Tenho recebido muitos e-mails a propósito do que escrevi na segunda-feira. Uns -felizmente a maioria- simpáticos e solidários. De gente que entende e que não finge que não sabe ou não vê. Outros claramente a insultar-me. É a democracia.
No entanto, queria explicar o seguinte: obviamente que os casos que relatei são -pelo menos para já- a excepção e não a regra; ou seja: Não há movimentos organizados, que incluam milhares de pessoas; e quando digo que são diários, não quero dizer que aconteçam em todas as ruas e em todas as horas. O que se passa é que há, de facto, em Paris-que é a realidade que conheço- dois grupos de indivíduos que se divertem a fazer isso. Um dos grupos é composto por vários desocupados franceses, ultra-nacionalistas e racistas. Sim, um grupo de "skinheads". O outro é composto por rapazes e raparigas de origem árabe. São mais novitos e muito intolerantes. Mas não representam -de todo!- a comunidade árabe e muçulmana de Paris. São apenas parvos, ignorantes e sedentos; são violentos e mal-educados. Um grupo que bate nas raparigas muçulmanas que não usam o véu e que as insulta. Eu tenho o azar de utilizar as mesmas linhas de RER ( comboio regional ) e de Metro que eles. Por isso vejo mais actos anti-semitas.
Além disso,relativamente perto da zona sossegada e simpática onde eu vivo, há uma "cité" . Uma espécie de bairro social , degradado, e cheio de gente que se sente excluída ;porque se exclui. Ora , uma percentagem de jovens selvagens que lá vivem, diverte-se a chatear a zona calma onde eu vivo. Especialmente os judeus e há lá muitos.
Por isso sou testemunha de tantos casos concretos de anti-semitismo. Mas estes casos, preocupantes e gravíssimos, não são praticados por norma. Para já, são excepções. Mas é preciso estar atento e evitá-los. Daí as recomendações do rabinato de Paris.
Outra coisa: Quando eu expliquei que , naquela vez em que seguia de comboio com dois judeus que foram cuspidos e insultados, nem eu nem eles reagimos, foi apenas devido às circunstâncias. Eles eram uns 15 e nós três. Todos sabemos, porque ou passamos por isso, ou já vimos, que se reagirmos eles vão agredir-nos e acompanhar-nos até à nossa paragem de saída. E, fora do comboio, tudo pode acontecer. Claro que se pode chamar a polícia, ou alertar o condutor- accionando a paragem de emergência- mas isso não costuma adiantar muito. Primeiro porque a polícia demora a chegar ; depois porque até a ajuda chegar...muito pode acontecer também. Não há heróis, percebem?
Contei esses episódios apenas para exemplificar que- em pleno século XXI, mais de 50 anos depois do nazismo - ainda é preciso estar atento à violência contra os judeus. Claro que não a há só contra os judeus; mas era dessa que se falava, ou fala - porque o assunto é cada vez mais actual.
E agora que está tudo mais bem explicado ( espero eu ) vou pensar em alguma coisa mais agradável, como por exemplo, a grande vitória desta noite do FCP frente ao Partizan. Porque é dessas alegrias que também se faz a nossa vida. E nos permite sorrir e estar de bem com a vida. Bom...há muitas outras coisas, claro; mas agora não tenho tempo para falar nem de Amor, nem de sexo , nem de culinária e nem de tabaco! Ana [11/26/2003 10:29:00 da manhã]
[ segunda-feira, novembro 24, 2003 ]
Pois é. Eu tive a mesma reacção - de dúvida - que o Francisco José Viegas. Falo da "sugestão" do rabinato de Paris ,de desaconselhar o uso de Kippah na rua, em França.
Li essa notícia nos vários jornais franceses e li-a também no Rua da Judiaria . Mas tenho também a visão do Nuno sobre o assunto.
Contraditório? Nem por isso.
Eu vivo em Paris. Conheço bem o rabinato local. Mas mais importante que isso, muito, mas muito mais importante, é o facto de assistir -cada vez mais- a esses actos locais de anti-semitismo. Ainda a semana passada, no comboio, vinham dois senhores com o Kippah, a ler muito sossegados, e um grupo de marginais começou a insultá-los. Um deles cuspiu mesmo ao mais novo dos dois. Eles não abriram a boca. Nem eu.Não vale a pena, isto é diário. Em todos os comboios.Em qualquer lado.
Perante a indiferença dos restantes passageiros. Ficaram eles, e eu, com os olhos húmidos. Senti-me muito cobarde, mas acho que não sou. Nem eu nem aqueles meus dois irmãos judeus. Apenas realistas.
Mais casos:
- No dia em que o Liceu judaico foi incendiado ( no outro Sábado ) , aqui nos arredores de Paris , um conhecido meu foi agredido -também com insultos e cuspidelas- à saída de uma Sinagoga. Também é muito comum, quase diário. Aliás, há uma espécie de milicias, que se colocam nas imediações das várias Sinagogas locais, para insultar e cuspir ( às vezes batem , mas é mais cuspir e insultar ) quem de lá sai e quem para lá entra.
- No dia 17 deste mês, na capa de um pequeno jornal que é distribuído gratuitamente nos comboios, o " 20 Minutes" , estava uma Estrela de David. Porque o destaque era a reunião de Chirac com o rabinato local, devido ao incêndio do tal Liceu israelita. Vi uns anormais ( não tão novos como isso ) a incendiarem exemplares desse jornal. Vi-o em dois sítios diferentes.
- Em Setembro, durante Rosh Hashanah, escreveram na minha caixa do correio : « puta judia ». Nas caixas de correio de vários vizinhos meus, também. No ano passado tinham "só" desenhado uma caveira...
-Em Outubro, durante um debate em que participei , um debate sobre terrorismo, uma das organizadoras pediu-me para eu esconder a Estrela de David que tenho no meu colar. Uma Estrela de David que me acompanha desde sempre e que uso com a naturalidade de quem usa a própria pele.
Enfim, posso dar tantos exemplos, mas tantos...
Mas nada disto é novidade. É apenas a realidade.
Mas, claro, eu sei que muita gente pensa logo na "vitimização"[ odeio toda e qualquer pessoa que utiliza esse argumento vil contra os judeus, para "descansar" a sua "consciência", porque esse é o argumento de quem não quer ver; de quem olha para o outro lado ]. Eu sei que é mais confortável não levantar ondas. Talvez até mais sensato. Mas, que há perigo e ele é muito real, lá isso...
E será que essa intimidação não é legítima?
Se por uma lado a minha consciência me diz que nunca, mas nunca, posso deixar de usar a minha Estrela de David , por outro sei o que significa, por exemplo, apanhar a linha 13 do metro de Paris, com o Kippah.
É que volta todo o medo que a maioria das pessoas pensa que já só se vê nos filmes. O suor frio. A boca a saber a papeis velhos de tão seca que fica. Não sei explicar melhor. Não sei...
Não li o Jornal Público; nem vou ler. Por isso não sei se José Manuel Fernandes escreveu o mesmo que disse esta manhã na Ant.1. Falando sobre os atentados em Istambul, José Manuel Fernandes lembrou , relembrando ainda os de Sábado passado, que aquelas sinagogas não estão ( estavam) lá há meia dúzia de anos; nem sequer há cem...mas há pelo menos quinhentos. Exactamente.
Para os mais distraídos ( eu diria ignorantes, mas é porque acordei mais belicista do que o costume ), que não conhecem a saga dos judeus expulsos da Península Ibérica , a Turquia, e toda a região, pode parecer um destino improvável, mas não é, ou melhor, não era. Até porque nas alturas em que se perseguiram os Judeus , a solidariedade dos nossos irmãos Árabes e Muçulmanos foi fundamental. Bom, mas não pretendo dar uma aula de história. Onde quero chegar é a um livro.
José Manuel Fernandes , deu como exemplo para se perceber a ligação dos judeus a essa parte do mundo, um livro: " A Senhora" de Catherine Clément.
É um romance histórico fascinante. Passa-se no século XVI. A história de Gracia Nasi, jovem viúva de um banqueiro português, que encarna na perfeição a coragem, a perseverança e o sofrimento dos judeus (sefarditas) perseguidos pela inquisição.
Nesse romance, podemos ler como com a protecção do Imperador otomano Solimão ( O Magnífico ) , Nasi tentou estabelecer um território judeu -independente- na região. A primeira tentativa concreta entre os séculos IV e XVIII.
O "narrador" da saga, que vive em Istambul, o Duque de Naxos , é quem nos transporta pelos caminhos ricos que Catherine Clément traçou.
É , seguramente, um dos mais importantes romances históricos que já li.
E é por isso que falo dele, e que agradeço a lembrança a José Manuel Fernandes. E recomendo o livro, claro.
Ouvi esta manhã, na Ant. 1, o José Manuel Rosendo a explicar como está tudo calmo em Nassíria , no Iraque. Fico contente.
Mas fico ainda mais contente com o que ele relatou sobre o seu passeio , esta manhã. Disse que no fervilhar da vida do dia-a-dia, muitos iraquianos , que se cruzaram com ele, lhe falavam e lhe perguntavam : «é inglês? italiano?» E ele respondia :«Português!» E os rostos dos iraquianos abriam-lhe sorrisos e começavam a falar de Futebol.
Pois é. Acontece no Iraque, no Sudão, na China: em todo o lado. Dizendo que somos portugueses, somos sempre identificados por causa do futebol. Também me aconteceu no Iraque. Por isso fiquei tão contente.
Mas há mais: Nós somos de raça valente; demos novos mundos ao mundo; temos pensadores e escritores de excepção; comidinha boa e gostosa; vinhos melhores, etc.
Mas o mundo, essa" bola onde a gente todos vive" , o mundo conhece a malta por causa da "chincha". E continua a ser assim.Não há quaisquer dúvidas.
Achei por bem frisar isto, porque tenho de confessar que, entre kgs de medicamentos , algumas latas de "ração" e alguns livros traduzidos...levo sempre para esses sítios que as pessoas vêem na televisão, sítios mais longínquos , levo sempre, dizia ( ou escrevia), camisolas do F.C.P. e da Selecção Nacional, para oferecer à miudagem. É uma maneira como outra qualquer de afirmar, de modo coxo, é certo : Daqui Houve Nome Portugal.
O resto deixo-o para a diplomacia.
[ Estive muito tentada a escrever sobre o que se passou esta manhã na Turquia. Pegando nisso e lembrando o que foi feito no Sábado. Mas é melhor não. Já não há palavras. Nem pachorra para ouvir as desculpabilizações do costume que surgem sempre em resposta. ] Ana [11/20/2003 01:36:00 da tarde]
Pois. Anda uma cidadã cheia de preocupações, dúvidas e decisões difíceis para tomar e -qual luz ao fundo do túnel- ouve os discos pedidos na Rádio Alfa.
E tudo parece mais fácil !
«E agora vamos acolher mais uma ouvinte. Com quem falo?»
« Sónia , ( diz Soniá , à francesa ) de Paris 13»
«Bem vinda , Sónia, agora tem de dizer a frase...»
« Os preços bons...»
«Não! As melhores marcas de Portugal, aos melhores preços...»
«Pois, é isso.»
«Não; tem de repetir comigo. As melhores marcas de Portugal , aos melhores preços...»
«Pois, é essa a frase. Queria então dedicar...»
«Não!! Tem de dizer a frase! »
«Mas o senhor já disse! eu queria era dedicar a música...»
«Isto tem regras ( já enervado ) , é o ouvinte que diz a frase, não eu ( risinho nervoso ) ....»
« Os preços bons...»
«Não! Não! Não! Repita comigo, Sónia: as melhores marcas de Portugal...»
«E então eu dedico a música à minha...»
«Não! Já lhe disse que tem de dizer a frase!!! »
«Mas eu não sei a frase! Eu só quero dedicar a música à minha amiga...
«Mas tem de dizer a frase! é a regra dos discos pedidos; se não sabe, repita comigo: as melhores marcas de Portugal, aos melhores preços, só nos estabelecimentos Mariano!»
«Exacto. Portanto , dedico a música à minha amiga Sandrá ( à francesa ) ....
«NÃO!!!! TEM DE DIZER A FRASE!»
«Mas o senhor já disse a frase!»
«MAS É VOCÊ QUE TEM DE DIZER A FRASE!»
« ( Também já a elevar a voz ) MAS EU NÃO SEI O RAIO DA FRASE!»
«MAS EU ESTOU-LHE A DIZER PARA REPETIR A FRASE COMIGO ( pausa) Repita comigo, por favor: as melhores marcas de Portugal ....
«É no Mariano, pronto.»
«NÃO É NADA NO MARIANO, TEM DE DIZER A FRASE TODA!!!!»
«O SENHOR É QUE DISSE QUE ERA NO MARIANO, NÃO FUI EU, EU SÓ REPETI!»
« A SANDRA TEM DE DIZER A FRASE TODA, PERCEBE?»
«OLHE, EU NÃO ME CHAMO SANDRA, A SANDRA É A MINHA AMIGA, EU SOU A SÓNIA ( já à portuguesa )»
«Sónia, Sónia, estamos a perder tempo , repita a frase, por favor...»
« O senhor não me deixa dedicar a música! »
«( suspiro ) Quer dedicar a música primeiro e dizer a frase depois?»
«Eu acho que é melhor, se o senhor deixar....»
«Deixo, faça a dedicatória então .»
« Donc, é para dedicar a música dos Anjos, à minha amiga Sandra,e aos meus pais e irmãos, e à madame Souto , marido e filhos, e a vocês todos do Rádio Alfa!»
«Muito obrigado, pela parte que me toca, e agora DIGA-ME A FRASE, FAZ FAVOR!»
«Isso da frase...eu não sei a frase !»
«REPITA A FRASE COMIGO, RE-PI-TA, PERCEBEU? EU DIGO E VOCÊ RE-PE-TE! AS MELHORES MARCAS DE ...»
« Eu posso chamar a minha mãe e ela diz a frase por mim? ela já está mais habituada!»
«Bom, isso é capaz de ser melhor, apesar de não ser costume...pode ser, mas rápido que estamos a perder tempo e há outros ouvintes à espera!»
« (barulho da Sónia a chamar a mãe) »
« ( Mãe da Sónia) Boa noite, sr.Carlos Manuel ! »
« Muito boa noite, pode dizer-me a frase dos discos pedidos?»
«E posso dedicar também uma música? »
«( suspiro ; falando desalentado) Pode, mas diga-me a frase primeiro , se faz favor.»
«Ah...eu não sei a frase de cor...»
«EU DIGO E VOCÊ REPETE, SIM?»
«Sim, ora diga lá então .»
«As melhores marcas de Portugal, aos melhores preços...»
«É nos Mariano! ( com tom de orgulho) »
«Não! Tem de dizer a frase toda!!!! A FRASE TODA! »
«Calma, sr. Carlos Manuel. Não é preciso berrar! »
«EU NÃO ( pausa) Eu não estou a berrar, só quero que me diga a frase!»
« ( Mãe com voz de ofendida) O Rádio Alfa já não é o que era! antes a gente telefonava praí e... pi pi pi pi ( som de ligação interrompida ) »
«Bom , parece que a ligação caiu. Vamos então ouvir os Anjos, com a canção "Só para Ti" ...»
[ Toca a música dos Anjos , momento que eu aproveitei para limpar as lágrimas que me corriam .]
«E vamos agora atender mais um ouvinte. Está lá? »
«Boa noite, sr.Carlos Manuel.»
«Boa noite, com quem falo?»
«Com Alexandrina Dias, de Paris 15, como já lhe tinha dito...»
«Pois. E que música é que quer ouvir ?»
«Eu queria ouvir as 24 rosas, mas como me disse que não tinha o disco a jeito, vamos então ouvir a Maria da Fé...não é?»
«É ( suspirado) , vamos ouvir um fado da Maria da Fé. Isto hoje não está a correr muito bem ( voz embargada). Srª Alexandrina , será que me pode dizer a frase?»
«Posso, olhe...ó sr. Carlos Manuel ...(e com a voz muito meiguinha ) se quiser até posso dizer a frase duas vezes...por causa daquelas senhoras que não a disseram! »
Eu, aqui, deixei de ouvir ; e, pondo em risco a minha integridade física, atirei-me para o chão a rir!.
Coitado do sr.Carlos Manuel! Olha, caro patrício, não sei se me estás a ler, mas se estiveres...deixa-me dizer-te que, se quiseres, se quiseres sofrer menos...vais tu para o Iraque, e eu fico-te a fazer os discos pedidos uns dias. Porque é nestas alturas que me sinto mais solidária!
Além disso , e em tendo comigo morfina, sou muito resistente à dor!
Estive a ouvir esta manhã, na Ant 1, a emissão especial que fizeram desde a Galiza. Porque faz hoje um ano que o « Prestige» deu cabo de tudo.
Eu adoro a Galiza e adoro os galegos. Aliás, quando –menina e moça – ia lá de férias , desde a minha casa de férias em Moledo do Minho, sentia que a Galiza era tipo Viana do Castelo, Ponte de Lima ou Caminha, ou seja, mais uma cidade portuguesa e bonita ali ao pé.
E é.
Tive lá um amor. Namoradito , platónico, claro, que se chamava ( e ainda chama) Curro. Tinhamos ambos uns sete anitos.
Eu chegava a Moledo , ficava feliz durante a primeira semana, mas depois queria ir à Galiza. A S. Xenxo.
Primeiro porque veria o Curro; depois porque podia comer o que mais gosto: mexilhões!!!
Não vos passa pela cabeça como eu gosto de mexilhões. Especialmente os da Galiza, claro. Mexilhões, cozidos só com sal e água do rio ; e um prato , bem cheio, de pimentos de Padrón a acompanhar. Mais nada.
Era ( e aposto que ainda sou ) capaz de me alimentar só com isso durante meses! Só de pensar a minha boca enche-se de água...
O Curro é neto de pescadores. De manhã, bem cedo, eu descia à praia ( num vilarejo perto de S.Xenxo ) e lá estava o Curro a brincar com conchas e pedaços de rede que os barcos do avô dele, e dos companheiros, deixavam para trás. E lá ia eu ter com ele, a dar-lhe a mão e a pedir-lhe que me guiasse pelas rochas, à procura de lapas que depois comeríamos cruas. A mãe do Curro trabalhava na fábrica de pescado. Chamava-se assim.
Em casa dele havia sempre muito peixe e muito marisco. Eu, às vezes, comia com ele. A minha mãe, que adora aquela família, deixava-me ficar com ele a almoçar. Uns comiam peixe frito, outros pulpo...eu queria sempre a mesma coisa : mexilhões!
Traziam-me sempre uma grande panelona a fumegar, cheia de mexilhões gordos, suculentos e saborosos. Dizem que , uma das vezes, cheguei a comer -sozinha- uns cinco quilos deles. Não me admira porque, ainda há pouco tempo, numa daquelas tardes em que tudo parece mau e triste, dei comigo a comprar duas caixas de mexilhão , cada uma com três quilos, e, quando cheguei a casa, cozinhei logo uma. E duas horas depois a outra. [ descansem, o mexilhão não engorda. ] Mas o sabor não é o mesmo. Nunca é o mesmo. Só lá.
Não há mexilhões como os da Galiza. Não há, pronto.
E depois veio o «Prestige» e fodeu tudo.
Estava aqui a fumar um cigarro-dos bons, ou seja português suave e dei com esta notícia no " Diário Digital":
«Químico derivado da nicotina pode atenuar perdas de memória
Investigadores norte-americanos descobriram que um químico que provém do tabaco pode ser usado para combater as perdas de memória e doenças cerebrais. A substância, denominada cotinina (derivado da oxidação da nicotina), não causa dependência e ficou comprovado, através de testes clínicos, que impede a degeneração cerebral. O estudo foi apresentado na terça-feira no encontro anual da Sociedade de Neurociência em Nova Orleans.
De acordo com estes investigadores, a ingestão de cotinina também não causa os efeitos secundários da nicotina, tais como a vasoconstrição, dores de estômago e náuseas.
Os investigadores, liderados por Jerry Buccafusco, descobriram que a cotinina pode ser utilizada para tratar a doença de Alzheimer e Parkinson bem como os sintomas da esquizofrenia.
Segundo Buccafusco, na apresentação do estudo, conseguiu-se demonstrar que a cotinina, administrada em doses correctas, pode travar a degeneração das células cerebrais.
«No caso da doença de Alzheimer, a cotinina funciona da mesma forma que a nicotina, melhorando a atenção e memória do doente e travando, ao mesmo tempo, a sua progressão. Porém, tem a vantagem acrescida de poder ser usada por tempos prolongado sem causar efeitos secundários e sem risco de uma sobredosagem.
Até agora, a cotinina era usada para medir os níveis de nicotina na urina do fumador.
A substância já foi testada em macacos com sucesso. Foi-lhes avaliada a sua capacidade de memória através de um jogo de computador. »
E digo para mim: « Pronto, está tudo muito certo! Esta coisa dos macacos é que era escusada...»
Eu desejo toda a sorte do mundo aos nossos homens e mulheres , da GNR, que partem esta noite para o Kuwait. E amanhã para Nassiriyah; cidade iraquiana onde hoje um, ou dois, assassinos ( ainda não se sabe bem), fez explodir um ( ou dois) carro junto à base dos carabineiros italianos. Lá vão ficar os nossos 128 bravos.
Tal como escreveu hoje João Pereira Coutinho ( não faço link porque :vocês clicam, ficam lá a lê-lo; uns a dizer que sim, outros que não... e depois já não me lêem até ao fim ;).) , os atentados terroristas e cobardes que -diariamente- são perpetrados no Iraque, são sinal de desespero. E são sinal de que as coisas estão a avançar ; que a coligação está a desempenhar bem, ou menos mal se quiserem, o seu trabalho. Ou seja: está a mostrar ao mundo o tipo de gente que pretende voltar a comandar os destinos do país: Assassinos e mercenários. Terroristas.
Eu vou voltar,em breve, para lá. Vou onde está a notícia. Nos últimos dias tenho conversado muito com o senhor Y., o senhor que me deu guarida das outras vezes que lá fui. E que vai voltar a dar, porque eu não aprecio ficar em hoteis, nem ser chateada com propaganda e contra-propaganda. Gosto pouco que me levem ao colo.
De modo que o senhor Y., um dos mais felizes iraquianos que eu conheço desde que começou a ser livre ( coisa recente, menos de 6 meses ) , diz-me o seguinte: « Que Alá ajude os soldados internacionais. Se nos falharem agora, somos nós -sozinhos- que temos de nos proteger contra estes terroristas. Eles matam-nos! Já matavam antes e querem continuar a matar. Que Alá proteja os soldados. »
Isto a mim basta-me. ( Mas há tantas coisas mais. )
Que Alá, que D-us, proteja os soldados no terreno. Os nossos incluídos, claro.
Aos soldados italianos, e os iraquianos, mortos esta manhã , em mais um atentado cobarde e criminoso, ( e a todos os outros ) levado a cabo por terroristas; digo obrigada. Muito obrigada. Cumpriram a sua missão . Sem cobardia.
E aos que defendem que o terrorismo só agora começou ( como também explica, e bem, J.P.C.) , com a chegada das tropas aliadas, pergunto se já viram uma vala comum; se não viram, e quiserem ver ( não truncadas a là Mao ou Estaline ) , eu posso enviar cópias das fotografias. E vários depoimentos .
E para quem for tipo S.Tomé, informo que a companhia aérea da Jordânia está a fazer voos promocionais a muito bom preço; e que , depois, a viagem para o Iraque é barata também. Também dá , e é o meu caso, para ir desde o Kuwait. Mas os vistos lá estão atrasados ; isto por causa dos nossos GNRs , que só ontem garantiram todos os vistos, precisamente aqui em Paris. E se não acreditam em mim...perguntem ao Carneiro Jacinto!
«. "And now you know [life]'s not like that. Right? It's more like smoking a cigarette. The first few puffs it tastes wonderful, and you don't even think of its ever being used up. Then you begin taking it for granted. Suddenly you realize it's nearly burned down to the end. And then's when you're conscious of the bitter taste.»
Já não me acontecia há muito tempo, mas hoje, neste momento, apetecia-me ser aluna universitária. [ Eu já fiz a escolinha toda, até ao fim, com direito a doutoramento e tudo. Ah pois! ;) ]
E apetecia-me estar, concretamente, em Coimbra. E apetecia-me ser aluna de Direito, mas apenas para poder assistir às aulas de Constitucional do Professor João Loureiro. Não sabeis quem é?
É um dos Professores universitários , lúcidos, que o nosso país tem. Porque , apesar dos meninos mimalhos manterem a Universidade de Coimbra fechada a cadeado, o Professor João Loureiro está a dar a sua aula...na rua. Ou melhor, no passeio. E eu adoraria estar lá a ouvi-lo e a tirar apontamentos. Juntava-me aos dez alunos -provavelmente os únicos lúcidos- que o estão a ouvir e a tirar apontamentos. Na Rua.
Só que nem sempre me apetece ficar calada. Porque quem cala consente.
Imagino que o barrete que vou referir, poderia ser enfiado em mais cabeças; mas eu só comento opiniões de pessoas que, de alguma forma, me merecem crédito. Desculpem lá a frontalidade mas é assim mesmo.
De maneira que , esta manhã, pela fresca, ao fazer a minha ronda dos blogs que eu gosto de ler sempre que posso, fui ter ao blog de Paulo Gorjão. Gosto de o ler.
Mas, comentando aquela sondagem encomendada pela Comissão Europeia , em que os inquiridos consideram Israel a " maior ameaça à Paz mundial", Paulo Gorjão , não concordando com a ideia de "maior ameaça" considera, no entanto ,e cito:«Israel nao sera' uma ameaca 'a paz mundial, mas e' certamente um factor de instabilidade internacional».
Sim senhor. [ ver, no Bloguítica os posts 811 e 812 ]
Ora, eu pergunto a Paulo Gorjão - e a outros que pensam como ele - se o melhor, então, não é acabar de vez com o Estado de Israel? Podia fazer-se assim uma espécie de peditório mundial ( o Zyklon B está pela hora da morte ) , que seria depositado nas contas dessas humanitárias organizações pacifistas, como o Hamas, por exemplo . Depois, os mais preocupados com esse factor de instabilidade- que é Israel- alistavam-se nas fileiras desses movimentos e ajudavam a explodir autocarros e cafés, a ver se o problema acabava mais depressa. Tudo por questões humanitárias, claro.
Ok. Ok. Outro exemplo:
Para que o mundo ficasse mais seguro , i.e., para que se acabasse com esse terrível factor de instabilidade -que é Israel, recorde-se - faziam-se passeatas e vigílias, exigindo aos israelitas que -quais cristãos novos- dessem a outra face. Se fosse preciso fazia-se isso por decreto.
De maneira que por cada atentado bombista, cada israelita que sobrevivesse, tivesse de ir ter com a mãe, ou o pai, do homem/mulher bomba, e lhe oferecesse o resto da sua família, para que pudesse ser estraçalhada também.
Seria perfeito. Se Israel não retaliasse , deixaria de ser esse perigo mundial, que é agora, e todos poderiam viver felizes para sempre!
Agora ainda mais a sério: Eu não nego os exageros e a violência feroz do governo Sharon. E não nego porque , não só não sou cega, surda e muda, como já os vi. Com estes.
Levantei o meu cu da cadeira e fui lá. Não faço análises por satélite.Nem por interpostas pessoas.
Mas fico realmente doente, quando se invertem as coisas. Deliberadamente.
O que está em causa não é o povo da Palestina. Esses , juntos com os israelitas , são as vítimas.
O que está em causa são as acções terroristas; feitas por terroristas. Para provocar terror.
Terroristas esses que usam e abusam do povo palestiniano, que o usam como escudo humano, para , depois, quando as tropas israelitas os tentarem apanhar, matarem o maior número de civis. Esses terroristas não se escondem em bunkers nas montanhas. Metem-se nas casas do povo. Para fazer mais "mártires".
E a violência é uma bola de neve. Tu matas-me o pai, eu mato o teu irmão. Chama-se Sobrevivência.
E agora, o Paulo, ou outra pessoa qualquer, pergunta: « sim, sim, mas isso funciona para os dois lados.» E eu respondo: Pois funciona, mas o problema é que matar, ou tentar matar, um terrorista é um acto cirúrgico. Já fazer explodir autocarros, cafés e sinagogas não é. É Terrorismo.
O nosso mundo é uma merda. Nós , humanidade, somos uma merda. Mas a merda tem hierarquias e prioridades.
A prioridade de qualquer ser humano é viver. E fazer viver os seus. Ora a prioridade de um terrorista é matar. E fazer morrer os seus e os outros, ou seja todos os que se atravessarem no seu caminho.
Se o meu amigo for assaltado, coloca lá na sua casinha: alarmes, muros e compra um cão.
Se o meu amigo vivesse em Israel faria o mesmo.
Só que , em Israel, os alarmes e os cães não resolvem nada. Percebe?
E se alguém disser que o meu amigo , por se proteger, é uma ameaça mundial...o meu amigo ficava doente não?
Ou, para maquilhar a coisa, dissesse que é « certamente um factor de instabilidade internacional» era igual, ou não era?
Agora, numa coisa concordo consigo e, por isso, volto a citá-lo : «O pior cego e' aquele que nao quer ver ».
Isso é que eu gosto de "literatura infantil". [ coloco aspas porque acho esta classificação um bocado palerma ]
Quando era miúda ( no século passado ) , pelava-me pelas histórias de Monteiro Lobato. Foi ele quem me aguçou o apetite por Cervantes e pelos Gregos, por exemplo. E, depois, por causa do " Sítio do Picapau Amarelo". Que saudades!
Mas, foi inevitável, o meu gosto pela literatura infantil consumou-se com os franceses; e mais tarde com os anglo-saxónicos.
É que a literatura infantil começou -assim mais à séria- com Charles Perrault. No século XVII. Não sabeis quem é? Pfff
Então não se lembram do "Gato das Botas" ou da " Gata Borralheira" ?
Gosto tanto dele, i.e., das histórias maravilhosas dele, como dos manos Grimm ; ou de Andersen. Eu tinha-as em livro ( comecei o meu francês com essas histórias ) , na língua original e depois em português. E até tinha em discos, vinil, mas em português do Brasil.
O Fénelon, do mesmo século, também era( é) muito bom! Como é que uma criança com 3 ou 4 anitos, podia entender as maravilhosas aventuras de Télemaco ( o filho de Ulisses) se não fosse ele? Muito viajei eu...
E o La Fontaine? Papei as fábulas todas e lambi os dedos. Ainda hoje...
Já nas mulheres , foi outro fartote:
Mme. D'Aulnoy , condessa , deu-me, por exemplo: " O Delfim" e " A Ave Azul". Lindo...
Mme. Leprince de Beaumont apresentou-me " O Príncipe Encantado" e " A Bela e Monstro" ( o original), e " O Manual da Juventude". Ainda as leio.
Havia outro francês, discípulo de Rosseau, que até muitos consideram o fundador da dita literatura infantil , que , entre outras coisas belas, escreveu a maravilhosa colecção de contos :" Literaturas Escolhidas". Falo de Berquin.
Mais tarde, e depois de ter descoberto as maravilhosas histórias de Dumas, conheci Saint-Éxupéry ...e apaixonei-me pelo "O Principezinho"
Claro que, em inglês, os meus primeiros amores foram as " Viagens de Gulliver" de Jonathan Swift e o " Robinson Crusoe" de Daniel Defoe. E Dickens, claro, com o " David Copperfield". Ai...e aquele escocês , Mattew J.Barrie que me encantou com o " Peter Pan" ? Já da "Alice no País das Maravilhas" , de Lewis Carrol...não gostei tanto. Mas devorei, na altura.
Mas, confesso, o primeiro que me fez chorar foi Mark Twain. " Tom Sawyer"...só de me lembrar fico com uma lágrima no canto do olho. Não porque era demasiado triste, mas porque eu queria tanto ajudá-lo que , lembro-me bem, até cheguei a roubar doces e bolachas da dispensa lá de casa, para lhe dar. Foi aí que descobri que queria mudar o mundo.
Felizmente, depois, passou-me.
Também me fartei de chorar com " O Último dos Moicanos " de Fenimore Cooper. Que depois me fez querer ser pirata com o " O Corsário Vermelho".
Claro que , depois, a minha paixão passou a ser " Kim". Sim, de Rudyard Kipling. E até , graças também ao" Jungle Book", deixei de querer ser pirata , para querer ser uma voadora. Mais do que ser a Sininho, eu queria era voar , de liana, em liana, pelas selvas.
Todos esses livros me fizeram acordar para a vida. Já para adormecer, o escolhido foi Andersen. A minha mãe leu-me tudo desse dinamarquês genial. Enterneci-me com " O Patinho Feio"; "Os Sapatinhos Vermelhos"; " A Pequena Vendedora de Fósforos"; " O Soldadinho de Chumbo", etc. Isso sim, tudo isso é magia.
Assim como o " Pinocchio" de Collodi. E o " Feiticeiro de Oz" de Frank Baum. ( Mas odiei o filme, aliás, nunca um filme me provocou tantos pesadelos.)
Ah...e o " Polichinelo" de Octave Feuillet ; essa e muitas outras histórias dele! Magníficas; todas.
Depois os russos: Tchékhov com os contos russos; Puschin , e o terno" O Pescador e o Peixinho". Mais Ivan Krylov.
Enfim. Foi disto tudo que a minha infância foi feita. Disto e, em português, de Sophia. Só.
Pode ser triste, mas é verdade. Aliás, confesso que conheço mal a literatura infantil Portuguesa. Para mim só há Sophia.
E mais um ou outro conto tradicional português, de cuja autoria a minha memória não guardou o rasto. Se calhar porque não há autor certo; não sei.
Não digo que não haja histórias maravilhosas; deve haver. Eu é que não conheço. Defeito meu.
Bom, lembrei-me disto, de falar sobre estes livros ( meus!), porque encontrei no outro dia, a pesquisar na internet, uma espécie de resumo sobre a literatura infantil. Li o texto e fiquei parva! Não só porque o senhor que a escreveu seguiu a ordem que eu teria seguido, se fosse eu a escrevê-la ; mas também porque me fez perceber quão rica foi a minha infância. Quão completa a esse nível.
E prova-me , mais uma vez, que sem bases, de facto, nada se faz. Bem.
E pronto. Resta só dizer que não mencionei ( e sei que muitos estavam a perguntar por ela ) a Condessa de Ségur, porque os contos dela, apesar de excelentes, me fazem dores de barriga. Isto porque me lembro de uma -excuse me my french- caganeira diabólica, que apanhei com uns 5 anitos, ao acompanhar a leitura dessas histórias com dois quilos de caramelos , escondida no sótão da minha avó . Sim, aconteceu uma tragédia ( os intestinos de uma criança são muito pouco educados ) e -qual cão de Pavlov- ao mencionar sequer a talentosa senhora...tenho de rumar ao "palácio das necessidades"!...