[Isto tem de ser rápido que a internet via telemóvel está pela hora da morte. ]
Dizia Borges que a mais estúpida tentação do artista é a de julgar-se génio.Graças a D-us não sou artista. Maneiras que... Brincadeirinha. Ontem à noite, entre a tomada da pastilha e o livrozito da ordem, dei por mim a ver um programa literário dividido em duas partes. Da segunda já não me lembro. Da primeira hei-de guardar singelas recordações. O tema central : reféns. O tema dissimulado: o terrorismo. Estavam lá três dos mais mediáticos (ex) reféns franceses que, actualmente, têm livros nos escaparates. O pioneiro Roger Auque [«Otages, de Beyrouth à Bagdad»] , que é um jornalista fora-de-série, quase sempre justo e quase sempre sensato - o que é (muito, muito, muito ) raro num francês; e estavam os dois mais mediáticos do momento : Christian Chesnot e George Malbrunot que publicam juntos «Mémoires d'Otages». Cada um vendeu o seu peixe - a dupla um bocadito envergonhada a fazer de conta que os raptores , apesar de brutos como as casas, sanguinários e facínoras, lá terão as suas razões... O primeiro, Auque, a dizer o que deve ser dito : que sim, que ser raptado por terroristas deixa marcas, possíveis de ultrapassar claro, mas que o fundamental é nunca esquecer que quem faz esse tipo de gracinhas é "gente" podre; cortadores de cabeças; terroristas ; filhos da puta em toda e qualquer circunstância e que tentar compreendê-los é pactuar com eles. Depois falou um rapaz tímido , um bocadito alienado mas puro, como só os bons corações podem ser, Arno Klarsfeld, um judeu que sempre se bateu pela libertação de reféns, no Médio Oriente, e que ficou conhecido , há uns anos, por ter subido ao palco num comício do FN de Le Pen, ter- lhes chamado racistas de merda, filhos da puta, e ter levado um arraial de pancada da grossa. Gosto muito de Arno Klarsfeld, e sugiro vivamente o seu último livro : «Israël Transit». Bom, aquilo estava a correr bem , cada um a defender a sua dama e assim é que está certo. Só que depois o apresentador do programa «Vol de Nuit», Patrick Poivre d'Arvor, apresenta um novo livro : «L'énigme Al Qaida». Escrito a quatro patas, perdão!, a quatro mãos, por dois senhores especialistas em tudo - e cujos nomes agora me falham (?) e que, grosso modo, afirma o seguinte : A Al Qaida não existe! Ora tomem lá e embrulhem. A Al Qaida não existe. É uma invenção do ocidente, especialmente dos americanos, claro. E Bin Laden, não é líder de nenhuma perigosa organização terrorista porque , como está bom de ver, não se pode liderar uma coisa que não existe...certo? Ora pois. E os dois senhores dizem assim isto , cheios de propriedade, invocando a sua "qualidade de especialistas" e toca prá frente que atrás vem gente. De maneira que me entalei e tudo. Que grandes artistas!... Ana [5/11/2005 12:20:00 da tarde]
Pedaços de escrita. Ideias e sensações. Coisas de pele.