Não é o não francês que me chaga a molécula. Se havia uma pergunta com duas respostas possíveis, é tão legítima uma como outra. O que me chaga a molécula é que toda a campanha do não francês foi feita com base na premissa de que a França é quem mais ordena na Europa, e que se a França diz não, todos devem mudar de ideias e seguir a França. Isso é insuportável, arrogante e anti-democrático. É o total desrespeito pela opinião de todos os outros povos, de todos os outros países da UE. A França não tem legitimidade para impôr o que quer que seja a quem quer que seja, tal como todos os outros 24. Numa união ,mesmo esta feita com cuspo, onde os cordeis são demasiados frágeis por questões antigas ou recentes, é inadmissível que haja um país onde uma campanha se desenrole como se desenrolou em França. Onde houve um argumento comum a filhos da puta da extrema direita , e a idealistas utópicos da extrema esquerda : se nós dissermos não, todos os outros têm de se vergar à nossa vontade. É inadmissível e foi isso que me doeu mais durante toda a campanha . Porque de facto o Não da extrema direita e o Não da extrema esquerda não são iguais, de todo! São mesmo o oposto. O segundo é demagógico, o primeiro é pura e simplesmente criminoso. Mas ambos apostaram na fierté dos franceses...de serem franceses! Ou seja, nenhum dos campos do Não defende , realmente, a ideia que levou à ideia da União Europeia. Não está em causa a legitimidade do não, percebem? Está em causa a legitimidade de todos os países . Duzentos e vinte milhões de europeus já disseram sim ao tratado . Pois , para o campo francês do não, isso é secundário. Aliás, este referendo , aqui em França, pouco versou sobre os outros. Foi sempre considerado um assunto interno. Apenas e só um assunto interno. Sempre que a opinião de personalidades de outros países , sobre o debate francês, era dado a conhecer , a crítica surgia - unânime : « mete-te na tua vida, ó estrangeiro de merda!» Não aceito isso e, francamente, apetece-me mandar a França , e os franceses que ainda não perceberam que o mundo pode avançar sem eles , para a puta que os pariu! A França, a maioria do povo francês, tem todo o direito de dizer não. Mas não pode esperar que quem disse sim, e que quem ainda nem sequer disse nada, desista das suas convicções e vontades. Disse não e agora arca com as consequências e espera que os outros digam também de sua justiça. Não pode exigir - não tem qualquer direito para o fazer - que o processo pare antes da hora; que haja um plano B imediato. Que haja sequer um plano B por sua causa. Quem dita as regras é a União Europeia, a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu. Não é a França. Por muito que lhes custe, não são os franceses sozinhos os chefes supremos da UE. Não são porque não podem ser; nem eles nem nenhum dos outros membros. Se não a União Europeia não faria qualquer sentido. E faz. Faz ,mais do que nunca, sentido. E ainda faz mais sentido num país que coloca na segunda volta das presidênciais um fulaninho chamado Le Pen... É isto que me faz estar zangada com a França . Não o Não em si. Como já disse, se há uma pergunta, e se essa pergunta tem duas respostas possíveis, é tão legítima uma como a outra.
Mas , não nos enganemos, no Não da França há também mão racista e ultra-nacionalista. Uma mão bem cheia. Porque os franceses que votaram ontem , são os mesmo que votaram nas presidênciais de 2002. Não só, mas também. E eu, sinceramente, não se sinto confortável com isso. Seja como for, o que é preciso marcar bem, é que o processo de ratificação do tratado só termina em Novembro de 2006. E , até lá, a França espera , como todos os outros estados membros, por uma decisão definitiva. Mesmo que se discuta a actual crise a fundo, está fora de questão - tem de estar fora de questão! - renegociar o que quer que seja sem que se consultem os restantes milhões de europeus que ainda nada disseram. Se não for assim, então que se acabe de vez com a ideia de uma União Europeia . Mais vale. É muito mais democrático! Ana [5/30/2005 04:05:00 da tarde]
[ sexta-feira, maio 20, 2005 ]
Para ler seguido sem pontuação
[Já sei que há um "sítio do Não". Este é um sítio do Sim.]
E sinceramente mesmo que eu não tivesse tido paciência para ler o texto do Tratado Constitucional e eu tive e em 4 línguas diferentes para ver se batia tudo certo!!!e mesmo que eu não concordasse com o que lá está escrito (mas eu concordo, eu concordo! ) e mesmo que no tratado dissesse que todos os cidadãos da UE seriam obrigados a aceitar práticas sodomitas em sistema rotativo e de seis em seis meses praticadas por elementos de cada um dos vinte e cinco estados membros e ainda por cima a seco eu votaria sempre sim porque mais vale ser sodomizada e até comer pastelinhos de caganitas de rato do que votar ao lado de alguns filhos da puta de estrema direita e alguns de filhos da puta de estrema esquerda e mesmo que fosse só um filho da puta de cada um dos lados para mim já era de mais estamos entendidos? Mainada pá...
E agora vou fazer o teste do stress que , cheira-me, ando um bocadito stressada...
Eu sei que , esta época, tenho falado pouco de futebol. Isto já se sabe, a bola é redonda ... No entanto ,amanhã - no que pode ser o dia D - acredito que me vou rir muito. E cá vos deixo o poema da bola, pá!
The Dragon-Fly
Life (priest and poet say) is but a dream; I wish no happier one than to be laid Beneath a cool syringa's scented shade, Or wavy willow, by the running stream, Brimful of moral, where the dragon-fly, Wanders as careless and content as I.
Thanks for this fancy, insect king, Of purple crest and filmy wing, Who with indifference givest up The water-lily's golden cup, To come again and overlook What I am writing in my book. Believe me, most who read the line Will read with hornier eyes than thine; And yet their souls shall live for ever, And thine drop dead into the river! God pardon them, O insect king, Who fancy so unjust a thing!
[Isto tem de ser rápido que a internet via telemóvel está pela hora da morte. ]
Dizia Borges que a mais estúpida tentação do artista é a de julgar-se génio.Graças a D-us não sou artista. Maneiras que... Brincadeirinha. Ontem à noite, entre a tomada da pastilha e o livrozito da ordem, dei por mim a ver um programa literário dividido em duas partes. Da segunda já não me lembro. Da primeira hei-de guardar singelas recordações. O tema central : reféns. O tema dissimulado: o terrorismo. Estavam lá três dos mais mediáticos (ex) reféns franceses que, actualmente, têm livros nos escaparates. O pioneiro Roger Auque [«Otages, de Beyrouth à Bagdad»] , que é um jornalista fora-de-série, quase sempre justo e quase sempre sensato - o que é (muito, muito, muito ) raro num francês; e estavam os dois mais mediáticos do momento : Christian Chesnot e George Malbrunot que publicam juntos «Mémoires d'Otages». Cada um vendeu o seu peixe - a dupla um bocadito envergonhada a fazer de conta que os raptores , apesar de brutos como as casas, sanguinários e facínoras, lá terão as suas razões... O primeiro, Auque, a dizer o que deve ser dito : que sim, que ser raptado por terroristas deixa marcas, possíveis de ultrapassar claro, mas que o fundamental é nunca esquecer que quem faz esse tipo de gracinhas é "gente" podre; cortadores de cabeças; terroristas ; filhos da puta em toda e qualquer circunstância e que tentar compreendê-los é pactuar com eles. Depois falou um rapaz tímido , um bocadito alienado mas puro, como só os bons corações podem ser, Arno Klarsfeld, um judeu que sempre se bateu pela libertação de reféns, no Médio Oriente, e que ficou conhecido , há uns anos, por ter subido ao palco num comício do FN de Le Pen, ter- lhes chamado racistas de merda, filhos da puta, e ter levado um arraial de pancada da grossa. Gosto muito de Arno Klarsfeld, e sugiro vivamente o seu último livro : «Israël Transit». Bom, aquilo estava a correr bem , cada um a defender a sua dama e assim é que está certo. Só que depois o apresentador do programa «Vol de Nuit», Patrick Poivre d'Arvor, apresenta um novo livro : «L'énigme Al Qaida». Escrito a quatro patas, perdão!, a quatro mãos, por dois senhores especialistas em tudo - e cujos nomes agora me falham (?) e que, grosso modo, afirma o seguinte : A Al Qaida não existe! Ora tomem lá e embrulhem. A Al Qaida não existe. É uma invenção do ocidente, especialmente dos americanos, claro. E Bin Laden, não é líder de nenhuma perigosa organização terrorista porque , como está bom de ver, não se pode liderar uma coisa que não existe...certo? Ora pois. E os dois senhores dizem assim isto , cheios de propriedade, invocando a sua "qualidade de especialistas" e toca prá frente que atrás vem gente. De maneira que me entalei e tudo. Que grandes artistas!... Ana [5/11/2005 12:20:00 da tarde]
Pedaços de escrita. Ideias e sensações. Coisas de pele.