Crónicas Matinais

[ sexta-feira, outubro 31, 2003 ]

 

Urgente:

Passar os olhos por aqui. E, espero que em breve, por aqui.

E, com atraso vergonhoso, mandar beijinhos & abracinhos & agradecimentos para a Leonor ; e para Luís Costa Pires.

Ana [10/31/2003 03:05:00 da tarde]

 

Merci,mon chère ami, je suis très touchée par ce très beau cadeau. Ah...Je suis de retour!

Ana [10/31/2003 02:11:00 da tarde]

 

Entretanto lembrei-me de dizer o seguinte:
O que eu mais gosto , tanto na vida real, i.e., ao vivo e a cores, como na blogosfera, é a pluralidade de génios e de opiniões.
Mas, sendo eu humana como todos-julgo eu- que pululam na blogosfera , também tenho as minhas preferências e as minhas embirrações. O problema, aqui na blogosfera, é gerir essas embirrações sem entrar na demagogia fácil ou no insulto. Além disso, prefiro que pensem que sou loura ( as louras que me perdoem este cliché , mas já devem estar habituadas, não? ) e burra ( reparem que que acrescentei o-e, sempre suaviza a coisa ; e explica que uma condição não é -obrigatoriamente -gémea da outra ) . do que arrogante e arbitrária.
De maneira que me calo. No sentido de não escrever, claro.
Ultimamente tenho lido coisas, aqui na blogosfera, que me enraivecem de tal forma, que lá está, estive uma semana sem escrever.
Aquele tipo de opiniãozinha saloia, de quem fala de cor, que cita o que lê nos livrecos que , provavelmente, lhe emprestam , sem ter a mais pálida ideia do que é a realidade. Sem saber do que fala.
É a maravilhosa liberdade em estado puro, graças a D-us.
Mas não são as opiniões parvas e demagógicas que me irritam; com isso posso eu bem, até porque uma generosa parte das minhas opiniões também -admito- podem ser consideradas igualmente parvas e demagógicas. O que me irrita, profundamente, é o facto dessas opiniões serem sempre apresentadas como verdades absolutas ,não o sendo de todo.
Clarificando: Há verdades absolutas, irrefutáveis , claro! E quando assim é , a nossa opinião a propósito , em caso de as querermos refutar, ou porque somos parvos, ou porque somos teimosos e burros, não vale a ponta d'um corno. Nada. Nadinha. Nicles.
Porque as verdades, os factos, cagam para as nossas opiniõezinhas de trazer por casa. Porque nenhuma causa valida a estupidez perante a realidade.
Logo, penso eu, dar-lhe importância é entrar no jogo e ser tão estupido como.
Quando nos olhamos aos espelho, sem termos a plateia a olhar para nós, conseguimo-nos enganar? Não; claro que não.
Podemos fazer de conta, perante os outros, que somos os maiores, os mais inteligentes e ladinos...mas e perante nós próprios ? Enfim, continuo a pensar que o julgamento mais cruel, o que dói mais, é o nosso ; o nosso auto-julgamento.
É por isso que nem vou dar exemplos...

E agora um pequeno apontamento de humor

Aqui em "Paris de França", e como todos sabem, moram muito portugueses. Um milhão, só na região parisiense.
É por isso que a nossa língua é franca. Estava eu , um dia destes, à espera do comboio ( desde que me roubaram o carro aqui há meses, comecei a andar de transportes públicos, e agora não quero outra coisa ) para voltar para casa, quando toca o meu telemóvel. Atendi. Falei baixinho, como toda a gente deveria fazer, e um minuto depois desliguei. Entretanto o comboio chegou e eu entrei e sentei-me. Uma senhora, já de uma certa idade, senta-se à minha frente e sorri para mim. Eu retribuí e peguei no meu livro para ler. A senhora olha para a capa do livro e começa a sorrir-me mesmo muito. Eu pensei: -Olha, mais uma maluca!- e continuei a ler tranquilamente. E a senhora pergunta-me, em francês: - Desculpe, mas a "madame" é portuguesa não é? E eu: -Sou, sou , e a senhora também ? E ela: -Sou! E eu comecei logo a falar-lhe em português e ela a mim. Nisto diz-me ela : Olhe, eu ouvi-a ao telefone e pareceu-me que falava português, mas só ao vê-la com esse livro é que tive a certeza; mas, diga-me, é sobre aquele assunto da "Casa Pia"? Eu, muito admirada: - Da "Casa Pia"? não, claro que não! Mas porquê? E a senhora: -Bom, como diz que é para maiores de 18 anos...

Eu estava a ler o Livro do Pipi, que o meu querido amigo Hugo Pires me mandou a semana passada. E a senhora pensava que, à semelhança do "Ballet Rose", o caso "Casa Pia" já estava em livro; e que por isso o livro era para maiores de 18 anos. O humor ( algo negro ) foi explicar-lhe que , mesmo que estivesse em livro , o Caso " Casa Pia" nunca poderia ser conhecido como " O Meu Pipi"...E , depois, explicar-lhe o teor da obra.
No fim, e depois de a ter deixado dar uma vista de olhos ao livro...a cara da senhora valeu dinheiro! ;)

Ana [10/31/2003 11:56:00 da manhã]

[ sexta-feira, outubro 24, 2003 ]

 

Não fui ao lançamento do diário do Pipi. E não fui pela mesma razão que não fui ao " Terço Vivo": estou a mais de 1600 km de distância. [ Espero que percebam que isto é uma piada; é chiste; eu acho que vos devo elucidar a este respeito, porque estas piadas ainda dão o seu trabalho a fazer; é preciso muita pesquisa e tal...]
Não. Adorava ter ido. Além disso, e como todos sabem -ou imaginam- qualquer acontecimento que tenha o dedinho da querida Charlotte é um sucesso .
Mas não é sobre isto que quero falar .

Acontece que esta noite, quiçá devido aos meus problemas gástricos, fui agraciada com uma revelação. E, como qualquer revelação que se preze, foi-me concedida durante o sono.
De modo que estava eu a dormir, muito desassossegada por via do meu estômago, quando me apareceram- vindos do nada : Jorge Luis Borges e Bioy Casares, que vinham de braço dado com Olivier Rolin; mais o dr.Ferro Rodrigues e, em jeito de remate: João Rebocho. Eu passo a explicar; e não será nada fácil...
O mote é a a palavra Urdidura; o verbo Urdir. Desde a semana passada que não ouço falar de outra coisa. Talvez o verbo cagar...mas continuo a ouvir mais urdidura. Entranhou-se-me de tal forma nos meus dois neurónios , que me levou a sonhar com isto tudo.
Urdir ( e aqui começo já a plagiar Rolin ) é uma palavra superlativamente borgesiana; disto, espero eu, não há dúvidas.
Tecer; entrelaçar; arranjar; tramar; enredar; intrigar. Isso sempre fez Borges -urdir- e é por isso que nos apanhou a todos irremediavelmente nas suas teias e labirintos...certo? certo.
Urdir, mesmo com pouca imaginação, pode significar também: tentar confundir.Baralhar.
De maneira que ao usar , em vez da já gasta "cabala", urdidura, o Partido Socialista está a fazer isso mesmo.
Foi-me isto dito, no sonho, por Borges e Casares , que me lembraram o perspicaz don Isidro Parodiz. Ora, este maravilhoso detective , apesar de ser de papel, conhecia , através dos autores, o famoso criminoso Bigote de Hierro, o « bigode de ferro». Nisto dizem-me os dois, mais o Rolin : « este apelido...não te faz lembrar ninguém ? » Faz !
O Hierro Rodrigues, digo o Ferro ! Bate tudo certo. Cá está : Ferro, urdiduras, detectives e criminosos. Elementar, meus caros.
Bom, ficaram estas informações todas na minha cabeça, a fermentar; até que me lembrei de...João Rebocho.
Calma, este escritor e simpático Bibliotecário em Gouveia ( olha, mais uma acha, bibliotecário, como o Borges!...cada vez bate tudo mais certo.), nada tem a ver com o actual enredo mediático - cor rosa.
Saliento é o facto deste senhor ter escrito um livro com o seguinte título : «Urdidura». Um livro que, apesar de ter ganho o prémio Fnac 2000 ( Prémio de Ficção Literária FNAC /Teorema ),é, para mim, a mais impenetrável, incompreensível estória que li nos últimos anos, em português.
De maneira que, e concluindo : bate tudo, tudo( tudinho mesmo), certo ! Urdida, sinceramente, é a meu ver – e ao contrário do que pensa o excelso F.J.V. no seu Aviz, a palavra certa. Só que é para ser entendida no segundo sentido. Topam ?

Ah, e as melhoras por via da gripe. Shalom.

Ana [10/24/2003 01:20:00 da tarde]

 

Ando a ler o " My name is Red" de Orhan Pamuk. É maravilhoso!

Ana [10/24/2003 12:29:00 da tarde]

[ quarta-feira, outubro 22, 2003 ]

 

Assim muito rapidamente pergunto:

Não é , de alguma forma, contraditório ,fazer-se um "Fórum Mulheres" ( TSF, todos os dias , à tarde, com Margarida Pinto Correia ) e discutir-se -como é o caso de hoje- a discriminação das mulheres no seio da Igreja, num programa onde podem intervir ...mulheres?


Ana [10/22/2003 05:30:00 da tarde]

 

Esta semana, e com muita pena minha, isto anda mal de e-mails. Quer dizer: uma pessoa habitua-se a receber o tal "fidebeque" dos leitores e depois, quando a coisa murcha...estranha-se.
Bom, eu podia já aqui dizer-vos, e com toda a frontalidade, que entendo a vossa falta de pachorra para me escrever, eu própria , o mais das vezes, também tenho muita falta de pachorra para mim. O problema é que, tirando os e-mails vários que recebo de amigos e familiares , ou seja, do mundo fora da blogosfera ( sim, sim, existe um mundo fora da blogosfera, não é extraordinário? ), tirando esses...esta semana só recebi spam. Publicidade. E, o que é pior, publicidade indecorosa. Sim senhor.
Desde sexta-feira passada, já recebi três e-mails a anunciar-me que posso, se quiser, e mediante um pequeno pagamento, quase simbólico, aumentar o meu pénis! Ora eu não tenho pénis, carago!
Outro: uma empresa norte-americana , esta semana, mandou-me não um, mas dois, e-mails, dizendo -em estrangeiro, claro- que me podem proporcionar um melhor orgasmo.
Ora eu imprimi o dito cujo, levei-o para casa, experimentei-o...e nada! Eu posso ser saloia, mas não sou estúpida: esse método é uma fraude. Publicidade enganosa, portanto.
Mas, calma, a lista ainda não acabou: O próprio kamasutra ( pelo menos o envio vem em nome dele ) me mandou um e-mail prometendo-me « técnicas de sucesso» e , como brinde « o manual da conquista e sedução »; estou para ver...
Dentro do género "pilas", também recebi um , com o garboso remetente « Dr. Penis», que me fala de «técnicas de hipnose e relaxamento». Ora, eu conheço aquele método indiano de hipnotismo, com a serpente e o pífaro...mas até tenho medo de abrir este e-mail; cá por coisas....
Mais personalizados, uma senhora chamada Carmem Ferreira, também gentilmente me manda um e-mail prometendo-me «desenvolvimento sexual»; e o senhor Luis C.P.Martins , ainda mais gentil, garante-me « a oportunidade do século».
Todavia, confesso que, de entre todas as missivas, a que mais me fascina e que- por puro pudor e, quiçá, algum tabu, a que mais me aguça a curiosidade e que, por via dos já citados motivos, ainda não abri diz, apenas e só « Light Stick»...

Apre! Isto só a mim. Aqui há tempos, estes simpáticos galhofeiros , disseram de mim, e de mais duas mulheres da blogosfera ( ambas ilustres) , que o que nós temos é «falta de "peso"». Na altura reagi a bem; pois se também eu adoro rir...
Mas, agora, e olhando ( desolada) para a minha caixa de correio virtual...começo a questionar-me: tu queres ver que a opinião é alargada?...Naaaa!!!!!

;-) Santo dia para todos e, já sabem, se quiserem que vos encaminhe alguma destas mensagens que recebi ...mandem-me um e-mail!


Ana [10/22/2003 02:18:00 da tarde]

[ terça-feira, outubro 21, 2003 ]

 

Por portas travessas, cheguei à seguinte conclusão: A minha amiga Helena é que tem razão! Portugal passou de um Estado laico para um Estado louco.

Posto isto, avanço, sem medos, para outro assunto:
Aqui há meses , estava a conversar com um diplomata português, na reforma, que veio cá a Paris fazer umas compras, quando, por nós, passou um cão. Um cão sujo e claramente doente.
O senhor, muito bem vestido e arranjado, calou-se e comoveu-se. Tinha os olhos marejados. Aquilo fez-me espécie e, depois de uns dois minutos de silêncio, atrevi-me a perguntar : « ó sr. embaixador, então que é isso? sente-se mal? »
E o bom homem responde-me : « Não, minha querida ( calma, que o senhor tem idade para ser meu bisavô),foi o cão. Veio-me à memória um texto , belo e comovente, do Abílio». Eu, já se sabe, por Abílio , assim de repente, não estava a ver quem era. Mas, de repente ( sim, eu sou sempre muito repentina) , lembrei-me da forma como o meu avô se refere ao poeta de Freixo de Espada à Cinta e atiro: « O Guerra Junqueiro! estou a ver...»
O senhor iluminou-se , carago!
«Mas a Ana conhece esse belo texto dedicado ao fiel amigo? » E eu « Então não havia de conhecer!»
Apertou-me ambas as mãos, osculou-mas, e disse-me que eu era uma «menina maravilhosa».
Bom, eu assim de cabeça, e para ser muito sincera, mal sabia as frases do texto, que é belo , de facto. Mas sendo ele diplomata, e eu já andando cá neste mundo há uns anos, lá o fiz pensar que sim; que dominava a prosa.
De modo que estivemos ali para cima de uma hora a falar do texto, dos cães , da amizade ...e do Abílio.
Quando eu percebia que estava a meter os pés pelas mãos, fazia um ar enlevado e -sem qualquer justificação - declamava : « Ai, há quantos anos que eu parti chorando/ deste meu saudoso, carinhoso lar!...»
O bom do senhor , emocionava-se, enternecia-se, voltava a pegar-me nas mãos , dizia-me « Minha querida, minha querida» e afinfava-me mais frases do texto do fiel amigo.
Eu, esquivava-me a norte, a sul...e ao centro, e ao perceber que ia derrapar , tornava aos versos , aos que sabia de cor: « Desde aquela dor tamanha/Do momento em que parti/Um só prazer me acompanha ,/ Filha , o de pensar em ti/ ...»
E assim andamos às voltas essa tal hora bem cheia.
De repente...passa outro cão. Pergunta-me o bom senhor : «A Ana gosta muito de cães também, não é? »
Eu, muito portuguesa, respondo: « Não desgosto...mas prefiro gatos!»
Zangou-se comigo!

E pronto, cá fica registada mais uma história da vida real. Como diz o "outro", achei que era importante contar isto. ;-)

Ana [10/21/2003 12:39:00 da tarde]

[ segunda-feira, outubro 20, 2003 ]

 

Mais uma coisinha, é a última ...juro!

Aquela senhora jornalista, Inês, Inês qualquer coisa, que é filha de um advogado e tudo, não é uma senhora que está sempre a dizer mata e esfola e assim? E que quer sempre a verdade e doa a quem doer e mais não sei o quê?
É que se é, olha, felizmente está muito mudada. Se calhar é devota da nova beata , porque , ouvi-a eu com estes que a terra há-de comer ( quer dizer, eu queria era ser cremada, mas isto agora não interessa nada, como diz aquela senhora do, enfim ...) , ouvi-a eu, a dizer que é uma pouca vergonha o que os jornais estão a fazer ; que o senhor do tal partido, coitado, estava só a defender um amigo , pobrezito- um inocente! ( disse ela, que disse!) e que mais não sei quê, que era uma pouca vergonha e que se deve entender ; e os amigos e a inocência e...

Ai. Lá estou eu sem perceber nada. Ainda por cima, tenho a certeza, agora o meu pai vai-me dizer:
« Vês? tu és uma ingrata ; se fosses uma boa filha, fazias como a Inezinha...e defendias o paizinho»...

Ana [10/20/2003 12:06:00 da tarde]

 

Ponto. Eu não queria. Sei que estou a abusar mas...

É que acabei agora de ouvir -na íntegra- as declarações do senhor que se está «a cagar» para o segredo de justiça; e que , em conversa com um senhor que já foi ministro, e que é , se eu percebi bem, gago , confirmou que « O Presidente da República não pode intervir directamente » mas que «outros o podem fazer».
Ora, esse senhor, o tal cabecilha político, diz que «estão a tentar matar a Democracia e a Justiça». E falou de mais acções criminosas ! Atentem: «ameças muito fortes»; «Campanhas selectivas contra políticos »; « ameças que procuram explorar os péssimos sentimentos como a inveja, a mesquinhez , a injúria e o populismo»; «eleger presidentes e destruir pessoas».

Ai. Estou assustada. É que isto, numa palavra , vai ser um autentico banho de sangue!
Alguém que ligue o 112.

Ana [10/20/2003 11:39:00 da manhã]

 

Ah , e mais um pedido de esclarecimento, se fizerem favor:

Ainda sobre os mancebos. Eu, já se sabe, vivo fora. Deve ser por isso que me faltam os conhecimentos .
De maneira que, sem defender o que quer que seja, só quero perguntar; de maneira que, escrevia, queria saber também uma coisa: eu ouvi dizer que esta obrigatoriedade dos mancebos se perfilarem todos muito juntinhos no dia da Defesa Nacional , está prevista na lei. Uma lei que, dizem, foi aprovada em 1999, e por todos os partidos da A.R. Ora, eu peço desculpa, mas em 1999 não era outra a cor política que estava no governo? Hum...se calhar engano-me; isto porque acabei de ouvir o ministo da defesa, dessa altura, a dizer que não tem nada a ver com essa lei.
Ajudem-me, por favor, que esta ignorância mata-me!
Muito Obrigada!

Ana [10/20/2003 11:16:00 da manhã]

 

Correct me if I'm wrong

Os mancebos são obrigados a sensibilizar-se para a Defesa Nacional(DN) , comemorando o Dia da DN , a partir de hoje...mas o Ministro que dá a ordem vai, hoje, estar ausente , no primeiro dia das comemorações , sendo representado pelo secretário de Estado Henrique de Freitas. É isto não é?

As escutas telefónicas , quer dizer, alguns pedacitos de algumas das conversas gravadas, foram publicadas por jornais e, a gravações tantas, há um senhor que até é o cabecilha do maior partido da oposição, diz que se está «a cagar» para o segredo de justiça, e que -qual carochinha- enfia nomes de grandes personalidades num caldeirão ; e, depois de descoberta a careca, começam uns senhores a vociferar contra a violação do tal segredo, para o qual o senhor se está «a cagar» ; e ainda outros a falar de assassinatos políticos e ainda outros crimes de que agora não me recordo. E depois há um senhor que é professor, e que tem uma avença com um canal de televisão, que vai lá dizer que lhe parece suspeito que um irmão de um outro senhor, por acaso arguido num processo de pedofilia, seja sugerido para um alto cargo, já depois de se saber que o mano -agora arguido- o ia ser...e depois esse irmão fica muito chateado e exige desculpas do professor. E como se isto já não bastasse, ainda está lá escrito, no texto que se baseia nas tais escutas, que os cordelinhos estão a ser movidos para que esse senhor -agora arguido- se safe ...e, no entanto, o que preocupa agora esse partido da oposição , é saber quem é que intoxica (?!?!) a comunicação social contra esses senhores desse partido e se vai haver, ou não, congresso extraordinário!


Eu peço desculpa pela ignorância, mas, por favor, alguém me explica? É que eu só posso estar a perceber mal...

Ana [10/20/2003 11:07:00 da manhã]

[ sexta-feira, outubro 17, 2003 ]

 

Três notas soltas sobre a blogosfera. E mais meia

Há alturas em que a malta lê coisas que nos fazem comichão no nariz. Aquele tipo de texto que exprime ideias, que a malta até pode concordar, mas quando as encontra assim, a nu, enquadradas num ecrã branco, dá vontade de soltar umas expressões à boa maneira do meu Porto.Aquele tipo de textos que me dá vontade de sugerir ( que eu cá não sou ditadora ) que o autor se dedique antes a banhar o seu quadrúpede carnívoro, doméstico.
Aconteceu-me hoje, ao ler este post, de ontem. [ Pela questão de Timor, claro. ]

Par contre, e porque nós não somos, de facto, todos iguais -o que é óptimo- e sem qualquer tipo de demagogia ou quaisquer interesses obscuros, faço questão de anunciar que há um blog novo; cuja primeira acção, apesar de datada, merece uma vida mais longa: Solidariedadeblog.
Ao qual eu me alio, desde já. Ah...mas fiquem todos descansados , podem usar t-shirts de qualquer cor.

Last but not least: O Ginjal. Gosto deste blog. E gosto do Vasco. Até porque ele é o meu "anjo-da-guarda" dos bugs. E porque , mesmo sendo um não-fumador, gosta de Português Suave.

Meia nota: Peço desculpa, mas não posso visitar os blogs que incluem ficheiros mp3. Não me interpretem mal : eu adoro música! Sou capaz de tirar pão à boca - quando o dinheiro é mais curto ( e desde que já tenha comprado tabaco,claro!) - e gastar os últimos tostões em vinis, cds e k7s pirata.
Só que essa coisa do ficheiro mp3 deita-me a ligação do computador abaixo. Sempre.
Provavelmente a culpa é da porcaria do meu computador; mas enquanto não há solução, ou seja, enquanto ninguém me ajudar a resolver o problema, e, claro, a entendê-lo, não há cá visitas para ninguém.
É que a minha vida não é isto, pá!... [ ;-) ]

Ana [10/17/2003 02:01:00 da tarde]

[ quinta-feira, outubro 16, 2003 ]

 

Vamos lá a ver se me faço entender, o que , às vezes, não é nada fácil.
Não concordo com a ideia , discutida aqui há dias, sobre o facto de serem os católicos os que mais podem e devem analisar a figura de João Paulo II.
o Papa não é apenas o chefe de uma igreja. É um chefe de estado. É um homem político. E nunca na história recente, i.e., depois do século XIX, isso foi tão verdade.
O meu problema com o Papa , com este Papa, é precisamente o facto de ele ser mais político que representante de uma religião milenar, e bonita na sua essência.
É o facto deste Papa ter tido- durante anos e anos e mais anos- um único objectivo : acabar com o comunismo.
E não é porque eu não gosto do comunismo, e que até sou de direita, que vou negar o inegável.
Nunca senti, sinceramente, preocupações espirituais com o grande rebanho católico-cristão mundial.
Para além de ditar ordens, e anátemas, em termos de doutrina pouco ou nada o vi fazer. Sei que não é só culpa dele; sei que é do " sistema". Mas houve já outros Papas maravilhosos, que não se esconderam atrás das Sagradas Escrituras para travar o movimento do mundo. Para evoluir. O que sinto , com João Paulo II, é que o mundo deu um passo atrás. A minha mãe, que é católica praticante, que se converteu ao cristianismo, ou melhor, ao catolicismo ( nasceu judia) , bem tenta , desde sempre, dar-me exemplos de evolução com este papado...mas continua sem ter muito para me dizer.
A minha opinião nada tem a ver, acreditem por favor, com a minha opção judaica de vida. ( Nasci católica , fui baptizada e até fiz a primeira comunhão ( fui forçada, mas fi-la )
Tem a ver com justiça e tolerância. Tem a a ver com espírito . Tem a ver com entreajuda .
João Paulo II é, sem dúvida, sábio. Mas, para mim, não representa a beleza da natureza humana ligada à religião. É demasiado hermético e pouco sensível aos problemas do dia-a-dia dos cristão; e de todas as pessoas em geral. É quadrado.
É mais papista que o Papa ( que expressão idota neste caso...).

Tenho de reconhecer, claro, que foi no pontificado de João Paulo II, que o Estado de Israel foi-finalmente- reconhecido ( 94, julgo eu); que foi ele, João Paulo II, quem pediu desculpa aos judeus pelos dois mil anos de anti-judaismo cristão. Quem teve a coragem de entrar numa sinagoga e de pedir perdão pelo fechar dos olhos do Vaticano, e dos catolico-cristãos em geral, durante o nazismo.
Sim, ele fez isso. É bonito.
Mas, penso-o com todas as minhas forças, que não fez mais do que a sua obrigação. Fez o que se impunha a uma religião que se caracteriza como humanista e justa. Foi tarde, e a más horas, mas foi feito. E por ele.
Mas quando se faz justiça, o agradecimento é escusado. Mesmo que fique bem agradecer.

Não sei. Não simpatizo com este Papa.
Agora, o que acho bem, é ele continuar a sua missão até ao fim. Está velho e doente, é certo, mas isso só prova que é humano. E não se deitam fora as pessoas só porque estão velhas. Enquanto tiver forças deve continuar, concordo.

Mas não é porque vai morrer -como todos nós- que lhe vou fazer odes exaltadas.
Nem a ele, nem a nenhum homem -seja de que fé for,incluindo a minha- que utilize a religião como instrumento político. como instrumento político.

Mesmo sabendo que é assim que o mundo é...



Ana [10/16/2003 12:35:00 da tarde]

 

«Então e o que é que há para ver na Nova Zelândia? » Perguntou-me um amigo, quando de lá regressei. Isto já se passou há uns anos. Eu respondi , para além do óbvio ( ovelhas!): A cultura Máori, com o Tiki por todo o lado; A natureza no seu melhor...e um dos museus mais bonitos do mundo - Auckland Museum. E, claro, vale a pena vasculhar este belo e pacato país do quinto continente , para conhecer a escritora Janet Frame.

«Quem?» pergunta-me ele. E eu respondo:

Janet Frame. Uma escritora que passou as passas do Algarve e que, de tanto lhe chagarem a molécula ( já explico como ) , mudou Frame para Clutha e mudou-se para a península de Whangaparaoa, a norte de Auckland. E isto nos anos 70, do século XX.

É a segunda vez, nos últimos dias, que me lembro dela. Primeiro foi porque ela foi incluída na «short list of five » candidatos ao prémio Nobel da literatura deste ano.
A outra foi por ontem ter falado de Anjos e porque um dos livros dela que li- e o que mais gosto- tem por título, justamente : An Angel at My Table.

Janet Frame tem uma história curiosa. Nasceu em Dunedin, em 1924. Tinha 5 irmãos. Um dos irmãos sofria de epilepsia ; A irmã mais nova , e a mais vela, afogaram-se. Acontecimentos que marcaram, notoriamente, todo o seu trabalho.
Vida difícil julgais vós..iIt gets worse.
Em 1947, Janet Frame foi -erradamente- diagnosticada esquizofrénica.Por via disso, recebeu durante 8 anos tratamentos de choque-sim, choques eléctricos- em vários hospitais para doentes mentais. 8 anos.

Não admira, portanto, que dos seus livros saiam personagens consideradas retratos perfeitos de loucos excêntricos; de visionários que se encontram em duelo constante com uma sociedade tradicional e conformista.

A marca de Janet Frame, é precisamente esse ponto crítico. O negro. A negatividade. Uma espécie de elogio da loucura. Mas não procurem nos seus livros dedadas de Erasmo e de Faucault...que não encontram.

Para além do já citado "An Angel At My Table", aconselho : "To The Is-Land"; "Beginnings" ; " Faces in The Water"; e " The Envoy From Mirror City". Mas há mais...

Kia Ora ( saudação Máori)


ps- e perguntou-me o tal meu amigo: « E chegaste a conhecer a escritora?» E eu: «Não! »

Ana [10/16/2003 11:14:00 da manhã]

 

Bom dia.
Meu querido amigo Carlos, esse teu post:Condição: Humana é maravilhoso. E é justamente por tudo isso, que gosto tanto de ti. Bem...isso e o facto de ter descoberto ( vai para dois anos, lembras-te? ) que a música que te faz chorar baba e ranho é a mesma que me faz chorar a mim : You don´t know what love is. Chet Baker, claro!


Ana [10/16/2003 10:02:00 da manhã]

[ quarta-feira, outubro 15, 2003 ]

 

[Início, e explicação, no post anterior. O primeiro do dia. Obrigada.]

« Ele aparece, vem descalço, apenas com meias. Para entrar, obedece-se a este ritual cheio de significado e sentido. Quando a filha regressou a casa criaram um regime em tudo parecido ao do isolamento.

Depois de uns tantos telefonemas ,marcou-se um encontro em casa do doutor Castanheira. São quatro da tarde quando toca a campainha na moradia geminada. Quando a filha regressou a casa , criaram um regime em tudo parecido ao do isolamento.Tudo tinha sido esterilizado, forrado com lençois que iam sendo lavados periodicamente. Hoje, essas regras são «muito menos austeras», mas o hábito de não entrar com sapatos dentro de casa irá perdurar. À entrada, Castanheira conta que a mulher não quer falar: « Ainda está tudo muito vivo e ainda falta um ano para que desapareça a sombra das nossas cabeças.» A conversa foi feita por doses , com idas ao café e para comprar o jantar. Ah, claro, houve também tempo para brincar com a menina da história e os seus caracóis. A vitória sobre a doença ganha um estranho valor quando podemos rebolar na sala com uma criança que tem a estranha curiosidade por tudo o que vê e um sorriso – quando se ouvem estas histórias aprende-se a importância de um sorriso. A conversa começou às cinco da tarde e acabou perto da uma e meia da manhã. Houve tempo para tudo , conversar, ouvir, perceber a doença, rir, recordar e respeitar lágrimas. Logo no início , Castanheira deixou que os olhos o traíssem e explicou: «Hoje, para mim, chorar ou não chorar já não tem muita importância.Deixei de ter problemas com isso.» A sua história é trágica, como tantas outras, só que terminou bem. Está a decorrer bem. Durante vários anos , Castanheira lutou contra o cancro na oftalmologia do IPO porque, curiosamente, há muitas crianças com doenças oncológicas oftálmicas. Quando fala dos casos que lhe ficaram atravessados na memória, as lágrimas correm e o seu leve sotaque ribatejano acentua ainda mais as emoções.
Respirar fundo. Respira-se fundo muitas vezes.
Estavam de férias, « a menina tinha apenas um mês». Com as primeiras dores ligaram aos amigos pediatras, ao fim de 24 horas o diagnóstico tinha sido feito. Era grave. Passadas mais 24 horas tinham todas as certezas: era a leucemia mais mortal que podia existir. «Tínhamos trinta por cento de hipóteses», recorda. O facto de ser médico aumentou a consciência de que aquela luta mais facilmente se perdia que se vencia. Castanheira conta que teve o apoio dos colegas e amigos. Todo o IPO queria saber em primeira mão os resultados, os coelgas de serviço aliviaram-lhe o trabalho quando podiam , Castanheira recebia doentes, comia, dormia e passava as noites ao lado da filha no pequeno quarto do isolamento da pediatria. A mulher, família e amigos revezaram-se no acompanhamento da criança. Toda a gente estranhou a sua força : «Ela passava pela quimioterapia com uma facilidade inacreditável.» Aos poucos , a confiança foi sendo restabelecida.
Apesar de não ser católico observante e de não ter casado pela igreja , todos acharam que o momento se impunha: Cstanheira quis baptizar a filha. Aquele gesto podia fazer falta na luta que a filha travava pelo futuro.
Não dá para perceber se já era assim, mas os laços que prendem todos os que vivem aquele combate são inseparáveis . O futuro apresenta-se risonho e há muitas cassetes de desenhos animados a serem devorados. »

[ G.R. 136. Ano XIII. 2ªSérie. Julho 2002. Duarte Mexia; “ IPO-Anjos de Carne e Osso”. Págs 89-90. Extracto. ]

Fica este excerto. A história que eu gostava que fosse a nossa ( da minha família ). Ao lê-la sinto-me feliz.
Aproxima-me de D-us. E da minha sobrinha. E de todos os Anjos: os de espírito e os de carne e osso.






Ana [10/15/2003 11:10:00 da manhã]

 

Pensei muito.

Perdi –há uns anos – uma sobrinha. Com Leucemia. Tinha 4 aninhos.
Agora é um anjo –vive no céu.

Hoje- por iniciativa da Ana Anes- ela, eu, e mais alguns colegas da blogosfera ( D-us queira que sejam muitos ) vamos escrever sobre leucemia.
Doença terrível- mortal - que não escolhe idade nem sexo.
A Ana Anes ( acho lindo que –já o sabemos- para além de todas as coisas que nos ligam, a nossa sigla seja a mesma ) , vai, penso eu, falar da importância das doações de medula óssea . Porque para muitos doentes com leucemia, o transplante de medula óssea pode ser a única oportunidade de remissão da doença.

Eu, que depois de escrever, rasgar, escrever, rasgar ( chorar ); escrever, rasgar... resolvi fazer outra coisa.
Vou colocar aqui um excerto- pedaço enorme de jornalismo feito com o coração- de uma reportagem que li em Julho do ano passado. Na Grande Reportagem.
Uma reportagem de Duarte Mexia.
Uma reportagem que me fez quase parar de respirar. Porque é tudo como ele escreveu; tal e qual.
Porque Duarte Mexia -que intitulou a reportagem : IPO-Anjos de carne e osso – me tocou tão fundo que ...
Não consigo explicar.
Já li milhares de livos sobre; reportagens. Vi filmes e documentários . Vivi o que ele conta na pele. Uma tia desesperada, mas sempre a sorrir para esconder a morte dos olhos da minha menina. E de todas as meninas e meninos. Dos anjos.
Mas não me lembro de nada me ter tocado tanto como essa reportagem.
Já nem falo das lágrimas, dos soluços profundos e inesgotáveis que me provocou ... Falo do sentimento bonito que transpira de todo o texto. Das fotografias. De uma escrita com um corpo dentro; com uma alma boa.

Começa assim, essa reportagem maior-que me marcará para sempre :

« Em Lisboa há um lugar onde as pessoas não são números e os olhares valem mais do que mil palavras. Um lugar onde querem realmente saber de nós e nos chama pelo nome. No Instituto Português de Oncologia há pessoas que, ao lutarem contra a doença, descobrem como é inesperadamente bom pressentir todos os sinais da vida. Se os anjos existem, e se têm sexo, pernas, mão e família – passeiam-se por aqueles corredores. »

Mais do que tentar explicar-vos ( não consigo; não sei traduzi-lo por palavras ) o que é perder uma criança tão pequenina, indefesa e frágil. Uma criança que se esvai à nossa frente...a perder tudo, do cabelo ao brilho dos olhos...A vida. E nós sem podermos fazer nada, absolutamente nada...a não ser fazê-la sorrir ; mais do que isso é colocar aqui este excerto dessa reportagem. Um caso feliz.

O meu anjo – que vive no céu- está , de certeza, de acordo.
Porque sabe que não é inveja que sinto ao desejar que a história que transcrevo fosse a nossa- minha e dela. É esperança, fé e agradecimento.


A transcrição , para que a leitura seja facilitada, será colocada num outro post. Já a seguir.

Ana [10/15/2003 11:07:00 da manhã]

[ terça-feira, outubro 14, 2003 ]

 

Aviso à navegação- 2

É amanhã. Quarta-feira, dia 15 de Outubro.
( 19º dia depois de Rosh Hashanah; quatro dias depois do início de Sukkot )

O dia dedicado à Leucemia. Iniciativa da Ana Anes e outros amigos da blogosfera.
Está lá a lista dos blogs que já aderiram. Nunca são de mais.

É este o símbolo:

Ana [10/14/2003 11:37:00 da manhã]

 

E agora um poema. De Lêdo Ivo. Claro.

A RESPOSTA A MORTE


O melhor lugar

para se pensar

sobre a vida eterna

é uma taverna.

Uma noite em Londres

estava eu sozinho

tomando cerveja

no balcão de um pub

em meio a algazarra

de putas e bêbedos

e me perguntei:

Serei imortal

ou tudo não passa

de um sonho carnal?

Subirei ao céu

suntuosamente

mudado em essência

ou hei de morrer

como um pobre verme

sem deixar semente?

Foi quando senti

a Morte a mirar-me.

E ouvi sua voz

dizer-me num tom

cheio de piedade:

A tua pergunta

é a mesma de Deus

que também não sabe

se é eterno ou efêmero.

E não tem resposta.

Esquece a promessa

do nada ou do céu.

Cala-te, contenta-te

com o teu fardão

e o teu mausoléu.




Ana [10/14/2003 11:06:00 da manhã]

 

Gosto muito de ler Lêdo Ivo.

Poeta; jornalista; escritor brasileiro. Um dos maiores da chamada geração de 45.
Um dia,há muito tempo, estava no Rio de Janeiro a passear-me pelas ruas solarengas e cheirosas e vi,nas mãos de uma criança de rua, um livro de Lêdo Ivo. Não sei se a criança ia- ou estava- a ler esse livro; podia tê-lo encontrado, por exemplo. Não sei.
Sei que , como não conhecia o nome, fui informar-me. Entrei numa livraria muito bonita, em Ipanema, e perguntei por ele; por Lêdo Ivo.
Tinham muitos livros, claro. E o livreiro- um senhor da Baía que, julgo eu, ainda lá trabalha, o Sr. Vargas, contou-me ,assim por alto, as "peripécias" literárias e poéticas de Lêdo Ivo.
Na altura não comprei nada. Segui viagem pelas ruas do Rio.

Um ou dois dias depois, num verdadeiro botequim de esquina , entre homens barbados a beber pinga, confrontei-me -de novo- com Lêdo Ivo.
Estava lá um nordestino, muito bêbado, que falava de Lêdo. Que dizia que as raposas estavam a descer ao povoado; à cidade - verdadeiro ninho de cobras. Um dos senhores mais sóbrios, que o ouvia, dizia-lhe : « Eta, você tá pingado mas tá citando o rei; bebedeira com Lêdo é coisa muito boa". E era.

De modo que voltei à tal livraria , e o sr. Vargas embrulhou-me três livros -segundo ele: os melhores.
Trouxe então " As Imaginações" ; "Ode ao Crepúsculo " e -o já citado- " Ninho de Cobras".
Saboreei a poesia- como ela deve ser saboreada, ou seja: com calma e com sentido; mas, o romance "Ninho de Cobras", devorei-o.

Um dia, já recentemente e cá em Paris ( onde Lêdo Ivo também viveu ) , estava entretida a vasculhar as livrarias de livros usados, em St Michel -Notre Dame , e , dentro de um caixote de livros estrangeiros e empoeirados, "lá estava ele": Lêdo Ivo.
O romance :" As Alianças". Edição brasileira, da "Record"; a sua editora de sempre, penso eu.
O livro está autografado pelo próprio; dedicado a um amigo com nome francês, mas que, pelos vistos, lia e falava português; e datado de 1967.
Mais: nas páginas 36 e 113 , tem apontamentos- a caneta - feitos por ele. Sei que são feitos por ele, porque a letra é a mesma ; e a caneta também.
Na página 33, onde tem início o capítulo 4 , que começa assim:« Acordar todas as manhãs equivalia a uma ressurreição diária. Sair do sono , que é a morte,para a vida, abrir os olhos para a luz da manhã, entregar-se aos sentidos excitados pelo conhecimento da realidade. A luz do sol era brusca, e procurava apoderar-se de todas as coisas.» ; Lêdo Ivo escreveu: « meu amigo, sempre é assim, você não concorda comigo? ».
E na página 113, mais ou menos a meio do capítulo 10, Lêdo Ivo sublinhou esta passagem: « Relanceando o olhar, Jandira observou que José voltara a abeirar-se de Vera. Era decerto porque os corpos sabem dialogar mais do que as almas.
Por sua vez, José dizia a Vera, retomando a conversa interrompida : - A tragédia do amor é querer ir além da epiderme, você não acha?
Vera sorria, sem dizer palavra: era a sua maneira de achar.» À margem, Lêdo Ivo escreveu : « me inspirei em vocês». Sem mais.

Gosto muito deste romance; mais ainda do que gostei do " Ninho de Cobras".
Aliás, que eu tenha percebido, ninguém descreve -como Lêdo Ivo- a década de 40; especialmente no Rio de Janeiro. É um romance de amor, claro. E de solidões, abandonos e frustrações. E foi o seu primeiro romance. E ganhou prémios, como quase todos os seus livros.

No " Ninho ce Cobras", Lêdo Ivo conta a história da desilução nacional brasileira.Dizem.
O autor disse desse, o que disse de todos: « Eu apenas quis contrar uma história» . E como a contou bem!

E é por isso que eu,um destes dias, ao dar com a pilha de livros de Lêdo Ivo , que cá tenho comigo, me lembrei de falar dele. Até porque ainda tenho, na memória, muitas frases de um desses livros , um desses seus romances que eu gosto,e que foi o último que li dele. Porque é difícil encontrar mais cá.
Frases do " A morte do Brasil". Um livro maior. Um livro que abre com esta citação:
« Esta é a ditosa pátria minha amada.» Camões.

Mais um grande história.

Ana [10/14/2003 10:54:00 da manhã]

[ segunda-feira, outubro 13, 2003 ]

 

Hoje recebi esta prenda:


[ Nathaniel Hawthorne To Sophia Hawthorne]



5 December, 1839

Dearest, - I wish I had the gift of making rhymes, for
methinks there is poetry in my head and heart since
I have been in love with you.
You are a Poem.
Of what sort, then? Epic?
Mercy on me, no! A sonnet?
No; for that is too labored and artificial.
You are a sort of sweet, simple, gay, pathetic ballad,
which Nature is singing, sometimes with tears,
sometimes with smiles, and sometimes with intermingled
smiles and tears.




Ai...

Ana [10/13/2003 05:13:00 da tarde]

 

Por falar em Poesia... África. Como diria o "outro": Mãe África.

Tenho trocado e-mails, muito simpáticos e enriquecedores-para mim- com dois colegas da blogosfera que estão em Angola.
O António , que está na sua Colina Azul ; e o José que partilha connosco o seu Marginal Quotidiano.

Saudades de Luanda! Obrigada aos dois!

Ana [10/13/2003 11:57:00 da manhã]

 

Pois é.
Há tantas, e boas,discussões na nossa preciosa blogosfera.
O meu Joyce- com o Ulisses à cabeça; o tabaco -prós e contras. A falta de discernimento de quem faz os manuais escolares; etc.
A mim -desculpem lá- não me apetece falar de nada disso. Até porque as discussões estão muito bem entregues.

Apetece-me falar das manhãs; de amores maiores; e de poesia ( que , por acaso, também é assunto actual na blogosfera). Ou pseudo-a minha.


Às vezes acordo com ideias pseudo-poéticas na boca. Debaixo da língua; dentro da garganta. A querer sair.
Lembro-me de palavras -com I e com F que enrolo noutras ;e abro a boca para as deixar sair. Sem audiência.

Digo: A noite é indigestível sem ti, indesfrutável. A manhã é fortificante; um fortim para quem mais nada tem. Abro os olhos, respiro...
A tua ausência - fosgénio. A tua presença- fosforogéneo.


Fecho a boca.
Parecem-me muito ridículas estas palavras todas enroladas. Palavras nada poéticas e tristes. E logo agora que estou serena e feliz. Amada e a amar.

Deve ser porque é segunda-feira...e porque ainda não bebi a minha caneca de chá.

Ficam cá registadas. À mesma.



Ana [10/13/2003 10:59:00 da manhã]

[ sexta-feira, outubro 10, 2003 ]

 

Cedo "piei".

Então há lá outro país que nos proporcione maiores gargalhadas do que Portugal?
Em que Assembleia, europeia, ou outra, é possível ouvir pérolas como as produzidas pelo sr.Carlos Carvalhas?
Quem se pode orgulhar de, sem ir ao circo, ligar a telefonia, ou o televisor-já para não falar dos privilegiados que estão no Parlamento- ouvir chamar avestruz a um Chefe de Estado e, depois de chamado à atenção pela falta de educação, retirar o que disse, dizendo que não queria ofender os animais?
E quem, ouvindo o mesmo cómico, pode-sem ir a um hospício - ouvir perguntar ao Presidente da Assembleia da República, se os deputados estavam «ali» para ouvir o Primeiro Ministro, ou um antigo maoista?

Eu retiro o que disse no primeiro post do dia. Fui extremamente injusta e, acima de tudo, pouco coerente.
Então eu, que adoro rir; que tenho pelo riso uma adoração quase sagrada, lá podia estar contra o que se passa em Portugal?
Nem pensar.

Obrigada, sr. Carlos Carvalhas!

Ana [10/10/2003 12:45:00 da tarde]

 

O Rosto Da Notícia



Shirin Ebadi

Ana [10/10/2003 11:07:00 da manhã]

 

Daqui a meia hora vai ser conhecido o prémio Nobel da Paz.

Há 165 candidaturas. Eu, das que conheço, e das que são apontadas , claramente, como favoritas tenho- em nome da verdade- de dizer que estou a torcer ( com os dedos dos pés e das mãos) por Vaclav Havel.
Não por razões políticas. Mas porque das duas vezes que tive o privilégio de lhe falar , senti-me enternecida. E realmente privilegiada.

E só não digo: que ganhe o melhor, porque, normalmente, nunca ganha.

Ana [10/10/2003 10:39:00 da manhã]

 

Aviso à Navegação

A Ana Anes teve uma ideia, juntamente com outros colegas da blogosfera, muito boa.
Tornar ainda mais útil o nosso "bloganço".

Lembrou-se a Ana Anes:

«Meus Amigos,

Em conjunto com vários " bloguistas", para a semana haverá um dia- a definir- ( quem quiser juntar-se a nós, por favor contacte-me) dedicado ao tema leucemia, um tema que me é muito querido, de forma a sensibilizarmos os nossos conterrâneos para a doação de medula.

Para não pensarem que os blogs é só para a risota ( que também é muito importante...).

A ideia é todos os blogs terem um texto escrito sobre o tema. Cada um na sua perspectiva.

A minha próxima inicitiva será fazer uma FLASHMOB.... Em breve.
»


Ora esse dia, para falarmos sobre Leucemia, já está escolhido: Quarta-Feira; 15 de Outubro.

É um tema que também me é caro. E que não fosse. Contem comigo!

Ana [10/10/2003 10:15:00 da manhã]

 

Não tenho tempo para fazer links ou Manifesto Matinal - a Quente

Um amigo e colega meu, britânico, costuma dizer que Portugal é o país do fait-divers.
E é mesmo.
E é mesmo porque, o que é realmente importante, fica sempre em segundo plano.
Os juízes mandam calar o Procurador da República; os partidos políticos apropriam-se de vitórias fantasma ; a oposição, numa altura decisiva para o futuro da U.E. , quer discutir as armas de destruição maciça iraquianas.
Gosto muito do meu país; adoro ser Portuguesa e sinto orgulho nisso.
Mas, infelizmente, cada vez me sinto melhor por viver fora. O problema, o meu problema, é que só vivo fora porque , de alguma forma, sou os olhos e os ouvidos dos portugueses; para contar aí, o que se passa "aqui". E vice-versa.
E é por causa de todo este circo nacional, esta falta de senso generalizado; onde tudo é relativo e orgulhosamente afirmado como tal , que começo , seriamente , a pensar em exilar-me ...no Botão.
Pelo menos lá, de certeza, ninguém me vai obrigar a contar o que se passa no meu país, que eu tanto amo. E eu deixo de ter de dizer as notícias com o coração apertado ...e em estado de...de...síncope!


P.S. Não tenho comentários. E não sei porquê. Não percebo a ponta d'um corno de tecnologias de ponta...e a minha salvadora está de férias. Por isso, até ela voltar, nada feito. Peço, obviamente, desculpa, pela anomalia técnica à qual sou totalmente alheia.

Ana [10/10/2003 09:52:00 da manhã]

[ quinta-feira, outubro 09, 2003 ]

 

Estou a ficar farta de "comentar", aqui no blog, a actualidade.
Queria usar este meio para rir, e para falar de livros e de autores; e acabo sempre por me desviar. Por isso, enough is enough ( por uns tempos ) vamos aos livros.

Aquando da escolha para o prémio Nobel da literatura, mencionei-o, mas não o considerei potencial vencedor; falo de Philip Roth.
Ele, pelo que tenho lido, era a escolha de muitos ilustres da blogosfera.
Se eu disser que não o aprecio muito, minto. Mas, tenho a certeza, ele nunca vencerá o Nobel. Por isso nunca o apontarei. O que também penso, a sério, é que isso não é negativo. Pelo contrário.
Até porque, como todos sabemos, o prémio Nobel da Literatura não é- tirando algumas excepções- sinónimo de justiça literária. Adiante.


Não vou cansar-vos aqui com a história da vida de Philip (Milton ) Roth. Quem a quiser saber, sabe também onde a procurar.
Vou é falar sobre os livros dele; os que mais gosto e me marcaram.

Julgo que foi no final dos anos 50, princípios dos anos 60, que Roth publicou o "Goodbye Columbus". Li-o em meados dos anos 80, em Nova Iorque.
Gosto do tom novelesco e, além disso, adoro short stories. O " Goodbye Columbus", conta a história de uma família judia , tipicamente classe média. Muito bom, o livro. Bem melhor, como costuma ser sempre, que o filme , baseado no livro, que, julgo eu, é dos anos 70.
Mas o que me agarrou a Roth ( juntamente com razões culturais e religiosas ) foi , sem dúvida, esse portento : " Portnoy's Complaint".
É um livro que muitos consideram masturbatório. Porque uma história sobre o sexo "proibido" como escape na vida de um jovem rapaz. Com este livro, Roth passou a ser como o Real Madrid, i.e., galaticamente conhecido.
Não tenho o livro cá comigo em Paris, está na minha "Torre do Tombo" privada, no Porto.
Mas a internet, este admirável mundo novo, permitiu-me encontrar um pedacinho da prosa desse livro único.
Segue o "plágio" :

«What I'm saying, Doctor, is that I don't seem to stick my dick up these girls, as much as I stick ir up their backgrounds- as through fucking I will discover America.Conquer America - maybe that's more like it. Columbus, Captain Smith, Governor Winthorp, General Washington - now Portnoy.»

Mais tarde, com o " The Breast", aparece o memorável David Kepes, que me levou também a não perder "The Professor of Desire" e , mais recentemente "The Dying Animal", livro que já tenho,ainda não li, mas tenho a certeza que vou adorar.

Portugal, que eu saiba , está mal servido no que a Roth diz respeito. Mas, reconheço, só lhe conheço duas,e boas, traduções ; ambas da Dom Quixote: " Casei com um Comunista" e " Teatro de Sabbath".
Tudo o resto , penso eu, existe em inglês- don't you just love Amazon?- mas podem ser encontrados, os livros, em qualquer FNAC.

E ainda bem, porque é fundamental, também, para quem se apaixona por Roth, escarafunchar o " My Life As a Man"; "When She Was Good"; " Operation Shylock"; " TThe Great American Novel"; Patrimony"; " The Ghost Writer "; The Conversation of the Jews; The Human Stain".
E , porque tem de ser destacado à parte: " American Pastoral".
Salvo erro, Pulizer de 1997. Uma história -agora e sempre- actualíssima; sobre um judeu ( Levov), cuja filha decide tornar-se terrorista.
É um livro inspirado no poema épico de Milton - Paradise Lost.


Tudo o que Roth escreveu, e escreve, é bom. Tudo.
E, tenho a certeza, também há lá muito de Claire Bloom; a mulher que desde os anos 70 acompanha Roth, apesar de só se terem casado muito mais tarde. ( Penso que até já estão separados há uns tempos ) .
Claire Bloom , actriz de teatro exemplar ( fez, como ninguém, em palco, a mítica Blanche DuBois do também mítico " Um Eléctrico Chamado Desejo") ,publicou , também, alguns livros, mas eu, confesso, só li o livro de memórias : " Leaving a Doll's House" ; que também aconselho, vivamente.

Ana [10/09/2003 12:05:00 da tarde]

[ quarta-feira, outubro 08, 2003 ]

 

D-us queira que o correio seja célere.

Ana [10/08/2003 04:29:00 da tarde]

 

Afirma Pereira



É competente e apaziguadora . E é linda.

Mas continuo a achar muito perigoso mudar agora de ministro. Mas seja.
Ela é muito "lá de casa" e eu tenho a certeza que vai sair-se bem.

Ana [10/08/2003 02:53:00 da tarde]

 

Como eu te entendo, querida Charlotte!


De facto, tirando essa alegria da publicação do livro do sr. Pipi, tudo o resto é tão inacreditável que nem dá vontade ...de falar sobre.

-O gajo dos músculos ( ia escrever neo-nazi,mas deixo isso para quando ele tomar mesmo posse ) é ( vai ser) o novo Governador da Califórnia. Um circo...

-Os jogadores da selecção inglesa de futebol ameçam fazer greve;

-A Margarida Rebelo Pinto , que lança mais um folhetim encadernado este mês em Portugal, lança hoje o seu primeiro livro no Brasil;

- Metade da população mundial tem menos de 25 anos , o que é inédito;

- Um tuga é preso, na Dinamarca , porque diz que colocou uma bomba num avião egípcio, porque a rapariga que ele ama o trocou por um descendente dos faraós;

-o Director de informação da agência Reuters demitiu-se;

E, como se tudo isto não bastasse, em Portugal chove ministros!

De facto...só mesmo o pipi deste rapaz para me alegrar!

Ana [10/08/2003 01:16:00 da tarde]

 

Não há canção de Brel que nos salve

Esta manhã (agorinha mesmo) ouvi uma senhora a pedir a volta de Salazar.
E foi a terceira pessoa a fazê-lo, hoje, no fórum da TSF.
Depois da primeira sensação de murro no estômago, de algum enjoo...tendo a entender estas pessoas.
Porque é que será?

Ana [10/08/2003 12:22:00 da tarde]

 


Ana [10/08/2003 12:09:00 da tarde]

[ terça-feira, outubro 07, 2003 ]

 


Ana [10/07/2003 07:36:00 da tarde]

 

Ainda mais...polémica!

Sobre Martins da Cruz.
Acho que , neste momento, ele é mais útil aos interesses de Portugal se se mantiver como ministro.
Por muitos erros que o homem possa ter já cometido ( e aquela ajuda " humanitária" ao terrorista islâmico é , certamente, um deles), parece-me que, nesta fase importantíssima , em que se discute a CIG, ele é fundamental.
Eu sei. Ninguém é insubstituível. E não sei se o MNE estará "inocente" neste caso do favorecimento à sua filha . Mas, sinceramente, não sei, nem quero saber.
Casos de cunhas e compadrios são, como todos sabemos, mato, em Portugal. Aliás, a cunha é, provavelmente, a maior instituição nacional.
É condenável, obviamente. Mas, neste caso particular; nesta altura em particular, parece-me óbvio que sejam os interesses de Portugal a falar mais alto.
A questão é saber se o MNE é competente. E, parece-me óbvio também, ele é. Pôr nas negociações, nesta fase, um ministro paraquedista parece-me, não só perigoso, mas pateta.
Dizem-me: mas a influência do ministro está minada por este " escândalo". Eu, aqui, só me posso rir.
Os outros países estão-se perfeitamente a borrifar para as escolas onde andam os filhos dos ministros.
Nesta fase, sinceramente, os interesses são mais altos e a discussão é, não só dura, mas fundamental.
E o MNE está a sair-se bem. Aliás, tem-se saído menos mal até agora. E isso, francamente, é que me parece importante, neste momento.
Depois, depois demitam o ministro; mandem-no para a Sibéria , Je m'en fous!. Agora é que não.
Posso estar completamente errada, que posso ; mas, caramba!, quanto tempo mais as tricas umbiguistas portuguesas vão continuar a prejudicar os interesses do país, nas alturas mais importantes?
Tudo isto, sinceramente, me cheira a provincianismo. As "limpezas de balneário" devem ser feitas depois dos jogos feitos. Não durante. Ou então antes. Mas, agora, já não vamos a tempo...não vos parece?



Ana [10/07/2003 12:15:00 da tarde]

 

Mais do mesmo

O que mais me irrita no fundamentalismo é a falta de inteligência.
Digo isto, e não me importo que levem a mal ( também estou fartinha de ser ofendida por fumar , portanto:paciência!) , a propósito dos antitabagistas.
Ao ler o Aviz, nos textos Português Suave, tomo, mais uma vez,consciência da falta de civismo e elegância, que caracteriza os argumentos dos que acham que não se devia fumar; nunca.Eu, lamento, mas vou pagar na mesma moeda. É a vida.
Pois muito bem: eu, ao contrário do F.J.V., que é um verdadeiro senhor educado e cordato , eu não aceito que me condenem por fumar. Fumo o que quiser, quando quiser e sempre que quiser. E só não fumo onde quiser, porque, ao contrário dos fundamentalistas, respeito a lei e, acima de tudo, os outros.
Mas não admito que me proibam de fumar. Chama-se liberdade e chama-se democracia. Palavras que, já se sabe, são desconhecidas de qualquer fundamentalista , seja em que área for.
O antitabagismo é a mais gritante hipocrisia dos nossos tempos.
O tabaco-que faz mal, é certo, mas o que não faz?- é uma substância que não altera o comportamento de quem fuma. E já nem falo da importância económica, global, da indústria do tabaco…
O que irrita é a falta de democracia . O querer impor. O espezinhar a vontade do próximo, para impor a sua própria vontade. A tirania. A falta de inteligência. O fascismo.
Eu posso fumar quinze maços de tabaco, por dia, que isso não vai matar ninguém. E, se , hipoteticamente, matar, matar-me-á a mim; apenas a mim.
Já sei, agora é a altura da converseta : «coitadinhos dos fumadores passivos…». Não me fodam.
Basta sair à rua para morrer com um cancro nos pulmões. Algum de vós já leu, com atenção, os relatórios da qualidade do ar? Algum de vós já se alapou defronte de uma lareira e fechou as portinhas e janelinhas todas já? Isso sim: isso mata. Esses fumos sim.
Aliás, qualquer fumo mata, se inalado em demasia, porque nos sufoca. Mas afirmar-se que o fumo do tabaco é que é perigoso…chaga-me a molécula!
Ou se acabam com os carros; com os aviões; com as fábricas; com as queimadas….ou então usem a cabeça para pensar, antes de apontarem o dedo- quais denunciadores de judeus em plena alemanhã nazi- de cada vez que encontram alguém a fumar.
Emborcar grandes quantidades de álcool…ça va. Gritar e fazer manifs pela despenalização das drogas ditas leves…ça va. Agora para os fumadores grita-se: morte!
Aumenta-se o preço do tabaco várias vezes ao ano e a malta ,fumadora, cala-se e paga. Pois eu , nem me calo nem pago. Se for preciso vou buscá-lo onde ele é mais barato. E se for preciso também, compro tabaco de contrabando. Quero lá saber!
Eu deixo de fumar se quiser; não por imposição. Era o que mais faltava!
Eu, por exemplo, sou abstémia; não bebo álcool. Acho que o álcool faz mal, não só a quem bebe, mas aos outros. Isto porque, se um palerma ou uma palerma, beber de mais e, depois, pegar num carro…pode matar-me. Ou pode levar a comportamentos de violência extrema. Porque, lá está, o álcool modifica os comportamentos de quem o bebe.
Mas, mesmo pensando assim, não me vou armar em parva e pedir o fim da venda do álcool. Apesar de favoravel a algumas restrições , não posso impor o meu desejo a todos. Querem beber, bebem.
Bebam o que quiserem. Mas, por favor, apanhem um taxi!

Outra coisa: sou, também, diabética. É genético. A mim, pode matar-me: meia dúzia de bolos ; barras de chocolate; etc.
O açucar; as gorduras, para mim são o fim. Se eu fosse uma dessas fundamentalistas, andava para aí a fazer atentados à la FP25, ou seja, a pôr bombas nas pastelarias e casas de chá. E, a ver pela brandura das nossas leis, até nem me acontecia nada.
Mas não. Como tenho o cérebro com alguma coisa dentro, limito-me a não comer. E se estiver com gente que se está a encher de bolos e chupa-chupas à minha frente, não me vou armar em beata e fazer um manifesto anti-açucar. Querem comer, comem.

Também nunca fumei , nem sequer um charro, na vida. Falo de estupefacientes. Mas não o fiz porque não quero alterar o meu comportamento e, ok, admito, porque sou demasiado bota-de-elástico.
Mas ninguém me há-de ver por aí, feita maluquinha, a vociferar contra quem fuma.
Deixo isso para os legisladores e os polícias.


Tudo faz mal. Tudo.
Comer; passear ao ar livre ( nas cidades, especialmente ) e respirar ; foder…etc. Também fumar, é certo…mas ou acabam com tudo o que faz mal ou deixem-me em paz !
Mainada !

[ Provavelmente este texto está mais "violento" do que eu própria desejaria, mas a culpa é de uma pessoa fundamentalista anti-fumo, que se veio cá colar a mim, e eu de cada vez que acendo um cigarro ela chateia-me a cabeça com dados ditos ciêntificos...e eu, para não a fazer engolir um guarda-chuva que cá tenho , muito jeitoso, prefiro escrever. Até porque o guarda-chuva me faz muita falta...porque tem estado de chuva!]

Ana [10/07/2003 11:08:00 da manhã]

[ segunda-feira, outubro 06, 2003 ]

 

Who By fire

And who by fire,
who by water,
who in the sunshine,
who in the night time,
who by high ordeal,
who by common trial,
who in your merry merry month of may,
who by very slow decay
and who shall I say is calling?

And who in her lonely slip,
who by barbiturate,
who in these realms of love,
who by something blunt,
and who by avalanche,
who by powder,
who for his greed,
who for his hunger,
and who shall I say is calling?

And who by brave assent,
who by accident,
who in solitude,
who in this mirror,
who by his lady's command,
who by his own hand,
who in mortal chains,
who in power,
and who shall I say is calling?

Leonard Cohen

Ana [10/06/2003 02:46:00 da tarde]

 

Yom Kippur Remains a Day of Morning


Yom Kippur remains a day of morning
On which another year of joy depends.
Most make the most of life by choosing love,
Knowing more than they have knowledge of,
Immersed in means while bound for better ends.
Penitence must work its will by evening,
Passionate enough to make amends,
Until the last horn blows, the loved ones leaving,
Resolved to grace whichever way life wends.


Ana [10/06/2003 02:43:00 da tarde]

 

A poem by Daniel Lasar


A sudden hum reverberates in my ears, jolting
me from my trance-like contemplation. . .
O G-d, I knew I could've, should've; I just didn't
have the time but this year will be different.

The noise, broken and scattered, pounding
and probing, gnaws at my conscience.

O G-d, I'm sorry I didn't do better; it wasn't easy, the
moment wasn't right, but this year will be different.

As though time has stopped, I am transfixed
upon the sharp sound tugging at my heart. . .

O G-d, I really wanted to, but I was reluctant to deal with what
other people would say but this year will be different.

The ever-strengthening blast grows longer, louder,
resonating to the depths of my soul. . .

O G-d, I know I said that last year, but I'll have more resolve;I had
a lot of things on my mind but this year will be different.

My pulse is racing, my eyes well up with water
as the ringing reaches a crescendo. . .

O G-d, You who decides who will live and who will die, I've made
a lot of mistakes in the past but this year will be different.


The rabbi slowly pulls the shofar away from his lips. Another
Yom Kippur has passed, and with it another chance
Hashem has given us to change, to grow, to be.

May this year indeed be different, for all of us.


L'shanah haba'ah b'Yerushalayim!

Ana [10/06/2003 02:36:00 da tarde]

[ sexta-feira, outubro 03, 2003 ]

 

É verdade. Hoje só quero rir.
De modo que fui aqui; e aqui. E ainda estou a começar...

Ana [10/03/2003 01:47:00 da tarde]

 

Pequeno apontamento sobre o esférico ;ou como, hoje, prefiro falar da bola

O Camacho é espanhol. Fala, portanto, castelhano. E como qualquer espanhol, não percebe a ponta d'um corno de português.
Há meses que reparo que os jornalistas portugueses falam com ele, fazem-lhe perguntas, como se ele dominasse a língua de Camões. E ele não a domina, como é natural.
Ainda há bocadito , na Antena1, estava um jornalista ( que eu gosto muito, aliás) a falar, em directo com o Camacho e pergunta-lhe:
- O Benfica, blá, blá, blá, apresenta-se com muitas limitações, blá, blá, blá...e que sem os jogadores X e Y fica muito descaracterizado e blá, blá, blá...e blá, blá, blá não acha?

E diz o Camacho, que até pelas imagens da rádio se percebia que estava confuso, e depois de um silêncio :
- Bem, o Benfica...quer sempre ganhar e...blá, blá, blá...

Não contente, o jornalista volta ao ataque:
-Camacho, mas ...o Moreirense, blá, blá, blá...equipa das mais pressão faz no campeonato, como se viu com o Sporting...blá,blá, blá...mais o esquema técnico blá, blá, blá....não acha?

E diz o Camacho, que até pelas imagens da rádio se percebia que estava confuso, e depois de um silêncio:
- Bem, o Benfica...quer sempre ganhar e...blá, blá, blá...

Pobre Camacho! Como se treinar o Benfica já não fosse sofrimento suficiente...

Ana [10/03/2003 01:23:00 da tarde]

 

« Imediatamente , o diálogo mudava de tom, pois minha tia respeitava imensamente o eminente corso, no qual apenas via com olhar crítico as aventuras amorosas de teor adúltero. E como Josefina fosse a única esposa que lhe reconhecia em termos de legitimidade conjugal, nunca perdia a oportunidade de dizer, com certa intenção na voz um pouco tremida pela idade e pelo transe:
- As minhas respeitosas saudações à Senhora Dona Josefina…
- Serão entregues – respondia o pires num voltear mesureiro.
Noutros casos , estabelecia-se comunicação com alguma velha amiga recém-falecida que ainda no ano anterior tinha assistido à cerimónia – e aí verificavam-se cenas comovedoras , demonstrativas de que a amizade perdura para além dos túmulos.
- És tu, Clementina?…Oh, minha querida, que desgosto me deu a tua morte! Então que ideia foi essa de caíres na escada? Eu não te disse tantas vezes que tivesses cuidado com os degraus de pedra?…Olha: não sofreste,pois não?…Como?…Ah, sim, viste logo um anjo!É porque morreste no mesmo instante, filhinha!
Graças a Deus, morreste logo ali! Aqui, os médicos disseram que tinhas partido a espinha por alturas do pescoço…Pois…E diz-me cá: tens visto a Teodora?…A Teodora!…A TE-O-DO-RA!!!…Ai, filha, que até no Paraíso és surda!…A nossa amiga Teodora, a modista que ficou atropelada …Quê?…Quem está aí?!…
Era Judas que chegava atrasado e procurava desculpar-se. Mas a voz da tia Alberta ganhava timbre metálico das condenações eternas, na presença do velho pecador:
- Quais desculpas nem meias desculpas! Para ti não há perdões, meu maricas!
O pires vermelho girava destrambelhadamente , num atabalhoamento de explicações. Judas tentava em vão dizer que os anjos o rasteiraram pelo caminho, impedindo-o de chegar à hora prevista.
Pressentia-se na humidade da porcelana que a alma de Judas chorava, maldizia aquela hora de fraqueza , havia quase dois mil anos ( e parecia que fora hoje! ), em que cedera à tentação infame do suborno para trair o Mestre- e afirmava que enquanto o dinheiro dominasse o Mundo , jamais um homem deixaria de vender o seu irmão!
A tia Alberta, contudo, não se comovia e rosnava, a voz cavernosa, sinistra, mordida pelo ódio, uma baba espumante e repelente a escorrer, sinuosa, por entre os lábios:
- Na peida! Na peida!
Com esta desagradabilíssima expressão, terminavam normalmente as sessões. A boa senhora regressava, em poucos segundos, à sua aparência normal, retomando o doce carácter do quotidiano.»


E pronto. Fica mais um bocadinho da prosa, deliciosa, de António Vitorino D'Almeida, no seu , já mítico: " Coca-Cola Killer"

Antes este humor refinado, que as anedotas de Pedro Lynce...certo?

Ana [10/03/2003 12:13:00 da tarde]

 

Então pego no livro e releio, pela milionésima vez : ( e sempre com fair-play e lenços de papel ao pé )

« (…) Esta visita à tia Alberta era uma velha tradição de todos os Domingos de Páscoa: a santa senhora dedicava-se ao espiritismo e evocava nesses serões o espírito de Judas para o cobrir de injúrias, num tom de voz e usando de um vocabulário que só os excessos do transe poderiam justificar.
Nunca , no seu quotidiano, a minha tia Alberta seria capaz de proferir palavras que excedessem a dureza de um «apre». Uma vez, entalara-se no elevador ( onde ficaria com uma falangeta esmagada! ) e murmurara: «arre!»…Quem a visse chorar, pensaria que era dor. Puro engano: chorava de vergonha pelo deslize linguístico!
Educações antigas. Seria sempre, para mim, causa de espanto anual a série de insultos soezes com que minha tia Alberta recebia os sinais enviados do Além pelo traidor do Rei dos reis.
Quando um determinado pires vermelho, colocado sobre uma pequena mesa de pé-de-galo, começava a girar estranhamente, anunciando a presença espiritual de Judas, a digna senhora entrava em comunicação com os mundos ocultos e exclamava num exacerbamento de furor religioso:
-- Ó meu cabrão de merda! Querias matar o Senhor, não era? Mas quem se lixou foste tu, grande sacana, pendurado numa figueira! E o Senhor cá está, ressuscitadito, em mais este Domingo de Páscoa, de boa saúde e de melhor disposição para escutar os nossos cânticos!
E começava a cantar numa toada lúgubre:
«Aleluia! Aleluia!
O senhor venceu a luta
Contra o Judas filho da puta! »
Além de mim e de um notário idoso que, nos tempos da minha infância, que me oferecia rebuçados curiosamente embrulhados em folhas inutilizadas de papel selado, assistiam a estas cerimónias três ou quatro velhas senhoras amigas de minha tia Alberta. Na realidade, essas senhoras nunca eram as mesmas , pois, com o rodar dos anos, iam falecendo; mas havia sempre outras que, entretanto, envelheciam e ocupavam o lugar das desaparecidas.
Nenhum de nós intervinha nos diálogos de minha tia com o outro mundo , salvo quando, notoriamente , o espírito presente não era Judas, mas qualquer outra figura histórica.
Então, nós batíamos ao de leve no ombro da tia Alberta e alertávamos:
- Não é ele! Desta vez é Napoleão…»

( Continua, noutro post, para ele não ficar demasiado longo. No final identificarei o livro,para os mais desatentos que ainda não tiverem percebido qual é!… )

Ana [10/03/2003 11:39:00 da manhã]

[ quinta-feira, outubro 02, 2003 ]

 

Por falar em livros...tá mal!

E tá mal, porque parece impossível! que uma editora como a Assírio & Alvim não tenha mais cuidado com as revisões!
Ora atentem:

O meu namorado , moço culto, erudito e pouco amigo de animais com penas, comprou o " Fernando Pessoa- Heróstrato e a Busca da Imortalidade"; Assírio & Alvim ; Edição 587; Setembro de 2000; ISBN 972-37-0594-X [ aqui ele acrescenta , e passo a citar -a brochada!- com um sorrisinho maroto...]
Edição de Richard Zenith e tradução de Manuela Rocha.

Até aqui tudo bem. O problema é que o rapaz, para além de comprar os livros...lê-os!
E foi com estupefacção que , na pág. 66, ele lê o seguinte:

« Estes moribundos acrobáticos conseguem tornar a morte cómica e a bravura repugnante. É necessário apelar a toda a nossa tradição de respeito para lamentar os tolos, e tolos presunçosos, aliás.O seu fim une o suicídio sem patos à tragédia sem dignidade.»

Patos? -pergunta-se ele! Patos?E começa-me a berrar, pela casa fora: patos??? patos???

A esta altura eu estava na cozinha, a passar os azulejos a pano, depois de ter areado todo o meu trem de cozinha que comprei à Srª Dª Felipa Vacondeus, da " Ideia Casa" .
Cuidei que ele tinha enlouquecido e, com a subtileza que só uma mulher apaixonada pode demonstrar, perguntei-lhe , carinhosamente :
-Olha lá, amor, tu estiveste a beber?

Ele, furibundo -e com alguma mágoa , vá lá saber-se porquê- diz-me que não. Que não tocava em álcool há muito tempo; que estava furioso porque tinha lido uma coisa no tal livro que o pôs fora dele.

Eu limpei as mãos ao avental ( por acaso um avental muito giro e étnico que comprei numa feira de artesanato cá na estranja ) , e disse-lhe: - ora deixa cá ver isso.

Peguei no livro e conferia. Página 66; os patos. Como não tinha visto a capa do livro, ainda cuidei que se tratasse de algum ensaio sobre aves de criação e capoeira ...mas não!

Ele, ladino, foi à parte em estrangeiro, i.e., a parte em inglês ( o livro é bilingue) a ver se lá também os havia; os patos.

Mas não :
« These stunt diers succeed in making death comic and bravery disgusting. It takes all our tradicional use of respect to pity fools, and vain fools at that. Their end unites suicide without pathos and tragedy without dignity.» (pag.145)


Ficamos os dois piursos a gritar, a uma só voz: patos!!

Conclusão: Ele fechou o livro e tentou acalmar-se ouvindo o nosso Peter Murphy...e eu voltei para as limpezas, abanando a cabeça e- confesso-o- a pensar que um gostoso arroz de pato seria a melhor ideia para o nosso jantar.

Tá mal ou não tá mal?

Ana [10/02/2003 02:03:00 da tarde]

 

Bom...ganhou J.M.Coetzee. Sul-Africano.
Tá bem...
Gosto.
Dos que li, sugiro: " Foe" ; " Waiting for the Barbarians"e " Life and Times od Michael K.".
Em Portugal, julgo eu, ele é editado pela D.Quixote. Aliás, a tradução portuguesa do " Waiting for the Barbarians", é muito boa.

Também gosto muito de um ensaio dele: "Giving Offense: Essays on Censorship". Não sei se está traduzido para português.

Enfim. Mais uma vez ...espalhei-me ao comprido. Mas, pelo menos este ano...conheço a obra do vencedor. Já não é mau! ;)

Boas leituras!

Ana [10/02/2003 12:14:00 da tarde]

 

Daqui a menos de duas horas, vamos conhecer o eleito. O prémio Nobel da literatura.
Fala-se de : Philip Roth;Don DeLillo; J.M.Coetzee; Mário Vargas Llosa ;Carlos Fuentes; Joyce Carol Oates;Margaret Atwood; Ismail Kadaré; Janet Frame...e Adonis.
E eu, confesso,queria que o prémio, este ano, fosse para este poeta sírio-libanês. ( Ai, mas também gosto tanto da Frame e do Kadaré...)
Enfim. Que vença o poeta....

Ali Ahmad Said, aliás Adonis, é um grande, enorme poeta. E não quero saber de politiquices nestas apreciações.
Há uma obra dele que eu adoro! " Songs of Mihyar The Damamscene"...e, entre vários poemas sublimes, tem lá este que eu , enfim...amo.Porque simples e bonito.

The Face Of A Woman

I dwell in the face of a woman
who dwells in a wave
flung by the tide
to a shore that has lost it s harbor
in its shells.
I live in the face of a woman
who murders me,
who desires to be
a dead beacon
in my blood sailing
to the very end of madness.




Ana [10/02/2003 10:47:00 da manhã]

 

Pois foi.
O meu F.C.P. perdeu com o "salsa e merengue".Telenovela previsível.Mas ainda sonhei, o que não foi nada mau. Paciência. Lá teremos de esmagar os franceses...
E, como se sabe, até ao lavar dos cestos é vindima; pelo que os que começarem já a arrotar postas de pescada-os anti-fcp- podem ter a certeza que é pela boca que morre o peixe. É deixá-los poisar...

Entretanto, deixo aqui uma bom naco de prosa. Não é que venha a propósito, mas apetece-me.( E porque encontrei, num bolso da minha gabardina menos usada, um pequeno livro.)

« Se tivesse de recomeçar a vida, recomeçava-a com os mesmos erros e paixões. Não me arrependo, nunca me arrependi. Perdia outras tantas horas diante do que é eterno, embebido ainda neste sonho puído. Não me habituo:não posso ver uma árvore sem espanto, e acabo desconhecendo a vida e titubeando como comecei a vida. Ignoro tudo, acho tudo esplêndido , até as coisas vulgares: extraio ternura de uma pedra.Não sei - nem me importo- se creio na imortalidade da alma, mas no fundo do meu ser agradeço a Deus ter-me deixado assistir um momento a este espectáculo desabalado da vida. Isso me basta.Isso me enche: levo-o para a cova, para remoer durante séculos e séculos , até ao juízo final.
Nunca fui homem de acção e ainda bem para mim: tive mais horas perdidas...Fugi sempre dos fantasmas agitados, que me metem medo. Os homens que mais me interessam na existência foram outros: foram, por exemplo, D.João da Câmara, poeta e santo, Correia de Oliveira, um chapéu alto e nervos, nascido para cantar, Columbano e a sua arte exclusiva, e alguns desgraçados que mal sabiam exprimir-se. Conheci muitos ignorados e felizes.Meio doidos e atónitos. O Nápoles ainda hoje dorme sobre a mesma rima de jornais?...Outro andava roto e dava tudo aos pobres. O homem é tanto melhor quanto maior quinhão de sonho lhe couber em sorte. De dor também.

A que se reduz afinal a vida? A um momento de ternura e mais nada...(...)»

[ " Se Tivesse de Recomeçar a Vida"; Brandão, Raul;brevíssima portuguesa; 1995 ]

Ana [10/02/2003 09:52:00 da manhã]

[ quarta-feira, outubro 01, 2003 ]

 

Deixe-me descansar aqui:além do olhar.
Porque estou aqui? Porque fugi da morte?
Há sol na terra, e na sombra não há sol;
-Isso eu sei...e os raios do Sol são bons.
Acordo ou adormeço? Estou fatigada,
Fatigada... (...)
Como é frio o vento, como escurece a noite.
Ela envolve-me na sua escuridão.
É cada vez mais noite. Não vejo.
Limito-me a apalpá-la com as minhas mãos
Desgastadas. Doridas pela luta sem frutos.
Lutei com os destinos , mas fui desfeita.
Os destinos não perdoam nem aos atormentados,
Nem aos que rezam.

Amy Levy
" Um Poema Menor e Outro Verso"

Ana [10/01/2003 05:42:00 da tarde]