez em quando (mostra inconformismo).

Dizer "asneiras" é falar português. Irra...

15- Utilizar o dicionário online para apoiar a escrita.

Às vezes. O dicionário, online ou em papel, devia andar sempre connosco. É muito mais importante -para quem escreve- que outros livros; mesmo o de cheques.

16 - Inventar mails recebidos para dar um ar de interactividade ao blogue.

Não.

17- Dar algumas gralhas para mostrar um certo negligé.

Não. Fico fodida com as gralhas. ( confesso que copiei esta resposta do Dicionário do Diabo ...)


Bom, não sei o que as minhas respostas significam em termos do "teste". Mas isto também não era bem um teste...pois não?

Ana [9/08/2003 12:22:00 da tarde]

 

Hoje, o " O Que Vem À Rede- Ecos da Blogosfera", da Antena 1, fala do A Esquina Do Rio; Porque o Blog de Manuel Falcão, diz o jornalista que faz o programa, respeita o verdadeiro espírito dos blogs.

Ana [9/08/2003 11:34:00 da manhã]

 

Bom Dia!

Quando o nevoeiro envolve a cidade (as cidades todas) e a manhã está fresquinha e perfumada , sabe bem acordar.
Abrir os olhos, estender os braços para o céu; deixar entrar o ar em grandes doses. Inspirar, expirar…(Acender o primeiro cigarro…)
Tocar a pele, a nossa pele , cobri-la ( está muito frio!) com um edredão de penas leves a enroscar-nos o corpo…
Primeiro pôr um pé de fora; depois um braço. Manter a cabeça de fora , o nariz…respirar sempre…
Ficar assim indecisa…no quentinho. A cheirar o cheiro do sono. A descobrir os perfumes que nos entram pela nossa cama adentro. E, lá fora, o nevoeiro envolve tudo menos o chilrear dos pássaros.
E está dia claro, a noite já se acabou ; começa um dia novo: fresquinho (brrr), enublado , mas novo. Com aquela luz que só as manhãs de Setembro têm.
Já temos os dois pés de fora. Chão frio. Chinelos desaparecidos ( quem mexerá nos nossos chinelos durante a noite? Os duendes ? )
A pele que se arrepia; pele de galinha. E as penas, do edredão, que é preciso afastar…
Saem , portanto, as pernas primeiro; de repente estamos sentadas na cama, pés descalços no chão frio.
É preciso, a seguir, descobrir o tronco; os braços a largar o edredon que ensistem em abraçar.
A pele arrepia-se. E o ar entra-e traz os cheiros – e grava-se na nossa pele que, a pouco e pouco, volta ao normal.
Imagina-se água quentinha a correr no nosso corpo. H2O a substituir o pijama (que não é pijama ) docemente.
E aquele sabonete que nós gostamos, que preferimos a todos os outros, a desfazer-se em espuma; a lavar e a perfumar a nossa pele. Os recantos todos. O chuveiro aberto por cima , as mãos a lutar com a espuma …o vapor a transformar o espelho em reflexo do nevoeiro que vive lá fora…
É preciso sair do duche.
Primeiro as pernas; depois um braço…
O corpo a pingar , a cheirar a lavado –tranquilo e feliz. Uma toalha (não demasiado macia porque se não não limpa bem ) branquinha , também ela muito limpinha, a envolver-nos.
O cabelo a precisar de parar de chorar …e que enrolamos numa outra toalha branca e limpa.(Acender o segundo cigarro…)
O roupão que não aparece ( nunca aparece) e a toalha segue connosco para o espelho.
Limpar o espelho com a mão; limpar o reflexo do nevoeiro.
Olhar para as gotas de água que escorrem pela nossa pele. Pés ainda frios, mas longe do espelho.
O nosso rosto. Olhar para nós.
Sorrir.
Dizer bom dia…
Lavar os dentes e acrescentar mais um cheiro a quem nós somos nesta manhã.
Creme. Doses generosas na pele; toda.
Três gotinhas de perfume. Estratégicas.
Escova.( Nada de secador que queima o cabelo.)
Voltar a despir; a toalha.
Esconder a nudez em roupas lavadas.
Sair.
Enfrentar o nevoeiro e a frescura da manhã de Setembro.
E dizer bom dia…o dia inteiro.

Ana [9/08/2003 11:20:00 da manhã]

[ sexta-feira, setembro 05, 2003 ]

 

O dia começa a cair; o Shabat aproxima-se...estou quase a desligar-me.
Mas antes, e cheia de orgulho, deixo aqui o anúncio de um novo blog. O blog das minhas "afilhadas". Três amigas: A Paula, a Tangerina (R.) e a Maria-das-Flores! Mais 3 amigas que o Pastilhas me deu. Chama-se, o blog, Conversa-na-Travessa. Gosto muito destas raparigas, por isso, tratem-nas bem!

Shalom!



Ana [9/05/2003 04:57:00 da tarde]

 

Hoje o programa "O Que Vem À Rede-Ecos da Blogosfera" destaca uma grande ideia; Um blog muito interessante. Destaca a Leitura Partilhada, que se dedica, para já, ao Ulisses de James Joyce. Mas já estão outras obras agendadas...

Eu, que não recebo comissão da Antena1, nem sequer conheço o jornalista que faz este programa, decidi que vou continuar a dar eco a estes ecos, porque também me parece uma grande ideia. A dele.

Toca a partilhar leituras!...

Ana [9/05/2003 11:04:00 da manhã]

 

Que Silvio Berlusconi se sinta ofendido pelo chanceler alemão, é lá com ele...agora que tenha a lata de gravar um cd com canções de amor é que não!
Sinto-me ofendida!

P.S. O Cruzes Canhoto também já tinha falado disso, do cd. Mas eu só soube agora... e continuo ofendida!

Ana [9/05/2003 09:47:00 da manhã]

[ quinta-feira, setembro 04, 2003 ]

 

Hum...estive a dar a minha voltinha pelos blogs...e fiquei com uma dúvida: Será que a drªAmélia já encontrou?


Ana [9/04/2003 12:23:00 da tarde]

 

Hoje, no "O Que Vem À Rede-Ecos da Blogosfera" da Antena 1, o jornalista Mário Rui Cardoso só falou do blog Mata Mouros. Por causa de Juizes e vestimentas. Ide lá ver...

Ana [9/04/2003 11:03:00 da manhã]

 

Bom dia!

Agora vou fazer um exercício; um daqueles que costumava pôr os meus professores de Ciência Política de cabelos em pé , ou os punha de galos na testa, de tanto baterem com a cabeça...taditos.
Ou seja, vou analisar uma sondagem.
E não se trata de uma sondagem daquelas de trazer por casa, daquelas da "Amostra" ou assim; trata-se da sondagem que está hoje na ordem do dia, a sondagem do German Marshall Fund dos EUA - a " Transatlantic Trends 2003".
Dizem que a sondagem mostra , grosso modo, que quem quiser pormenores que a vá ler e estudar ( desculpem lá o mau jeito), que os Europeus em geral, e os Portugueses em particular, querem que a Europa seja uma superpotência. Não necessariamente, no caso português, para competir com os EUA, mas para estar ao lado dos EUA.
Ora bem. Acho isso normal, mas-aqui já sou eu a pensar- não penso que seja para estar ao lado; penso que o que realmente move os europeus é poder, um dia, fazer frente aos EUA. Erro; digo eu.
A sondagem também "diz" que , tal como os americanos, os europeus consideram que o terrorismo é a principal ameaça que terão de enfrentar na próxima década.Só que, lá está, os europeus , confrontados com o cenário de uma ameaça com armas nucleares, ou outras, de um país vizinho, preferem impor-lhe sanções do que recorrer a um ataque militar. Também há muitos norte-americanos que pensam o mesmo, claro; mas há também uma , diria quase maioria, que percebe que as sanções -só- não resolvem nada.
Penso eu, sei lá, que deve ser por andarem de olhos abertos, por sentirem na pele o que o terrorismo faz, ou pode fazer, e que, por isso, sabem que as sanções acabam mas é por beneficiar os facínoras , os terroristas , os ditadores e também, claro, por ajudar a matar-de fome, e não só- os povos que vivem debaixo dessas sanções.
Mas que sei eu...

Sinceramente eu acho linda, maravilhosa e boa, a ideia de fazer antes amor que a guerra. Também gosto muito de fazer amor e assim...e já de guerras pouco percebo, tirando uma ou outra batalha naval em papel quadriculado, ou então uma partida de "Risco".
Mas quer-me parecer que -e já que a ameaça do terrorismo , finalmente, parece ser levada a sério por todos- vale a pena analisar , assim de uma forma prática e sem demagogia , nem moralismos bacocos, analisar, dizia, em que é que as sanções têm resultado. Digo eu, digo eu...
Mais: É óbvio que ninguém gosta de ver os seus tombar por terra, nos campos de batalha do mundo; mas se ninguém fizer nada; se os burocratas mantiveram os seus cus enfiados em sofás confortáveis, e tentarem resolver as coisas assinando decretos...parece-me curto.
Se calhar, não sei, estou aqui a fazer a apologia da guerra. Oh que má pessoa que eu devo ser...tsss
Adiante.
Também acho linda , a sério, a preocupação dos europeus em querer que a velha Europa seja uma superpotência; e acho linda porque isso confirma que, de facto, ela não é. E, lá estou eu, chata do caraças, a meter a colher, e, dizia, nunca poderá ser. Porque nós não temos europeus com objectivos comuns [ talvez haja um...o de não gostar dos EUA (ainda não é agora que falo de Israel, esperai mais um dia ou dois, se fizerdes favor) ].
O que nós, europeus geográficos temos, é um conjunto de países arrogantes, cada um com a mania que é mais importante do que o outro:ou com mais história, mas pobrezinho; ou com mais jeitinho para a moda, ou para as artes; ou com uma cozinha mais saborosa, etc.
Temos de tudo. Só não temos unidade e, que D-us me perdoe, nunca poderemos ter.
Digo isto cheia de mágoa ( mentira) .
A superpotência Europeia, a existir, seria uma catástrofe.
Desculpem mas é a minha opinião.
Porque apenas as vozes da Alemanha, da França e, quiçá, do Reino Unido, seriam ouvidas.
Não seria, nunca, uma superpotência ; seria um conjunto de superpotentes , armados em bons e em historicamente "mais ricos". Pfff
Se os europeus nem sequer se entendem em coisas básicas como a pesca ou a agricultura ( básicas no sentido de fundamentais ) , ia ser bonito...
Superpotência...tá bem abelha.

Em caso de um dia-quiçá, o mundo dá muitas voltas- isso vier a acontecer...eu declaro já aqui que rescindirei o meu contrato com essa Superpotência e pedirei asilo político ao Burkina Faso.

Ah Pois!

Nota: Todos os meus ex-professores de Ciência Política se encontram bem de saúde. Tirando um que, infelizmente, já morreu. Não, não tive culpa. Acidente rodoviário.





Ana [9/04/2003 10:57:00 da manhã]

[ quarta-feira, setembro 03, 2003 ]

 

Olha!

Este blog hoje quer dar comigo em doida!
Eu tinha feito aqui um post, o primeiro do dia, sobre o meu F.C.P.! Sobre a minha vontade de cantar canções que falam de azul. E o dito desapareceu. Fiz tantas experiências esquizo, hoje, que dei cabo do post.
Paciência! Snif...até tinha uma fotografia da primeira página do jornal " O Jogo" e tudo! Injustiça!

Seja. Fica dito à mesma. Viva o F.C.Porto! Adoro quando aqueles rapazes me enchem de alegria.
Porque isto, já se sabe, dos fracos não reza a história!... hihi
Agora sim: até amanhã!

Ana [9/03/2003 12:45:00 da tarde]

 

Olha, o Charles Bukovski, de novo, citado na blogosfera. Vi no Aviz, que refere outros blogs ( que eu também leio sempre).

Não é que me tenham perguntado alguma coisa, é certo, mas, já agora, sempre digo que gosto muito de ler o que escreveu esse bêbado, egocêntrico e genial.
Como nasceu na Alemanha, Bukovski tinha, lá dentro dele, aquelas sementes do mal ( eu sei; mas não resisto.) , mas, nele , isso ate foi bom. Porque ele escreveu como poucos. De uma maneira impudica, grosseira e crua, usando o alter-ego mais brilhante que eu conheço, Hank Chinaski;brincando com as palavras e com aqueles que não admitem brincar com elas. Com quem se leva demasiadamente a sério. Com as "estrelas".

Bukoski/Chinaski foi o perfeito star-fucker; e por isso foi tão amado e, claro, odiado.
Acho graça com os que renegam este escritor, falando da sua suposta ordinarice...
Pois eu gosto dele por isso mesmo. Porque ele queria que toda a gente se fodesse e isso é muito saudável! ;)
Não.
Gosto dele porque sim. Porque escrevia muito, muito bem.

No Pastilhas, conheci um -talvez o maior- dos fãs dele. O Hugo, claro!
Também ele um raro caso de talento; mas, em termos de comportamento, um moderado. ;)

Como citava muito Bukovski :«We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars". Citava Oscar Wilde. De acordo.

Eu gosto de desalinhados, na literatura. E não é porque sou, no resto, conservadora, que vou negar que , ainda hoje, me enche de prazer , ler e reler Chinaski.

Acho, aliás, que comecei pelo melhor dele :«You Get So Alone at Times That It Just Makes Sense »; e depois fui aos poemas«Love is a Dog from Hell»; passei pelo «Flower, Fist and Bestial Wail»; deixei-me encantar-sem merdas- com o «Erections, Ejaculations, and General Tales of Ordinary Madness» e terminei ( não li mais nada dele, confesso) com o maravilhoso « Notes Of A Dirty Old Man».
E pronto, fiquei fã. E fiquei fã na altura certa e no lugar certo.
Era suficientemente jovem para não me chocar, e vivia em Nova Iorque.

Além disso, gosto daquele favor que Hank Chinaski pede à morte:
« Well, I gave you so many occasions that you'd take me away a lot of time ago. I´d love to be buried near the race-course, so I can hear the rush on the finishing straight ...forever.»

Tinha muita pinta o Bukovski. E olhem que quem diz isto é uma rapariga abstémia.
Até amanhã!

Ana [9/03/2003 12:34:00 da tarde]

 

Grrr...tenho o mesmo post ( ou quase) duas vezes!

Já apaguei um, no "menage posts" mas, na página, continua a aparecer! Como é que se resolve esta coisa, alguém me diz? Muito obrigada!

[ Odeio isto. Depois de publicar este pedido de ajuda...percebi que , afinal, o outro post já desapareceu; merda.Eu e mania das pressas...]

Ana [9/03/2003 11:13:00 da manhã]

 

Ah...ando há dias para dizer isto e esqueço-me sempre. Menos hoje.

Na minha rádio portuguesa de referência- sim, a Antena1- há um programa, diário, o «O que vem à rede», feito pelo jornalista Mário Rui Cardoso.
Antes o programa dedicava-se a encontrar na rede, na www, os melhores links e sites . Mas, desde há dias, o programa é dedicado à blogosfera portuguesa. Já ouvi referências a quase todos os blogs -realmente importantes - ( claro que não ainda não falaram de mim!) e hoje, por exemplo, o Mário Rui falou sobre esse misterioso pintainho e também sobre um dos blogs mais importantes , para mim, o grande A Montanha Mágica.
Falou também de outro, mas agora não me lembro qual foi, apesar de ter acabado de ouvir o programa.
São cerca de cinco minutos muito simpáticos, todos os dias.
A primeira passagem está agendada para as 09:45, hora portuguesa. Mas há mais.
Podem saber tudo no site da RDP-Antena1.

Ana [9/03/2003 11:01:00 da manhã]

[ terça-feira, setembro 02, 2003 ]

 



«Reading Albert Goldbarth's poetry is like simultaneously tuning in to late-night news, listening to a Hank Williams album, watching an Ed Wood science fiction flick, and all the time attending to the language of the book in your hands. Amazingly, all the plates Goldbarth keeps spinning never slow and fall. He is an immensely entertaining poet with a nimble sense of humor and a dizzying intelligence».
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Troubled Lovers in History

Albert Goldbarth

Ohio State University Press

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Ana [9/02/2003 05:52:00 da tarde]

 

Gosto eu tanto de fado, e só hoje dei com este sítio!

Ana [9/02/2003 03:41:00 da tarde]

 

Gosto de fado.

Hoje ando com este:

Que Deus me perdoe

[Letra: Silva Tavares
Música: Frederico Valério]


Se a minha alma fechada
Se pudesse mostrar,
E o que eu sofro calada
Se pudesse contar,
Toda a gente veria
Quanto sou desgraçada
Quanto finjo alegria
Quanto choro a cantar...

Que Deus me perdoe
Se é crime ou pecado
Mas eu sou assim
E fugindo ao fado,
Fugia de mim.
Cantando dou brado
E nada me dói
Se é pois um pecado
Ter amor ao fado
Que Deus me perdoe.


Quanto canto não penso
No que a vida é de má,
Nem sequer me pertenço,
Nem o mal se me dá.
Chego a querer a verdade
E a sonhar - sonho imenso -
Que tudo é felicidade
E tristeza não há.


Estou armada em Amália é o que é...

Ana [9/02/2003 01:02:00 da tarde]

[ segunda-feira, setembro 01, 2003 ]

 

Breaking news

Mais uma reviravolta no Processo Casa Pia.
As inquirições , para "memória futura", marcadas para esta manhã, estão suspensas. Foram suspensas.
Um grupo de advogados de defesa , apresentou um pedido de afastamento de Rui Teixeira, o juiz do processo.
Por alegada parcialidade do juiz.

Notícia é também, nesta reviravolta, o anúncio, feito pelo próprio, do advogado Dória Vilar, do seu afastamento do processo. Já não defende Carlos Silvino.

[ nota da autora do post: nós vivemos num Estado de Direito ; e eu nada-ou quase nada- sei deste terrível processo; mas a minha consciência está-me a mandar escrever que, cada vez mais, Portugal me faz lembrar a Bélgica. E isso, diz a minha consciência, não pode trazer nada de bom...]

Ana [9/01/2003 11:58:00 da manhã]

 

Mais de mim:

Do pôr-do-sol de Sexta-feira , ao Domingo à noite, ou, normalmente, à Segunda de manhã, não entro no blog;como não entrava no Pastilhas. É uma regra como outra qualquer.
Uma escolha.
De modo que só posso falar dos acontecimentos que marcam, que me marcam, depois.
Leio, no Aviz , no post O Valor Das Vítimas, que o F.J.V. repara, com alguma surpresa, que poucos blogs se referiram ao atentado de sexta feira, no Iraque; o atentado contra os Xiitas, que matou, entre mais de 120 pessoas (sim, o número de vítimas aumentou), o ayatollah Mohammed Baquir al-Hakim.
Que esse atentado não provocou interesse noticioso.
É verdade.
E é triste. E é triste,na minha maneira de ver e pensar o mundo, porque prova que, não havendo ocidentais envolvidos, o mundo, dito civilizado, não se importa; não quer saber.
Pois eu quero saber. Pois a mim, francamente, entristece-me da mesma maneira. Porque não aceito o terrorismo; porque me envergonha a passividade.
Só que, em nome da verdade, tenho de acrescentar uma coisa:
Às vezes, mais vale -e aqui falo só em termos de informação- estar calado do que usar mais um atentado vil e cobarde , para acusar os "inimigos do costume".
Foi o que se passou em França este fim-de-semana.
(Há muitos colegas bloguistas que vivem em França; por isso podem comprovar o que vou dizer)
Em França, os noticiários que vi ( TF1; France 2; France 3; TV5; LCI; ITV) não falaram desse terrível atentado ( o mais mortífero no Iraque até agora ) apenas dando a notícia; não. Como sempre-ou não fossem os jornalistas franceses muito amigos de julgar e de dar a sua opiniãzinha- tanto os correspondentes , no local, como os jornalistas que fizeram as peças através de telexes afirmaram, dentro da notícia, que «mais uma vez este atentado serve os interesses dos americanos». Assim.
Mais: das seis reportagens , e peças, que vi, em todas apareceu o mesmo grupo de xiitas-quatro senhores muito zangados, e com razão; e que diziam , colericamente : «morte aos Saddam; morte aos Americanos ; morte aos Judeus. Nós sabemos que , este atentado, tem o dedo dos judeus que pretendem dividir os muçulmanos...»

É tão fácil manipular a informação que me arrepia. E ainda mais por ser jornalista e repórter e saber como as coisas se fazem, mesmo não as fazendo ;nunca.
Claro que as imagens e os depoimentos não são inventados. Mas os outros, os que dizem as coisas com senso, os que falam da guerra intestina -e eterna- entre sunitas e xiitas, foram excluídos.
Porque -ao gosto francês- vale tudo para incendiar a opinião pública contra os americanos e os judeus.
É lamentável. Nojento.Triste.





Ana [9/01/2003 11:14:00 da manhã]

 

Silencio

Por Octavio Paz

Así como del fondo de la música
brota una nota
que mientras vibra crece y se adelgaza
hasta que en otra música enmudece,
brota del fondo del silencio
otro silencio, aguda torre, espada,
y sube y crece y nos suspende
y mientras sube caen
recuerdos, esperanzas,
las pequeñas mentiras y las grandes,
y queremos gritar y en la garganta
se desvanece el grito:
desembocamos al silencio
en donde los silencios enmudecen.


G*O*S*T*O D*O* S*I*L*Ê*N*C*I*O

De ficar a olhar, em silêncio, para a Vitória de Samotrácia
Não é fácil. Está, esta como todas as vitórias, rodeada de gente. Burburinhos polifónicos.
Mas é possível ficar a olhá-la. Boca fechada, ideias à solta, olhos a ver.
Shiuuuu...

[ Sonhei assim. A Vitória bela e o silêncio em volta. E eu como protagonista; a garantir o silêncio. Na minha cabeça.]



Ana [9/01/2003 10:22:00 da manhã]