Crónicas Matinais

[ sexta-feira, abril 30, 2004 ]

 

O meu dedinho que adivinha

Escolhi o sôr Louçã , como tema, e acertei. O que estou a ouvir , em directo do Parlamento, é abaixo de cão.
Um dia destes alguém vai ter de fazer o sôr Louçã pagar, judicialmente, pelas atoardas que lança. E dar-lhe um valente pontapé no cu. Apre!


Ana [4/30/2004 12:43:00 da tarde]

 

Sinceramente: se a personagem fosse uma loira vaporosa, cuja quantidade de maquilhagem fosse inversamente proporcional à quantidade de massa cinzenta ,eu até que entendia. Mas não.
O Francisco Louçã não só não é uma loira , como também não se maquilha. E tem alguma massa cinzenta, isso, por muito que me custe ,tenho de admitir.
De maneira que não consigo entender –nunca- as obsessões e declarações do senhor Louçã.
Como é possível bater sempre nas mesmas teclas? Dizer sempre as mesmas coisas; fazer sempre as mesmas acusações? Fala-se de X , de P, de T ou de O...e o sôr Louçã contorna as questões , fazendo as mesmas perguntas e acusações. Depois ainda chamam «cassete» ao outro...
Hoje , no debate mensal na AR , já se sabe que o tema principal é o alargamento europeu. E também é natural que a oposição tencione desviar a discussão, a espaços, para outras questões, mais sociais, económicas ou «políticas».
Mas, caramba!
Ouvi , há bocadito,mas as declarações são de ontem à noite, o sôr Louçã , com o seu discurso PREC do costume. Disse ele qualquer coisa como :« O governo vai mascando pastilha elástica enquanto em Portugal há meio milhão de desempregados. Mais do que o alargamento é preciso discutir as questões sociais e a posição portuguesa em relação à guerra no Iraque.»
Não é que seja descabido, mas já cheira mal.
O sôr Louçã faz-me lembrar um colega de trabalho que tive em tempos ( e não me venham chatear com a expressão: colega, porque eu sou pela liberdade e uso as expressões que quiser ! ;) ) e que, fosse qual fosse o assunto discutido, acabava sempre as suas frases dizendo: « pois, pois, isso é tudo muito importante , mas o problema é que ainda ninguém conseguiu explicar quem nasceu primeiro: se o ovo se a galinha.»
Já não há pachorra, pá!


Entretanto os U2 estão em Portugal (para tirar fotografias ) e ontem foram jantar ao « Bica do Sapato».

Adenda( depois de o ouvir no debate , agorinha mesmo, no debate na AR ): Já sobre o sôr Carlos Carvalhas...eu nem sequer quero falar. Prometi à minha avó que não voltava a utilizar a palavra palhaço , tão cedo, aqui no blog.

Ana [4/30/2004 11:50:00 da manhã]

[ quarta-feira, abril 28, 2004 ]

 

Back in Business

À primeira vista ( ando sem tempo para ler a imprensa portuguesa toda ) as declarações do advogado francês , Jacques Vergès [ localmente conhecido como - advogado do diabo -; conhecido por defender, entre outros, nazistas e terroristas e, actualmente, Tareq Aziz e Saddam. Podem fazer, se quiserem, uma busca pelo nome, fica aqui só uma ajudazita ], de Saddam Hussein , não tiveram muita saída. É pena.
Vergès , sempre muito preocupado com os direitos humanos, diz que teme pela vida do ditador Saddam isto porque, e traduzo : os americanos estão demasiado implicados no assunto e, para evitar um processo legal formal, podem provocar a morte ao senhor Saddam, coitadinho.
As declarações do advogado do diabo, foram publicadas na revista egípcia , de língua francesa, Al-Ahram Hebdo.
A «pérola» da entrevista é a seguinte: Vergès afirma que as armas de destruição maciça , massiva, em massa, etc; que o Iraque dispunha foram vendidas pelos Estados Unidos pelo próprio Donald Rumsfeld que, como se sabe, é o secretário de Estado da Defesa dos EUA. A formiguinha Vergès está, aliás, a preparar um «dossier» sobre o assunto, diz ele.
O jornalista que o entrevista não puxa pelo assunto. É pena.
Isto porque , se Vergès se estivesse a referir às armas que supostamente o Iraque tinha antes de 91, ele teria feito essa ressalva. Assim, e tal como muitos analistas estão a considerar, Vergès está a admitir, de alguma forma, a sua provável existência recente , ou seja, está a dar um tiro no próprio pé do seu cliente.
Aqui a minha chafarica achou que o assunto merecia mais e , vai daí, tratou de chegar à fala com o jornalista que entrevistou Vergès e com o próprio Vergès.
O jornalista, tenrinho, lá foi dizendo que essa questão não tem importância, porque o que realmente importa é a acusação aos EUA e a responsabilidade de Rumsfeld.
Ok...
Já Vergès , com muitos mais anos de praia, raposa velha, balbuciou, fora da antena, algo como : « Bom...mais tarde darei mais pormenores. Não posso dizer nada agora.»

Pode não passar de uma palhaçada, de facto, mas ... fiquei com a pulga atrás da orelha.
Querem ver que , se calhar, ainda vai ser a defesa de Saddam quem vai provar a existência dessas armas?
Adoro a ironia...a sério!

Quanto à entrevista de Vergès pode ser lida aqui.

Ana [4/28/2004 11:50:00 da manhã]

[ segunda-feira, abril 26, 2004 ]

 

Obrigada!

Ana [4/26/2004 09:50:00 da manhã]

[ quinta-feira, abril 22, 2004 ]

 

Shit for brains

É o mínimo que se pode chamar ao #%$&$%& do árbitro ( tinha de ser alemão!!! ) que ontem jogou contra o Porto e, ok, contra o Deportivo .
Seja como for, e sabendo - e eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas - que o meu FCP vai levar de vencida ( hi hi adivinhem quem vai gostar desta expressão ) os galegos daqui a dias, esse bofe cretino acabou por me provocar uma alegria: A querida Ana solidarizou-se comigo. E daqui segue um beijinho também para si! E muito obrigada!

[ Agora tenho de ir ali fazer bonequinhos de voodoo com o focinho do nazista filho-da-puta...]



Ana [4/22/2004 05:21:00 da tarde]

[ quarta-feira, abril 21, 2004 ]

 

Scat Singing com Ella ?


[ Mais um dia ou dois e gravo um disco...]

Ana [4/21/2004 04:10:00 da tarde]

[ segunda-feira, abril 19, 2004 ]

 

«Antisémitisme: la parole libérée»

A semana passada a estação de televisão francesa «France 2» , passou ,no programa «Envoyé Spécial», a reportagem de Elie Chouraqui e Yves Azéroual : «Antisémitisme : la parole libérée».
Esta reportagem estava em agenda há meses, mas o tema é de tal maneira polémico em França , que antes da emissão do trabalho televisivo, a reportagem teve direito a ser visionada por políticos, advogados, e até pelo ministro da Educação francês, em conselho de ministros. E na manhã de quinta-feira, 15 de Abril, ( o programa passou nessa noite ) o próprio Primeiro-Ministro francês quis dar uma palavrinha aos autores da reportagem.
E tudo isto porquê ?
Porque , em França, a verdade continua a doer. Assim mesmo.
Várias desculpas foram apresentadas para que a reportagem fosse adiada . A equipa que a realizou falava no direito à informação . Do outro lado : que era preciso estudar bem o assunto, que a reportagem podia ser contraproducente ; que era preciso respeitar o anonimato dos protagonistas, etc.
A reportagem foi visionada até à exaustão por várias entidades. Tudo porque mostra uma realidade que os franceses preferem , não que exista, mas que não seja mostrada. Pela vergonha ; pela má memória de tempos idos ( ?) ...e porque é sempre mais fácil olhar para o lado.
Ora a reportagem foi feita em Montreuil, arredores de Paris. No centro da polémica duas escolas, dois liceus. Face a face. De um lado da rua um liceu público, oficial ; do outro um liceu judaico.
O que a reportagem mostra é o seguinte : Os alunos do liceu judaico são –diariamente- agredidos , não só verbalmente, mas fisicamente. A coisa é de tal ordem que a direcção do liceu judaico se viu obrigada a contratar seguranças privados para garantir a segurança dos alunos . E perguntam vocês : mas para os proteger na escola ? A resposta é : Não ! Para os defenderem quando eles saem da escola, para lhes garantirem a segurança até à estação de Metro mais próxima, porque esses alunos judeus não podem ir sozinhos, (aliás só podem ir em grupo) apanhar o Metro ! ! ! ! Porque se algum deles se atrever a ir apanhar o metro sem protecção, depois das aulas, arrisca-se , como acontece diariamente, a ser espancado. Nem mais. Espancado. Todos os dias acontece. E acontece hoje, como ontem. Em 2004, no século XXI. Meus amigos, isto não é ficção, percebem ?
Os autores da reportagem foram então falar aos alunos ,dos dois lados, para tentar perceber o porquê.
No liceu público, a turma entrevistada disse coisas como estas :
« Bom, eles batem-lhes porque eles andam bem vestidos ; porque têm dinheiro ; andam com calças Levi’s ...» [Nesse liceu judeu há imensos alunos carenciados, diga-se...]
ou
«Eles ( os judeus) têm a mania que só eles são agredidos e insultados ,mas também há judeus que insultam» E o autor da reportagem pergunta : « Tu conheces algum caso ? já viste um deles a insultar alguém deste liceu ?» E o aluno responde : « Bem...não!...»

Enfim. Do outro lado, numa turma de alunos judeus a mesma pergunta é feita : porquê ?

Um dos alunos diz : « Não tem explicação. São ataques gratuitos» ; Um outro afirma : « O problema é que para toda a gente o que Israel faz é culpa de todos os judeus. Os árabes estão contra o governo de Israel e nós, como judeus, pagamos por isso. »

Na reportagem é também mostrado um grupo de jovens, negros e árabes, que ostenta bandeiras do Hamas e do Hezbollah e que reclama , por outras palavras, o desaparecimento dos judeus. Dizem coisas atrozes que fazem o sangue gelar nas veias. Têm entre 15 e 18 anos. São bastante conhecidos na cidade, mas na televisão aparecem de cara tapada. Até porque, em França, oficialmente, o antisemitismo é crime.

Razões , é preciso entender as razões. Os autores da reportagem vão então pesquisar mais. Falam com « peritos». Para além do ódio milenar, de tal forma entranhado nas pessoas ( cita-se Einstein que dizia que é mais fácil compreender um átomo que um preconceito ) , os autores da reportagem descobrem que é a mediatização do conflito no Médio Oriente que alimenta o ódio ; as notícias parciais da televisão , das rádios e dos jornais. E os canais satélite. Por exemplo, um dos canais mais vistos pela comunidade árabe francesa , via satélite, é o Al-Manar. É um canal controlado , oficialmente, pelo Hezbollah Libanês. Nesse canal , e actualmente, passam dois programas que são considerados violentos veículos para incitar ao ódio os muçulmanos jovens. São dois programas que supostamente retratam os judeus. Um chama-se « Diáspora» e mostra a saga de uma família que, entre outros, tortura os seus próprios elementos. Ódio destilado , via satélite, em estado puro. O outro é o mito do costume : « Os Protocolos dos Sábios do Sião». Não foi só no século passado, e noutros anteriores ; essa fantasia continua a destilar ódio até nos nossos dias.
Há mais exemplos, mas estes já chegam, penso eu.
Em nenhum momento a reportagem é parcial. Nenhum. Limita-se a dar voz, e imagem, à realidade pura e dura.
Custe o que custar é isto que se passa em França. Quer dizer, passa-se muito, muito mais. Mas a reportagem é bem representativa.
Eu já aqui relatei, no blog, coisas que vi, senti e vivi na pele, em relação ao antisemitismo em França. Na altura cheguei a receber e-mail, e comentários, que diziam que eu inventava, que eu, como todos os judeus, tenho a mania da perseguição e gosto de me fazer de vítima.
É certo que vozes de burro não chegam ao céu , mas a paciência tem limites.
Se andarmos todos de olhos abertos é impossível não ver o que realmente acontece. O que se passa. A realidade.

Depois de vários adiamentos a reportagem foi então transmitida. Pensam que a polémica acabou ? Nem pensar. A negação continua.
Hoje,tal como ontem, em todos os jornais, podemos ler que , depois de transmitida a reportagem, o «député-maire » de Montreuil , Jean-Pierre Brard , aproveitou a visita do Ministro da Educação à cidade, para afirmar que o documentário transmitido na véspera é uma «manipulação» e que os alunos entrevistados, e passo a citar : « étaient les acteurs d’un film dont ils ne connaissaient pas le scénario.».
É óbvio que os autores da reportagem e a estação France 2 não vão deixar estas acusações passar em claro. O caso vai para a justiça e está já, de resto, entregue a advogados.
O que os autores e a France 2 lamentam é , não só a acusação baixa e torpe de um eleito da república, mas ,essencialmente ,que « en France , il soit si difficile de parler de l’antisémitisme».

Porque a verdade dói. Digo eu.

Ana [4/19/2004 12:18:00 da tarde]

[ quinta-feira, abril 15, 2004 ]

 

Sinceramente: enquanto muitos de vós se queixavam do atafulhamento da vossa caixa de correio electrónico com e-mails do Grupo dos Amigos de Olivença, eu roía-me. Sinceramente.
Aquilo , pensava eu, não era para quem queria...mas para quem podia.
Pois ficam a saber que eu também já sou gente! Recebi hoje o meu primeiro e-mail dos Amigos de Olivença e, foi por pouco, que não gritei:« Morte ao Duque de Wellington!»; etc e tal.
É que passam hoje , e passo a citar: «193 anos sobre a data em que Olivença, pela última vez, viu ondear nas suas muralhas – soberana – a Bandeira Portuguesa.».
Verti uma lágrima. Ah pois! ;)

Ana [4/15/2004 05:21:00 da tarde]

 

Pois, pois. Sei é dizer que, pelo menos desta vez, faço minha a opinião de Luís Delgado no «Diário Digital».
Há azar? :)

Ana [4/15/2004 04:48:00 da tarde]

[ quarta-feira, abril 14, 2004 ]

 

Já a seguir dois novos links:

O Acidental de Paulo Pinto Mascarenhas ; e Moody Swing da queridíssima Batukada, do bom velho gang do Pastilhas.

Ana [4/14/2004 02:12:00 da tarde]

 

Pavese

Pois cá estou eu, um ano e cinco dias depois, a alimentar o blog.
Mas...não vou falar de nada. Vou só repartir um pensamento: Desconfio sempre de quem não gosta ou não conhece Cesare Pavese. Ide, ide ler, por exemplo, o «Tra Donne Sole» o «Among Women Only» para quem tiver a tradução inglesa. Garanto que ides gostar. [ e jé que estais com a mão na massa...levai para casa também o « Diavolo Sulle Colline,La Bella Estate» ( Devil in the Hills ) ou o maravilhoso «La Luna e il Falò» ( The Moon and the Bonfire), por exemplo. E os poemas, senhores!!! Procurai os poemas todos! Deixo aqui um grátis:]


Lo spiraglio dell´alba
respira con la tua bocca
in fondo alle vie vuote.
Luce grigia I tuoi occhi,

dolci gocce dell´alba
sommergono le case.

La cittá abbrividisce,
odorano le pietre –

sei la vita, il risveglio.

Stella sperduta
nella luce dell´alba,
cigolio della brezza,
tepore, respiro –
é finita la notte.

Sei la luce e il mattino


Ai!...

Ana [4/14/2004 12:43:00 da tarde]

[ quarta-feira, abril 07, 2004 ]

 

De malas aviadas e uma efeméride antes do tempo

Antes de ir ali aturar umas senhoras e uns senhores chatos do PE, devo dizer que fiquei contente com a passagem do Mónaco às "meias" da Liga Milionária. É a minha costela de esquerda, com certeza. O David a bater Golias.
Agora só falta o meu FCP bater o AC Milão, daqui a dias. Sim, porque o meu FCP vai tirar de letra o Lyon logo à noite. A dúvida é: será que o Milão passa?

Entretanto tenho dormido mal, não só porque gostaria de ( e devia!) estar de férias numa ilha paradisíaca , mas porque voltei a lembrar-me do holocausto no Ruanda. Revi aquelas imagens de há dez anos e voltei a sentir-me culpada . O maior crime da humanidade, no fundo, é mesmo a indiferença.

Hoje é dia 7, ou seja, amanhã é dia 8. E depois é dia 9.
Ora, a 9 de Abril escrevia eu o exórdio deste humilde blog. Não tinha acentos. Foi bastante duro. ;)



Ana [4/07/2004 11:43:00 da manhã]

[ segunda-feira, abril 05, 2004 ]

 

Venho, por este meio, devolver os prémios.

Quer dizer: isto, parecendo que não, aflige.
Uma pessoa diz que não, que isto dos prémios vale o que vale, ou seja, pouca coisa, em termos práticos; mas não é bem assim.
Por exemplo: desde que fui agraciada com –estes magníficos prémios – passei a andar na rua de nariz levantado e a acenar ao povo. Dir-me-ão que isso não tem mal nenhum. Mas tem.
Uma pessoa vai na rua , com os seus sacos com compras, o guarda-chuva e o cigarro acesso, ou seja, tem as mãos ocupadas, e sente a necessidade fremente, a obrigação!, de acenar às massas. Ora é uma chatice! Primeiro porque temos de parar, pôr os sacos no chão, enfiar o guarda-chuva num dos sacos- se estiver de chuva, arriscamo-nos a molhar a morcela de sangue ou mesmo os papos secos!- e só depois acenar, sempre com um sorriso e tal.
E depois há sempre a possibilidade de alguém responder! E depois? Como é?
Damos beijinhos? Bacalhaus?
E se alguém pede um autógrafo? Lá temos nós de abrir a carteira, tirar uma caneta –que invariavelmente não escreve à primeira – e rabiscar o nome do requerente mais o da gente. E há alguns que também pedem a data, sacanas!
Perde-se uma porrada de tempo, as compras ali a apanhar ar e micróbios ( há sacos que se rompem facilmente e como estão no chão...) a gente a gastar tinta e latim que , o mais das vezes, ninguém vai perceber mais tarde, ou não fosse a letra da gente... de médico.
Para além disto e o mais importante: corre-se sempre o risco de ser olhada , com desprezo, por aquele tipo de pessoas falsas e dissimuladas, que passa por nós na rua , fazendo de conta que não nos dá importância e que não nos conhece de lado nenhum mas que, no fundo, sabem tudo sobre nós ; adoram-nos , idolatram-nos, mas fazem sempre de conta que não. Em casa têm o nosso rosto em todo o lado, recortam tudo o que se diz e mostra sobre nós, os ganhadores de prémios, fazem pastas de arquivo , cortam o cabelo como a gente, imitam-nos as roupas, a maquilhagem e até os gestos. Copiam as nossas frases para pequenos papeis que transportam nos bolsos para puderem utilizá-las sempre que a oportinidade surja; põem o nosso nome aos filhos ,etc.
É essa corja que me assusta. Que me assustou ;e é pelo que conto a seguir que devolvo os prémios. Lamento mas tem de ser.
Este fim de semana, e porque sou uma tímida, uma pessoa discretíssima, fui às compras mascarada de simples, de comum mortal. Confesso que nem tomei banho para dar ainda mais realismo à coisa. Não me maquilhei e amarfanhei o cabelo num carrapito. E fui de bata e chinelos, claro.
Estava a escolher umas alheiras de caça ( pensei pedir torresmos para ser coerente , mas já não havia ) no talho do supermercado donde gasto, quando reparo que duas mulheres estavam a olhar para mim. Resignada pensei :« Pronto, fui apanhada! Depois dos prémios é impossível não ser reconhecida. O melhor é acenar .»
E lá acenei às senhoras.E Elas fizeram-me má cara. E eu pensei: « Olha que porra! Lá estão duas das dissimuladas; que me idolatram mas fazem de conta que não.» . Encolhi os ombros e acabei por pedir também uns bifinhos de perú ,que estavam em promoção.
Fui para a secção das hortaliças , e andava de roda de uns nabos quando voltei a ver a parelha, as duas mulheres. «São dissimuladas , mas adoram-me tanto que não resistem » pensei eu e lá voltei, porque sou uma pessoa boa, a acenar , provando que tenho bom coração e, no fundo, que sou um doce.
Foi então que a porca torceu o rabo. As duas dirigem-se a mim e a mais robusta, e ligeiramente desdentada, põe as mãos na ilharga e cacareja: « O que é que você quer? Pra qué que tá praí a acenar feita doida? A gente por acaso conhece-a ? »
Reconheci logo a típica negação dos fãs mais devotos. Mas mesmo sabendo como funciona a mente desta gente e de, por isso mesmo, ter a certeza que ambas me dedicavam uma adoração absoluta, fiquei aflita. Como sou boa, uma boa pessoa, compreensiva , lá lhes disse: « Ó minhas queridas, não precisam de disfarçar , eu entendo-vos perfeitamente. O que é que vai ser? Um beijinhos, uma fotografia autografada…só o autógrafo?»
A outra, bastante magra e com bigode, desata a gargalhar e encosta um dedo à testa , começando a rodá-lo. Com que a dizer que e a robusta era maluca. Quer dizer…isto foi o que eu pensei. Mas não. Afinal a esquelética não estava a chamar doida à robusta…mas a mim!
Ora, se há coisa que me encanzina é chamarem-me maluca! Posso ser, muitas vezes, obsessiva e algo...original, mas fecho muito bem a mala!
«Minhas senhoras» digo eu zangada « não sei o que pretendem , mas fiquem a saber que não admito más criações. Não é porque sou uma figura pública, uma estrela mediática, que vou tolerar enxovalhos, estão a perceber? Dou-vos mais uma oportunidade , se quiserem um beijinho ou um autógrafo aproveitem agora , antes que me zangue mesmo e as processe por danos morais!»
As duas remeladas desatam a rir, a rir, e entre perdigotos dizem-me que eu é que devia ser processada e por assédio, já que as incomodei com os meus acenos de doida.
Foi de mais! Chamei o gerente do estabelecimento.
O Sr. Ludovico, que me conhece há muito tempo, respondeu prontamente ao chamado, ou não fosse ele também meu fã.
Lá lhe expliquei a situação mas ele - são os custos da democracia! - quis ouvir também a versão da esgrouviada e da robusta.
As duas cabras voltaram a enxovalhar-me. Que eu é que me tinha metido com elas .
E eu expliquei ao senhor Ludovico que, à primeira vista, até poderia parecer que eu é que tinha tomado a iniciativa em relação aos dois estafermos, mas que isso apenas se deveu ao facto de eu saber perfeitamente que, depois de me terem visto na televisão,na quinta-feira, a receber os prémios, as pessoas querem falar-me e, se possível, tocar-me!
«Televisão? Bloscares? Quinta-feira?» Repete o Sr. Luduvico algo admirado « A menina Ana deve estar a confundir! Ou então está a brincar, com certeza. Na quinta só deu, à hora que a menina diz, os "Morangos com Açucar", os "Malucos do Riso", o Malato e uma porcaria cultural qualquer na :2 ; a não ser que fosse no cabo, mas eu isso não tenho. De qualquer das formas não ouvi falar nada desses óscares e, pelos vistos, estas senhoras também não.»
«Oh Sr. Ludovico! Eu não brinco com coisas sérias. E até lhe digo mais, desde que ganhei esses prémios a minha vida virou-se do avesso. Invejas . Não as suporto! » Digo eu traumatizada.
«Inveja de quê, ó maluquinha de Arroios? » Pergunta-me a gorda desdentada , logo secundada pela carga d’ossos bigoduda que, entretanto , ia perguntando a toda a gente que passava por nós, no supermercado, se me tinham visto na televisão a ganhar óscares e anéis.
Sei dizer que, de repente, me vi cercada de gente infame a rir-se na minha cara ; a gozar comigo!
Houve mesmo uma funcionária da secção do peixe que se pôs a apregoar : « Olha o bloscar fresquinho!»
Desisti. Sem mesmo escolher um nabo, que tanta falta que fez na sopa!, vim-me embora.
Mas atrás de mim veio um grupo de ganapos, seguramente das ninhadas da junta de vac…, quer dizer, das duas ordinárias do supermercado, a gritar : « Olhem quem aqui vai, a vencedora dos óscares do Magalhães Lemos!»
Um horror, enfim.

É obvio que não voltei a sair de casa e, depois de muito pensar, percebi que a solução é devolver os prémios . Não tenho vida para isto.
Alguém que fique com eles e me livre do fardo. Estão praticamente novos.
Obrigada!

P.S. Também me passou pela cabeça que as duas me tivessem sido mandadas por alguma das minhas rivais. Hum...Não, não pode ser.
Hum...só se fosse a Charlotte, não pelos prémios, que ela também os tem e bem merecidos, mas como castigo por eu me ter esquecido do aniversário dela!! Hum...

[ Parabéns querida Charlotte! Atrasados mas sentidos! ;) ]

Adenda: É óbvio que a Charlotte não fez aninhos agora. É em Setembro , entre 17 e 19. Ai esta minha cabeça...
Os parabéns são pelo ano de blogosfera.

Ana [4/05/2004 01:21:00 da tarde]

[ sexta-feira, abril 02, 2004 ]

 

Reportagem TVI da entrega dos Bloscares-excerto

[ Ana sobe ao palco choramingando , com o seu grande decote e de cigarro na mão ! ( ainda bem que a cerimónia não se realizou na Irlanda!) ]

Disse : « Óhh meu D-us! Óhh meu D-us! » ( soluçando e rindo ; funga; engasga-se com o fumo; soluça e ri ...)

«Thank you! Muito obrigada! Ai ! ( suspira profundamente e limpa as lágrimas. Arranja o decote e ajeita o microfone: )
Eu, eu nem sei o que dizer. Não mereço. ( soluçando e rindo )
Obrigada a todos ( abrindo os braços abarcando a sala inteira )! É tão inesperado...não contava...nunca pensei. ( soluçando e rindo).
Antes de mais, gostaria de dizer que todas as minhas colegas nomeadas...( alguém na sala grita: «colegas são as putas, pá!» mas Ana Albergaria não se deixa distrair) mereciam o prémio. Aliás, os prémios, já que ganhei três, dois dos grandes e um dos mais "piquenos". Elas também mereciam. Elas são fundamentais para mim. ( apontanto para a jaula, digo, para a fila, onde as restantes nomeadas se encontravam quase perfeitas. O público aplaude em delírio, comovido pelo desportivismo e generosidade da vencedora...)
Se não fossem elas...eu nunca teria vencido! ( BRAVO! ouve-se por toda a sala.)
Quero agradecer estes prémios ( Bloscar elas na mão esquerda ; a direita ostentando o Anel de Prata e o cigarro e o mais "piqueno" entalado no decote ) que aqui tenho , que me deram nesta noite mágica e magnífica, à Academia; e a todos aqueles que sempre me apoiaram ; que me incentivam e que gostam de mim ! ( chora copiosamente; depois soluça...e volta a rir )
Quero também agradecer a todos os escritores, locutores de programas de discos pedidos, homens e mulheres bomba, terroristas em geral, elementos do BE, racistas e quejandos, governos de países desenvolvidos ou em vias de, realizadores de filmes, aos próprios filmes, músicos e músicas, companheiros de blogosfera, à morfina e ao Clonix, porque foi tudo isto que me motivou a escrever e que, consequentemente, me colocou em cima deste palco. ( Bravo! Bravo! ouviu-se por toda a sala )
Quero também agradecer aos meus pais - que me deram a vida -( choro fremente ) , aos meus irmãos e aos meus amigos. Incluindo algumas mulheres e...finalmente...a D-us!
«Adeus! Adeus!» ( Começou a assistência a dizer em pranto, triste pela despedida, com certeza!)
«Não estão a perceber, grita Ana Albergaria ! Eu estou mesmo é a dizer : A D-us! »
Adeus! Até pró ano, grita a assistência em histeria colectiva , convencida que, pró ano, o desfecho será igual.
«Seus lapões! Gritou Ana Albergaria aos 4 rapazes que já a tentavam retirar do palco- com alguma força!- insistindo na palermice: «o seu tempo acabou, faça o favor de se retirar que a cerimónia tem de continuar, minha senhora; a seguir é a parte mais importantes; a parte dos homens.»
«Paneleiros»! grita Ana Albergaria, pouco importada com a escandaleira, e insistindo que ainda não tinha acabado os seus agradecimentos!
«Porra, chiça, merda!» diz Ana Albergaria, já algo descomposta , mas sem medo de emporcalhar o vestido -belíssimo diga-se!- «Eu ainda não acabei a merda do discurso de agradecimento, e naqui não saio, daqui ninguém me tira!»
Um dos lapões que a segura , desata a falar pró ualquitóqui a pedir instruções ao chefe da segurança; um homem um bocadinho marreco, que se encontrava no lado esquerdo da sala a esfurancar as narinas e envolvido em caricias cúpidas com uma das perdedoras - não digo qual delas, por pudor- que, entretanto, se tinha refugiado no cantinho da esquerda, o cantinho escuro, procurando atenção, pois um carinho...quiçá mesmo algum amor.
O segurança marreco dirige-se ao palco, testa perlada de suores frios, com medo de melindrar ainda mais a já algo melindrada e injustiçada vencedora , não só do melhor Blog feminino, mas também do Anel de Prata e, não despiciendo, do Prémio J-sus.
Ana Albergaria, já cansada da inesperada bambochata, soergueu o marreco pelas abas do paletó, pouco faltou para que as esfarrapasse!, e disse-lhe: « O cavalheiro nem se atreva a pôr-me as patas em cima, porque se não racho-lhe já a cabeça com este bloscar!»
Nesse preciso momento as luzes apagaram-se , uma música ( creio que o " zzz sou uma abelha" do Clemente ) começou a tocar e anunciou-se o Bloscar Masculino.
Os ânimos, da vencedora e da pandilha da segurança, serenam e todos abandonaram o palco. Nos bastidores , e graças à sua faiscante inteligência , Ana Albergaria resolve que o melhor é pirar-se. Boa decisão pois daí a segundos era chamado ao palco... o Diabo! [ ;) ]

Já em casa Ana Albergaria deitou-se e dormiu o sono dos justos. Dos vencedores.

[ Beijinhos a todos e Obrigada, mais uma vez, ao Miguel. O que é preciso é mesmo boa disposição e imaginação.
Parabéns as todos os vencedores e vencedoras, entre elas as minhas amigas Charlotte ( que hoje faz um aninho de blogosfera: Viva! ) e Papoila. ]

Ana [4/02/2004 12:53:00 da tarde]

 

Estou tão, tão emocionada! A sério...quero arranjar o cabelo e as sobrancelhas e estou praqui sempre a choramingar:


O discurso é já a seguir.

Ana [4/02/2004 10:56:00 da manhã]

 

Ai!...

Já lá vou aos agradecimentos pelos prémios que o gentil Miguel me atribuiu.
É uma brincadeira, mas sabe sempre bem. Agora... cof cof...
Ó alminhas! A rapariga da fotografia não sou eu!! Mas que raio de cinéfilos sois vós para não reconhecerem a moçoila?
Foi uma brincadeirinha de primeiro de Abril ( inofensiva! hi hi ) ! Ela bem gostava de ser eu, mas, coitadita, cada um (a) tem o que merece.
Ah ah é a Monica Bellucci!!

Ana [4/02/2004 10:14:00 da manhã]

[ quinta-feira, abril 01, 2004 ]

 

Diz que a festa começa às 21.

A essa hora, meus amigos, vou estar assim:
Sempre a fumar por causa do nervoso...
[ Desculpem a fotografia ser antiga, mas tenho andado sem tempo para ser fotografada. Afazeres! ]

Hi hi... [ Não pretendo influenciar o júri, claro!...]

Ana [4/01/2004 03:45:00 da tarde]

 

Viva!

Querido Ilídio, estamos empatados! Eu também gosto de si.De maneira que não precisamos de arrancar os cabelos um ao outro , fazer bonecos de voodoo , etc. ;)
Olha, até te vou tratar por tu, para ser mais intimista a troca de opiniões.
Não escolheste mal a prosa para exemplificar o porquê de não apreciares Saramago. É muito actual a temática de Jesus na cruz. Eu própria estou a ler um livro -também ele de ficção- onde Jesus é protagonista. [ o livro é "The Judas Testament" de Daniel Easterman; um obcecado como eu. Dentro do género "livros de bolso", Easterman e Elmore Leonard enchem-me as medidas. ]
Mas eu não vou por aí. Eu gosto da maneira como Saramago ensarilha as palavras; sem , muitas vezes, pontos e vírgulas. Estou-me nas tintas , se me permites a expressão , para os temas; para as escabrosidades e anomalias sociais que , muitas vezes, os livros de Saramago apresentam. Eu gosto é das lengalengas algo indecifráveis. Do cochichar morrinhento dos diálogos interiores. Da sobranceria, até. Eu acho os romances de Saramago ( tirando o " Todos os Nomes" e " O Homem Duplicado") imensíssimos. É prosa chorumenta. E, tal como já disse, estabeleço um distinguo entre o cidadão e o escritor.
Que mais é que se pode dizer quando se gosta de uma determinada forma de contar histórias? De um determinado escritor?
Não sei.
Sei que o linguajar rabioso dele , na escrita, me cativou. E continua a cativar. É mais ou menos como o que sinto por Celine, mesmo sabendo que esse é, foi, um bom filho da puta.
O Saramago, a escrever, não é anacoreta . Reparte letras e verbos de uma forma que me agrada. Admiro os relatos rocambolescos. As crónicas mirabolantes. Até o patenteado cepticismo. Sem choraminguices ou chocarrices.
Às vezes, ao justificar ( como se fosse realmente preciso! ) o meu gosto pela prosa de Saramago, levo com um :« Ó filha, tem juízo!». Mas eu não quero ter juízo e continuo a gostar de o ler. É como a fixação que tenho , em dias maus, pelos Abba. Sou sincera. Não emprenho pelos ouvidos e, como tal...
Gosto de ler o gajo, pá! :)
Agora , quiçá para me queimar ainda mais, digo-te outra coisa : Não gosto, desde 1989, de nenhum romance do Lobo Antunes, por exemplo. E agora levanta-se a multidão ululante ( olha o Nelson Rodrigues! ) e diz : « Ai que sacrilégio! Ai valha-me a Santinha da Ladeira! Ai que mulher passou-se!».
É assim, tal qual. Não suporto a prosa dele desde 89. Mas não é por isso, querido Ilídio, que vou perder tempo a investigar os motivos que levam tantas alminhas a fazer do homem um génio. Cada um sabe de si.
E agora, para terminar, e antes de te enviar um beijinho e um abraço, deixa que te diga uma das minhas ideias mais interiorizadas : só quem nunca leu um livro dele até ao fim é que não gosta de Saramago. hi hi ...

E agora recebe o beijo e o abraço, se fizeres favor.

Ana [4/01/2004 10:41:00 da manhã]