Há que dizê-lo com frontalidade : Uma pessoa não actualiza o blog com regularidade e é esquecida facilmente. Ninguém nos liga peva; na blogosfera, claro. Não é grave. Até porque há sempre uma boa/má alma que, sabe-se lá porque caminhos misteriosos, se lembra da gente e manda um e-mail a fazer perguntas. De maneira que me tocou um; um mail com perguntas, às quais faço questão de responder!... logo que acabe de fritar estes croquetes vegetarianos que preparei.
Ora bem! No Verão sou mais ecologista do que o costume e gosto de ver os animais a correr soltos nos montes , de modo que rumino mais ervinhas. São uma especialidade estes croquetes. De agriões. E muito fáceis de fazer. Compre, se fizer favor, um bom molho de agriões ; ou melhor, dois. Lave-os e coloque-os numa daquelas maquinetas de picar e misturar. Uma 1-2-3 é o ideal. Junte-lhes umas 5 folhas de espinafres ( não mais, porque o espinafre é arrogante e tende a comer os outros sabores ) , junte também 5 colheres de pão ralado e uma batata grande, gorda, inteirinha, e previamente cozida. Se quiser ( eu quero sempre!) acrescente uma fatia de um bom queijo. Já só faltam dois ovos, inteiros, e o tempero. Tempere de sal, pimenta, um bocadinho de noz moscada,segurelha, se tiver à mão, e misture tudo na maquineta. Dois minutinhos e já está. Depois é meter a mão na massa. Amassada que está a massa , faça pequenos rolinhos com as mãos . Entretanto já devia ter ao lume um wok com azeite bem quente ( pode ser óleo, mas eu não uso óleo para nada ) para começar a fritar. Minuto e meio de cada lado dos croquetes e pronto. Eu como este petisco com salada mista. Mas ,diz um dos meus irmãos ,que é também uma especialidade com arroz branco. Basmati. Voilà. Estão fritos os croquetes. A salada está lavadinha e pronta a temperar. Vamos então às perguntas e respectivas respostas.
António Sarmento ( que se tem blog esqueceu-se de o mencionar no e-mail ) pergunta-me se eu tenho algum problema em comentar as manifs dos colonos israelitas , radicais, e da violência que estão a provocar, isto porque estranha o meu silêncio ; pergunta-me também se agora mudei de ideias sobre o extremismo, já que ele toca "o meu lado" sic. Pergunta-me ainda se eu ainda acho que o problema do Médio Oriente é o terrorismo e se eu terei "tomates" sic, para lhe responder. Vamos a isto.
Meu caro António, do alto do meu metro e setenta e cinco ( tenho andado com uns sapatos compensados que me dão mais uns centímetros ) tenho a dizer-lhe que tomates é coisa que nunca me faltou. Mais acrescento que as suas perguntas são muito levezinhas ,de maneira que não vejo onde está a necessidade de ter coragem para lhe responder. Já menos levezinha é a sua terminologia - o António chama nazi-fascistas aos israelitas, aos judeus, em geral - mas eu a isso nem vou responder. Não dou pérolas a porcos.
Fique sabendo que considero fundamental a paz para o meu país. Sim. Israel também é o meu país. É o país de todos os judeus que amam a liberdade, a democracia e a paz. Por isso é óbvio que não pactuo e muito menos serei condescendente com os 300 a 400 radicais de direita israelita , sim, extremistas, que não abdicam dos colonatos nos territórios ocupados. São, aliás, e desde sempre, uma pedra no sapato de Israel. Mais, muitos deles nem sequer reconhecem o Estado de Israel . Os extremismos exasperam-me. Sejam eles islâmicos, cristãos, ou ultra-ortodoxos. Não aceito radicais e extremistas na sua globalidade. O extremismo mata qualquer possibilidade de paz . Ou melhor, o extremismo mata. Só.
Eu sei o que leva esses colonos radicais e não ceder. A terra prometida. O direito bíblico. A tradição. Mas a realidade não é compatível com todos os sonhos e profecias. Que D-us me perdoe, mas não posso pensar de outra maneira. Aliás, que D-us me perdoe uma vírgula, porque tenho a certeza que D-us está de acordo. A Palestina é de judeus e de árabes. Desde sempre. Judeus primeiro, árabes depois. Mas é dos dois povos. Irmãos desde os tempos mais remotos. Irmãos de sangue, de tradições, de raça . Mas tal como os extremistas palestinianos, os extremistas israelitas já não aceitam essa verdade absoluta. Foram tantas as guerras, correu tanto sangue, que eles já não se lembram dos laços. Só do mal. Das bombas, dos checkpoints , da repressão. Do medo. Todos os judeus são meus irmãos. Mas os irmãos não estão sempre certos, nem ao abrigo de críticas. Não estou do lado dos radicais, dos extremistas, israelitas. Estou do lado dos que querem a paz e dos que lutam por ela. Dos que sabem que o futuro depende dos dois lados.Não apenas de um. Estou do lado dos que reconhecem os erros e estão dispostos a corrigi-los.Estou do lado dos soldados que, mesmo com o coração apertado, estão nos checkpoints. Numa palavra, estou do lado de Israel. Do futuro. E sim, António, o problema do Médio Oriente continua a ser o terrorismo. Os terrorismos. As bombas assassinas dos palestinianos radicais.Terrorismo maior, que vem de longe. O terrorismo intelectual dos radicais ultra-ortodoxos que não avançam no tempo e que estão dispostos a tudo menos a encarar a realidade dos factos. Irmãos até nisso, na radicalidade. Não comparo um atentado suicida que mata inocentes a uma manif, isso nunca. Mas sei que, na prática, essas manifestações violentas dos colonos têm o mesmo efeito: inviabilizam a paz . Estão as respostas dadas. E agora vá , se fizer favor, para o raio que o parta.
Olha, e com isto fiquei como o Campos e Cunha: cheinha de cansaço. Vou-me mas é aos croquetes que lucro mais. Ana [7/21/2005 03:30:00 da tarde]
[ quinta-feira, julho 14, 2005 ]
Há-de haver um caminho!
A última vez que aqui vim, estava contente por Londres ter sido escolhida para receber os JO de 2012. Depois foi o que se viu. Mais um dia negro para a humanidade. E mais desculpas esfarrapadas da parte dos que não percebem que não há nenhum mas. Quem não condena o terrorismo não merece o ar que respira. Entretando ando a ler. Sempre me acalmam e alimentam,os livros. Pela primeira vez : «Filomeno a mi pesar - Memórias de un señorito descolocado»; de Gonzalo Torrente Ballester. A versão portuguesa é da Dom Quixote , já tem uns anos a que me chegou às mãos, e tem um senão: o título não respeita o original, o que é um pecado, chama-se só « Filomeno para meu pesar". É muito bom.
Como o Verão está cá em força, e como sou pouco amiga de livros "estivais", mas defendo até à morte a leitura ...nas férias ...e fora delas, i.e.,sempre! , aqui vos deixo mais uma sugestão de leitura( cof cof ) levezinha:
«Os Tarahumaras» de Antonin Artaud.Relógio d'Água. Nunca tinha lido Artaud em português e, parece-me, é ainda um maior desafio à nossa capacidade de entendimento e compreensão.Atrevam-se, em vez de se encherem de novelas e gelados da Olá. :)
Entretanto não posso deixar de dar os parabéns ao meu querido Miguel Tomar Nogueirapelos dois anos de blogosfera. Sem pessoas como o Miguel, sem blog(s) como o(s) dele, a blogosfera não teria grande interesse.