Crónicas Matinais

[ quinta-feira, fevereiro 26, 2004 ]

 

ex digito gigas / extra causam




E , meus amores, não se esqueçam: finis coronat opus


P.S.Eta,diabinhos inteligentes!

Ana [2/26/2004 09:56:00 da manhã]

[ quarta-feira, fevereiro 25, 2004 ]

 

Já é costume. Por isso não me admira por aí além que alguém, em pleno séc.XXI, afirme que o Holocausto é uma invenção.
Assusta-me; assusta-me sempre, mas não me causa admiração. Foi o que fez -obrigada Francisco pela chamada de atenção e pelo link - o pai de Mel Gibson.
Mas as posições do senhor Hutton Gibson não são novas. Ele sempre as defendeu e o facto sempre foi conhecido.
Claro que, desta vez, foram buscar o senhor por causa da iminente estreia do filme do filho; a tal « Paixão de Cristo».
Hutton Gibson é, de facto, um anti-semita primário. É-o desde sempre. É também um católico ultra-conservador. O filho Mel é um católico conservador também -não reconhece, por exemplo, o concílio Vaticano segundo, onde os judeus foram ilibados de culpas pela morte de Jesus Cristo que era, recorde-se, um judeu. Mas se o pai expressa em palavras esse seu ódio doentio aos judeus, o filho não o faz. Só que, como o mesmo confessa, a temática da morte de Jesus Cristo obceca-o; tanto que desde há 12 anos pretende fazer este filme e, mesmo não tendo o apoio da indústria cinematográfica , fê-lo com o seu próprio dinheiro -25 milhões de dólares- , recorrendo a uma produtora e destribuidora independentes. Então se não o expressa por palavras, nada mais eficaz do que fazê-lo por imagens. Surge então este filme.
Já se sabe que o objectivo da família Gibson é mostrar a culpa dos judeus na morte do "messias" católico-cristão e isentar de culpas os romanos, especialmente Pôncio Pilatos , que o Gibson filho apresenta como um fracalhote sem personalidade , influênciado pelos rabinos judeus; um cobardolas que se limita a executar ordens dos semitas.
Até aqui , eu, como devoradora de cinema, só posso afirmar: « ok, cá está um filme idiota,embora perigoso,mas lá está, é apenas ficção; não se baseia, como a maior parte dos filmes , em factos reais.»
Mas não. Este filmezeco é apresentado como a verdadeira história. Como se, passado tantos e tantos anos, um novo "messias" , munido de câmaras e efeitos especiais, viesse trazer a luz da verdade ao mundo.
É um filme perigoso, reaccionário e anti-semita. É.
Mas o que me chateia é que, ao falarmos tanto da ficção dos Gibson , estámos a contribuir para o seu sucesso. Para que mais pessoas o vejam. Só que , de facto, deixar passar em claro uma mentira tão atroz , um branqueamento tão grande da verdade e da história , não pode ser.
Nem toda a gente é parva, é certo, mas há uma imensa parte que o é. Se já é dificil , nos dias de hoje, acabar com os preconceitos de antanho em relação aos judeus, não ajuda nada deitar mais achas para a já imensa fogueira anti-semita que grassa por este mundo fora.
É por estas e por outras que sinto ódio por todos os ultras. Sejam de que religiões forem.
É que esta questão não é entre católicos e judeus: é entre doentes mentais e gente sã.
E mais não digo porque, ao contrário do Nuno Guerreiro e do Francisco José Viegas, tendo a peder a calma, e a educação, com qualquer filho da puta anti-semita.E já falei de mais.

Ana [2/25/2004 11:18:00 da manhã]

[ terça-feira, fevereiro 24, 2004 ]

 

Técnicas de Sedução

Foi há pouco, há poucochinho. No bar cá da chafarica.
Ela toda recatada , sentadinha com as mãos no colo, olhar ausente...À frente dela uma chávena de café.
Ele ,sorriso jucundo, a entrar em palco abrasado por um sentimento daqueles mais fortes. [ Eu pensei comigo: é tudo tesão; o gajo anda à caça. Andava.]
Galhardamente fala a toda a gente;ele. Ela olha para ele e cora. [ E eu cá comigo: olha, esta quer ser caçada.Queria.]
O rapazola pede a bicazita e algo para mastigar , abanca na mesa ao lado da dela. E eu , com as minhas duas colegas, a topá-los.
O moço diz uma graçola –dirigida a todo o estabelecimento- e ela também se ri. Qualquer coisa em relação ao frio. [ E eu a pensar: pois, pois, e quem diz frios diz calores...]
Ele enrola mais umas patacoadas e voltam todos a mostrar os dentinhos. Ai que risota!
E eu a topar a rapariga que não só mostrava os dentinhos, mas também deixava a posição recatada e mostrava as coxas , cruzando as pernas espremidas dentro de uma saia justíssima e curta.
O malandrote também a topou. Atira mais qualquer coisa com chiste ( onde eu estava ouvia mal ) , mais gargalhadas entrepitosas da assistência e ele a mirar a presa; a ver se ela se dava também ao riso. Dava. Então não dava!
Ele, já com qualquer coisa a sarandilhar-lhe dentro da boca ( acho que era um pedaço de tarte; blaghhh falar com a boca cheia! ) diz mais qualquer coisa pretensamente espirituosa e hilariante e encara-a . Ela , coitadita, estava-se a rir , mas ao vê-lo a olhar só para ela...engasga-se !
E então foi vê-la muito aflita, praticamente a espumar-se , com a cara arroxada, a tossir , a tentar esconder o rosto mas ao mesmo tempo aflitíssima e preocupada em continuar a respirar.
Nisto o herói vai-se a ela , bate-lhe ns costas –com alguma violência pareceu-me- e a moça debulha-se em tosses e líquidos; é que isto aconteceu enquanto ela dava um golinho no café...
Ele , com a boca ainda cheia, e quiçá movido pela mais pura solidariedade, também começa a tossir.
É do frio! –dizem uns que a tudo assistem . O gajo estava a conter o riso e não aguentou mais , penso eu , pérfida como sempre...
Ela, entretanto, está quase recomposta e aflige-se por ele. De facto ele já não tossia: ele estava completamente desesperado! Lá aquela coisa que ele estava a comer deve-lhe ter ficado encalhada na garganta e o rapaz lutava ali – bravamente- pela vida. Desata ela então a dar-lhe palmadas nas costas e nisto...resulta! Ele começa a respirar –ainda a custo é certo, mas a respirar...mas não sem antes lhe ter vomitado os restos do lanche em cima. Da rapariga salvadora, pois então!
E assim, o que poderia ser uma belíssima história de amor ... cheira-me que nunca o virá a ser.
É que ambos deram corda aos sapatinhos, rostos mortificados, e ala que se faz tarde! E cada um para seu lado, claro.
Terminada a cena grotesca, disfarçámos as três o riso , e tentamos conversar como se nada se tivesse passado. Mas foi impossível.
Diz a minha colega Carol : « Ah...ela cuspiu o café para cima dele, não foi?»
«Foi.» Respondemos.
« E depois ele vomitou em cima dela...» Resumiu a Natacha.
«Pois foi.» Concordámos.
«O amor é uma coisa tão bonita!» Digo eu. «E repartir, repartir, assim, os fluído, também é muito bonito.» Acrescento.
«É, é.» Dizem elas.
Levantámo-nos .
«Se fosse comigo...acho que me enfiava em casa durante um ano.» Diz a Carol , já a segurar a porta do bar.
«Eu matava-me!» Diz a Natacha.
«Pois eu mandava-lhe a conta da lavandaria!» Digo eu fechando a porta atrás de mim...

Ana [2/24/2004 05:05:00 da tarde]

 

Oh,não! A Rita também ! :(

Ana [2/24/2004 01:15:00 da tarde]

 

Pois é, Nuno, o nosso Purim é carnavalesco. Eu diria mesmo que foi aí que começou tudo.Enfim...
Divirtam-se todos muito ,que eu, confesso, não gosto de carnavais e , ainda por cima, sou abstémia! :) Não bebo.

Mas sou muito amiga de rir.
Ainda ontem, entre uma entrevista a um prémio Nobel e uma sanduiche de pepino, me fartei de rir. Estava na cantina cá da chafarica, a ler umas patetices num jornal cá do burgo; um texto cheio de acusações gratuitas e facilmente rebatíveis por quem anda de olhos abertos ( era sobre o muro ...), quando ao meu lado se alaparam dois coleguinhas. Um deles patrício.
-Que tás a ler? -pergunta-me ele.
Ora, só este "tás" deu-me logo ali a volta à barriga ; custa alguma coisa utilizar os verbos como deve ser ?
-O jornal... -respondo eu.
-Isso tou eu a ver, mas que notícia?
( E ele a dar-lhe com o tou! )
-Não estou a ler notícia nenhuma; este jornal não escreve notícias, só opiniões...
-Lá estás tu a cascar no "Liberation"...
-Não é cascar. Digo a verdade.
-Aposto que estão a dizer mal de Israel ( riso trocista)...
-(silêncio)
-Ana..diz lá o que é que eles dizem.
-Pega no jornal e já ficas a saber.
-Mau feitio...
-Deixa-me ler em paz. Pira-te.
-Não precisas de ficar assim; diz lá...
-Lá...
-Tu não sabes conversar!
-Quem disse que quero conversar? Estou a ler. São duas acções incompatíveis.
-(suspiro) Ana...eu, eu queria ...
-Querias o quê? Diz rápido que quero continuar a ler, já te disse.
-Por causa de Sexta-feira.
-O que é que há Sexta-feira?
-Eu entro de madrugada e não me dá jeito nenhum...
-E queres fazer o quê? trocar de turno?
-Sim...achas que dá ?
-Sei lá! Tens de perguntar a quem trabalha contigo.
-Eu sei mas, tu tens de autorizar...
-Pois é.
-E então?
-Então o quê?
-Bolas, Ana, se alguém trocar comigo autorizas?
-Depende...
-Depende? depende de quê?
-De me deixares continuar a ler...
-A ler? Tipo ...agora?
-Tipo agora.Exactamente.
-Eu deixo! Eu deixo!
-Olha lá ..e foi por isso que vieste ter comigo?
-Er...foi mais ou menos...
-Hum...ok...e, olha lá, é mesmo muito importante trocares de turno?
-É! Uma amiga minha faz anos e eu, bem, sabes como é ( sorriso matreiro)...
-Sei; sei como é. Mas, não é que isso condicione seja o que for, mas não me voltes a mandar a piadinha do Israel , ok?
-Claro. Eu estava a brincar ! Eu até acho que eles fazem muito bem , tu sabes o que eu penso...
-Pois...
-Eu até admiro muito os judeus , tu sabes!...
-Não me estás a deixar ler...
-Oh, desculpa, é que queria que soubesses que estava a brincar , eu, eu admiro muito os...
-Carlos...se não me deixas em paz , agora, não há trocas nem baldrocas...
-Sim, oh...já vou, desculpa, até logo...
- Adeusinho...
-Depois mando-te o papel para assinares, ok? obrigado!...
-Começo a achar que não vale a pena...
-Já vou! Já vou!...Té logo
-Espera. Há mais uma condição -inegociável : utilizas o verbo estar e não dizes tou ; e dizes até logo e não té logo...boa?
-Oh...chiça, tu és...
-Sou o quê?
-Nada, não é isso...
-Sou...nada???
-Não! És uma chefe porreira e eu vou-me embora agorinha mesmo , está bem?
-( sorrindo ) Muito bem!
-Er...mas és um bocadinho déspota e chantagista! ( fugindo em passo de corrida )...
-Ah...ah...ah... pois sou! Nunca te esqueças!

E depois fiquei ali dez minutos a rir ;e acabei por deitar o jornal ao lixo.


E agora dou as boas vindas à Azul!
E mando um beijinho ao Carlos Martins Soares que mudou de endereço!

Ana [2/24/2004 11:09:00 da manhã]

[ segunda-feira, fevereiro 23, 2004 ]

 

Conclusões de Aninha


Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.


O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?


Donde se infere que o homem ajuda sem participar
e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,
o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.


in "Vintém de Cobre-Meias confissões de Aninha"
Cora Coralina


Ana [2/23/2004 03:42:00 da tarde]

[ quinta-feira, fevereiro 19, 2004 ]

 

Cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto
in "Os Últimos Dias de Paupéria", Ed. Max Limonad- Rio de Janeiro, 1973

Ana [2/19/2004 11:57:00 da manhã]

 

Tenho um segredo para vos contar. Aproximem-se. Mais. Mais um bocadinho. Assim está bom:
Já traduzi uma boa parte do "Aubade" de Larkin. É preciso é ter paciência.

Agora outra coisa:Filmes. Este em particular 21 Grams

Tem dentro o Che dos States-Sean Penn ( um matemático muito doente ); Benicio Del Toro ( um ex (?) criminoso renascido, que julga ter encontrado em Jesus a salvação ) e Naomi Watts ( uma mulher-esposa-mãe enlutada ) . Este é o pelotão da frente. Penn está , como quase sempre, exemplar. E exemplar é, no mínimo, o que também se pode dizer do desempenho de Del Toro. Já a Watts...é muito, muito fraquinha. Não vos vou contar a história porque se não o filme não vos vai saber tão bem. É cinema mosaico, saltitante...como eu gosto. Apesar de ter lá dentro também a Charlotte Gainsbourg , excelente actriz, mas que me tira do sério. E por acaso também tem dentro Eddie Marsan , que faz o duro Reverendo John, que é bastante spooky. Enfim, sem vos contar a história , gostava de dizer uma coisa que, pelo que já li na maioria da críticas , passou ao lado.Ou então sou eu que não percebo nada , o que até nem é nada de novo. Apesar de todos os dramas das personagens, e são muitos e intensos, eu vi o filme como uma espécie de paródia ao "excesso" de fé. Aspo excesso, porque , para mim, a fé -a verdadeira - não tem limites. Mas o que nos turva a mente e nos envolve na irrealidade , e que muitos chamam fé, não o é; é um engano, uma maquilhagem. Uma desculpa má de um enredo pior. O filme não pretende, penso eu, marcar posição em termos religiosos. É até apresentada , a religião, como um quase pormenor. Mas faz pensar sobre. A mim fez e muito. Fez-me pensar sobre enganos e sobre redenções. O eterno bem e o eterno mal. E nesse limbo entre um e outro onde todos nós vivemos. Todas as pessoas que viram o filme e com as quais conversei, e instados a escolher um herói , fazendo de conta que o filme é uma história real, escolheram a personagem de Del Toro. « Pobrezinho, no fundo uma boa pessoa, uma vítima pronta a morrer para se redimir...» etc.
Eu cá sou mais o Penn. O que é que isso dirá de mim?
Ide lá ver o filme, se fizerem favor, e ajudai-me a perceber.

Ana [2/19/2004 11:19:00 da manhã]

[ quinta-feira, fevereiro 12, 2004 ]

 

Tunísia

Ana [2/12/2004 12:57:00 da tarde]

[ quarta-feira, fevereiro 11, 2004 ]

 

Foi Theodor W. Adorno [ um brilhante filósofo alemão ,de origem judaica - e que, infelizmente, é pouco conhecido, mas quem aprecia Popper, Heidegger ou Habermas ( Habermass foi aluno e assistente de Adorno) já deve ter ouvido falar; um homem fascinante de quem , infelizmente , agora não tenho nem tempo, nem pachorra, para falar ] quem disse que: depois de Auschwitz não poderia haver mais poesia.
Tinha toda a razão. Mas, no entanto, enganou-se. Enquanto houver seres humanos a poesia não acaba.Não pode.
De maneira que , como tudo isto ( a vida e assim ) é uma pescadinha de rabo-na-boca, qual cão de Pavlov, recebi com muito agrado o desafio gostoso desde blog -3tesas não pagam dívidas- de traduzir Larkin. Ainda por cima um dos meus poemas preferidos de Larkin: o «Aubade»!
Ora, senti essa missão como minha por duas razões e meia : primeiro «Aubade»significa algo como " Serenata matinal"; depois porque sou Larkiana, o que é bonito porque é Larki(n) + Ana; e o meu blog até se chama « Crónicas Matinais» Aproveito também esta oportunidade que me dão-obrigadinha!-para informar o seguinte: o dizer «Bom dia!» nos blogs começou comigo. Ah pois! Tenho provas documentais , o arquivo cá da chafarica, ou cuidais que só os rapazes do Boavista e o Sôr Pôncio é que são detentores de provas manuscritas, fotocopiadas ou outras? Bem...dai graças por eu ter um ordenado razoável e não me pôr para aqui a pedir royalties...
Portanto: a palavra matinal atravessa isto tudo e, vai daí, lembrei-me também do « Morning Song» de Sylvia Plath. Dá-se o caso de sempre que vou buscar a poesia de Plath para consolar a alma, me lembro de Marianne Moore ...daí o «Poetry».
Lá está: pescadinha de rabo-na-boca.Pronto. Está tudo explicado.
Entretanto, e quanto a Larkin, já traduzi o título ,agora só me falta ...o resto! Darei notícias!
[ o que, sinceramente,é uma prova do meu altruísmo; porque geralmente, e no que a notícias diz respeito...costumo vendê-las! ]


Ana [2/11/2004 11:20:00 da manhã]

 

Um poema de Marianne Moore seguido de um poema de Sylvia Plath

Poetry
(by Marianne Moore)

I, too, dislike it: there are things that are important beyond all
this fiddle.
Reading it, however, with a perfect contempt for it, one
discovers in
it after all, a place for the genuine.
Hands that can grasp, eyes
that can dilate, hair that can rise
if it must, these things are important not because a

high-sounding interpretation can be put upon them but because
they are
useful. When they become so derivative as to become
unintelligible,
the same thing may be said for all of us, that we
do not admire what
we cannot understand: the bat
holding on upside down or in quest of something to

eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless wolf
under
a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse that
feels a
flea, the base-
ball fan, the statistician--
nor is it valid
to discriminate against 'business documents and

school-books'; all these phenomena are important. One must
make a distinction
however: when dragged into prominence by half poets, the
result is not poetry,
nor till the poets among us can be
'literalists of
the imagination'--above
insolence and triviality and can present

for inspection, 'imaginary gardens with real toads in them', shall
we have
it. In the meantime, if you demand on the one hand,
the raw material of poetry in
all its rawness and
that which is on the other hand
genuine, you are interested in poetry.

*****

Morning Song
(by Sylvia Plath )

Love set you going like a fat gold watch.
The midwife slapped your footsoles, and your bald cry
Took its place among the elements.

Our voices echo, magnifying your arrival. New statue.
In a drafty museum, your nakedness
Shadows our safety. We stand round blankly as walls.

I'm no more your mother
Than the cloud that distills a mirror to reflect its own slow
Effacement at the wind's hand.

All night your moth-breath
Flickers among the flat pink roses. I wake to listen:
A far sea moves in my ear.

One cry, and I stumble from bed, cow-heavy and floral
In my Victorian nightgown.
Your mouth opens clean as a cat's. The window square

Whitens and swallows its dull stars. And now you try
Your handful of notes;
The clear vowels rise like balloons.

Ana [2/11/2004 10:30:00 da manhã]

[ sexta-feira, fevereiro 06, 2004 ]

 



Graças ao Nuno Guerreiro, lembrei-me de um disco e de um concerto, ambos maravilhosos.
O concerto já lá vai; mas o disco espera-me!

Shabat Shalom!

Ana [2/06/2004 05:32:00 da tarde]

 

Alargamento

Que engraçado!
Vejam o que os estónios pensam dos portugueses. Basta clicar aqui e, já dentro do site, clicar onde diz : « tão semelhantes e no entanto tão diferentes...»; que é como quem diz: « sarnased ja samais nii erinevad...»

Ana [2/06/2004 12:41:00 da tarde]

 

Assim pela fresca,urge dizer que este meu blog foi ( está a ser ) acometido por vírus. Qual Pedro Lynce, este vírus prejudica gravemente o português. Alguns textos estão barbaramente afectados, com pontos de interrogação em tudo o que é lado. Isto já me aconteceu uma vez, e eu, na altura, reeditei o texto, dando-me ao trabalho de corrigir , um a um, cada erro. Desta vez não resulta. E, como devem já saber, não faço ideia alguma sobre como remediar a coisa. Sim, sim, lá estou eu a pedir ajuda outra vez...

Entretanto , lembro que faz hoje um ano que morreu o poeta José Craveirinha. Era um amigo ( era e é, que os poetas não morrem. ). Se puderem preencham um momento da vossa vida com o sabor e o cheiro a canela da poesia dele. E nem é necessário agradecerem.

Ana [2/06/2004 10:10:00 da manhã]

[ quinta-feira, fevereiro 05, 2004 ]

 

Um poema de Paula Meehan seguido de um poema de Ciaran Carson


Would you Jump into My Grave as Quick?

Would you jump into my grave as quick?
my granny would ask when one of us took
her chair by the fire. You woman,
done up to the nines, red lips as a come on,
your breath reeking of drink
and your black eye on my man tonight
in a Dublin bar, think
first of the steep drop, the six dark feet.
P.M.



Tib's Eve

There is a green hill far away, without a city wall,
Where cows have longer horns than any that we know;
Where daylight hours behold a moon of indigo,
And fairy cobblers operate without an awl.

There, ghostly galleons plough the shady Woods of True,
And schools of fishes fly among the spars and shrouds;
Rivers run uphill to spill into the starry clouds,
And beds of strawberries grow in the ocean blue.

This is the land of the green rose and the lion lily,
Ruled by Zeno?s eternal tortoises and hares,
Where everything is metaphor and simile:

Somnambulists, we stumble through this paradise
From time to time, like words repeated in our prayers,
Or storytellers who convince themselves that truths are lies.

C.C.


Ana [2/05/2004 05:27:00 da tarde]

 



Tel Aviv Cats
@Ilan Levi

Bom...pelos vistos as fotografias estão protegidas; o que tem lógica. Para poderem ver os gatos-e outras imagens maravilhosas- cliquem aqui , e procurem em animais. Há, nesse site, muitos outros fotógrafos Israelitas.

Ana [2/05/2004 12:52:00 da tarde]

[ segunda-feira, fevereiro 02, 2004 ]

 

Chega de brincadeiras.

No dia seguinte ao mais recente atentado em Jerusal?m fui rezar com o rabino que me guia e aconselha.
Fui falar-lhe tamb?m por outros motivos, mas tamb?m por isso.
N?o vou mais longe a prop?sito de mais esse atentado cobarde e vil , porque j? muito foi dito e mostrado. [ Obrigada, Nuno Guerreiro ! Obrigada ,Carlos ! Obrigada, Alberto Gon?alves ! ]
O que quero dizer ? o seguinte: Que a hist?ria se repete, todos o sabemos. Mas temo que o fa?a de forma c?lere..
As reac??es a mais um atentado cobarde e vil, foram as do costume: consterna??o e dor, por parte dos que sabem -realmente - o que se passa e o que tudo isto significa; indiferen?a ou ent?o at? alguma satisfa??o ( doi-me escrever isto, mas ? o que realmente sinto ) por parte de quem julga certo matar tudo e todos, em nome ...n?o importa de qu?.
Portanto a hist?ria repete-se. Se n?o ? de uma forma ? de outra. Independentemente da justi?a da exist?ncia de um Estado Palestiniano - e essa justi?a ? total!- a forma como ela ? "negociada" pelos movimentos terroristas e armados , locais, ? desumana, cruel e assassina. Quem n?o perceber isto n?o percebe nada.
Os atentados contra israelitas e contra judeus j? s?o t?o aceites, pelos que n?o percebem, nem sabem, nem querem, ali?s!, que ? como se de jogos de computador se tratassem.
Muita morte, muito sangue...game over.
No outro dia, ? conversa com uma colega que tamb?m n?o sabe nem quer saber (e que me diz que n?o gosta de judeus porque os judeus se defendem sempre uns aos outros!!! ) o que ? que est? em causa com esta viol?ncia toda contra Israel e contra os judeus, essa colega, com sinceridade, dizia-me tamb?m que ? normal que a simpatia "ocidental" se volte para os palestinianos, porque eles at? t?m de utilizar as crian?as para se defenderem.
Reparem : ?at? t?m de?.
O que me leva a temer que a hist?ria se repita -em breve- , ? este tipo de argumento retorcido. Uma crian?a n?o pode em circusnt?ncia alguma ser utilizada como baluarte e, como ? o caso, como carne para canh?o.
? sso que leva tanta gente, pretensamente bem informada , a defender com unhas e dentes , n?o o povo palestiniano , mas os movimentos terroristas locais, que utilizam crian?as e jovens como operacionais.
Depois aparecem as imagens desses meninos soldado, desses terroristas mirim que, sem saber como, s?o obrigados a lutar de armas na m?o. Que s?o educados a odiar desde o ber?o. Que come?am pelas pedras e em seguida passam ?s armas e aos explosivos. ? preciso diz?-lo. Essas crian?as , esses jovens, por culpa dos adultos b?rbaros que os utilizam, s? n?o matam se n?o puderem. So n?o ferem se n?o puderem. As imagens desses jovens, cruel e injustamente, apagam os horreres de um autocarro destruido e de dezenas de corpos espalhados. Esta ? que ? a realidade. As raz?es , os porqu?s, as origens, s?o indiferentes. Custa muito ver crian?as e jovens a morrer, claro! ? cruel. Mas isso n?o pode apagar todos os outros horrores.
E se eu falo de crian?as, de jovens, ? porque quero lembrar que, actualmente, a maioria dos homens e mulheres bomba s?o muito, muito jovens. Tamb?m eles foram educados no ?dio.
E eu pergunto-me: que esp?cie de gente considera a morte de outros mais importante que a sua pr?pria vida?
? esta a filosofia que merece ser seguida? ? essa a justi?a?
Uma das raz?es para a cegueira de muitos ? esta; mas h? outra, porventura muito mais importante:
O ?dio aos judeus , por parte de certos ?rabes e certos de mu?ulmanos, ? muito mais recente do que o ?dio aos judeus por parte dos ocidentais.
E ? por isso que, nesta balan?a envenenada, o prato ocidental - grosso modo- pende para qualquer acto cometido por quem combate os judeus.
No fundo, o nazismo foi apenas uma gota. H? muitas mais prontas a cair sobre o "eterno inimigo".
N?o vou mais longe, basta relembrar a inquisi??o na Europa, nomeadamente na Pen?nsula Ib?rica. Est? enraizado de tal forma, esta forma de ver o povo judeu, que tudo se justifica...desde que seja contra eles!
Sinceramente, acho que esse ? que ? o bus?lis da quest?o. A simpatia pela viol?ncia dos terroristas vem depois por acr?scimo. De cada vez que um indiv?duo justifica um acto b?rbaro contra os israelitas, imagino-o como um oficial do santo-of?cio. Pronto a acender uma fogueirinha ou a emparedar uns quantos judeus vivos. A cantar o ? ? tempo volta para tr?s ?.
E por falar em tempos idos:Portugal.

?Mais tardia que em Espanha , a Inquisi??o chegou a Portugal com a Bula Cum ad Nihil Magis assinada pelo Papa Paulo III, em 23 de Maio de 1536. Em 22 de Outubro desse mesmo ano, a cidade de ?vora assistiu a uma cerim? nia solene, na qual esteve presente o rei D.Jo?o III, destinada ? ? prega??o p?blica? da Bula.
Na mesma altura, um dos Inquisidores entretanto nomeados fez ler um edital concedendo trinta dias de gra?a a quem livremente confessasse os seus erros de juda?smo ( e tamb?m de feiti?aria , ou de pr?ticas das seitas de Lutero ou Mafoma).
Quase um m?s depois, novo edital identificava erros e delitos contra a f?. (...) Identificados estavam os pecados. Restava,ent?o, apresentar os pecadores.
Tudo come?ava com uma suspeita ou uma dela??o.?s vezes, a desgra?a abatia-se sobre uma aldeia inteira, e a vida de todos era investigada sem que houvesse tempo para a fuga.Ou ent?o, se fugiam, havia presun??o de culpa.
(...) Quando estavam nas celas , aos prisioneiros era proibido qualquer queixume. Nem gritos, nem choro, nem ?suspiros altos? que pudessem alertar os outros companheiros de c?rcere. As infrac??es eram punidas com severidade.O isolamento devia ser total para que uns n?o dessem ?avisos? aos outros, para que ningu?m soubesse do que se passava nos interrogat?rios e se pudesse preparar e confundir os inquisidores.A todos se exigia sossego e quietude como se o tempo estivesse estagnado(o bold ? meu ).(...) Muitos desses torturados n?o aguentavam o tempo de pris?o, as frequentes idas ? Mesa e, quando o processo era dado por conclu?do e estabelecida a senten?a, j? n?o havia corpo vivo para conduzir ? fogueira. Pouco importava. Desenterravam-se os ossos e queimavam-se. Se o acusado lograva fugir, ardia o seu retrato.Escapar ? que n?o podia , porque a Inquisi??o tinha longo o bra?o que segurava o gl?dio de um poder incomensur?vel que n?o se detinha com a morte. A ela at? os pr?ncipes obedeciam porque nada mais perigoso para quem det?m o poder do que a inimizade dos zeladores dos bons costumes ( o bold ? meu ).
Entre os anos de 1540 e 1821 foram processados mais de 40 mil pessoas pelos tribunais de Lisboa, ?vora e Coimbra.
O primeiro auto-de-f? ocorreu em Lisboa , no dia 20 de Setembro de 1540, o ?ltimo na mesma cidade, em 1761.?

N?o sei, mas parece-me sempre actual este relato hist?rico de Maria J?lia Fernandes, na pequena maravilha que ? o livro : ?Passos na Areia?; Contexto, Editora, 1996. E ajuda a explicar muita coisa...





Ana [2/02/2004 01:21:00 da tarde]