Dobrei teus pulsos a dura aranha do teu corpo a tua árvore faca que rasgou a barreira do ventre a tua face abrindo-se como um barco amei-te tempestade de ossos e de nervos contra ti contra ti
exílio pátria sobre o chão e fuga
furiosa e suave lâmina animada bebida a jactos aranha alta e linda enclavinhada destilando o suor a baba o vinho a seiva o estrépito da primavera de uma árvore que se abre no silêncio
António Ramos Rosa
AS ÁRVORES.
Eu espero, sim, que essas árvores cresçam. Adormeço com elas todas as noites, embalado pela sua sombra. Lembro-as de memória, sobre a relva verde. Lembro as suas folhas, caindo de noite. Mesmo as que ainda não vi, eu espero que cresçam, que me esperem, que me abriguem nesse dia em que mais precisarei delas, ouvindo o ruído do mar não muito longe. Tenho, a cada minuto, saudades dessas árvores.